Pensamento do Blog

Comigo a natureza enlouqueceu; sou todo emoção" Adaptado de Maiakoviski

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Livro de Poesias - Antonio Gomes da Cruz

Ondas Tropicais


Sumário
Apresentação
Os lírios do jardim
Ilusões
O respeito nas escolas
O ciúme
Anjo e amor
Revivendo
Vitória Negra
As febres do poder
Pai Nosso
A liberdade
Hipérboles
Observações
O céu e a serpente
Rancharia
Rotina de inspiração
Galanteios
Mariana
O destino de Zumbi
O meu coração
Linda Nativa
Fera oriental
As paredes
Índia
Balanços de meu galho
O ladrão
Casa e jardim
Os rochedos
Soneto de solidão
Preces de amor
Trovas
O milagre da viola
Cantigas
O desafio
As vogais do coração
Ninguém
Festa de Reis
A Inconfidência
Pureza
A partida
O sufixo do "ente"
O negro fujão
O ABC do verde
Vozes
Os magnatas
A natureza
Persistência
Minha velha
As selvas e o Mar
Parabéns ao um amigo

Vocabulário do estilo do poeta
Sobre o Autor

Apresentação


Este é mais um livro de poesias de nosso poeta popular, Antonio Gomes da Cruz. Mantém em sua nova obra suas consistentes características do Romantismo. Fala com sensibilidade da mulher amada, da natureza, de nossa língua e costumes, sem deixar de, dosadamente, colocar um pouco da modernidade de nosso tempo em seus versos.

É um otimista, pois por mais que retrate em seus versos as desigualdades sociais acumuladas em nossa história, não deixa, mesmo que seja no final de suas poesias, de manifestar uma dose de esperança. É um contador de histórias em versos, como os poetas clássicos da Grécia e Roma.

Possui um amplo vocabulário, inclusive com a utilização de palavras poucos usuais em nosso tempo, mas sabe usá-las com maestria, o que nos levou a inserir neste "Ondas Tropicais", um Vocabulário do Estilo do Poeta. Gosta de usar neologismos, e considera-se uma autoridade para "brincar" e mexer com as palavras. Utiliza muitas figuras de linguagem, inclusive dedica uma de suas poesias às hipérboles.

É um poeta engajado socialmente, pois manifesta preocupação com vários problemas de nosso tempo e, para isto, utiliza versos para mudar realidades, como vemos em sua poesia "Respeito nas escolas". É um educador social.

É um crítico ferrenho da industrialização que degrada o meio ambiente. Tem saudades da natureza em sua pureza inicial, o verde pleno, como nos versos:

"Deixamos um pouco a paz nativista...
   Voltamos ao chão do progresso em vigor
  Que não se idealiza ao amor naturista,
                                                  E perpetualiza a lhe ser opressor..."

Mas um dos temas preferidos do poeta é a escravidão, o que se explica por seu conhecimento amplo do poeta Castro Alves. Em suas poesias, coloca o escravo sempre com algum valor moral, como sua liderança, na exaltação do grande líder de uma raça como Zumbi; mas sua história sempre tem um final feliz, apesar de todo sofrimento.

Beto Souto

Os lírios do jardim

São símbolos de paz, amor e candura,
Os lírios do jardim do meu poema afável;
São pedras cristalinas de alabastrina alvura,
Brilhando no engaste da paz admirável.

O sol no apogeu de auriforme altura,
Demonstra às estepes o seu amor viável;
E os lírios do jardim, exíguos na estatura,
Também demonstram ao sol seu preito venerável.

Os lírios do jardim, das rosas são os fãs..
E a aurora maquiando o rosto das manhãs,
Aos ares oferece as rosas do arrebol.

E os lírios da infância, de mil e uma cores,
Revestem a pureza dos mais santos amores
Que brilham no horizonte da paz de um novo sol.

                                                     11.05.1994

As ilusões

Nas idades constantes vividas,
Vejo o cedro do amor florescer
E um rosário de contas de vidas
Entre os dedos do templo a correr
Vejo o sangue das vidas sofridas
Que das chagas do tempo a escorrer
Tinge o chão do passado das gentes,
Repisado por pés imponentes.

O presente falou ao passado
Quem tu foste, e agora quem és?
O passado do chão levantado
Respondeu, da ilusão através;
"Não fui nada e nem sou neste estado
em que vivo, pisado com os pés
do espectro sinistro dos nobres,
apalpando o cadáver dos pobres."

A indigência se encontra morrendo,
Arrastada aos calcanhos da lei
Do orgulho feroz estupendo
Que no trono se diz ser um rei...
Esse quadro sinistro horrendo
Se ele é inquebrável não sei;
Só o que eu sei é que as normas do Eterno,
Poderão despejá-lo no inferno.

O esplendor esotérico de Apolo
Qual sultão sobre o trono das Eras
Ilumina a extensão do seu solo
Num suposto festim de quimeras;
Só que as febres de seu subsolo
Que se eleva ante às primaveras
Se suplantam perante as cidades
No organismo vivaz das Idades.

Há uma nuvem no céu da esperança,
Anunciando uma chuva de flores
Sobre a horta do Bem sem pujança
Que a humildade aduba de amores;
Como é forte essa nobre aliança
Presa aos dedos da paz, sem temores!
Como é doce ser preso em seus laços,
E apertado em seus fortes abraços.

Como é doce engajar-se à entidade
Vinculada aos poderes do Eterno;
E o orgulho anexado à maldade,
Molha as barbas na taça do inferno:
Tudo isso, na posteridade,
Arquivado no santo caderno,
Vai ser vítima de fogos ardentes,
Mitigando seus feitos cruentes.

Como é doce vagar na estiagem
Co'o murmúrio da brisa aos ouvidos
E o sol fazendo a espionagem
Dos segredos dos tempos vividos
Entre o solo e as nuvens na imagem,
- São mulheres falando aos maridos -
Entre as selvas e os velhos rochedos,
Imagina entender seus segredos.

Com o verde, não há paliativo
Que resgata seu corpo no chão;
O seu nome, ao todo passivo
Sobre a lousa da ingratidão,
Se apagou sob o som positivo
Do tropel do progresso em ação;
E a vigência dessa assiduidade,
Amamenta o vigor da cidade.

São ridentes os lábios da aurora
Em seu rosto de aéreo marfim
Quando a primavera se enflora
Junto ao seu rosicler de rubim
O horizonte cerúleo se encora
Com o matiz da "Primava" em seu mim,
E garboso se ostenta em seu eu
A miragem simbólica do céu.

E no cérebro raquítico do mundo
O amor já se encontra olvidado;
Da violência o fantasma iracundo
Range os dentes feroz e atilado...
Seu caráter sedento e profundo,
Suja o piso do chão do pecado,
E a paisagem sangrenta do erro,
Se incendeia no eterno desterro.

Já se foram instintos ferozes
Que no âmago do solo já entraram...
Já se foram sinistros algozes
Que o terror propriamente forjaram;
Do cativo, as suplicantes vozes,
Quantas vezes já lhes imploraram
Para que suspendessem o ato bronco
Do chicote cruel sobre o tronco.

Do infinito, a extensão descomedida
Abrangendo o horizonte invulnerável,
É rotunda e "imorrível" sua vida
Como um ser impassível e intocável;
Se a tormenta fatídica e extrovertida
Que se exibe sinistra, inexorável,
Sai de um filtro perpétuo, inexaurido,
Que as "nimbos" o exibem soerguido.

Do poeta o instinto mui afável
Vulnerável ao preito de sua musa,
Ao sentir-se caótico, infundável,
Molha os lábios na fonte de Aretusa;
Na ilusão do seu mundo fecundável,
Sob um instinto alheio de recusa,
Arrastando ilusões aos calcanhares,
Ele busca seu porto em outros mares.

Na estadia lacônica das manhãs,
No país do ostensivo firmamento,
Vê-se as nuvens alvíssimas como lãs
Como fossem da aurora o regimento...
Caravanas de névoas são suas fãs,
Que ao impulso do peitoral do vento,
Vão vagando ao léu como alvas garças,
Ou então como pássaros entre as sarças.

Exumando o cadáver do passado,
O poeta, ao perder-se em evocações,
Sonha em ser outro corpo leve e alado
Pra voar aos confins de suas paixões:
Só que o cérebro assim retrogradado
Do poeta absorto em ilusões,
Sente o espírito em vasta efervescência,
E a esperança em patética decrescência.

O vate se sente nos campos da ética,
Seu êxito plausível e audaz precursor;
E ao figurar-se na esfera poética
Tal fosse um verão de romântico calor,
Seu cérebro se agita garboso na estética,
Poetizando crescente no amor ao verdor;
E o rosto da vida lhe esboça um sorriso
Co'o verde a seu lado, lacônico, conciso.

E a fila de séculos no chão das Idades,
Marcado por tumbas de intrépidos heróis,
É um círculo de vidas e veracidades,
Que vivem contíguas a um povo de sóis:
Os campos sólitos definham nas grades
Do velho progresso em seus caracóis,
E a indústria em requinte em seus espirais
Vai canalizando seus campos rivais.

Já morreram os senhores ferozes,
E no seio das campas já entraram;
Já se foram simples "germinoses"...
- Mil escravos que se engajaram
No sistema servil...verminoses
Que sofreram e ali se calaram,
Como fossem verões de mil noites
Sob o ardor viperino de açoites.

Hoje existe harmonia nos lares
Onde a febre do mal se aplacou...
Como a neve se esvai nos seus ares,
Esse drama infiel se acabou:
O passado preso aos calcanhares
Do presente, olvidado ficou,
E no solo da posteridade
Não irá fecundar-se a maldade.

É na campa do abismo onde cai
Turbilhões de pecados pendentes
Que obtiveram o desprezo do Pai,
E desceram às chamas ardentes.
Nessa hora o orgulho se vai,
- Arrancando suas penas co'os dentes -
Assistir naufragar sua frota,
Convencido da própria derrota.

Quando a trêmula névoa se agita
Impelida co'o impulso do vento,
O floral da paisagem infinita
Se apresenta ao mar - salso argento.
O rubor do arrebol se espevita
Ao rochedo tão quedo e sedento...
E o poeta, em seus fracos renomes,
Se ressalta como Antonio Gomes.

                                           12.06.1994

O respeito nas escolas

O Modernismo está de roupa nova,
E o passado não será posto à prova
Co'o fardamento seu;
Acabou o respeito nas escolas,
Cujos alunos, hoje pensam que são senhores,
Em desrespeito aos professores;
Só se vê turbilhões de mariolas,
E com isso, o vandalismo nasceu.

No passado, nas casas escolares
Havia silêncio; hoje, esses públicos lares
Viraram baderna;
Os alunos são como feras fora da caverna
É só brigas, drogas, e confusões
E não há controle de suas próprias ações.
Hoje, o cinismo é governante...
E o menino não se apresenta como o infante
Da temporada atrás.

Que matéria de ensino
Que ensina ao menino
Coisas de entrosamento de adulto?
Desculpem a minha expressão de asinino...
Onde quer chegar esse modernismo sujo?
- Ele é um barco sem vela e sem marujo -
E sujo é o seu reduto.

Raramente, hoje o aluno aprende muito,
Pois tão cedo vai colhendo o amargo fruto
Da árvore do desamor;
Poucos são os que fruem coisas boas...
Outros se embarcam em furadas canoas
Do vício ou do terror.

Desculpem o meu grau de estimativa!
Só que hoje às vezes algum aluno se esquiva
Pra ir de encontro às drogas dos vilões;
Hoje, o respeito se adormeceu com as lições...

Só se ouvem palavras de obscenas expressões,
Caotice, turbulência, e milhares de problemas
São seus textos primordiais; são seus temas:
Hoje, alguns alunos vandalizantes,
Em vez de relógios preferem usar algemas,
E viajar de graça nos carros da polícia...
Que horrível notícia!

Culpado de tudo é o Modernismo...
A matéria de ensino sem heroísmo,
E sem o amor de Deus.
Pois Ele não está nesse bornal;
E nesse estádio banal não jogam os times seus.
Quanto ao poeta, desculpem esse seu bafo...
Ele só quis "descer o seu sarrafo"
Num ímpeto de revolta;
O poeta vai, mas logo volta.

Senhores! Não voltais contra a minha pessoa!
Desculpem a altura da minha montanha russa!
Não experimentem essa carapuça,
Senão vocês vão perder os seus renomes;
Mas, se forem para o caminho do bem,
Contem com o poeta Antonio Gomes.

                                                    16.06. 2000


O ciúme

                I

O ciúme é uma águia de penacho
Que na área do amor acende o facho
          No Vesúvio da dor;
Ele é uma águia, caráter de rapina,
Que se nutre do ódio que abomina
          A paz do próprio amor.

É uma força constante e transparente...
É a haste da árvore incandescente
          Do chão do bom viver;
É um raio fatídico e consequente
Que destrói o poder do amor vigente
          Que enriquece o ser.

É um forte cometa incandescente
No horizonte da órbita transparente
          Que rege o chão da paz:
O ciúme é um espectro que delira,
Tendo ao lado cadáveres de safira
          Do amor em tempo atrás.

O ciúme é um vínculo quebradiço...
É um mal obceco em mau serviço
         No enleio dos casais;
É um veneno viscoso e viperino,
Que contém o dissabor ferino
         De instintos de animais.

O ciúme é como um verbo em mesóclise
Que se atua entre a ênclise e a próclise
          Em meio às convenções.
É uma gota de sangue entre as guerrilhas,
Na desdita constante das famílias,
          Girando em turbilhões.

Espiralam-se os ventos em remoinho,
Desde as árvores vetustas no caminho,
          Às campas e aos carrascais;
Desde o chão do baixio aos verdes campos...
E as estrelas ciumando os pirilampos,
          Se vibram mais e mais.

Nas manhãs das épocas estivais,
O arrebol dependura os seus corais
          No peito do sertão:
E à noite, com ciúmes do fantoche,
O luar oferece o seu prateado broche
          Ao peito da amplidão.

                  II

A vida é a clorofila do sol da eternidade
Que doura o paço da fé com o ouro da verdade:
Se o ciúme de Caim fê-lo matar seu irmão,
Os lábios da eternidade decretaram-lhe a maldição.

O elenco purpurino do palco do arrebol
Que em seu estrado aéreo celebra o nascer do sol,
Sente ciúme dos "cirros" nas aéreas dimensões,
Como fossem aréusalvas virgens dos celestes panteões.

Nos coruchéus virentes do templo da floresta,
O ouro de Apolo se chega em ar de festa,
E a lua com ciúmes à noite se ostenta...
Com o seu broche argênteo à mata se apresenta.

               III

A relva se repousa à beira dos valados
Com o seu colar de orvalhos
          Que sem ter trabalhos
A aurora o trouxe dos céus:
E desde o zimbório do Pontífice
          Ao rancho dos tabaréus
O luar se apresenta com humilde pompa;
E quando o vento sopra sua invisível trompa,
         O verão baixa sua febre intensa.

E o rebanho de nuvens no pasto azul dos ares,
Também sente ciúmes da relva verdejante
         Com o seu colar de orvalhos,
O qual, a aurora mui radiante
Lhe ofereceu a sorrir,
          Mirando o espelho hidráulico dos mares.

             IV

O tempo é acessível aos dogmas da natura,
E a vida é adjacente à morte sem rasura...
A solidão do vate é uma clausura austera,
E o seu viver solito é morte certa e vera...
E às vezes a flor do amor se esquiva à primavera!

Mulher, o teu ciúme rechaça a paz dos ermos
E amamenta o íntimo da solidão sem termos...
E o desmedido vínculo que os vates têm às belas
É como um gás viscoso que descongela estrelas
Expressas na utopia das sagas inverídicas,
Que faz tremer o espírito nas solidões fatídicas:
Quando o desprezo vem fronteiro à amargura,
Os animais se estarrecem num caos de negregura.
O ciúme é um leito da cópula dos casais,
- Cardápio que abastece contendas dialogais -
Expresso dialeto de vidas conjugais.

Se um tema é esotérico, estético ou vernáculo,
Ou um tema etogênico optado a um oráculo,
Na ética sublime de um cérebro moralista,
É uma escada de ouro pra elevação do artista.
Já um tema sintético, ou de poucos valores
Mal caracterizado por escrevinhadores,
Com ciúmes de um texto em erudição,
Se rasgam o lavrado e o atiram no chão,
No lixo caótica da hipertensão.

Numa ação clerical na gestão do Concílio,
Onde o mundo do Pai é análogo ao do Filho
A célebre conduta do amor doura a fronte
Do orbe em seus termos, ou do infindo horizonte,
E abençoa o solito em seu dom celibato,
Onde o âmbito da fé o mantém em recato.

Com a prole dos erros se prende o precito
Aos olhos acesos do mundo, em seu grito,
Talvez com ciúmes dos velhos amores
Que outrora o deixaram sentir-lhe os odores;
E hoje o precito em constante entrevero,
Trajado de crimes, e em vão desespero,
Se evoca, se lembra dos tempos antigos
Que tinha um celeiro prolífico de amigos:
O símbolo pernóstico da velha opulência
Detém o seu ouro em plenipotência.

Enquanto o precito em atroz mendicância,
Não se viabiliza nessa tolerância,
O ciúme é um ser que aniquila os seres,
Mormente os casais que não cumprem seus deveres
No campo estatístico das subversões,
Cada um expondo suas próprias razões.

O corpo de bronze do céu no estio,
Trajado de sol no espaço vazio,
À noite, se deita numa colcha de estrelas,
Ouvindo o zunido do vento às portelas...

O sino altaneiro do mormaço tange
No templo etéreo onde o calor abrange
Risos de fadas nas sagas fantásticas
Onde as madrastas com atitudes drásticas
Horripilavam todos os corações,
Como o de Cinderela, em diversas ocasiões,
Só, que elas sempre perdiam todas as questões.

Eu sei que o cimento que se empedra nas construções,
Tem a mesma dureza desses corações
Que sem terem ou não, razões,
Entram no rol dos contendores,
Os quais, muitas vezes, perdem seus amores
No labirinto intrincado das discussões.

Eu sei que o ciúme amamenta a revolta
Das almas fanáticas que vivem à escolta
Dos próprios deveres em análise sintático
- Vitamina eficiente dos órgãos do fanático -
O ciúme é um caos de tenebroso clima
Energético e dilatado, segundo a minha rima
Ele amamenta o ódio no peito das contendas,
Desde os solares altos às mais humildes tendas.

Segundo as estatísticas dos meus humildes versos,
O ciúme já fez mais de mil casais dispersos
Nesse rotundo orbe onde o dinheiro é rei,
Só que ele não visualiza a erupção da lei
E acende o vandalismo a todas as ideias
E ao forte banditismo - sinistras epopeias -
As quais, posteriormente, ninguém desejará ouvir
Esses fatídicos fatos dos lábios do existir.

As "mulas sem cabeças" ciumam os "lobisomens"
Que amedrontam as crianças com a fama de seus nomes:
Leitores, não tenham medo!
Esses versos são um brinquedo
          Do poeta Antonio Gomes.

                                                                     02.07.2000


Anjo e Amor

Na evidência dos fatos que giram,
Na eminência pernóstica das gentes,
Quantos ricos que se corroeram
Por ser rijos e impenitentes:
Os exemplos que se desmediram
Entre estróinas e intransigentes,
Entre os anjos vestidos de ouro...
- São amores em preito e decoro.

O anjo sublime e benéfico do amor,
Que alado se enleia a sublimes instintos,
Com seu altruísmo de paz e fervor,
Seus atos da mente não serão extintos.
E a voz agoureira da anoite ao langor,
Avisa os boêmios seus templo sucintos.
Que breve, ela mesmo no chão do arrebol,
Irá, com seus termos, morrer sob o sol.

O tempo desfolha as páginas das Eras
Do mundo escutando o insano tropel,
E vai comandando as reais primaveras,
Seguro nas crinas do vento revel;
Nas sagas gritantes das velhas quimeras,
O chão ilimitado da crença fiel
Terá seu apreço no chão "meninífico"
Lá, um templo de amor será honorífico.

A vida é um surto de tombos e arrancos...
De glórias, dinheiro, virtude e saber:
Do chão da criança, aos cabelos brancos,
Espinhos e flores teremos a colher.
Da prole do negro, aos vassalos francos,
Areias e nuvens terão que embater
São prismas distantes, - portes antagônicos -
Que na utopia namoram-se irônicos.

E em tom cabisbaixo o rochedo se humilha
Esconso nas brenhas tão quedo, tão só;
Talvez vergonhoso de sua família,
Se esconde nas matas como um noitibó
E o vate sem teto sem lar, sem mobília.
Sendo a poesia seu único xodó
Se sente um solito...um eremita em degredo...
Se sente um deserto...e a saudade, um rochedo.

Um poema erudito eclético e enfático,
Impõe cognomes ao ego do artista:
Seu dispositivo em análise sintático,
Vernáculo, atraente e positivista
Lhe dá um aconchego viável e prático
No oráculo da fama dourando sua pista
Mas, por outro lado, a voz da humildade
Impõe ao poeta sua celebridade.

Com a estimativa de amores corruptos,
Cai a persistência de seus precursores...
Seus atos, na ativa, se tornam interruptos,
Visando abaixar os seus altos tenores:
Se nunca são veros amores de brutos,
São impermeáveis seus fracos valores
E o anjo da morte hasteia o seu pano;
Na campa dos erros do amor soberano.

E nesse entrevero desgasta-se a casta
De seus integrantes opressores e vis
E a clarividência da vida nefasta
Desses opressores à vida infeliz,
Se acha mais nítida, desumana e vasta;
Mas quando a verdade florir seu matiz
O anjo da fé vai ungir seus amores
Co'o bálsamo oloroso dos santos fervores.

Na erupção do vulcão da ansiedade
Se acende no peito o fanal do desejo...
É quando o espírito da ansiedade
Transige na vida a vigência do ensejo,
E aí, a esperança com vivacidade
Acolhe o cliente com o seu "protejo"
E o chão fartuoso da prosperidade,
Fecunda sorrisos de felicidade.

Hipotetizando, a heresia é um delírio
Da alma do incrédulo, do néscio, e do cético:
São gotas de sangue das nuvens do empíreo, 
Chovendo nos campos do homem hipotético...
Pr'os bons corações a heresia é um martírio
Que só se ameniza no campo profético,
Onde o orador, com certezas tamanhas,
Anuncia que a fé remove montanhas.

O Anjo e o Amor - duas forças incríveis
Dos músculos do tempo de fartas primícias -
Se nutrem dos vasos inexauríveis
Das graças de Deus - indizíveis delícias -
E desses mistérios inexprimíveis,
Somente o Evangelho nos dá suas notícias;
Enquanto isso, os adeptos da infidelidade
Não se viabilizam com a Cristandade.

Esse pavilhão com emblemas de glórias,
Está hasteado em nosso coração:
Nas velhas guerrilhas, as suas vitórias
São comemoradas com a gratidão...
E a poesia, com suas histórias,
Às vezes, revela verdades em ação,
E quando o poeta o amor prenuncia,
O seu vaticínio certeiro seria.

E as mãos do artista saem cheias de estrelas,
Dispondo suas luzes no céu do saber...
Limpando o nevoeiro do céu das procelas,
O sol da esperança fará renascer:
Os lírios de altares povoados de velas,
Que se desabrocham no imo do ser,
São rastros que saem do chão moralista,
Seguindo o perímetro da vida do artista.

O mundo do amor segue evoluído,
Se o anjo da paz colore seus rastros,
E mais janotice ao seu campo garrido,
Tornando mais alvos os seus alabastros,
Jorrando mais luzes seus céus e seus astros;
No altar da indigência seu jarro florido,
Tudo isso, na ética, são velhos guerreiros
Buscando na paz triunfos certeiros.

Os nossos indígenas são velhos primatas
Manchando os "portugas" com o bronze da cor;
Que andaram em bandos no ventre das matas,
Pra domesticar seu evasivo amor:
E o tronco espinhoso de suas bravatas,
Virou-se num cedro vetusto em vigor,
E o cérebro amestrado de tal entidade,
Está se expedindo, na atualidade.

Deixamos um pouco a paz nativista...
Voltamos ao chão do progresso em vigor
Que não se idealiza ao amor naturista,
E perpetualiza a lhe ser opressor:
A paz preciosa e positivista,
Sepulta o cadáver do seu desamor...
Do verde a lembrança - cardápio do tempo -
Se encontra na mesa do seu contratempo.

O mundo do nada se encontra corroído,
Por ver o sertão às portas do abismo;
E o pano de estrelas ao além suspendido,
Comanda a beleza do esteticismo.
O verde em migalhas se encontra diluído
Na taça da indústria... E o meu poetivismo,
Além da humildade do seu versejar,
Atrás do seu verde está o seu calcanhar.

E aqui se despede o poeta em seu ego,
De um simples versejo que se reativou,
E a simplicidade dos versos não nego
Que a musa, em momentos se distanciou,
Deixando a estadia do seu aconchego
Pra ir a outros nortes e tudo acabou:
E o cérebro do bardo se encontra em estresse,
Que o fruto dos sonhos negaram-lhe a messe.

Adeus, meu leitor! Sejais um usuário
Das minhas poesias modestas que estão
Sempre à mercê de quem é solitário,
Sem paliativos para a diversão:
Quem vive sozinho, tal qual um canário
Que a vida reluta a sofrer na prisão,
Quem sofre no "isolo" sem ter seus renomes
Imita o "menestre" que é Antonio Gomes.

Nota do autor:
"Meninífico" - relativo à criança.
Viver no "isolo" - viver isolado.
"Protejo" - proteção.
"Menestre" - poeta; menestrel.
"Portugas" - portugueses.

                                                  01.01.2005



Revivendo

Das famílias das colmeias
Eu sou fã, um admirador...
Desculpe, leitor, esse meu pleonasmo,
É que eu me excedi a meu próprio favor:
Depois, eu reli os meus próprios versos
Num dia de manhã,
E foi aí que eu me "concludei"
Que é a mesma coisa, admirador e fã...
É o mesmo que dizer, "sou um monarca, um rei."

Indo pelo lado utópico do meu chão,
No universo do meu coração,
Cintilam milhares de estrelas de amores
No estio ajardinado de etéreas flores
Desprotegidas com o sol requeimante
do estio da solidão.

E a ingratidão, nessa vermelha estiagem,
É o rochedo inexorável: azucrinante imagem
Das seitas inaderentes ao amor.
E a sarça ardente do meu peito
Só se abate de eito
Quando renasce o sol da vitória
No âmbito da euforia... no céu da própria glória.

Os verões são febres de estios
Nos peitos transversais dos rios
A oscular os baixios
No verde palco dos bem-te-vis.

O luar é a pérola das conchas do firmamento
Que estende sobre o úmido relento
Seu pano azul em eternal contorno
- Constante movimento -
O orvalho noturno e as névoas grisalhas,
Tal como fossem cinzentas malhas,
- Tecidos inconstantes para o corpo do espaço -
Cobrem o corpo do sertão vigiado pelo mar,
Tal, como um corpo de sibarita enfeitado,
Se deleitasse vigiado
Por seus guardas em seu lar.

Os meteoros, na efemeridade,
São apenas curtos espetáculos
Nos palcos da amplidão...
São como breves oráculos
Nos tablados da ilusão.

As nuvens hibernais num límpido céu
São frios iglus de estrelas sem jaço
Que vivem como esquimós na Groenlândia do espaço
E se o zênite fosse a Ásia Central,
Plutão seria o Gengis Khan oriental.

O povo de estrelas perece
Ao nascer o sol;
À noite o luar se irmana com suas silhuetas,
A todos os seus irmãos que são planetas.

O terço que o tempo reza tem contas de calendários...
E os rochedos, comumente solitários,
Fazem preces que vão da Terra à Eternidade;
Os ventos são vândalos cruentos
Que agem com grande intensidade
Sobre os campos matutinos, suarentos;
Os ventos também podem ser
Soldados maus e turbulentos,
Os quais, em atitude louca e funesta,
Ao chegar o calor das calmarias,
Eles se esquecem da labuta de seus dias,
E se descansam no quartel da floresta.

O arrebol é um fluente escarlate...
O luar é um licor verde-abacate,
Servido aos campos na taça do espaço.
E a noite, ao deitar-se em seus campos estivais,
Ela guarda orvalhos em seus bornais;
E na sua despedida, mesmo que ela não chora,
Ela lança os orvalhos que carrega
Por sobre o lixo da aurora.
E no coração do poeta tudo é noite ao redor,
E o seu sentimento grande pode tornar-se menor,
Quando a marca do desprezo vier manchar-lhe os pronomes,
E aí o poeta diz... Deixe-me ser feliz!
E aí, eu suponho que a beldade diz
"Seja feliz Antonio Gomes!"

Nota: Eu me concludei - cheguei à conclusão.

                                                   27.10.2005


Vitória Negra

                 I
Os cantos dos noitibós são lamentos
                                             Sobre-humanos
Parecem ser gritos profanos contra o trevor
Da noite que não lhes deu o aconchego do amor,
Deixando-os tristes na solidão do nada...
E ao chegar a alvorada elas os nina
No acolchoado da campina:
Os noitibós desprendem mil rumores,
- hipérbole de intelecto -
Que pululam nas flores
                                          Ou nos poros do relvado.

A liberdade é um país verde-louro
           Do mapa das Idades:
O cravo frequenta, ou habita no chão das
                                                            Rosas,
Exceto quando ele está preso na jarra
                                                            Dos altares.

Antigamente, a cor negra era subalterna
          À vanglória dos poderosos:
O chicote, ou a tortura de outras maneiras,
          Faziam réus confessos,
Os quais pra se livrarem de tantos tormentos,
Acabavam-se por confessar crimes
          Sem ser por eles praticados.

Vamos falar de um moço escravo
Que quando ficava bravo
Era castigado severamente...
- Zé Lobo, era o seu nome -
Sem haveres, sem renome,
Trabalhava simplesmente.

Na fazenda do Coronel Carneiro
Zé Lobo era justiceiro
Trabalhando de feitor;
Era ele que comandava
Uma escravaria imensa,
Numa miséria intensa,
Os seus irmãos de cor.

O grande Capitão Militão,
- Outro fazendeiro do sertão -,
Precisava comprar um escravo feitor:
E numa manhã de sol, num embalo,
Ele amontou seu cavalo
E foi bater à porta
Do outro senhor.

O grande Capitão Militão,
- Outro fazendeiro do sertão -,
Precisava comprar um escravo feitor:
E numa manhã de sol, num embalo,
Ele amontou seu cavalo
E foi bater à porta
Do outro senhor.

               II

As nuvens escuras, prenhes de chuvas,
São "nimbos" negras da estância dos ares,
Que se regurgitam de água natural
Pra saciar a sede dos campos,
Com os aéreos e imensos regadores
Da esfera atmosférica.

As noites também são negras servis,
Escravizadas na estância do tempo,
Que amarradas no tronco do infinito
São chicoteadas pelos ventos masoquistas.

Os negros ébanos se irmanam aos rochedos,
E as negras borboletas se envergonham
De oscular o rosto das rosas rubras.
As grutas dos marsupiais recebem seus filhos
De tranquila proliferação sem dores.

A indigência vive algemada e submissa
A insurgência constante da opulência:
A ânsia gritante dos "obsessos"
Diante de seus atos bisonhos
Amamenta o organismo das insurreições,
E aí, as almas sádicas
Se deleitam em seus males.

                        III

O Coronel Carneiro ouviu bater à porta,
E saiu pra recepção do amigo,
O qual lhe expressou o que viera fazer ali,
Ou seja, comprar-lhe um escravo feitor.

Carneiro informou ao seu visitante,
Que ele possuía um negro a seu gosto;
Só que naquele momento, o negro não estava ali,
Para que Militão pudesse vê-lo.

Por sua vez Militão propôs comprá-lo
Apenas por informação;
E Carneiro, precisando de dinheiro,
Aceitou negociar.

E então, quando Zé Lobo voltou do trabalho,
Ele aceitou sem contenda,
A notícia que ele já estava sendo vendido
Para o mesmo serviço em outra fazenda.

Como a alvorada desperta
Com o advento do dia,
Tine o sol na serraria
No ápice de seu calor.
E o zéfiro forasteiro
Ao pousar sobre o relvado,
Traz o nardo de outros bosques
Para ungir o seu tablado.

          IV

E aí, no outro dia
O escravo à disposição
Dos homens que o levaram,
Se entregou ao Militão.

Militão não conhecia
O escravo pessoalmente,
E aí, o senhor ao vê-lo,
Quase morreu de repente.

        V

A incansável batalha dos ingratos
A favor da evidência de seu ouro,
Sob a cúpula do teto de seus atos,
Predomina o valor de seu tesouro:
Esse vínculo às turbas de insensatos,
Deixa ao pobre plebeu caído o couro...
E o potente o mantendo ao "desacesso",
Se mantém co'a vigência do progresso.

O estilete que fere o perdedor,
É o mesmo que fere e dá a vitória:
O estilo "grandíloquo" do orador
Dá mais ênfase ao teor de sua história
A eminente prosódia de um autor
Que exorbita na eloquência e na vanglória,
Nunca tem uma aceitação unânime...
Muitas vezes, sua projeção é exânime.

                       VI

Voltamos agora à fazenda do Militão,
Onde o escravo Zé Lobo se apresentou:
Militão ao vê-lo se admirou,
E para si mesmo comentou.
"Que problema me trouxe a chegada
Desse negro aqui em minha morada;
De hoje em diante acabou meu sossego
E aquele velho segredo
Da minha vida cheia de maratona,
Poderá agora boiar à tona.

E ali, como em todas as fazendas,
Todos os negros, às cinco horas da tarde,
Tomavam café em conjuntividade:
E ali, na fazenda do Militão, 
Havia uma negra a Nhá Zica,
Que havia muitos anos
Ela servia café naquela casa rica,
E era ela também que dava café aos escravos
Dali daquela enorme fazenda,
Tanto na senzala como na tenda.

E após a chegada do tal negro,
Militão não teve mais sossego,
E proibiu Nhá Zica de servir café aos escravos
Daquele dia em diante,
E o motivo o leitor saberá
Daqui a pouco, adiante.

            VII

As estrelas do céu são povos de virgens
No templo excelso da abóboda do Além,
Furtivos recatos e esconsas origens,
Sem ser vulneráveis às mãos de ninguém...
Do vento as lufadas são fortes vertigens
No rosto dos "cirros" que vão e que vêm,
E do alto se miram no espelho virente
Do glauco oceano extenso, ingente.

As nossas ideias são indústrias de sonhos...
São vidas anexas aos dogmas do amor
Que às vezes derrapa aos báratros medonhos,
Sem ter o alicerce do próprio vigor...
São sombras de um zênite nos páramos risonhos
- Ideias nitentes de um sóbrio orador:
E as vidas ao léu - serpentes sem Éden -
São forças rebeldes que as normas
                                                  Transgridem.

E no limiar do saguão do abismo
Se assentam os trôpegos espíritos dos réus
Que no rotineiro chão do egoísmo,
Chegaram ao mundo, esgueirando dos céus;
Mas, quando na morte, o fatal ostracismo
Levar esse povo ao desterro de Deus,
Do demo, o brasido co'esse suplemento,
Engorda os paióis co'esse farto provento.

Das ciências da vida, o mundo é um colégio;
Nós somos alunos, e o livro, - professo -
Nossas vocações nos dão o privilégio
Da estirpe de sábios, fixarmos no ingresso;
Que no alfabetismo, o aparato egrégio
No céu do saber, é um futuro progresso:
E os livros á solta são nossas escadas...
São pérolas marcantes; são nossas estradas.

               VIII

Voltamos a falar de Militão:
Quando o escravo chegou em sua fazenda,
Estando já dentro de sua tenda
Militão o reconheceu;
Aquele escravo feitor era seu filho
Que ele comprara sem saber quem era...
Zé Lobo era filho de Militão com Nhá Zica:
É nessa hora que o rico se "estrumbica".

Militão não queria que Nhá Zica servisse café
É para que ela não se deparasse com seu filho
E que aquele negro desvalido, sem brilho,
Era filho legítimo, sem contestação
                          De Nhá Zica e Militão.
E o leitor erá compreender de forma natural,
Que Militão não queria ter uma negra
                          Como sua esposa oficial.

Naquele tempo, o fazendeiro viúvo ou solteiro,
Não podia arranjar filhos com escravas,
Porque senão, a Guarda Nacional
O obrigaria a se casar com a vítima,
                         Por bem ou por mal.
Nesse caso, a sua esposa negra
Teria direito à posse dos bens do marido...
                         E aquela negra família
Teria casa dinheiro e mobília,
Ou tudo que ao marido pertencesse...
Até lua-de-mel, que a sua negra quisesse.

Um dia, Militão viajou,
E assim que ele se retirou,
Ás cinco horas da tarde,
Nhá Zica, muito à vontade,
Serviu café para todos...
E com seus costumeiros modos
Ela iria descobrir a razão
Da proibição de Militão,
De servir café aos negros
Com sua própria mão.

Daí a poucos minutos
Pintou-lhe uma bela surpresa!
Nhá Zica achou seu filho,
Era Zé Lobo com certeza...
E os dois, mãe e filho,
Ambos numa alegria acesa,
Esperaram ansiosos a volta do senhor,
A fim de lhe comunicarem
Que ali naquela fazenda
Havia nascido o amor.

E quando Militão voltou,
Recebeu logo a notícia,
Que aquele antigo segredo
A paz de Deus revelou.
E não precisou de Justiça,
E nem trabalhos da polícia,
Pois, Militão, de bom grado,
Aceitou sua família
De Nhá Zica sua esposa,
E Zé Lobo o seu filho.

E daí em diante
O senhor, seu Militão
Matrimoniou-se oficialmente
Com Nhá Zica, na Igreja
De Santa Rosa na cidade,
Após passar no cartório
E assinar a papelada,
Passando à mulher e ao filho
Uma vida confortada.

Militão deu p'ra família
Dinheiro, casas e mobílias:
Zé Lobo, Nhá Zica e o marido,
Com muito amor de verdade,
Ficaram sendo donos da cidade,
E dez fazendas de gado;
E todo aquele legado
Estava diante do ato legal,
E aí, o povo falava baixo,
Dizendo alguns, "eu acho"
Que essa "mão tão aberta"
Não foi uma bondade "com sal";
Oitenta por cento foi medo
Da Guarda Nacional.

Eu sei que o Militão,
Se foi bondade ou não,
Fez de uma vez em sua área,
Sua família milionária
Que foi considerada
A mais rica do sertão.

Foi essa a vitória negra
Que os séculos nunca se esquecem...
E que, se a sorte for amiga,
O fraco não se periga,
E os humildes se enobrecem.

Se fosse em dias de hoje,
Nhá Zica, com seus renomes,
Ajudaria os pobres homens;
E assim, de forma discreta,
Ela ajudaria o poeta
Seu amigo Antonio Gomes.

                                   03.12.2005


As febres do poder

                  I
A vida intensiva do justo e do pobre
Que não se agrega às hostes do ouro,
É febre hipertensa que o tempo descobre
No peito das Eras chorando o tesouro
Que vai em esgueiro ao paço do nobre,
Que a troco de sangue sem pejo e decoro,
Se eleva a opulência a seus topes potentes,
Alheia aos ensejos de seus insistentes.

Os grandes racistas se expõem seus ditos,
As suas maneiras, e os seus pensares;
Do povo de cor já desfazem seus mitos,
E a cor negra vive nos seus calcanhares...
Alheio aos queixumes, ao choro e aos gritos,
A voz do poder sobre a terra e os mares,
Dá ecos de glórias do ouro em suas mãos:
- São vias de praxe para os cidadãos.

E na escassez de justiça na Terra,
Os nobres se sentem co'as rédeas na mão...
Mudando a paz em confronto de guerra,
Aos pobres humilham em seu campo de ação;
Se vão do baixio aos topes da serra,
Como o censo horrível de amores em vão...É como se a noite pedisse ao dia
Um raio de luz, em sua companhia.

São febres do poder os dogmas da opulência
No corpo empafiante da pernosticidade:
A indigente plebe implora a Deus clemência,Mas o riso de mofa da juvenilidade,
É o veneno lento que mata sem prudência,
Domando com suas petas as hostes da verdade
E a paz sentimental dos corações passivos
Aos canhares de ouro dos lordes intensivos.

Esse comando ímpio do chão da impunidade
E a crescente mágoa do povo em desunião,
São batalhões de mortes matando a integridade
Da entidade afeita ao batalhão cristão
Que pode, entre outras coisas, domar a realidade,
E o veredito eterno virá sem pretensão;
Que toda injustiça irá quebras suas asas
No fogaréu do demo... no eterno chão de brasas.

                       II

Paixões resolutas são febres de amores
No peito da plebe que sofre no chão,
Aonde a humilde impõe seus valores,
Deixando a justiça a narrar sua versão:
Na taça dos justos, o fel de amargores
Terá sua doçura no mundo cristão,
Onde o chão de ouro da "Eterna Cidade"
Se solidifica com veracidade.

Se um povo de vidas tombar sobre as campas
No fim das guerrilhas co'o sangue em vigor,
As mãos das virtudes acendem as lampas,
Da tetricidade amenando o horror;
Do escuro recinto se abrem as tampas,
E falam os heróis do seu mundo de flor
Que a morte anulou os seus feitos de glórias...
- Colheitas frustradas no chão das histórias.

O sangue das guerras lavou nosso chão,
E valorizou nossas grandes vitórias;
E a heroicidade do povo em questão,
Ergueu nossa fama aos topes das glórias...
E a integridade do povo cristão,
Na imparcialidade de suas histórias,
A fé se ressalta do imo do peito,
No chão da razão, com sublime conceito.

No fogo do amor, o ardor de suas fráguas,
Requeima no peito em excitação,
Que só se amaina com um jato de águas
Das fontes de glórias em exorbitação
Que apaga a fervura geral dessas mágoas
Que o velho desprezo pôs na ebulição;
Porém o amor do Senhor é mais forte
Que todos os poderes rotundos da morte.

Na Terra o poder do potente é mais forte
Que todo o direito que o pobre apresenta,
E se depender do instinto da sorte,
A vida em pobreza prossegue lenta:
Mas Deus, sendo o dono da Vida e da morte
Nós dá sua bênção ditosa e portenta,
E o Antonio Gomes poeta, e o leitor,
Se encontram em Deus seu canônico valor.

                                            05.12.2005


Pai Nosso

Pai, o meu coração subalterno, submisso
Abre as portelas do Seu amor, e por isso,
Imóvel me encontro alheio a ofender-vos.

Na dignidade da Vossa abnegação
O meu instinto humilde à Vossa veneração
Será inalterável... Sou um dos vossos servos;
Sou um dos que pretendem seguir de Vós os pés,
Ouvindo os seus preâmbulos, da fé através.

Quando em espinheiros eu me envolver mundanamente,
Unido ao desperdício da fé temporariamente,
Eu sei que só o Seu perdão regenerará meus erros.

E o meu primeiro passo é a submissão,
Sacudindo os erros da meu viver cristão;
Tendo a meu lado o Vosso inefável amor:
A vida terá o bálsamo da Vossa insigne flor,
Imortalizando o sol do meu fervor,
Sendo a esperança tinindo em meu brasão.

No mundo, desde as mansardas ao castelo sublime,
O Vosso indizível ego manterá o Seu regime

Cada dia, cada hora, cada fração de tempo,
Eu vos peço, livrai-me de qualquer contratempo!
Um dia, após a morte chegará o meu feliz momento.

Se o ímpio regenerar-se e penitenciar-se,
As suas culpas irão esvaecer-se, opacar-se;
No sol da divina escusa, todo bem realizar-se-á...
Tanto na paz como na guerrilha
Imortalmente, do Senhor, há um fanal que brilha
Fortificando a cidadela do cristão.
Indo à porta, então, abrir-se-á a luzerna,
Chamando todos à mansão eterna
Aberta a todo coração contrito:
Do mais precioso tesouro infinito,
O seu pagamento jamais será restrito.

Se todos os ímpios se credenciassem,
E, por conseguinte se regenerassem,
Juntos, todos iriam conhecer na Eternidade
A fonte da graça da celestial Verdade.

O tempo antes da morte pertence à vida!

Você cristão, poderá sofrer nesse mundo, da lida,
Obstinado talvez ao materialismo
Sempre terá que se lembrar que o perpétuo abismo
Será ininterrupto; e nesse eterno desterro,
O preço será alto pra saldar seu erro.

Nas Idades que compõe os séculos além
O Cristianismo sempre será a trajetória do bem,
Medindo a palmos a vida do cristão
Envolvido na adesão a essa sacra união.

Vamos todos enlear nossa corrente
Enlaçada na fé ao onipotente,
Numa só junção eucarística e nobre:
Há uma função na Terra para o rico e o pobre!
Adorar ao Senhor assiduamente!

Assim, a glória de Deus estará sempre presente!

No mundo pecaminoso da heresia,
Os blasfemos se enterram dia-a-dia
Sob o vasto monturo da insensatez.

Ouvi, Senhor, os clamores de quem se refez!

Viva o povo de Deus! O poeta grita
Obstinado a sua lei santa, infinita
Suprema, poderosa, inefável, bendita...
Se os tempos e as lei não se arruinarem,
Os poderes do Senhor nunca terminam.

Repeti, ò Senhor, os Vossos prodígios
Entre o Vosso povo tão sofrido,
Intenso em seu viver, persuadido
No caminho do Bem em seus serviços...
Olvidai, Senhor, seus erros e seus vícios.

Se os bárbaros choram hoje no exílio,
Eles entendem que este mundo não "valeu a pena"
Jorrar maldades, e levar vida serena,
A sofrer no porvir na eternal "geena".

Feliz daquele que se admite em concórdia,
Em viver tocado pela misericórdia,
Insistindo comumente no altruísmo seu:
Tal, será eterna a sua dita no céu...
A transladação de sua alma será imperecível!

A luz de sua glória lhe será visível!

Vamos conjuntivos a uma só Igreja
Ouvir a palavra do Senhor;
Só Ele sabe do nosso interior...
Só Ele conhece, se temos ou não valor,
A fim de merecermos o Vosso santo amor.

Vai, alma cristã, seja bendizente!
Ouça bons conselhos humildemente...
Não se evada dos trilhos da santidade,
Tendo em vista o troféu da castidade
Aliada à esperança dos céus:
Diante do mundo e dos seus escarcéus,
Eu me rendo aos pés de Deus...

Ame, e busque o Senhor enquanto é tempo,
Senão, amanhã, um possível contratempo
Ser-lhe-á  fatal... E já pensou, meu irmão?
Ingresse hoje para a lei de Cristo!
Muito me alegro ao lhe aconselhar isto.

Nascemos com a fronte voltada para o amor...
A vida é um céu na Terra do Senhor!

Tortuosos são os nossos caminhos,
E as vias de acesso a Deus contém espinhos:
Rasteiros como arbustos vivem os pobres...
Ríspidos e orgulhos vivem os nobres,
Amando o ouro mais que o próprio Deus.

Como é bom viver a própria realidade,
Ouvindo o som sublime da voz da Verdade!
Mesmo involuntário, às vezes acontece
O arrependimento do pecado que se esvaece.

No íntimo dos beatos,
O amor nobre regenera seus errôneos atos.

Cai o poder dos bárbaros ao vir a morte,
E o poder do Senhor
Unificará com o perdão, dourando-lhes a sorte.

O tempo é o prazo do seu retratamento.

Para o amor a Deus a fé é imprescindível...
A fonte desse amor é inexaurível;
O mesmo, agora e sempre, é o Senhor.

Na Igreja ou no trabalho,
O nome do Senhor deve estar sempre presente;
Somando-se à paz, o amor está no chão do crente,
Servindo de pedestal para a estátua da vitória,
Ostentando a sua grandeza e a sua glória.

Depois das boas obras virá a recompensa,
E o Senhor dar-lhe-á sua virtude imensa.

Como sobe a névoa ao topo do cerrado,
A alma do justo subirá ao celestial tablado;
Depois de uma vida gloriosa com o Senhor,
A vida eterna pra alma tem um indizível valor.

Digníssimo Senhor, concedei ao poeta
Insólita vitória no Vosso eterno mundo...
Aqui, nesta vida, meu sofrimento é profundo.

No mundo daqui eu não vou indo bem...
O meu olhar de frente se atua no estrabismo,
Sendo incontestável o meu pessimismo.

De um lado, o pranto obumbra os meus olhos;
Aí, se apresentam os fundos dos abrolhos,
Imensos espinheiros a macular-me os pés.

Há ainda esperanças, da fé através;
O Senhor Deus de Elias e Moisés,
Já está com o meu socorro em suas mães...
Eu tenho fé que tudo serei com Deus, sem revés.

Pra que insurgir-se no mundo pecador,
Entre as hostes da blasfêmia e do desamor?
Responda meu irmão!
Deus julgará no futuro os erros do passado:
O "demo" do seu trono será exonerado...
A justiceira lei que enaltece o fraco,
Impugnará os votos do pecado.

A luz esplendorosa que não se apagará,
Será da glória eterna que outra igual não há.

No coração do ímpio repleto de trevores,
O amor se congelou da vida em seus horrores;
Só a retratação de toda a sua culpa
Servir-se-á de arrimo em toda a sua luta
Ao derredor da paz se abate a força bruta
Se for com a paz de Deus, sublime e ininterrupta.

Do mais santo decoro de honradez infinda,
Influi o imo d'alma de lucidez mais linda
Vendo a cidade de ouro da Nova Jerusalém:
Imensa na humildade e vera em honradez
Da alma em auge sacro em alta sensatez
As múltiplas virtudes - ouro da sua coroa -
São perenais adornos à excepcional pessoa.

As sombras da morte nos determinam,
Sair desse mundo que nos arruíam
Suas catástrofes e seus reveses...
Inalterável é o amor entre Deus e os anjos,
Ministrando ao céu os seus mais belos arranjos.

Como são justos os desígnios de Deus!
O pecador sente que o perdão se aproxima...
Mesmo sabendo que tudo vem de cima,
O sol da esperança brilha nos sentimentos seus.

Na íntegra tudo se conhece...
O pecador, sonhador do céu, não esquece
Seus deveres para com o Senhor.

Partindo desta Terra, tudo deixaremos
Esquecidos para trás;
Receberemos no céu o triplo, e muito mais
Do que deixamos ao léu:
O mundo em que vivemos,
Além do que nós queremos,
Marca o trilho do nosso sofrimento...
O bem e o mal nessa Terra é de momento:
Só são eternos os santos amores.

Abre-se um claro na aurora... É Deus que fala!
O seu sagrado argumento não se resvala
Sobre a vida dos fiéis que são hipócritas.

Não me exalto e nem me vanglorio;
Ouço a voz da humildade em meu lar vazio...
Será que um dia, após a morte,
Subirei contrito ao Eterno Norte,
Ostentando as vestes da dignidade,
Sendo o meu alvo o país da Divindade?

Deus de todos nós, defenda-nos do Maligno!
Esteja sempre conosco com seu instinto benigno
Voltado para o perdão das hostilidades,
E das blasfêmias contra as Vossas verdades
Descritas na evangelização:
Ouça-nos, Senhor, a nossa oração
Repleta de fé, de emoção, ante a Sua adoração
Estabelecida no amor:
Seja nosso, Senhor!

Não nos negueis a Sua mão salvadora...
A sua voz tão cheia de maestria,
Ouçamos na fé em Sua sabedoria.

Nós lhe agradecemos penhoradamente
O seu sagrado apoio condizente:
Segure nossa mão... Leve-nos à frente!

Deus de Jacó! Senhor de Israel...
Entre em nossa casa e esteja conosco;
Interiormente também estamos convosco!
Xará nunca tereis... Não há um outro Deus
Entre os homens, que salva e leva aos céus,
Inspecionados pelas forças do Além,
Sendo o Senhor nosso único Bem.

Cada um dos adeptos da Igreja
Assiste Missa com fervorosidade
Indo e vindo, com a família e os convidados,
Rumo às veredas da Cristandade.

Em resumo, a vida cristã consiste;
Mimificar o amor santo que nela existe.

Tudo no mundo transige com a vitória,
Em procedência com a sagrada história,
No livro escrito pelo coração.
Toda contrição é bem vista no pecador...
A graça, em fonte viva, sacia a sede do cristão
Católico ou protestante, ou em qualquer função
A ser aceita em prol da redenção...
O orgulho e a vaidade neste mundo ficarão.

Mais linda que a alva luz da aurora
A nitidez esplêndida da Cidade Santa
Se mostra ao ímpio quando a contrição o levanta.

Libertos seremos da servidão;
Iremos sempre a Deus que nos alforriou...
Vamos levar conosco alguém que queira
Regenerar-se a Deus que assim o libertou:
Assim sendo, ser-nos-emos seus adeptos
Ingentes, forte... De Deus os prediletos.

Na Igreja e no trabalho, o bom cristão perdura...
O nome do Senhor, do berço à sepultura,
Sempre será aclamado a toda criatura.

Da vida, a lei mundana sempre degradarei...
O amor casto, platônico, a Deus dedicarei.

Meu nobre salvador, Rei da Divina Luz!
Amai os meus leitores que levam a sua cruz,
Lendo os humildes versos de Antonio Gomes da Cruz.

                                                                        09.12.2005

A liberdade

São vidas gigantes que os séculos colheram...
Audazes patriotas do nosso torrão.
São águias rapinas que às tribos venceram
As hostes malignas da perversidão.
As máculas de sangue já se esvaeceram
Do chão pervertido da atroz servidão..
Com risos de rosas sorriem jardins,
Tendo a liberdade em seus camarins.

Que vale um intelecto em retrospectiva,
Se a voz do passado é fanhosa e rouquenha,
Quando um braço válido forceja em ativa,
No campo pedrento da vida ferrenha;
Se um bravo soldado tem a perspectiva
Que toda a milícia em socorro lhe venha,
Apita em comando o desfile da guerra,
E a sua centúria faz fogo e não erra.

A heroicidade dos bravos senhores,
Na cumplicidade de heróicos deveres
Se valorizou... Mas os seus servidores
Tombaram por terra co'os seus afazeres,
Porque a "Lei Áurea" driblou seus valores,
E a prole africana obteve os prazeres
De ser incluída com personalidade
Na lé, lado a lado com a liberdade.

No chão delinquente que o crime propaga
O atrito das hostes da perversidade,
Há sempre algum ego que em amor se embriaga
Co'a voz que proclama sua integridade;
O chão humanístico de afeto se alaga...
E a voz que conclama sua liberdade
Provém dos pulmões da esperança dos seres,
Que amar sem limites são seus afazeres.

A drástica voz do pecado de outrora
Quebrou as paredes do século de Adão,
E hoje ele atua com a voz mais sonora
Que o som aterrante de estranho canhão:
A vida em pecado é noite sem aurora...
E o orgulho e a vaidade em fatal dimensão,
São forças malignas de estranho condor
Que arranca o telhado da casa do amor.

Na vicissitude perversa das leis
Que beneficiam somente a opulência,
Os ímpios se atuam com emblemas de reis
Pisando nos ossos da extrema indigência:
E eu digo a essa prole "não vos oporeis
A essa gestão de soberba insolência
Que pode cair a altivez de seus atos,
Mudando as leis que empoleiram os ingratos."

A mão que apedreja é a mesma que mima...
Quem entra na Igreja também vai ao bordel;
Quem anda pra baixo pode andar para cima...
Quem anda em silêncio também faz tropel;
Quem escreve contos pode escrever rima...
Qualquer tabaréu pode ser bacharel...
Tudo depende das curvas sinuosas
Que avida percorre entre espinhos e rosas.

O emblema dourado do pano da glória
Se ostenta ao tablado em insigne troféu,
E o acústico vocálico de uma oratória
Vai do paço do nobre ao chão tabaréu;
E a liberdade, aos confins da vitória,
Se exalça no voo do amor no apogeu,
E o ouro do nobre egrégio e pernóstico
Traz a ingratidão escrita em acróstico.

Quando as multidões manifestam pedidos,
Reivindicando promessas antigas,
Às vezes as leis se esquivam aos ouvidos
Das multidões que lhes foram amigas
Porque na política, às vezes os vencidos,
Nos fortes estresses de suas fadigas,
Se opõem aos rivais suas opiniões,
E o sonho dos adeptos falece sem ações.

E a liberdade, no seu bom viver,
É o símbolo da vida no seu despertar...
É um sono sem sonhos o leito do ser,
Sem pesadelos para o incomodar:
Se a liberdade não se prescrever,
E de seu "imperato não se destronar,
Teremos um céu sobre o orbe de Adão,
Porém, sem serpente, num Éden de irmão."

Os ricos prorrogam o programa do ouro
Por sobre o tablado do próprio poder,
Só que a liberdade é o único tesouro
Que a grande pobreza não pode perder;
Da nossa bandeira o matiz verde-louro
O azul e o branco, terá que viver,
E o progresso da Pátria co'o seu heroísmo,
Terá sua Ordem na cor do civismo.

A forte aderência ao patriotismo,
- Vitamina dos músculos do amor militar -
Ao peito convulso do positivismo,
No espaço das Eras não irá se acabar;
E aí, sobre o auge do militarismo,
O corpo da guarda não irá recuar,
Mas, não obstante a essa segurança,
Queremos que a paz seja nossa aliança.

Os atos heróicos que a guerra experimenta,
São frutos da força intrépida do amor
Que todo soldado sem sua fase cruenta,
Demonstra da Pátria ser um defensor:
No fim, se a vitória seu rosto apresenta
No céu verde-louro ou quadricolor,
De toda a milícia, o seu prato emotivo
É sangue sem dores de um peito explosivo.

O sabre da espada de nossos heróis,
Contém a vigência da nossa coragem,
E o âmbito heróico dos nossos cowboys,
Se vai com a fama ampliar sua imagem.
E enquanto houver dias, luares, e sóis,
E enquanto houver sonho, ilusão e miragem
Existe o ecletismo de temas vernáculos,
Pousando como águias nos grandes oráculos.

E a liberdade comanda o estatuto
Que rege o decreto de seu parlamento;
As celas retém o organismo corrupto
Que mancha o tecido do seu fardamento,
Pois seu intelecto insurgente e bruto,
Só pensa em si mesmo, em seu farto provento...
E esquece que a sua vivenda na grade
É muito pior que a sua liberdade.

E "vamos que vamos" com a celebridade,
Honrar nosso pano que tem quatro cores,
Pisando nos ossos da mediocridade,
E desenterrando cadáveres de amores:
E vamos calar a fatalidade
Da voz da violência os seus estridores...
E assim, exumando cadáveres de sonhos,
Vamos realizar os seus atos risonhos.

O impulso escolástico de uma preleção,
impõe didatismo ao educandário...
Cada um dos adeptos, colhendo a lição,
Desse aprendizado se faz usuário...
O teor pedagógico dessa educação,
De outros adeptos se faz emissário,
Porém, muita gente condiz ao inverso
Que "a educação já vem desde o berço."

Quando a liberdade abre as garras de ouro,
Abrindo prisões ou quebrando grilhões,
O seu protegido se emenda em decoro,
Cansado do arrasto de seus turbilhões...
Não existem sorrisos nos lábios em choro,
Nem sangue de justos nos corpos vilões,
Mas a liberdade está em todos os setores,
Desde os tabaréus aos potentes senhores.

O pano da Pátria no seu verde-louro,
Com "Ordem e Progresso" e o nosso civismo,
É o símbolo da terra gestante de ouro
Que brilha entre outras co"o seu heroísmo,
Que foi no passado o arrimo e o tesouro
Do chão lusitano co'o seu heroísmo
Mas a voz setembrina de Pedro Primeiro
Salvou o Brasil desse forte entrevero.

E aqui se despede o poeta liberto
Do chão de seu verso e de seu compromisso;
Embora estando o seu ouro deserto;
O vate se sente tranquilo, submisso:
Se a liberdade eu cantei, eu estou certo
Que os meus bons leitores lerão meu serviço
E o nosso Brasil, em seu teto de luz,
Abriga o poeta Antonio Gomes da Cruz.

                                                              10.12.2005


Hipérboles

Tropecei mais de mil vezes!
Vejam que raiva, senhores;
Gastei mais de um milhão de meses
Pra pagar um buquê de flores.

Nem bem o meu tio morreu
Já levei um caminhão
De flores pro seu caixão.

Hoje, quando eu vinha a pé de
                                          madrugada,
Tomei a chuva toda na estrada.

Quando a namorada voltar,
Antes que ela se descanse,
Vou dar-lhe um milhão de beijos,
Cobrindo o nosso romance
De mais de trezentos anos
Depois de mil desenganos.

No quadragésimo aniversário
Que a minha mãe completou,
Eu lhe dei mais de mil abraços,
E ela emotivamente, chorou:
De tantas lágrimas que ela derramou,
Seu lenço que estava sujo,
Por si mesmo se lavou.

                                            12.12.2005


Observações

No livro dos séculos, as páginas de vidas
São folhas de sangue, de espinhos, e glórias...
São folhas de auroras no Além soerguidas,
Do livro de sangue de aéreas vitórias;
As límpidas manhãs na estiagem contidas,
São virgens ingênuas, sem luxo e vanglórias...
No inverno, o mormaço em seu ostracismo,
Se encontra nas rampas soturnas do abismo.

No chão diamantífero da suntuosidade,
Banhado co'os prantos de seu populacho
Escravo da sorte e da mediocridade,
Se rende aos assédios do rico em despacho.
O braço de ferro da perversidade
Mantém a indigência de "sapato baixo"
E o chão mediano entre a vida e a morte,
Comanda o embate entre o azar e a sorte.

A perversidade dos brutos senhores
Que escravizaram indefesas ralés,
Nos séculos outrora, ampliou os rigores
Do tronco, chicote, e correntes nos pés:
Da África partiram seus próprios horrores,
Nos barcos a vela boiando seus crés;
Porque, comparado a esse grau de maldade,
Não existe piora nessa crueldade.

No chão moralista desse cataclismo
De perversidades que encheram os sertões,
Medrou a paisagem do fero egoísmo
Que foi vitamina dos corpos vilões..
E assim eu descrevo no meu poetivismo
Que da humildade suas proporções,
Que a lei escravocrata que imperou-se um dia,
Elevou o apogeu da nossa economia.

Não obstante o vigor farturoso
Que o braço do negro aqui impetrou,
Se regurgitando o celeiro pomposo
Da classe burguesa que aqui se enricou,
Veio a oposição com um rigor mais honroso,
Em antagonismo à lei que se instalou,
Ou seja, o rigor dessa oposição
Impôs controvérsias contra a escravidão.

O positivismo da lei progressista,
Aceito nos campos da exuberância,
Fixou as ideias do amor naturista
Gerando riquezas com exorbitância;
E a escravidão com suas forças à vista
Ficou submissa com o ouro à distância:
E, aí, com pretexto de gerar economia,
Se enriquecia toda a burguesia.

Da escravidão o seu sangue pungente
Tintou nosso chão de agruras e dores...
Do tronco descia seu pranto fluente,
Regando os canteiros de ouro dos senhores,
Sem ter pelo menos um gesto clemente
Que amenizasse seus próprios horrores:
E a lei cada vez se radicalizava
No trabalho ríspido da classe escrava.

E "foram que foram" de tronco e chicotes,
Obrigando o negro trabalhar de graça,
Pra vitaminar da opulência os dotes,
À custa de golpe solerte e chalaça...
E assim, o ricaço, de seus camarotes,
Assistia os rigores dessa populaça
Que às vezes cansada de seus próprios tombos
Se refugiava em distantes quilombos.

O poeta observa o que a história ressoa
Que a vida em geral desses quilombolas
Nunca seria uma vida tão boa,
Ao se preocupar com seus ímpios cartolas
Que se eles descobrem os negros à toa,
Folgando a sorrir como um bando de rolas,
De certo o castigo haveria de vir...
Surrados de guasca até o sangue sair.

Mas já no declínio do século dezenove
Um grito se ouviu de possante pulmão
Gritaram "alforria", qual nuvem que chove
Milhares de gotas por sobre o sertão:
Saiu a "Lei Áurea"... Isabel se comove,
Doando a vitória pro negro em ação...
E, já erradicado o fatal cativeiro,
Chegou a República no mesmo terreiro.

E aqui, o poeta despede-se do texto
Com espontaneidade diversificada...
Na primeira estrofe eu dei o manifesto
Que o chão da utopia colore minha estrada;
Depois, eu revelo o ciclone funesto
Do forte verão de uma raça humilhada:
Falando de pretos, de forma discreta,
A vida dos pobres continua "preta".

E o mesmo poeta despede-se do tema,
Dizendo ao leitor do seu ponto de vista:
E já no final desde humilde poema,
Já tosquenejando à beira da pista,
Aí, eu me deito a sonhar com"Iracema"
De José de Alencar, escritor nativista:
E sonha o poeta Antonio Gomes
Obter de "Alencar" os seus fortes renomes.

                                                   28.12.2005


O céu e a serpente
              
              I

Toda a nossa existência na Terra
É provida de espinhos e flores...
Ante à lei do Senhor que não erra,
Sente o justo seus santos amores:
Lá no céu não há sangue nem guerra...
Lá reside o Senhor dos Senhores:
Da serpente do mal, o egoísmo
Se enrodilha nas grutas do abismo.

            II

O inditoso se sente arruinado
Com o dom que o destino lhe deu,
E se sente atraiçoado
Pelo amor que já lhe pertenceu:
E o céu sobre si desdobrado
Testemunha o que ele sofreu,
E a serpente do Éden de Eva,
Pouco a pouco, ao abismo o leva.

         III

A veemência da febre dos erros
Que propaga entreveros e horrores
No porvir, em seus velhos desterros,
Tendo o fogo em seus derredores,
Tange o bronze dos velhos cincerros;
Enquanto isso, esperanças se vão
Ao encontro das leis do perdão.

         IV

A serpente dos séculos de outrora
Que até hoje esse mundo ataranta,
De sua índole infame, traidora,
O seu ímpeto jamais se quebranta;
Ela adota a gestão pecadora
Do seu time de fogo que encanta
O estádio dos próprios horrores,
Do seu mundo sinistro de dores.

          V

Na estribeira do mundo entre as Eras,
Sobe o tempo firmando a cadência
Das Idades que vão às quimeras,
Mendigar do amor complacência...
Que os cadáveres de heróis entre as feras,
Vão-se às mesmas pedindo clemência
Para que não devorem a coragem
Que os heróis marcaram em su'imagem.

          VI

A serpente que eu digo nas oitavas,
Não é cobra dos velhos sertões.
É o diabo em atitudes bravas,
No comando de suas ações,
De onde escorrem sangrentas lavas,
De seus fortes e eternos vulcões,
Que no inferno explodem eternais,
Castigando suas almas banais.

        VII
A ilusão não se abate entre os sonhos;
Quando o chão da esperança floresce,
Vão-se os sonhos aos báratros medonhos,
E aí, a realidade aparece...
Só que aos ares da morte, enfadonhos,
O exército de vidas perece...
E depois, só sairão da caverna,
De acordo à prescrição Eterna.

A serpente que Eva conhece,
E o céu de Jacó e Abraão,
Entre eles o amor se conhece,
Só que o mal pode dar maldição;
Muitas vezes, a fé se decresce
Sem o apoio de uma oração,
Mas o sol auriforme da crença
Amordaça qualquer desavença.

A estética bucólica do belo,
Vinculada à extensão das Idades,
Vibra agora um sorriso "amarelo"
Com a clausura do verde nas grades
Do progresso, ao sertão paralelo,
Cuja vida sem modalidades,
Nem que rompa milhões de paredes,
Há de vir, em resgate aos seus verdes.

Vejo o céu e a serpente "olho a olho"
Como fossem reais contendores,
Destrancando o intrincado ferrolho
Do eterno ergástulo de amores:
A serpente queimou seu sobrolho,
Ao rolar a seu báratro de horrores,
Pois, não existe perdão nas alturas
Pra serpente, e suas torpes criaturas.

Quando a mão da virente esperança
Desenterra o cadáver do sonho,
O amor faz com ela aliança
Pra enfeitar sua performance risonha,
Só, que às vezes o orgulho se avança
Pra tornar o seu mundo enfadonho;
Mas, se a sorte ajudar,
Sua vida será salutar.

E aqui, se despede o poeta
Co'a humildade em seu versejar,
Pois a sua ficção predileta
Que consiste em ao verde cantar,
Descansou-se um pouco... e discreta
A ficção quis só um pouco parar,
Pra versar com humildade coerente
O contraste entre o céu e a serpente.

O leitor contemplando a ficção
Desses versos aqui poetizados,
Já antevejo que a sua opção
Por meus versos diversificados,
Consistiu no seu plano de ação
De acordo aos seus predicados...
E o poeta versou comumente
O que há entre o céu e a serpente.

Tanto faz, sendo o céu e a serpente,
Como sendo a serpente e o céu,
Todos os dois não se veem frente a frente
Lado a lado pleiteando troféu:
Só que o Bem e o Mal, comumente,
Como fossem vento ao fogaréu,
Se contrastam em seus fortes renomes,
Nesse tema de Antonio Gomes.

                                 30.12.2005

Rancharia

            I
Era uma fila de ranchos
Nos arredores da fazenda...
Escravos alforriados lá residiam
Cada um em sua tenda.
A negrinha Luci era a mais bela
De toda a rancharia;
Era a única que não tinha alforria,
E assim, consequentemente seria
A única escrava que ali havia...
E ela morava com os negros velhos
Alforriados, que a protegiam
Em seu horrível "dia-a-dia".

Uma outra mulher cafuza, e desordenada
No vestir, no andar, meio assoberbada
E sentimentos em desalinho, desenvolta
E sem recatos andava solta
Com instintos de meretriz:
Luciana - era o seu nome -
O destino lhe dera um mau presente
Ou seja um mau renome
E apesar de seu mau desígnio,
Tendo o aspecto fisionômico um tanto
                                      Ou quanto sisudo
Lhe assomava, apesar de tudo,
Que tinha uma vida feliz.

Em seu peito ela ostentava
Colares de dentes de feras
O seu perfume era das terras orientais,
E além de outras coisas tais,
Luciana vestia roupas provocantes,
As quais seria um veneno lento
Na taça de seus amantes;
E em virtude dela ser meiga e bela,
Todos morriam de amor por ela.

                 II
O anjo da morte costura as mortalhas
Dos fortes guerreiros do chão nativista...
Indígenas se unem durante as batalhas,
Buscando entre outras, u'a sonhada conquista
E nessas guerrilhas sem fogo e metralhas,
Valendo-se de flechas e lanças à vista,
Muitos devoravam os seus prisioneiros,
Outros os sepultavam em seus tabuleiros.

Os que devoram os seus prisioneiros,
São chamados índios canibais
E todos aqueles ousados guerreiros,
Depois da vitória, dançavam demais:
Com seus instrumentos, nos velhos terreiros,
Dançavam, dançavam com os seus iguais...
Se entrasse um branco, ou de lé diferente,
Seria abatido impiedosamente.

Viviam de caça, de pesca, e de guerra...
Suas atividades quase anormais,
Deviam à Tupã que, segundo eles, não erra...
Tupã era o deus da sua terra feraz;
Uma vez, cultivada, lhes dava a terra
Milho, mandioca, e outros cereais...
E a voz atroante de acústico trovão,
Segundo eles, era Tupã lhes chamando atenção.

                  III
Voltando a falar de Luciana...
Essa mulher, a cafuza africana
Era a mãe de Luci
A linda escrava que vivia ali
No meio dos alforriados...
E desde que o senhor daquela fazenda
                                   A adquiriu,
Muito muito ela sofria,
Pois Luci não obedecia
Quaisquer ordens do patrão.

Luciana era esposa do negro Vicente
E Luci, sua filha, prendada do dom da beleza,
Apesar de ser escrava,
Parecia ser duquesa,
Se houvesse duquesa negra.

Luciana era de pele vermelha,
Mas, de alma tão alva como a estrela D'alva
Que sai antes do arrebol,
Ou como a aurora que morre
No berço onde nasce o sol.

A mãe de Luci era infiel ao negro Vicente
Só que ele - negro de pele luzente -
Não era o pai de Luci.
Luciana era africana da Guiné,
E trabalhava de porteira
Num granfino cabaré;
Vicente era espanhol, e trabalhava
Numa fazenda de café,
E após chegar ao Brasil
Conheceu a famosa Luciana
Que para aqui também viera;
E como aqui eles eram escravos
Rudes revoltosos e bravos,
Ficaram fortemente enamorados,
E só se casaram autenticamente,
Depois que foram alforriados.

Vamos falar de Zé Juca, negro alforriado da rancharia,
E que apesar de liberto,
Trabalhava pro senhor Zé Maria,
Dono do povoado, e foi dono dessa grande escravaria.
Zé Juca só tinha um objetivo
- Ganhar dinheiro vivo
Para comprar legalmente
A liberdade de Luci, independentemente.

Zé Juca tanto se esforçou
Que o negro Vicente desconfiou
Que a grande amizade com Luci,
Poderia consistir em outra coisa
Para agradar sua esposa.

Zé Juca juntou "dois contos de réis"
E comprou a alforria de Luci,
Assinando um montão de papéis.
Vicente tinha razão de desconfiar de Zé Juca
Que aquele negro velho "bom de cuca"
Era o pai de Luci; só que Zé Juca não sabia
Que a sua filha ali estaria
Entre eles, na rancharia.

E num dia de rodeio,
Vicente convidou Zé Juca para um passeio,
E longe da rancharia, Vicente lhe perguntou:
"Amigo Zé Juca, por que você gosta tanto da Luci?"
E Zé Juca respondeu: "Amigo, desde muitos anos
Que eu tenho à mãe dela uma forte amizade,
E com todo o respeito de verdade,
Eu gosto de todas elas com absoluta fraternidade."

E, já em casa, Vicente perguntou à Luciana,
- Cada vez mais desconfiado -
O que teria havido no passado
Entre ela e Zé Juca,
- O tal negro "bom de cuca".

Luciana lhe respondeu, "Se queres a verdade,
Com toda a real sinceridade,
Zé Juca é o pai de Luci;
Só que ele não sabe que Luci é filha dele...
É o seu instinto de pai, que fala de Luci para ele."

                IV
O sol é um rio de ouro
Dos páramos do horizonte...
É um aéreo tesouro
Do céu, que cai sobre o monte:
Da aurora, o charme em decoro
Abraça o busto da fonte,
E se esconde entre as paredes
O riso dos campos verdes.

O enlace entre as boninas
E os galantes colibris
E as juritis setembrinas
Juntamente aos bem-te-vis,
Têm das névoas as cortinas...
E esse povo tão feliz,
É uma multidão alada
Vivendo ao léu, mas, honrada.

O afeto cristalino
Entre o espaço e a manhã
É um instinto genuíno
De amor à paz louçã,
Como o amor de um menino
Com a sua própria irmã...
É mais que a neve em pureza,
Com a mais sólida beleza.

A vida é um sol de vitórias
E de derrotas também;
Das guerrilhas, suas glórias
Verteram sangue... porém,
Suas triunfantes histórias
Contadas por mais de cem,
Enterneceram os ouvidos
Dos que já foram vencidos.

As tribos de nuvens brancas,
- Nativistas das alturas -
Miram da Terra as barrancas,
Quais flecheiras criaturas,
Como índias brancas, francas,
- Vulgarizadas figuras -
Mandam brisas como flechas,
Das relvas frisando as mechas.

              V
Quando as flores do outono
Caem para os frutos virem,
Os colibris vão dormir,

E as borboletas sem sono,
Se tais saudades sentirem,
Voam pra se distrair.

O povo, sem desavença,
Se une aos dogmas da crença
- Vitamina do cristão -

E a esperança na rede,
Mantém a face do verde
De um semi-morto sertão.

A noite, ao chegar lenta
Veste a farda lutulenta,
De estrelas salpicada.

Chorando a morte do dia,
O seu pranto de elegia
Unge a relva verdeada.

           VI
E, voltando atrás ao tema,
Terminou por Vicente concordar
Com a sua  própria situação...
É que o mal já estava feito,
E estava sem remediação.
E terminou a história
Com o perdão de Vicente
Que perdoou Luciana Clemente
E o seu amante Zé Juca
E foram amigos simplesmente...
Luci foi alforriada num dia de muita glória,
E assim, no campo da liberdade,
Todos obtiveram vitória.

E terminou a história
Sem brigas e sem questões,
E assim viveu a rancharia
Os seus dias de alforria,
Seus amores e realizações.

                              31.12.2005


Rotina da inspiração

O verde já está em decrescente recesso,
No chão subverso de atroz degradância...
Na concavidade de estar pelo avesso,
Perplexo e humilde se atua em inconstância;
O verde ergástulo do velho progresso,
Se atua impotente em atroz mendicância,
Que a mata franqueie florais matizados
Ao campo, o odorando por todos os lados.

As rochas se prendem no ergástulo das selvas,
E os beatos se prendem ao ergástulo da fé...
A aragem macia despenteia as relvas,
E os astros magnatas conservam sua lé:
Rocios assistem o enleio das ervas,
E o vento amarrota da praia o libré;
E a aurora altaneira oferece ao vate,
Seu rosto envolto em toalha escarlate.

À noite as estrelas conversam co'os campos
E as tumbas solitas conversam com Deus...
Os astros longínquos acendem seus lampos,
E a terra rotunda sorri para os céus:
Se as sepulturas soltassem seus tampos,
E os mortos saíssem cobertos de véus,
Talvez com saudades do velho "mundão",
Dariam um passeio, fazendo oração.

O chão periférico da esfera terrestre
Que envolve riquezas luares e sóis,
Acolhe os sertões... e o verde campestre,
À vista matina de seus arrebóis,
Contempla o viajor - cansado pedestre -,
E o voo do siroco em seus caracóis:
E as caravanas de ondas dos rios
Viajam em busca de climas mais frios.

Em pleno deserto, os sertão desfalece
Seus membros raquíticos por sobre o areal...
E na paz da manhã o rosicler se enrubesce,
Ao ver do sertão seu distúrbio fatal:
Já, por outro lado, o progresso enobrece
Com o ouro nas mãos, o poder social
E o povo por si se convence e idolatra
Que o "tiro do verde" saiu pela culatra.

E o expansionismo do ouro em seus atos,
Cobriu o aparato das grandes mansões,
Sendo a vitamina dos órgãos sensatos,
Enchendo os celeiros dos grandes barões...
E todos os adornos desses aparatos,
Custaram às minas milhões de milhões,
E a velha opulência co'essas tradições,
Mantém a nobreza em seus grandes salões.

E, dizem os urbanos, "lá vem o progresso
Co'o verde sintético embaixo do braço!"
E o ouro na frente, mantém ao regresso,
Um chão de riquezas, sem dor ou embaraço:
E o verde restrito em seu insucesso,
Caiu da estribeira do próprio fracasso...
E nada obumbra o sol do fanático,
Que doura as planícies do seu mundo extático.

Nas horas caladas da noite em negrores
A terra cansada dialoga com'os céus
Recados de heróis que já foram senhores,
Hoje, perecidos no ergástulo dos réus:
No fofo embate entre a brisa e as flores
Se evadem fragrâncias fugindo a seus véus...
E no pergaminho perpétuo do espaço,
As nuvens escrevem caracteres de aço.

O poeta se inspira na velha rotina
Que a vida do verde é sempre o seu tema
O poeta, ao luxo do ouro, abomina,
A vida dos campos constrói o seu lema.
Do vate, o presente, o futuro azucrina;
Na triste ilusão de seu humilde poema,
Se desbota o verde numa atonia imensa,
Sem perspectivas de convalescença.

O ouro se eleva do chão ao pináculo
Da glória mantida no auge do poder;
Num tema expresso de texto vernáculo,
No qual os ouvintes terão que entender
Que, todo herói terá seu tabernáculo
De glórias mundanas que irá colher...
Mas, todo esse ouro tão mal conquistado,
No lixo do inferno será despejado.

O século responde no chão das Idades
O interrogatório das bocas das Eras
Que dizem "onde foram as majestades
Das flores do palco de suas primaveras?
E será que o verde ainda sente saudades
Das matas povoadas de roncos de feras?
E por que o poeta se inspira no verde,
Se o mar do presente não mata sua sede?"

O século responde através da ilusão...
"As flores se encontram em paz nos altares,
E se encontram também em baixas proporções
nos estreitos jardins dos pequenos lares;
E o verde evasivo do velho sertão
arrasta saudades nos seus calcanhares,
E o poeta o inspira em seus versos com amor
Porque o vate também é o seu defensor."

O tempo é passivo aos tropéis do destino
Esconso aos trabalhos da sorte em labor...
Se o chão da esperança se abate mofino,
Não há perspectivas de paz nem de amor:
É como se um condor num voo ferino,
Voltasse sem êxito, porém sem rancor,
Ao ver que sua presa fugiu de seus pés,
Sentindo que foi do azar através.

O azar é um veneno, e a morte, um torpedo,
Dizimando na Terra um exército de vidas
A verdade é um dever... e o amor - um segredo -
Que tem da esperança as mãos estendidas
E o canto hilariante do passaredo
Nos galhos das matas de verde tingidas
Parece uma ópera ao céu dirigida,
- Cenário radiante de uma Era esquecida.

A vida sem amor é um veneno lento;
É o óbito espiritual do coração...
É um rebanho de praias sem ter vento,
Junto às rochas gemendo no verão;
É um abismo no chão do sofrimento,
Onde há trevas, sem luz na escuridão;
É um paul num caminho de caravana...
Gás de tédio que envenena a paz mundana.

A vida é um surto de glórias e espinhos
No chão dos amores... verão de ilusões:
Os "grandes" dispõem-se de sedas e arminhos,
Baixelas de ouro em suas mansões...
As mesas providas de caríssimos vinhos,
De nobres iguarias... ricas provisões
Não vão às choupanas dos velhos mendigos,
Saciar as ânsias dos fracos amigos.

Enquanto isso, a indigência que trôpega se arrasta
Na atroz mendicância de um naco de pão,
Carrega com ela uma sina nefasta
De pobreza extrema e atroz solidão;
Até o amor entre si se desgasta,
Ao se deparar tanta ingratidão.
No chão espinhoso e sinistro da vida,
A tíbia esperança do indigno é sofrida.

A rígida opressão de uma crise na ativa,
Se parasitando no sangue passivo,
Do chão do altruísmo levita e se esquiva,
Pisando ralés com seu passo nocivo;
Se, num remoinho seu barco à deriva,
Perdesse num pélago o seu ânimo altivo,
Sua prerrogativa tão preponderante,
Baixava seus termos... seu ímpeto pedante.

A névoa grisalha sacode seus velos
Por sobre as campinas fardadas de verde;
Os campos se mostram aos céus paralelos,
- Presença expedida sem qualquer parede -
E o vate suplica em seus fortes anelos
Pra indústria e o progresso dormirem em sua rede:
Que deixem o verde dos velhos sertões,
Transpirar os ares de seus baixadões.

As nuvens e as névoas são povos de virgens,
No trono assentadas da aurora escarlate...
A Terra e o espaço têm suas origens,
E de acordo à ciência, não há quem descarte:
O vento às matas lhes causa vertigens,
E os mistérios do orbe não há quem desate...
E o velho progresso constrói sua parede,
Em contravenção ao esmalte do verde.

Os pássaros se afagam... e reciprocamente
Vão se amando na cama de seus ninhos;
Até os matizados pavões, obviamente,
No amor se mantém e não ficam sozinhos
E do urutau, o seu canto dolente
Parece um deploro ao amor dos vizinhos,
E os rudes anfíbios demandam em seus limos
Um análogo homogêneo a requestar-lhe os mimos.

Ninguém não obstrui os passos do progresso,
Lançando-o do pináculo do seu pedestal,
Pois com ele se constrói grandeza em grande acesso,
E dele se depende a riqueza nacional.
A indústria, outrossim, penetra nesse ingresso,
Amplificando os meios da vida social;
Enquanto isso o verde em seu próprio ostracismo,
Vai se chegando aos poucos ao fundo do abismo.

Na esqualidez do mundo da mediocridade,
A infâmia fez seu teto de degradância e dor;
A indigência tíbia não tem privacidade...
Por ela, a opulência mantém seu desamor.
Porém, o amor de Deus sem distintividade,
Propaga a todo ente, igual prêmio de amor,
E a pontualidade do ser em seus deveres,
Irá colher do céu insólitos prazeres.

O mundo em seus espinhos se arqueia delirante,
Ao ver rolar no abismo as leis da mocidade;
Guardando o seu passado na mais antiga estante,
Só resta evocações da vasta humanidade.
A distintividade do rico exorbitante
Que finge ser um adepto da fé na divindade,
Mesmo assim, o Senhor pode fechar-lhe a porta,
Porque a fé sem as obras, é considerada morta.

O mundo se ataranta na depressão constante
Co'o chão da mocidade murchando a própria flor,
E o vácuo infecto e sórdido do orbe indômito e errante,
Propaga à humanidade o caos de seu terror;
Porém, se o chão regênero da fé, lhe é excitante,
A ponto de irmanar-se às leis do Salvador,
Aí, seu chão levita, e a paz em si perdura,
Se perpetualizando no amor toda a doçura.

A brisa dos seus sonhos dedetizou seus ares,
Tornando realidades as suas pretensões...
Corrente que o prendia saiu dos calcanhares,
E a palma da vitória quebrou os seus grilhões.
E assim o mundo errante requisitou seus lares,
Tornando vero e firme um sonho entre milhões.
Se todas as guerrilhas tivessem tais vitórias,
O mundo em seu genético seria um "show" de glórias.

E aqui me despeço dos meus fiéis leitores
Que me acompanharam no som desta versão:
Que a veracidade já eliminou sem dores
A auréola resplendente do rosto da ilusão.
Leitores! O meu sonho é ver o verde em flores,
Desenterrando alhures as fibras do sertão,
E aí o poeta grita em todas as diretrizes,
Feliz dois e seis! E vamos ser felizes.

                                      01.01.2006


Galanteios

Os seus lábios são meu tudo,
Porém, seu olhar sisudo
Que me prende o coração,
Obumbra o céu da esperança...
Faz bravia a maré mansa
Do mar da minha ilusão.

Da árvore do teu sorriso
São as flores os seus beijos,
E todos os meus desejos
São luzes do seu luar:
Seu amor é a verde fronde
Das selvas do coração...
São baluartes dourados
Do castelo da ilusão.

Do meu jardim de rosas
És uma das mais formosas
Sobre o verde da esperança:
Sou uma das vítimas que morrem
Nas mãos que não a socorrem
É aí que o vate "dança".

Mas a luz do seu olhar
É um fanal promissor,
Que ilumina as veredas
Das selvas do nosso amor.

Não quero ser seu brinquedo...
E se tiver algum segredo
Não me queira revelar.
Eu só quero, entre tudo e todos,
Entender todos os seus modos
Tendo a dita de lhe amar.

São murmurinhos de brisa
Os sons do seu dialeto...
Eu serei seu porta-voz,
Quando falarem de nós,
Se quiser que eu seja indiscreto.

                             02.01.2006


Mariana

              I

Mariana era uma estrela bela
Do céu da minha ilusão:
Solitária em seus pernoites; noites
Trevosas de solidão,
Não tinham estrelas no horizonte
Do  seu ingênuo coração.

Totalmente solitária, a sua área
Era vazia, a mais não ser.
Na aridez do seu destino mofino
Não medrava seu prazer.

Pra que existem pessoas tão boas
Com um fadário cruel?
Por que os poderes que esmagam, não pagam,
Bebendo taças de fel?

Pra que acumular riquezas acesas
No trono de um dono só?
Por que a pobreza indefesa
Não pode desarmar os seus rivais,
E nem desatar seu próprio nó?

Ninguém tem essas respostas, postas
Na língua para o poeta:
Ninguém não conserta o mundo profano,
Com tudo que o desafeta.

               II

Era uma vez...
Mariana vagava pelos canaviais,
Sem pujança e altivez;
O filho do seu patrão gostava dela,
E ali, ele se encontrava com ela
Com amor e muita paz.
Mas era um encontro platônico, não irônico...
Era sério até demais,
E o filho do patrão se encontrava
Com Mariana nos cafezais.

O filhos do patrão Lopes
Que se chamava Zé Santos
Chegou de derramar prantos
Por causa de Mariana,
E ali, no meio das canas
Todos os finais de semana
Zé Santos iria ver sua menina
Não com olhos de rapina,
Mas, com a candura de um ser.

Zé Santos lhe dizia com íntimo de ovelha...
"Mariana, tu és meu anel precioso;
Tu és a alva joia que a mim se emparelha,
Mantendo o condão desse amor generoso...
Tu és uma pérola que a um anjo assemelha,
No céu desta vida sobre um mundo gasoso,
Cheio de calor e potencialidade,
De estar frente a frente com a castidade.

Mariana, eu te digo, minhas noites são frias,
Não há fantasias nesse meu falar,
E eu digo em seguida que minha nostalgias
Que eu sinto no imo, obstrui meu pensar;
E eu fico 'entre a cruz e a espada' em meus dias,
Buscando entre os fracos, ter o meu lugar...
Mas do estradivário da velha esperança,
Quebraram-se as cordas e a ópera não dança.

Mariana, o meu sonho perante as Idades,
É seguir doravante os caminhos do amor...
Seguir continuamente aos panteões das verdades,
Assim usufruindo o teu casto valor;
Porém se o porvir algemar-nos nas grades
Do ergástulo da morte, sem ter defensor
Confessar-te-ei que contente pereço
Contigo nos braços, do amor no progresso."

                   III

O senhor Lopes mandou um dia
Um de seus cavaleiros ao canavial
Pra ver se era verdade
Que seu filho estaria lá...
E assim, Zé Santos foi flagrado
Conversando com Mariana.
E o pai dela, ao saber de tudo,
Mandou amarrar os dois,
Cada um num tronco de árvore
E deixá-los ali três dias
Sem água e sem comida
E a ordem foi cumprida.
Foram todos amarrados em duas árvores
Mas Zé Santos não desistia
Do seu plano de ter Mariana por toda a vida;
Só que a mãe de Zé Santos - Maria de Cupido -
Tratava do casal, escondida do marido:
E um dia à meia-noite,
Com tudo muito escondido,
Ela soltou os dois, e ordenou que fossem embora,
E fossem casar bem longe co'a bênção de Nossa Senhora.

O senhor Lopes soube logo o que tinha se passado,
Só que ele não sabia que era sua esposa que tinha os soltado,
E mandou seus cavaleiros à procura do casal,
E preso os trouxeram, por bem ou por mal.

                  IV

Quando os dois foram encontrados
Eles já estavam casados
E não havia mais nada a fazer,
E aí, ao saber de tudo, Lopes morreu de raiva
Com tudo que foi acontecer;
E dona Maria de Cupido,
Ao saber que seu filho se casou,
Ela muito se alegrou.
Zé Santos também gostou da morte de seu pai,
E numa noite, antes que a lua brilha
Zé Santos, a esposa, e a mãe dela
Formaram uma família,
Pois todos foram morar na fazenda,
Sem ter nenhuma contenda,
Com felicidades e muita paz
Felizes e muito ricos...
Veja só o que o destino faz!

            V

Nota: O que o poeta esqueceu de dizer é que ele,
Quando Zé Santos e Mariana estavam
Amarrados, ajudou a mãe de Zé Santos
Conduzir a comida, escondido,
E com o passar dos tempos, Mariana
Enviuvou-se, e o poeta
Preparou para ela esses versos.

Mariana o seu ninho é de pérolas nitentes...
Nasceste no âmago da suntuosidade,
E as pobres ralés que relutam impotentes
No degrau mais baixo da prosperidade,
Aspiram chegar às abóbadas luzentes
Dos altos zimbórios da eternidade;
Tudo isso só brilha nos seus panteões,
Com a celebridade em nossos corações.

Mariana, os seus lábios são frondes frutíferas
Do outono dourado do nosso viver
São subterrâneas jazidas auríferas
Do chão da vitória que irá renascer,
Porém os seus "nãos" são trevas mortíferas
Que só a esperança as fará reviver...
Se nessa eclosão nascer seu renovo,
Será o advento do amor do seu povo.

O que eu faço eu bendigo com espontaneidade...
Lhe dou os meus versos com insólito prazer
Porém meu lirismo sem fecundidade,
Perdera-se no estresse, quase a perecer;
Só que esse poeta na simplicidade,
Jamais se vegeta em seu fraco viver...
No passo valente do verso a galope,
Procuro da fama a barra e o tope.

O amor é uma fonte de insólitos arcanos
Que serpeia morna no chão do existir;
Vai desde o precito aos barões suseranos,
Vai desde as ovelhas ao covil do tapir
O amor vai da plebe aos rajás soberanos
Vai do chão da cabana ao solar do vizir;
Vai na prole de Eva às reais potestades...
O amor vai do berço aos confins das Idades..

Um dia sem Mariana é um século sem verões...
É um luar sem céu - estrela sem clarão -
Porque o céu azul de um sol sem seus clarões,
É o meu planeta etéreo da fantasia irmão.
Do bardo o distintivo das próprias sensações
Está na farda verde da esperança ao chão.
Do vate o dialeto do seu pulmão de artista,
Vai desde a humildade ao topo da conquista.

Mariana os seus passos são rastros de estrelas
Do céu da inspiração do meu "poetizar
Seus olhos são as luzes de um céu de aquarelas,
- Verbenas sobre as jarras do meu frustrado altar -
Seus olhos se aclaram brilhando como velas
Acesas nos altares do meu céu sem luar:
E o sol dourado e puro do céu dos sentimentos,
Colore o chão do orbe da paz dos bons momentos.

A vida é um satélite de flores e espinhos,
Girando no zênite oposto ao da morte...
São dois antagônicos cruzando caminhos;
Buscando amuletos no campo da sorte;
São trevas e luzes buscando seus ninhos
Com estrelas em bando - prateada coorte -
O amor é um fluido sagrada da sé,
- Vitamina forte dos músculos da fé.

E aqui eu agradeço aos meus leitureiros...
E que a poesia se eleve ao apogeu;
Que esteja no cimo dos altos outeiros
No tope da fama que o leitor lhe deu;
Que não deem apreço aos amores brejeiros
Ou aos fracos idílios que a sorte escolheu,
E apoiem os amores com a idade
E leiam meus versos co'intensidade.

               VI

Eu dei esses versos à linda Mariana,
Mas ela, de raiva os rasgou e jogou fora;
Aí o poeta perdeu a tramontana
E disse pra ela "você ignora
Seu tempo de vida amarga e tirana
Que esteve amarrada ao sol em má hora
E que eu ajudava a trazer escondido,
Comida e água pra você e seu marido?

Sua mãe vinha junto na calada da noite,
E eu a ajudava trazer pra vocês
Comida e água sem importar-me com açoite,
E castigo nenhum me tirava de vez
E assim, quantas vezes perdi meu pernoite
Só me preocupando em lhe ser cortês...
E agora me atira pedradas no rosto
Sem se importar co'o meu forte desgosto?"

Aí eu me ausentei da sua fazenda
Com o coração estilhaçado em pedaços
E eu fui solitário pra minha velha vivenda
Co o sonho frustrado e em branco os meus laços:
Mas eu aprendi que, quem mora na tenda,
Não deve sonhar com quem mora nos paços.
E eu peço ao leitor: "Pelo amor de Jesus,
Apoie o poeta Antonio Gomes da Cruz!"

                                  03.01.2006


O destino de Zumbi

Zombavam-se os brancos do poder tirano...
Um século de sangue e cativeiro hostil,
Manipulado pela força do poder lusitano,
Brotado do cedro do poder do rei;
- Ingente sanguessuga do ouro do Brasil.

Dos quilombos que abrigavam clandestinamente
Os escravos que fugiam constantemente,
Seria o Palmares o mais importante:

Pena que um bandeirante - nocivo escaravelho -,
Audaz e persistente, Domingos Jorge Velho,
Lutou contra o quilombo chefiando uma comandita
Munida de armas... o bando se espevita,
Assediando o quilombo coagiram ferozmente...
Relutante na guerra, Zumbi que era o rei dali,
Entregou-se à própria morte, e ele aí
Se jogou de um rochedo e assim morreu Zumbi.

                                                      05.01.2006


O meu coração

O meu coração é um ninho de amores,
Coberto de flores do campo dos sonhos;
É um lindo jardim, da aurora aos albores,
No céu astrológico de amores risonhos.

Porém os meus dias são sempre enfadonhos
Cobertos de nuvens de antigos trevores...
São cheios de sombras meus dias tristonhos,
Ausentes da musa e de seus bons favores.

O meu coração é o próprio acalanto,
Marcando os segundos de emotivo pranto,
Quando a esperança reaviva o meu ser.

O meu coração, que deseja anelante
O amor prestimoso do meu mundo errante,
Deseja que as belas compõem meu lazer.

                                       13.08,2006


Linda Nativa

Uma índia nativa de onde eu morava,
Me olhava e seguia co'os olhos meus passos;
E aí eu percebi que esse olhar me afetava,E um dia, excitante, eu lhe dei mil abraços.
E nessa hipérbole, eu no além delirava,
E às suas ilhargas lancei os meus braços...
Porém, nosso amor não saiu das origens,
Porque eu respeitava o meu time de virgens.

E a esse recato eu me retrogradava,
Sempre introvertido em meus sentimentos,
E nela o amor outrossim assomava
Me dando a entender pelos seus movimentos
Que a minha introversão somente recatava
O meu renome expresso no preito a esses momentos.
Queria só dizer-lhe que, além de amá-la muito
Eu respeitava ardente do amor seu doce "fruito".

O amor complacente é uma dádiva fraterna,
Atrativa e viável aos adeptos do bem...
Se formos de encontro à entidade eterna,
Teremos o apoio de mil vezes cem:
Quanto à humildade, ao viver subalterna
Perante a opulência, jungida ao desdém,
Herdará a c'roa excelsa das Eras
Dos séculos de Deus, em Suas primaveras.

O amor em frustração é uma hóstia sem Igreja...
É um lírio sem jardim, ou a lua sem ter céu;
É um som desarmônico em área sertaneja...
É vida sem sonhos de dama sem véu
E todo poeta é infeliz; leitor, veja
Que a dor de um bardo é um caos no apogeu!
Se o anjo do amor se abriga no empíreo,
O sol da esperança clorofila o seu lírio.

O amor é um lírio branco de virginal pureza,
Quando o recato inspira a discrição total...
O amor não é feito de ouro, de glória, ou de beleza;
O amor é uma dádiva do ciclo social.E se a sinceridade manter sua luz acesa
No chão da castidade benéfica e perenal,
O amor se valoriza na ostensividade,
Também, no seu instinto de progressividade.

                     II

"Índia, o meu lamento é a solidão insana
Que amarga a tarde eterna do meu viver de vate,
E aumenta o espinheiro da perversão tirana
Que assola o chão do peito do vate em disparate;
E o sonhos do poeta se vão em caravanas,
Do chão do meu desterro, ao tope escarlate
Do arrebol matino que inveja seus olhares,
Desde à amplidão do espaço à vastidão dos mares.

Seus beijos são as flores da jarra de seus lábios
- Estrelas resplendentes do céu do meu viver -
São letras diamantíferas - aéreos alfarrábios -,
Compondo a história hilária do seu ingênuo ser.
Seus beijos são enigmas, que os eruditos sábios
Não desenrolam nunca na área do saber;
E o chão artístico e nobre da sã posteridade,
Fecundará seus frutos de generosidade.

Nativa, em nosso ninho que outrora foi de flores,
Não deixe que os espinhos maculem nossas vidas:
Não deixe que outras vidas, sem ter ou não valores,
Obumbram nossas luzes que foram acendidas...
O coração se aflige, quando as pungentes dores
De um desengano atroz destroem nossas guaridas.
E o barco dos amores boiando ao mar do tempo,
Pode entrar-se em soçobro em trágico contratempo.

O amor que se abrilhanta na aurora dos meus dias,
Não dá emotividade aos olhos da ilusão,
Pois só você me inspira o meu show de poesias,
E o intelecto ajuda na versificação;
Só que a proeminência das minhas alegrias,
Se decresceu dos ares até ao rés do chão
E o grande estradivário do meu show de esplendores,
Desafinou-se as cordas no íntimo dos amores. 

Você é d'uma oratória o meu tema analítico,
Humilde, mas vernáculo... Meus versos são só seus.
Eu sou como um pronome em estado mesoclítico,
Pois vivo sempre ao meio entre o sertão e os céus,
O amor fraterno e casto é um fato anticrítico
Impresso ao pergaminho dos panteões de Deus...
Tal qual o colibri oscula a rósea flor,
Nós dois nos osculamos com o ósculo do Senhor."

Mil flores enfloraram o altar reminiscente
Do meu amor de infante em renascimento lento
Lavei a alma errante na catadupa ardente
Do chão do seu desprezo cruel e pachorrento.
E a morte da nativa inesperadamente
Flechado sete vezes num guerrear cruento,
Deixou sua existência, em plena adolescência,
E os corações da tribo em louca efervescência.

Nativa das florestas, estrela dos cerrados,
Que num recato extremo brilhava às multidões,
Partiu dos bosques verdes aos campos irisados
Da amplidão divina de aéreos batalhões:
Mas, lá não existe guerras, nem corações vexados,
Nem sensualidade nos sacros corações.
Em vez de seus cocares que usava sobre a fronte,
Hoje ela usa auréolas em seu eterno horizonte.

Adeus, meu bom leitor! Esteja sempre atento
Ao prazeroso vício de ler assiduamente
Os meus humildes versos, e eu creio que a contento
Esteja o coração... E o vate humildemente
Tenta elevar seu nome do chão ao firmamento,
Caindo e levantando animadoramente...
E o seu poeta humilde sou eu... Antonio Gomes
Com seus humildes versos e seus fracos renomes.

                                       06.01.2006


Fera oriental

Quando o sol ergue a espada reluzente
Sobre os mares verdeados do estio,
Expandindo o seu ouro aéreo e quente,
Combatendo do inverno o aéreo frio,
Faz lembrar Gengis-Khan que, intransigente,
Assaltou do Oriente o chão bravio...
Era aí, que as frenéticas multidões
Se abatiam, perante os seus brasões.

Quando a brisa da paz constante venta
Sobre o chão da humildade em expoência,
Não se ergue da guerra a mão sangrenta,
Mas se prende em ergástulo a intransigência:
E se a lei do mais forte apoquenta
A humildade do fraco em esplendência,
As espadas se cruzam... E a sorte ao ar
Pode dar "vira-vira" no placar.

Quando as ondas do mar que não se cansam
De correr e morrer no espraiado,
Ao chegar, elas morrem... Não se descansam
Da rotina de seu eterno fado;
O galope das ondas que se amansam
No estio, com o sol de lado a lado,
Faz lembrar o galope das batalhas
Com seu sangue tingindo suas malhas.

No tinido das lanças luminosas,
No tropel das sinistras cavalgadas,
Voam vidas confusas, vaporosas,
Para o colo da morte em suas estradas...
As falanges imigas, tenebrosas,
Não conteram de Gengis as espadas,
E no colo da morte foram às campas,
Suspender dos jazigos suas tampas.

É manhã... E o sol por sobre os montes,
Brande a espada de ouro em tal momento:
Ele era o Gengis-Khan dos horizontes,
Se a Ásia fosse o velho firmamento...
O seu grito de guerra treme as fontes;
O Oriente se curva em chão febrento...
E os vencidos co'o sangue em suas malhas,
Se fardaram co'as vestes de mortalhas.

Ante ao século de sangue das Idades,
E, ante o chão da perversidade humana,
Se ajoelham no céu as potestades,
Vendo o mundo com s'ambição tirana...
O arrebol do horizonte das verdades,
Ante as névoas do bem em caravana,
Vai brilhando com afogueada cor,
Sobre os campos perpétuos do amor.

Enquanto isso, na Terra a espada agita,
Pleiteando ouro em fartas proporções,
Quando o bando de Gengis se espevita
Sobre os campos sangrentos das nações.
Quando o bando inimigo chega e grita
"Mãos à obra, meus bravos batalhões!"
O elenco de Gengis se desdobra,
E o serviço da morte se manobra.

Nossa vida não quer perversidades
Ao redor periférico das Idades;
Muitas vezes sentimos mil saudades
De um tempo de reais felicidades...
Se vegeta uma vida atrás das grades,
Desbotando o esplendor das realidades,
E a aliança, ao prender dois corações,
Considera-se a mais doce das prisões.

Quando o sol se repousa no Ocidente,
Deixa aos ares o seu vermelhidão...
Isso faz recordar o sangue ardente
Com que Gengis tingiu seu velho chão...
Guerra crua? Que horror! Que dor pungente
Sofreu os músculos do vencido em vão!
Sobre o chão da Mongólia, em tempos idos,
Tinha u'a plebe de mortos e feridos.

Quando as ondas galopam insensatas
Sobre os mares, e espumosas se manobram,
Vem o sol co'o seu ouro sem bravatas,
E as aquece com as algas que soçobram
Quando os ventos galopam d'entre as matas,
Em confronto co'as árvores que desdobram,
Lembram sempre o tropel das cavalgadas
Em confronto com a grita das espadas.

A angústia, homogênea à nostalgia,
Lado a lado com a desolação,
Vão-se os três pleiteando dia-a-dia,
Indo em busca de uma reposição
Às ruínas de um chão que perecia
Com o sangue a vazar do coração,
Perecido à mercê das cavalgadas,
E do atrito fervente das espadas.

Se esse tempo fosse o do torpedo,
Ao dispor das armas nucleares,
Matar gente, pra Gengis era um brinquedo,
Com violência da fronte aos calcanhares:
Ficaria o Oriente hirto e tredo...
Quanta morte às portas de seus lares!
No terreno do mal, pisando os germes,
Morreria mais gente do que vermes.

Foi em vão do Oriente as represálias...
Nas guerrilhas, perseverou-se a dor.
O pincel do satão pintou as malhas
Da serpente vampira do terror;
Avivava-se o sangue das batalhas,
Tudo aos pés do mongólico opressor:
E aos canhos de tal fatalidade,
Se arrastava gemendo a humanidade.

O poeta pressente as realidades
Desenhadas no seu fantástico chão,
O progresso na mesa das Idades
Devorando o cardápio do sertão.
Já se foram as reais perversidades
Do Oriente o bravio batalhão...
O vermelho arrebol sobre as coxilhas
Faz lembrar a sangueira das guerrilhas.

Gengis foi um vulcão... e submersos
Foram rios de sangue como lavas
Seus renomes no mundo, além dispersos,
Deram forças às guerras ultra-bravas.
Eu, brincando, fiz pra Gengis estes versos...
Eu sou o vate que fez suas oitavas;
Meu Senhor! Dê ao Gêngis a Sua Luz!
Assim pede, Antonio Gomes da Cruz.

                               07.02.2006

As paredes

As paredes do século
São o campo e o firmamento,
Ontem se desenrolam novelos de névoas
Ao joguete da brisa esvoaçante:
Tine o bronze do sol nas paredes do estio...
Do outro lado responde o vento
No deserto do seu mundo,
E entre as paredes do tempo.

                    09.02.2006

Índia

                      I

Do panteão do bosque tu és a rubra imagem
Que brilha nos altares da inocência em flor...
Em sua humilde taba qual fosse uma miragem,
Ostentas sua imagem no altar do meu amor.
O forte ardor do sol, em perenal voltagem,
Bronzeia a solidão do campo em seu langor...
Enquanto isso o vate que se acha em desafeto,
Quer dedicar-te umas rimas do imo do intelecto.

Os campos no estio avivam o coreógrafo
Da natureza extensa aos olhos do viajante
É como se o verde pedisse aos céus autógrafo
Com o fim de autenticar sua presença avante;
Como se um erudito, ou autêntico lexicógrafo
Quisesse descrever seus termos nesse instante:
Enquanto isso o verde lacônico se reluta
A sua vida agreste em sua escura gruta.

Enquanto convivermos nos campos da esperança
Na grande persuasão de glórias no porvir,
A vida futurosa será nossa aliança,
Unindo a nossa paz às glórias do existir;
Mas na comodidade dessa perseverança,
As forças conjuntivas não podem prescindir...
Se a força trabalhista permanecer na ativa,
Teremos bons reflexos de retrospectiva.

Os bárbaros que se agem com ferro, fogo e berros,
Hasteando nas guerrilhas quiosques triunfais,
Se aqui no mundo são cardápios de seus erros,
Serão posteriormente cardápios infernais.
A morte ao agitar seus eternais cincerros,
Decreta a um por um destinos desiguais:
Se o povo não trajar, da santidade os ternos,
Vai requeimar suas frontes nos "quintos dos infernos."

Do amor, o sol gasoso, macio, e esfuziante,
Penetra em nosso solo clorofilando a paz
E a árv're da esperança se exibe verdejante
Por sob o chão do peito; e a paixão lilás
Hasteia o roxo pano no solo emocionante
Da ansiedade d'alma gritante e pertinaz,
Mas só que a paz "virgínica" do seu amor infante
Será ininterrupta ou perpetuante.

Pra que ressuscitar cadáveres do passado,
E amamentar tristezas no peito da ilusão?
Pra que reavivar u'amor deteriorado
Perdido nos detritos do erro em ebulição?
Melhor seria andar com o presente ao lado,
Cuidando do futuro, lhe preparando chão,
Porque, depois da luta se sobrevir o estresse,
Será recompensado com sua esplêndida messe.

                     II

O amor faz na poesia seus termos de conquista,
Repercutindo os ecos dos sons de euforia
Que acende ao chão do peito a paz firme e benquista
Que se aboleta em cheio no amor do dia-a-dia.
A fama que se eleva ao pedestal do artista,
Que tinge de ouro a estátua da enfática fidalguia,
Se vai ante às cidades urbanizar os campos,
Plantar o seu progresso no chão dos pirilampos.

O amor que sintoniza o prazer em alta escala,
Se vai do chão da vida ao topo do luar
Se um povo de neblinas nos ares espirala,
Quando um povão de ventos se põe a galopar;
Às ondas do oceano quando o rochedo fala
Do seu viver solito nos lares do seu mar,
Responde do outro lado a barcarola imensa
Da náiade das águas que em fantasias pensa.

O vácuo alvinitente do espaço ilimitado,
Que guarda o núcleo atômico, do nada construído,
Conduz um povo heróico de estrelas a seu lado,
Que tem renome altivo excelso e impreterido,
Que é dos pirilampos eterno namorado
Porém nunca se encontram à vista ou escondido.
E nos covis das feras, casais irracionais,
Dividem sentimentos, se amando mais e mais.

Os sons da utopia são vozes de rochas;
São febres do estio - verão do areal -
O povo de estrelas acende suas tochas
Que brilham do alto aos fundos do val.
Tu és, índia a melhor das cabrochas
- Cabelos de seda e olhar de cristal -
Que junto com a lua da cor de abacate,
Flutua nos mares da alma do vate.

Índia o teu sorriso é a aurora de mi'as noites
Dourando a paz da alma na vastidão do amor
Contigo na lembrança, se alegram meus pernoites,
E a paz estabiliza por si, sem mediador:
Se um vendaval de amor vier com seus açoites,
Recastigar as selvas de um peito sofredor,
O amargor da alma virar-se-á em doçura,
Não tendo em suas taças o travo da amargura.

Se a preponderância da alta civilidade,
Vier baixar suas asas, turbando nosso amor,
Ó índia, eu lutarei com a máxima probidade,
No pleito dos meus co'instinto empreendedor
E a retidão propícia dessa imparcialidade
Irá "vitoriar-se" com seu real valor.
"E após um embate expresso, prontificou-se à glória...
Vitoriou-se o vate, na insurreição da história."

Prontificou-se o vate seguir-se ao lado dela,
Sem lhe tocar o corpo e nem se quer suas mãos,
Porque a virgem pura dispensa clientela,
E nem sacia sede de amor dos cortesãos...
Quem quer manter decoro a uma virgem bela,
Que deixe seu instinto falar de amor de irmãos,
Porque, mais vale a barra de um peito inacessível
Do que um amor viável, volupto, e perecível.

Se numa "contradicência" - dialeto de invejosos -
As névoas do desprezo sombrearem nossos céus,
Somente as mãos de Deus suplantam  os poderosos
Que querem "desditar" os corações dos Seus...
E assim nós estaremos com a lé dos vitoriosos
Seguindo sem tropel aos panteões de Deus:
Seremos nesse orbe dois ídolos fraternais,
Mas lá no céu teremos os dons celestiais.

                                     08.02.2006


Balanços de meu galho

                           I

Segundo os cientistas de além-mar
O mundo era uma bolha incandescente
                De fogo rudimentar:
Só que a Bíblia desmente essa tese...
O mundo, segundo ela foi criado
Em seis dias de trabalho santo
               De Deus, em Seu falar.

Em Seu céu não há verão, nem chuva
Só existem amores de justos
               E é dos anjos o "habitat"
Não há pleitos "regímicos" de conquista,
E nem sangue nas guerrilhas sempre à vista.

Na imensidão dos ermos terreais
Os pássaros chilreiam radiantes
Os casais se perpetuam como amantes
Sem se importar com o calor e os vendavais.

Lá na Eternidade, os pássaros são os anjos
               Sem água e sem ração:
Eles sorvem agua da Graça do Senhor,
E se alimentam de Seu excelso amor.

Aqui na Terra o dinheiro é extremamente viável
               Às hostes do poder,
Enquanto que no céu só é viável às almas
               O gozo e o lazer.

O sol, em seu cosmopolitismo,
Como um potente sultão universal,
Vai desde o alto ao fundão do abismo...
E o seu ouro é semeado aos campos,
               Sublime e teatral.

E eu creio que o abstracionismo da fé
Sem ter raça, cor, nem lé,
Existe comumente de fato.
E no cenário das Eras,
Se exibem verões e primaveras,
Desde que existe o tempo,
Sem preconceitos e nem anonimato.

E o balanço de meu galho
Acaba "descendo o malho"
        Nas hostes do poder;
E apoia o sofrer da indigência,
Que aos calcanhos da opulência,
        Vive só pra não morrer.

E os recônditos arcanos
Da eclética da poesia
Não se dispõem da utopia
Quando quer falar verdade.
O poeta só a usa pra cantar o verde...
Só que o progresso é uma parede,
Sombreando os sonhos coloridos,
Dessa linda aquarela revestidos.

A musa que se abriga
Do bardo no intelecto,
É dona de seu afeto
Que a paz não pode negar,
Tendo a dita de lhe amar.

São os adornos de seu tema
As abstratas quimeras invisíveis,
Perenais amigas incríveis
Do bardo, o seu poema,
O qual com carinho e muito
É uma joia inserida
Na c'roa do trovador.

O amor, em relação aos corações,
Significa reentrâncias do orvalho no areal
Ou chuvas no matagal.
No balanço das frondes selváticas,
- Abrigo ou lazer das aves sorumbáticas -
Gotas de rocio também tombam no solo
Sob as luzes de Apolo,
E do impulso constante dos ares
Amigos de todos os lares
E do vento voador em seus andares.

As gotas de orvalho se assemelham
A um terço rebentado pela natureza,
No momento em que as estrelas se emparelham
Compondo seu plantel de indizível beleza.

O progresso e a indústria
- Dois amantes pertinazes -
Não querem saber de pazes
Com o verde do sertão;
E nessa constante intervenção,
O sertão disse ao progresso,
Da ilusão, através:
"Você quer minha derrota?"
E o progresso responde, yes."

                    II

O sol aqueceu um dia
Os menores primatas
Em seu obsoleto viver.
E a lua foi visitar a mata,
- Mosteiro dos rochedos monacais -
Porque eles se assemelham claramente
Aos monges contritos e submissos,
- Solitários e negros seres.

As larvas verminoses e telúricas do areal
Bebem o rocio "firmamental"
Do horário matinal e sangrento,
Com a presença do rosicler:
E a dália, como fosse uma elegante mulher,
Faz inveja às campestres flores
Expostas aos olhos do céu:
Flores incultivas ao léu.

O céu do pirilampo é verde
E o da estrela é azul:
O céu dos anfíbios é o paul,
E o das borboletas multicores
É o pólen fofo das flores.

As flores e seus perfumes
Se exibem a sós,
Como pátrias dos noitibós
Que das estrelas sentem ciúmes,
E da planície dos campos,
São estrelas os pirilampos.

Ai, balanços de meu galho,
E trabalhos do meu malho!
Ai, balanços do meu berço
Ao som do meu verde verso!

Ouro em poder de mendigo,
É geleira num vulcão...
É o sol tremendo de frio,
Numa noite de São João.

O tempo disse ao relógio
"Sai do meu calcanhar!
Nem que a morte me vença,
Não saio deste lugar."

A distinção de um tema,
Não é o carisma poético;
É do poeta o saber sintético ou profético,
E a sua humildade extrema.

Sobre o palco vocálico das Eras
O mundo é um poliglota...
O campo florido é um janota
Guardião das primaveras.

O palco excelso dos céus,
As nuvens são oradoras,
E os astros são assistentes
Em suas constantes horas.

Certo dia, após dias de "ressacas"
Eu disse à mulher... "Não me deixes;
Vamos ao rio pescar vacas,
E tirar o leite dos peixes."

Ai, balanços do meu galho!
Meu trabalho é o meu lazer...
Sou escravo do meu malho,
Mas trabalho com prazer.

O tigre ruge nas matas...
É fome, saudade, ou tristezas;
Saudades da onça amante,
Que brigou co'o elefante,
Por causa de suas belezas.

Ai, balanços do meu galho!
Um fazendeiro prendia
Famílias pra trabalhar
Para ele todo dia...
Fui lá e soltei a turma
E ganhei uma Maria,
Mas ela fugiu um dia
Da palma da minha mão.
Eu fiquei triste chorando
Quem ficou sem ela fui eu.

Ai, balanços do meu galho!
Tristezas do peito meu.
O fazendeiro depois
Mandou me chicotear,
Porém o seu batedor
Nem pro meu lado olhou;
Eu sei por causa de quê;
Que ele não quis me castigar
É que ele gostava de namorar
A irmã deste poeta,
E eu de forma discreta,
O ajudava com ela
E ele sim, sem desassossego,
Preferiu perder seu emprego
Do que perder a namorada,
Porque, se ele me batesse,
Eu iria aconselhá-la
Pra que ela o desprezasse,
E assim, apaixonado, ele sofreria,
Se a minha irmã não o amasse.

Minha trova é uma espada...
É um passatempo do ócio
Casamento de rico é um negócio
Onde o dinheiro é o rei
Lazer de pobre é a fumaça
Do seu cigarro de palha
Quando ele vê ela sair
E pelos ares de desenrolar...
Tomar café e cachaça,
Prosear com os amigos em massa,
Na hora do sol entrar...
É assim que o pobre, sem sentir o seu fracasso
Se distrai do seu cansaço.

A mentira e a ilusão são homogêneas
No trajeto da existência
Onde o orgulho e a inclemência
Chicoteiam no tronco da ignorância
A plebe da indigência.
E o poeta pede com veemência...
"Deus! Arretire de nossa frente
Toda a caotice e turbulência
Que possam conturbar a transigência
Dos nossos corações afeitos à clemência.

O lírio é a flor das flores,
E a rosa é a rainha...
O sabiá é o poeta
Menestrel da tardezinha.
Os astros - príncipes do espaço -,
De lá do trono estrelado
Do paço dos céus azuis,
Oferecem seus abraços
Aos anfíbios nos pauis.

Ai, balanços do meu galho,
E arpejos de bem-te-vi!
Chupando laranja-lima,
Já no recreio da rima,
O poeta perde o seu ímã,
E se despede aqui:
De tanto dar passo ao léu,
Para o inferno ou pro céu,
Na solidão me perdi.

                09.02.2006


O ladrão


A noite quase em seu fim, ia alta,
Quando um ladrão se desgarrou
                                     Da sua malta
E entrou sozinho num quarto
Onde uma criança dormia...
Era um infante de cinco anos,
Que sem ter conhecimento
Da maldade dos humanos,
Sozinho dormia ali a sós,Mas a família da criança
Dormia na casa também,
Só que o menino ali
Dormia só, sem ninguém.

O ladrão, com um pouco de pavor
Pegou um despertador
E o pôs dentro de uma sacola...
E aí, o menino lhe disse:
Moço, deixe de tolice,
Não leve a minha bolsa
Que é de colocar merenda
Gostosa de verdade,
Que o papai vai trazer da fazenda
Quando eu completar idade
A ponto de frequentar escola.

Moço! Não leve também o relógio
Que o seu forte despertar
Quando eu estiver na escola,
Ele irá me acordar,
Pra que eu levante bem cedo,
A tempo de me preparar,
Pra não chegar atrasado
Ao meu grupo escolar.

O ladrão abriu uma gaveta
Onde tinha uma "nota preta"
Que o pai daquela criança
Guardava naquela mesa...
Então aquele menino
Com a mente bem acesa,
Disse ao ladrão:
"Moço! Tenha coração!
Não leve esse "cascalho"
Foi assim que eu aprendi
Num belo fim de semana
Falar o nome da "grana",
Moço! Esse "cascalho",
O papai teve trabalho
Para ganhar esse "trem",
E se você não levar a grana,
E passar o resto da noite comigo,
O senhor vai ser o meu amigo,
E amigo do pai também."

O ladrão respondeu:
"Garoto eu não posso
Passar a noite contigo...
Como eu queria ser seu amigo!
Mas, pensando bem como ninguém,
Eu, sendo um moço estranho,
Que não pertence ao seu 'rebanho',
Para eu não fica bem,
Passar a noite aqui,
Porque seu pai não iria entender,
Que esse ladrão ficou arrependido,
E não teria entrado em seu quarto,
Somente pra te conhecer.
Mas você me abriu os olhos,
E eu fiquei comovido
E vou sair daqui contente
Com as minhas mãos abanando,
E muito feliz simplesmente,
Por não ter coragem suficiente,
Pra roubar de um inocente."

E aquele instinto bandido
Em ovelha transformou-se
E o ladrão ainda lhe deu
Um pouco de balas doce
Que consigo ele trazia;
Depois, tranquilo, ele se despedia
Daquele menino deitado
Em sua cama, ainda espantado
Com aquela estranha "visita":

E no fim da madrugada,
Quase ao raiar do dia
O ladrão se ausentou
Daquele ingênuo menino
Que mudou o seu destino...
Nunca mais ele roubou;
E pra conseguir "cascalho"
Se dedicou ao trabalho
E a sua vida mudou.

E se todos os ladrões
Pensassem do jeito desse,
O mundo seria um céu,
Que aos anjos pertencesse.

                    09.02.2006


Casa e jardim

A casa do vate é o sonho,
E o jardim é a inspiração...
O amor é um mito risonho
Das lendas do coração;
Do desprezo, o chão tristonho
É incultivo em seu verão...
Só a casa da verdade
Tem o jardim da realidade.

No recôndito espaço da eternidade,
Brilha a estrela do amor divinal...
Brilha o astro excelso da verdade,
No zodíaco da paz descomunal;
Dir-lhe-ia que na posteridade,
O arauto da paz universal,
Traz pra casa de ouro de seus nortes,
O jardim do universo de seus fortes.

Nos recôncavos telúricos do montes,
Onde habitam os germes em família,
Os murmúrios soturnos de alvas fontes,
Faz-se ouvir dos orvalhos na escumilha:
É do nada o mar dos horizontes
Onde a névoa de chumbo logo empilha
Os seus véus de fumaça, pardacentos,
Nos penedos, de orvalho suarentos.

Quem se casa quer ter casa com jardim,
Mas, o mais importante é o amor...
Não adianta ter tetos de marfim,
Mas que abrigam cenários de terror;
O importante é viver até o fim,
Numa choça, mas com o amor em flor:
Não adianta possuir jardim florido,
Se em casa, o amor não está contido.

A poesia do verde floresce na mente
No imenso jardim do lirismo poético...
Na casa do vate, de amores, ausente,
Seu jardim se encontra restrito, sintético;
As musas se ausentam, tão frequentemente,
Que a solidão de seu peito frenético,
Transforma sua vida, numa morte lenta...Sua casa é de espinhos, solita e cruenta.

A casa da bênção é a paz celestial
Ligada aos jardins dos canteiros de Deus,
E a casa do ímpio satânico e feral,
Não tem o jardim com as flores dos céus;
A casa do ímpio provém de seu mal,
Que abriga o comando de um povo de réus,
Mas Deus tem a casa do eterno perdão,
Com o jardim florido da Santa União.

A vida é um hino de amor ao Eterno
Na fosforescência das luzes do Bem,
Onde Deus anota em Seu santo caderno,
Os prós e os contras de mil vezes cem;
Os ímpios se abatem às portas do inferno,
Por seus próprios erros, em cruel desdém;
Que sem ter a casa de alheios amores,
Não tem o jardim de seus próprios fervores.

O sol esfuziante em seus próprios fulgores
Metralha do alto o espaço campal...
Daí, o verão tinge o pólen das flores,
Com o sangue alvirubro da aurora estival;
Na casa do vento em seus fortes rumores,
Usando as paredes de névoas no val,
O anjo da noite acende suas velas,
No infinito telhado blindado de estrelas.

A casa do monge, em solito desterro,
Usando as paredes de ouro da fé,
Na retratação eficaz de seu erro,
Abriga a esperança de amores da Sé;
Se ternam, de ovelhas, corações de ferro...
E o amor do Senhor sem limite e sem lé,
Transforma espinheiro em floridos jardins,
Floridos de bênçãos em seus camarins.

A linda natura é a casa do verde,
Coberta com o teto azul da amplidão...
As fontes que matam dos seres a sede,
Enfeitam o átrio de sua mansão;
Do vasto horizonte, a anilada parede
Se espelha o seu rosto ao falido sertão
De cujo jardim decaíram-se as flores
Na casa da indústria em seus fortes rumores.

Na reciprocidade convicta dos amores,
A paz refeita habita os corações...
Se adoça a taça que era de amargores
Na mesa elástica de suas conversações:
Mas, se o ciúme ressalta os seus horrores,
Na atroz guerrilha de suas ilusões,
Aí, o amor se evade de suas estâncias,
E o coração dá ao ódio suas reentrâncias.

O espaço isocrômico do céu das Idades
Dos séculos cobrindo a futura eminência
Colore as pegadas de eternas saudades,
No chão geostático da Terra em potência...
Os povos plangentes debruçam nas grades
Da forte cadeia da intransigência
Da voz do poder magnata do ouro,
Que veste de opróbrios a plebe em seu choro.

O insólito prazer que os amores franqueiam
Provém da bondade de seus corações
Os quais, muitas vezes contendas semeiam
Mediante o ciúme em suas proporções
Nas exacerbantes pronúncias proseiam
Se exasperando em fatais confusões...
E o ciúme constrói sua casa de dores,
Conjunta ao jardim de obcecos amores.

E a casa dourada da fraternidade,
Com flores de estrelas dourando o jardim,
No doce terreno do amor de verdade,
Abriga seus mimos do início ao fim.
E todo o fulgor dessa jovialidade
Colore o rubor de convicto motim
E aí, só a casa dos sonhos do poeta
Não tem o jardim do amor que o afeta.

E todo o amor em prodigalidade
Dilata nos campos da própria expansão
E a paz se concentra em homogeneidade,
Na casa espaçosa da Santa União;
E assim, no jardim da espiritualidade,
Se medra a roseira de amores de irmão
Trazendo em seus galhos as rosas rubentes
Representativas de amores "purentes".

Precípuo é o trabalho da casa da vida,
No doce jardim do amor divinal,
Onde a flor da paz se ostenta inserida
Na c'roa de amores da fronte imperial
Do grande cupido, onde é sempre vivida
A vida emotiva da paz do casal
Que no entrosamento do amor das beldades,
O torna aderente às sensualidades.

E aqui, o poeta em seus fracos renomes,
Despede-se do texto contido em seu "mim"
Pedindo aos leitores que aumentem seus nomes
Na humilde leitura, e que estejam a fim
De ler as poesias de Antonio Gomes,
- O autor destes versos de "Casa e Jardim" -
O vate não tem sua casa de amores,
E nem o jardim de seus próprios valores.

                              14.02.2006


Os rochedos

             I

Os rochedos são negros alforriados
Da estância do tempo...
E aos olhos gentis das primaveras,
A natureza se considera feliz,
E mais humana em seu jardim florido
Exposto às longínquas solidões.

Um dia, a vitória do verde
Irá descortinar seu sonho entre as nações...
- Esse é projeto do poeta.
O progresso e a indústria
São dois rochedos inexoráveis
Que apesar de proporcionarem
Uma vida feliz aos humanos,
Derrotam por outro lado a vida dos sertões.

Os rochedos se postam mudos e quedos
Sob os tetos de névoas cinzentas
- Pássaros inanimados das selvas do espaço -,
Como se fossem guardas florestais;
Os rochedos vivem escondidos nas brenhas,
Talvez, com vergonha de seu próprio rosto;
Talvez, acanhados, eles pensem
Que as estrelas, por serem majestosas,
Zombem deles como se eles fossem
Os seus próprios escravos.

No aconchego virente das florestas,
Eles se abrigam das canículas dos verões.
E à noite, estáticos e irreversíveis,
Parecem dormir de pé.

Nos bastidores das montanhas
Onde a alvorada borda a sorrir,
Toalhas de orvalho, alvinitentes,
Os pirilampos que trabalharam
Com lanternas fascinantes e pestanejantes
Toda a noite que passou,
Iluminando do abismo as erosões,
Vão agora repousar.
E o luar que os ajudara
Nesse noturno labor,
Outrossim, se ausenta de seus labores.

              II

Os rochedos são negros alforriados
Da estância perpétua das Idades,
E a utopia co'as suas inverdades,
Fantasia de ouro os seus passados.

A vitória virá nos velhos prados
Ampliar o seu verde... E às potestades,
Vou pedir que libertem de suas grades
Os sertões que se encontram aprisionados.

E os séculos co'os seus milhões de auroras
Vão sentir que as mãos pródigas salvadoras
Estendidas no Além dos dias seus,

Resgataram do verde os seus aspectos...
Que dos anjos do amor, seus intelectos
Exumaram os sertões, na voz de Deus.

Os ermos mantém os seus próprios segredos
De acordo ao luar junto aos velhos sertões;
E os ventos percorrem os aéreos salões,
Levando os perfumes da mata aos degredos.

Talvez, como fossem seus velhos brinquedos,
Se vão folhas secas em seus turbilhões
Os mares se franzem em seus arrastões,
Dessa ventania que açoita os rochedos.

Os pássaros, em seus estridentes arpejos,
Se amam ao leito de seus arvoredos,
Fruindo suas glórias, ao expor seus desejos;

E o vate que aspira o desejo do verde,
Que ama a ternura de seus bons folguedos,
Deseja que o verde sacie a sua sede.

Os rochedos são pêndulos do peito do espaço...
- Atavios negros dos corpos dos montes -
Que na galeria de seus horizontes,
Expõem seus quadros em desembaraço.

As rochas miram-se no espelho das fontes
Que brilham contínuas seu cristal sem jaço,
Do verde, o seu ego em futuro fracasso,
Sente desbotar-se a cor de suas fontes.

O pano estrelado da abóbada dos céus,
À noite se estende por sobre os rochedos,
Banhando seus corpos co'os rocios seus:

E a brisa ao passar sobre os arvoredos
Cochicha suas frondes seus velhos segredos.
Quais fossem mensagens dos lábios de Deus.

                 III

Nas campas choram os mausoléus
Talvez lamentando o destino dos heróis
Que partiram suas espadas no corredor da morte,
Deixando ao léu vagar sua fama:
E então, posteriormente,
Deus irá cobrir os cadáveres de seus erros
Com o sudário místico do perdão.

As vitórias de suas espadas nuas
Foram apenas glórias interinas,
Ou efêmeros prazeres teatrais...
A essa altura, a morte ficou esquecida
Ou ausente de seus bravos intelectos.
Voltando falar dos rochedos,
Eles são os guardiões das florestas,
E que no futuro talvez irão servir
De troféus, às batalhas do progresso.

                        18.02.2006


Soneto da solidão

Tal qual um canário na sua gaiola,
O vate se sente retido e solito;
A musa distante lhe causa conflito,
E nada no mundo seu peito consola.

Os astros repousam na paz no infinito...
Barqueiros cantando sua barcarola;
E toca o violeiro sua velha viola...
Parece seu canto suplicante grito.

O vate reclama da musa distante...
Que o seu versejar não será triunfante
Diante do abismo da sua insurgência.

O poeta se insurge, ou melhor, se revolta
Com as hostes do azar que lhe faz escolta,
Sem deixar que a sorte aja com prudência.

                                  26.03.2006


Preces de Amor

Oh! Musa! Eu lhe peço que atenda com amores,
A prece que o vate dedica a seu ego...
O vate sou eu, que em desassossego,
Vivo relutante em seu leito de dores.

Ao poder do Alto eu não me abnego,
E nem me abstenho a Seus nobres favores;
A vida é um campo... e o amor são suas flores;
- Colírio eficaz pra qualquer olho cego.

Sou um humilde condor que perdeu sua presa
Nas trevas do dor; e a solidão acesa,
Não iluminou os seus trilhos de paz.

E no tétrico abismo desse contratempo,
Apalpando a chorar o cadáver do tempo,
Eu lembro de tudo que ficou pra trás.

                                28.03.2006

Trovas

Minha cidade é grandíssima...
Meu sertão não tem sua voz,
Pois a indústria e o progresso
Querem tirá-lo de nós.

Minha viola de pinho
Chora quando está comigo...
Ela sabe o que eu sinto;
Ela diz o que eu digo.

Minha terra tem as fontes
Que enfeitam o seu perfil;
É um pedacinho do verde
Do meu querido Brasil.

Mulher, peque o meu cachimbo
Que jogaste atrás da porta!Ela respondeu "não pego,
Cachimbo faz boca torta."

A lua verde-abacate
Tingindo o céu cor de anil,
É a musa inspiradora
Dos violeiros do Brasil.

A vida é uma medalha
Do peito da Eternidade,
Sobre as vestes da ternura,
No templo da cristandade.

Amor à primeira vista,
É estrela que cai do céu;
É um paraíso na Terra,
Mais puro que um branco véu.

Quando eu saí do norte,
Ao despedir dos meus pais,
Eu disse a eles; vou embora
Mas eu vos amo demais.

Minha trova é um martelo
Martelando os corações:
Se eu bato, e a porta não abre,
Multiplicam-se as paixões.

E o vate aqui se despede
Sem ter pra si boas novas...
A musa também foi embora,
E chegou-se o fim das trovas.

                           30.03.2006

O milagre da viola

Em uma cidade distante
Num bairro mais afastado,
Residia uma família
Com um rapaz retardado,Que tinha um padrinho rico
Que morava no outro Estado.

O sonho desse rapaz
Era ter uma viola;
Sua mãe sempre dizia
"Gasparzinho, não me amola!
Não sabes que nesse mundo,
Vontade também consola?"

Mas quando o padrinho soube
Do sonho de Gasparzinho,
Comprou uma bela viola
Para o seu afilhadinho,
Que tendo quatorze anos,
Parecia um anãozinho.

Ao receber a viola
Esse inocente rapaz,
Apesar de retardado,
Tocava até bem demais;
E redobrou sua alegria
Em seu recinto de paz.

          II

Um dia, ao passear co'a viola
Cantando pra estrada afora
Ele viu uma Igreja aberta
Da Virgem Nossa Senhora
Que estava sobre o altar,
E ali, naquela hora,
O Gasparzinho pensou
Que a santa era uma moça...
E então, na sua inocência,
Por ela se apaixonou.

Ele pegou sua viola
E ali ao pé do altar
Uma inocente modinha
O rapaz pôs-se a cantar;
E aquela imagem sagrada
Chutou o seu pé direito,
E mandou-lhe o seu sapato
De ouro, de encontro ao seu peito;
O rapaz pegou o sapato
Que aquela Virgem lhe deu,
E com um sorriso ingênuo
Muito lhe agradeceu.

O rapaz estava sozinho
Com a santa ali de lado,
E com o sapato nas mãos
Quando passou um soldado,
Que ao ver ele sozinho,
Com o sapatinho de ouro,
Entrou na Igreja e o prendeu,
Com o maior desaforo.

E o levou algemado
Acusando-o de ladrão
E o entregou ao delegado
Nessa mesma ocasião:
O soldado não sabia
De seus problemas mentais
E naquela delegacia
O acusava mais e mais.

E ali, naquela hora
O desumano delegado
Condenou o Gasparzinho
Morrer ali enforcado:
No dia de sua morte
Seus pais não compareceram...
O leitor pode avaliar
O quanto eles sofreram.

Aí, meia hora antes
De Gasparzinho morrer
Um soldado perguntou-lhe
"Tens um pedido a fazer?"
Gasparzinho disse, "Eu quero
Cantar de viola ali
Dentro da casa da moça
Que há pouco eu conheci."

O delegado deu ordens
Para um soldado ir com ele
À casa dessa tal moça
Que era a amada dele:
E aí o soldado saiu
À escolta de Gaspar,
Que com a sua viola
Pra moça ia cantar.

E chegando à Igreja
O rapaz disse; é aqui
Que mora a minha amada
Que anteontem eu conheci;
E aí, o soldado espantado
Com aquilo que ele ouvia,
Entrou com ele na Igreja,
Pra ver o que aconteceria.

O soldado admirado
Custava a acreditar,
Que a santa ali no altar
Era a amada de Gaspar.
Por isso ele imaginou
Gaspar nunca foi ladrão
O que ele pode ser,
É um verdadeiro bobão.

Enquanto isso, Gasparzinho
Chegou aos pés da imagem
E cantou com sua viola
Para a santa uma mensagem,
Dizendo naquele canto,
"Tu sabes que sou inocente...
Que eu não roubei teu sapato",
Foi aí, que com grande espanto,
Diante daquele soldado,
Para constar que Gaspar
Nada tinha lhe roubado,
A santa - imagem de barro -
Percebendo a inocência
Daquele homem de fé,
E querendo fazer clemência
Chutou o seu outro pé,
Jogando o outro sapatinho
Nas mãos daquele rapaz;
O outro sapato de ouro
Foi para as mãos de Gaspar,
Que para ele era um tesouro
Que a moça havia lhe dado;
E o soldado por testemunha,
Contou tudo ao delegado;
E daí a poucos minutos,
O bobo foi libertado,
Como se ele fosse um santo.

                    31.03.2006


Cantigas

Por onde vai meu canto?Eu pergunto à solidão...
"Vai além das brancas flores
Dos jardins do meu sertão."

Os lábios mornos da musa,
- O meu verão tropical -
São como dois diamantes,
De valor descomunal.

Comadre, por que meu terno
Está todo amarrotado?
"Acabou a brasa do ferro,
E hoje é feriado."

Os frios lábios de Inês,
Se não forem mais beijados,
Quando chegar o mês de junho,
Podem ficar congelados.

Que tempo que tem tem?
O tempo com tempo vem...
Se o tempo tem contratempo,
Contratempo tem seu tempo.

Comadre, cadê Chiquinha?
"Chiquinha tá na cachaça,
E quando ela vortá pra casa,
Traz cachaça na cabaça."

Um escravo disse ao outro...
"Vamos roubar sinhazinha,
Quando não tiver ninguém
Com ela lá na cozinha!"
O outro negro respondeu
"Vamos matar o senhor;
Mas, se o nosso plano falhar,
E nada não realizar,
Não tem problema, irmão!
Nós já tá acostumado
Com o chicote do feitor."

Carro de pobre é cavalo...
Cadeira de pobre é chão;
Casa de louco é hospício,
Amor demais é paixão.
Cantiga de pobre é choro;
Dinheiro de pobre é tostão...
_ Moedinhas barulhentas
Que passam de mão em mão.

Vida de pobre não é
Uma vida "farturenta";
Comendo pra não morrer,
Não passa de uma morte lenta.

Meus leitores e leitoras,
Meus amigos e amigas!
Podem ficar submersos
No aconchego dos meus versos
Que chamamos de cantigas.
                     14.04.2006

O desafio

Zé Mandioca e João do Brejo
Se encontraram nu'a vendinha
Cada um com sua viola
Num dia de tardezinha
E entraram num desafio
Apostando cem mil réis,
Uma chaleira de chá mate
E mais quarenta pastéis.

E o dono daquela venda,
Apelidado Zé Broca,
Apostou com seus amigos
Na vitória do Zé Mandioca,
Uma caixa de cerveja
E quarenta guaranás,
E puseram os dois violeiros
Pra cantar versos em paz.

Um fazendeiro dali,
Apostou no Zé Mandioca,
Oitenta moedas de ouro,E cem quilos de "Café Mooca".

O violeiro que cantasse
Até o parceiro se calar
Era ele que ganhava
O prêmio que ele apostar
E assim o Zé Mandioca
Foi que começou primeiro
Mexendo com João do Brejo
Seu comparsa violeiro.

Zé Mandioca:
"Violeiro bão de viola
Espicha o pescoço e canta;
Faz muito bem pra saúde,
Fazer calo na garganta,
Namora moça bonita,
Sem perder hora de janta."

João do Brejo:
"Sem perder hora de janta,
É assim que o amigo pensa
Não pode jantá de graça
Tem que dá uma recompensa,
Pra não fartá pão na mesa,
Sem esvaziá a despensa."

Zé Mandioca:
"Se, tá vazia a despensa,
Não tenho nada com isso...
Quem tem tempo faz fofoca,
Tira bicho e faz feitiço,
Dá nó na goteira d'água,
Sem ter maior "sacrifiço".

João do Brejo:
"Sem ter maior "sacrifiço"
É que eu ganho meu dinheiro...
Nas aposta que eu faço,
Eu venço qualquer violeiro
Que fica de cara baixa,
Mesmo sendo em seu terreiro."

Zé Mandioca:
"Mesmo sendo em seu terreiro,
Não acontece comigo
Que eu dentro dos meus domínios
Enfrento qualquer perigo
E mando meu adversário
Comer terra por castigo."

João do Brejo:
"Comer terra por castigo
Se não houver vatapá;
Eu não como caratinga,
Nem inhame, nem cará,
Vou tomar vinho de primeira...
Pois minha vitória certeira,
Eu irei comemorá."

Zé Mandioca:
"Eu irei comemorá
A vitória que virá...
Comigo ocê come terra
Até seu istambo injuá;
É eu que vou tomá vinho...
Na viola eu sou sozinho,
E ocê não vai aguentá."

João do Brejo:
"Ocê não vai aguentá
E ainda vai ficar louco
Porque uma mandioca dessa
Eu pego e jogo pra porco
Eu quebro a sua viola
E resolvo o resto no soco."

Zé Mandioca:
"Resolvo o resto no soco,
Pois comigo ocê não pode...
Eu quebro a sua viola
Toco fogo em seu bigode;
Eu prendo a sua cabrita...
Serro os chifres do seu bode."

João do Brejo:
"Serro os chifres do seu bode...
Comigo é oito ou oitenta
Eu pra lutar com você
Não preciso ferramenta
Com a minha mão bem fechada
Eu te quebro o pau da venta".

Zé Mandioca:
"Eu te quebro o "pau da venta"...
Isso é jeito de falar?
Vamos resolver na paz...
Vamos pará de brigar;
Acho que ocê, João do Brejo,
Tá quereno se entregar."

João do Brejo:
"Tá quereno se entregá...
É isso que ocê pensa;
Tô de ôio é na vitória,
E na minha recompensa...
Vou pôr cascaio no borso,
E encher minha despensa."

Zé Mandioca:
"É encher minha despensa...
Ouçam que conversa fria
Desse violeiro panaca,
- Traste ruim lá da Bahia -
Dependendo de sua vitória,
Sua casa fica vazia."

João do Brejo:
"Sua casa fica vazia
Mas a minha fica cheia...
Eu tenho mi'a casa própria,
Não moro de parede e meia
Com gente de baixa classe,
Prisioneiro de cadeia."

Zé Mandioca:
"Prisioneiro de cadeia,
Foi seu pai, um certo dia,
Que matou a madrinha dele
a tal de Júlia Maria,
E ficou preso onze anos
Trancado numa cela fria."

João do Brejo:
"Trancado nu'a cela fria
Ele ficou de verdade;
E você, seu Zé Mandioca?
- Acorda pra realidade - 
Foi o maiô vagabundo
Da nossa comunidade."

Zé Mandioca:
"Da nossa comunidade
Eu fui um cabra valente...
Eu confesso que eu fui
Um home bem deferente
Desse tal de João do Brejo
Que tá aqui na minha frente."

João do Brejo:
"Quem tá aqui na minha frente,
Vai perder este duelo;
Violeiro com cara de bobo
Com seu sorriso amarelo,
Vai ter que entregar o ouro,
Comigo montado em seu pelo."

Zé Mandioca:
"Comigo montado em seu pelo
Ponho arreio e meto a espora...
Você vai é onde eu quero;
Violeiro, confessa agora,
Que você já perdeu feio;
Cale a boca e vai embora!"

João do Brejo:
"Cale a boca e vai embora
É isso cocê vai fazê
Vai ganhá minha vitória
Calano a boca docê
Vai custá caro meu trabaio
De cantá verso cocê."

Zé Mandioca:
"De cantá verso cocê
É o trem mais face que tem;
Dentro do "Estado de Mina"
Nunca perdi pra ninguém,
Ainda mais pra João do Brejo,
- Jeca pobre sem vintém.

João do Brejo:
"Jeca pobre sem vintém...
Esse cara não eu
Eu tenho tanto dinheiro
Que você nunca conheceu
E eu tô desconfiado
Que a sua goela já doeu,
E ocê com esse papo todo
Sua aposta já perdeu.

Zé Mandioca calou a boca,
Perdendo logo o assunto;
Foi logo se amarelando
Que parecia um defunto...
Zé Mandioca e João do Brejo
Logo se abraçaro junto."

E o povo bateu palmas
Comemorando a vitória
Muitos homens da fazenda
E muita gente de fora,
E até o perdedor
Se alegrou nessa hora.

João do Brejo e Zé Mandioca
Se abraçavam sem parar
Tomando taças de vinho
Junto ao povo do lugar,
E o povão que veio de fora,
Bebeu e comeu sem pagar.

Pois tudo correu por conta
De Zé Jota o dono da venda
Porque o duelo dos dois
Foi diversão pra fazenda;
E um brinquedo "bão" desse,
Não se encontra todo dia...
E o poeta Antonio Gomes
Foi quem rimou a porfia.

                     02.04.2006


As vogais do coração

As vogais do coração
São dois ós e são dois ás
Quando os ós entram em ação
Os ás não ficam atrás.

Se o ós fazem ingratidão,
E os ás não oferecem paz,
Como fica a situação
Do dono dessas vogais?

Com os dois ás, AMOR, AMANTE,
Eu escrevo a todo instante
Nas páginas do peito meu.

Com os dois ós, nas horas bravas,
Escrevo ódio e escrevo oitavas,
Que a vida o instinto me deu.

                          03.04.2006


Ninguém

Ninguém tem uma sorte escolhida
Sem passar pelas mãos do Senhor;
Ninguém nunca se dá bem na vida,
Sem dispor de seu próprio valor...
Ninguém tem uma vida sofrida,
Se tiver um amigo ao redor;
Ninguém pode escolher sua sorte...
Ninguém pisa nos ossos da morte.

Ninguém pode manter o sorriso,
Em seus lábios feridos de dor;
Ninguém pode manter o seu siso,
Sem haver seriedade no amor...
Ninguém pode entrar no Paraíso,
Sem morrer com a fé no Senhor;
Ninguém pode descrer da Verdade
Dos mistérios da Eternidade.
                           11.09.2000


Festa de reis
(Poesia trovadoresca )

Bate caixa meu caixeiro,
Que a festa vai começar!
Que a bandeira do Divino,
Não demora pra chegar.

As barraquinha de doces
Pipocas, quentão e "refri"
Não demoram funcionar
Co'o povo todo daqui.

Ora viva a criançada
Empinando seus balões,
E o casal de reis passando,
Vão alegrando os corações.

Grita alegre a criançada,
- Bando esperto de guris -
Como é bom sentir na alma,
A criançada bem feliz.

A criançada de cor
Grita e pula sobre o chão...
"Qui viva Isabel Cristina
Que nos deu a abolição."

O casal de reis, sorrindo,
Passa ao som do foguetório,
Enquanto os foliões,
Carregam o oratório
Da Virgem da Conceição,
Padroeira da cidade,
Que protege e abençoa,
Aquela comunidade.

Que viva o doce reisado!
A moçada toda grita;
Depois tem a cerimônia
Chamada "trança de fita"
Mais tarde, a velha congada
Se exibe junto aos festeiros,
Caixeiros e pandeiristas,
Tocadores pagodeiros,
Com caixas e tamborins
Cantadores e violeiros.

Às nove horas da noite
É que a festa termina
E o poeta Antonio Gomes
Trabalha em sua rotina
De rimar o acontecido
Nesse festival de reis,
De tradição importante,
De acordo às velhas leis.

                     04.04.2006

A Inconfidência

Na fatídica opressão dos lusitanos,
No apogeu da persistente tirania,
A entidade feroz dos soberanos,
Desgastava o Brasil c'o estrepolia
Quando os braços de ferro dos tiranos,
Manejavam suas leis com maestria
O Brasil, num mau passo das Idades,
Tinha o sonho das próprias liberdades.

Tine o bronze da lei... E os lisboetas
Se ostentavam, às lutas persuasivos;
Exibindo suas nobres silhuetas
Em seus atos pernósticos corrosivos
Onde o ouro bailava nas retretas
Cujo som com aspectos explosivos
Comandava essa esplêndida garridice
No apogeu de mesmíssima peraltice.

Essa pompa aurífera do Ocidente,
Tudo às custas do ouro brasileiro,
Se ostentava feliz e persistente,
No comando feral do cativeiro;
E o Brasil se curvava docilmente
Ao vigor do ciclope ambicioneiro,
Que aqui se expandia em tom feral,
Na pessoa falaz de Portugal.

Essa esplêndida rotina portuguesa
Nos engastes dourados da "Coroa",
Obrigava o Brasil co'a mente acesa,
A embarcar nessa furada canoa.
E aqui, nossa força era indefesa,
Frente aos músculos possantes de Lisboa.
E o Brasil, já ferido no seu brio,
Fez-se um dia, ebulir seu sangue frio.

Já cansado de pagar pesado imposto,
Alvo sendo de abusivo mercenário,
O Brasil subalterno no seu posto,
Quis quebrar dessa ópera o estradivário:
E aí, Vila Rica ergueu seu rosto
E exibiu o papel revolucionário
Pra estragar do governo a própria cama
Quando fosse cobrada a "derrama".

A "derrama" era o imposto que cobrava
A insigne Coroa Portuguesa
Era o quinto do ouro que pagava
Os mineiros que agiam com afoiteza
E o Brasil que assim desembolsava,
Resolveu se impor com mais presteza;
Sem pensar em inimigos como escolta,
Vila Rica se ebuliu numa revolta.

E às portas fechadas se reuniam
Os mineiros, tão sigilosamente
Combinando como eles agiriam
Contra esse governo repelente
Se a vitória viesse, eles viriam
Acabam com essa lei intransigente,
Abolindo a escravatura pública,
E implantar o regime da República.

Foi um sonho fugaz... fatal delírio
Ante os olhos morteiros da nação...
Uma estrela caiu do seu empíreo
Pra queimar os seus planos de ação;
Um traidor decretou nosso martírio
Pondo tudo a perder com sua traição,
Denunciando, com todo o desamor,
Seus comparsas para o governador.

Todos eles assim decepcionados
Co'essa perniciosidade do vilão,
Foram todos nu'ergástulo aprisionados
E três anos ficaram na prisão;
Tiradentes que chefiava os revoltados
Chamou a si sua própria corrosão,
E morreu degolado à forma hostil,
Num famoso dia vinte e um de abril.

Foi-se o sonho brasileiro para o abismo,
Em virtude de "tragédica"inclemência;
O olhar do Brasil, em estrabismo,
Não viu o lado inimigo em adjacência...
Essa luta de excepcional civismo,
Que é por todos chamada Inconfidência
Foi assim vulgarizada à Pátria inteira;
E é chamada de "Inconfidência Mineira".

E são sempre lembrados tais momentos...
São cruciantes e cruéis evocações
Que perduram em nossos pensamentos,
Mas que empolgam os nossos corações:
E o vate proclama aos quatro ventos,
De Joaquim José da Silva as intenções:
"Tiradentes vá em paz com seus renomes!"
Quem te aclama é o poeta Antonio Gomes.

                                    06.04.2006


Pureza

Vestida de pena
A virgem morena
- Silvestre verbena -
Pureza eu vi;
Seus olhos brilhavam
Quais fossem estrelas
Pureza, uma das belas,
Da raça tupi
Era uma das flores
Das mais belas cores,
Que desabrochou-se
No chão guarani.

Pureza era linda,
Mas,no amor precavida;
Um dia, em sua vida,
Pureza sorriu,
Quando o seu amado
Um índio adorado
Lhe fez um chamado...
Pureza o seguiu.

Pureza em caminho
Co'o seu companheiro,
Ao índio guerreiro,
Pedindo falou
Que ele a seguisse
Pra guerra onde ia,
E o índio sorrindo
Lhe acompanhou.

Pureza na guerra
Junto ao seu amado
Foi triste o seu fado..
Pureza não via
O que acontecera
Com o índio estirado
De flechas crivado
Seu índio morria.

Pureza ao ver
Seu índio caído
Que o tinha perdido
O novo amor seu,
Na praia chorando
Seu triste fadário...
E se lamentando,
Dizia em seus ais;
"Quem sofre bem mais
Na certa sou eu."

Pureza resolve
Um pacto com a morte,
Uma vez que sua sorte
Se esvaeceu
Ao ver que o amor
Fugiu de suas rondas
Nos braços das ondas
Pureza morreu.

                07.04.2006


A partida

Mães, pais, e filhos, enfim... uma família
- Já antevendo a crise no porvir -
Saíram de suas casas fixadas nu'a ilha,
E foram morar longe para nunca mais vir.

Cansados das noitadas vazias sem dormir,
Aqueles familiares sem cama, sem mobília,
Pra longe de sua ilha quiseram então partir,
E foram além dos pampas morar num coxilha.

Compraram um cavalo, um jegue, e uma carroça...
E co'esses apetrechos nesse "cantão de roça"
Ganharam seu dinheiro, vivendo muito bem.

E hoje essa família consolidou sua vida,
Saindo de sua ilha, feliz como ninguém:
- Bendita foi a hora dessa feliz partida!

                          07.04.2006

O sufixo do "ente"

Ontem, hoje, sempre, e eternamente
Minha musa tu serás constantemente;
Pra não deixar mi'a vida descontente,
Te quero sempre no meu lar presente.

A vigência desse amor é transparente,
Em se tratando de mim, principalmente;
E da árvore dos teus lábios, docemente,
Os beijos são seus frutos... Quero um somente!

Todo esse devaneio inconsistente,
É o sonho de um vate persistente,
Do intelecto eclético e transigente;

Todo esse impulsionismo renitente
Pode ser de romântico um passo à frente,
Ou será u'a frustração inadimplente.

                                        08.04.2006


O negro fujão

Na fazenda Abre Campos,
Nos tempos de antigamente,
O escravo Zé Pereira
Sofria horrivelmente,
Por ser um negro fujão
Que quando era pegado,
Pelas mãos de seu feitor,
Era cruelmente surrado.

A negra "tia Zurita"
Amiga de Zé Pereira
Tentava lhe ajudar
Coando em sua peneira
Alguns líquidos milagrosos
Com feitiço de primeira
Pra curar seus ferimentos
Ganhados de uma surra inteira.

Zé Pereira e tia Zurita
Preparavam uma trama
Pra matar o tal feitor
Quando ele fosse pra cama,
Porque ele toda noite,
Levava pra cama dele
Uma vasilha de chá
Já adoçado por ele.

Um dia, tia Zurita,
Sem o tal feitor saber,
Ela envenenou o chá
Que ele ia beber;
E o feitor, depois de morto,
Deu chance pra ela roubar
A chave da casa grande
Que em seu bolso devia estar.

Zurita e Zé Pereira
E mais toda a escravaria
Revoltados com a vida
Sofrida do dia-a-dia,
Entraram na casa grande
E mataram o seu senhor;
Também a sinhá e um filho
Foram mortos com horror.

E aquele exército de negros
Dominou toda a fazenda,
Todos eles em vigília
Cada um em sua tenda
Vigiavam toda noite
Para barrarem a entrada
De algum branco aventureiro...
- Todos com a arma empinada.

Ficaram assim, sendo os donos
De tudo que eles fizeram...
Serem ricos algum dia,
Foi tudo que eles quiseram;
E, quando veio realmente
A bendita abolição,
Entre si, eles repartiram 
O ouro do ex-patrão.

E assim, a liberdade
Que chegou oficialmente,
Veio trazer a esses negros
Paz e sossego na mente;
E assim, esses heróis,
- "Juntando paus e cavacos" -
Foram assim apelidados
Por "exército de macacos".

                        09.04.2006

O ABC do verde

Adeus meu sertão! Por que de mim tu vais?Bom seria se pudesses ficar mais...Como nunca poderei deter as hostes do progresso,
Dormirás em paz, até um possível regresso.
E assim, o verde enfermo se acama
Frustrado, em sua amarelada grama,
Gastando o tempo único que lhe resta;
Hasteando suas cores no campo e na floresta,
Imagina que o futuro de "mil e uma cores",
Juntará o que sobrou de seus velhos amores,
Libertando os seus prazeres das grades da solidão.
Mas o seu martírio que o progresso aumenta
Não lhe dá esperanças de sua ascensão,
O mesmo acontecendo co'a indústria sumarenta,
Pervertendo as suas cores redundantes...
Quando os seus avançamentos exorbitantes
Rechaçarem do verde os seus renomes
Sabe-se que o poeta Antonio Gomes,
Tendo em vista do verde os seus pronomes,
Um dia se entristecerá; e sua musa ardente,
Vivaz e permanente, um dia ausentar-se-á,
Xará do verde-folha, é o verde do além-mar,
Zombando assim do verde-amarelo do luar.

10.04.2006


Vozes

O sertão disse à indústria
Da ilusão através
"Quer me virar pelo avesso?
E a indústria responde: yes!"
O tempo disse às Idades
"Nem a morte nos domina
Nossa presunção é tanta
Não há força que a extermina."
A noite disse ao luar
"Você vem me enfeitar?
Ou quer tirar meus trevores,
E amenizar meus horrores?"

Netuno disse a Plutão
"Fique bem longe de mim,
Pois em meus planos de ação,
Meu orgulho não terá fim.
O mundo disse pra morte...
"Se levar os filhos meus,
Coloque-os bonitinhos
Aos pés do Supremo Deus."

                      15.04.2006


Os magnatas

O sol em seu fascínio, audaz e exuberante,
- Qual fosse do espaço u'a tropical serpente -
Expede ao campo ameno seu bafo forte ardente,
Qual fosse um magnata de voz preponderante.

Enquanto aqui na Terra, o poderio errante
Da opulência extrema, nociva e permanente,Perturba a paz solita da plebe descontente,
E enchendo de ouro os cofres com aptidão constante.

Os reis são magnatas em todas as diretrizes
E os povos a seus pés mantém suas raízes
Que um dia no porvir, amor produzirão.

Mas esses magnatas irão pro cemitério...
Só não irá pra cova o magnata aéreo
Que brilha e traz seu ouro pros cofres do sertão.

                                      16.04.2006

A natureza

O traje do rochedo impermeabilizante,A natureza eterna no seu corpo o cingiu;
Cobrindo-o de aplausos num gesto assaz ovante,
O misticismo d'alma da aurora assim o ungiu.
Num timbre assaz acústico falaz e estrepitante,
O vendaval ecoa canções que a rocha ouviu;
E o seu efêmero voo deixou bamboleante,
Um povo de arvoredos; e n'amplidão sumiu.

O vendaval à mata, faz inconstantes rondas...
E o mar expede à praia exorbitantes ondas
Que se regurgitaram do íntimo de seus dias.

E o povão de estrelas, em seus teatrais balés,
Sobre o salão das nuvens, sem teto e rodapés,
Assenta no horizonte suas próprias moradias.

                                       17.04.2006


Persistência

Estamos em mesóclise... Entre o mundo e a Eternidade,
Num vasto periférico entre o ódio e a persistência;
Da ingratidão o medo, nos turba a paciência...
Daí, vem o advento dessa promiscuidade.

Se um prócer se ressalta ante à comunidade,
Com um poderio avante e com clarividência,
Seu instinto categórico e egrégio em transparência,
Persiste detergindo a obscuridade.

O vínculo aderente do orgulho à opulência
Persiste na bazófia de erguida prepotência,
No cimo oligárquico de seu absolutismo

Depois da indômita morte os feros canibais
Vão comburir seus erros nas piras infernais...
Irão depor seus elmos às portas do abismo.

                                      19.04.2006


Minha velha
(Poesia trovadoresca)

Minha véia é minha vida...
Sem ela não sei viver; 
Minha véia é o meu amparo,
Nem eu mesmo sei dizê
O quanto ela me adora,
Por ela me pertencê;
No olhar da minha véia,
Todos podem percebê,
Não existe falsidade,
Só existe o bem-querê.

"Afinal de contas cumpade,
Que véia é essa?"
"Depois te conto compadre!
Te faço essa promessa."

Minha véia me acompanha
Aqui, lá e acolá;
Minha véia foi criada
Pra podê me ajudá...
Eu também ajudo a véia,
No seu bom alimentar
Minha véia vai comigo,
Quando eu saio a passiá.

"E eu continuo insistino cumpade!
Que véia é essa?"
"Depois te conto, procê contá pra cumade."

Minha véia me acompanha em todo lugar que vô,
Minha véia já foi escrava do meu avô Bartô:
Minha véia me conhece; ela sabe quem eu sô,
Eu também conheço a véia que o meu coração gamô.

"Cumpade, deixa de rodeio
Que véia é essa? Conte de uma vez..."
"Depois eu conto, paciência, freguês!"

Agora eu vou te contá, cumpade, que véia é  essa,
É para você não ficá aí quebrano cabeça;
Minha véia me adora desde que ao mundo veio
Essa véia é a minha égua que não sai do meu arreio.

                                                          21.04.2006

As selvas e o mar

Na noite negra, a lua
Rasga o véu de seu trevor,
E o relento continua
A espalhar ao seu redor
Por sobre a floresta nua
O seu frio, sem rancor;
Enquanto isso os vagalumes
Dão para o campo os seus lumes.

A névoa sobe sem grito
Para o trono de seu ar,
E vai pousar no infinito
Na garupa do luar:
O vento é um grande precito
Vadio, a tumultuar
A paz soturna das selvas,
E despenteando as relvas.

O mar - extensa planície -
Com seu elenco de vagas,
Tal qual saudades sentisse,
Na solidão de suas plagas,
A terra um dia lhe disse
De suas lendas, suas sagas...
"Que a sua nereida um dia
Demonstrou-lhe simpatia."

As selvas tremem, virentes,
Seu folharal sob o vento;
Do mar as vagas trementes
À solidão do relento,
Qual fossem damas luzentes
Do evasivo sentimento,
Ao recreio das savanas,
Perambulam em caravanas.

As ondas bamboleantes
Ao manuseio do vento,
Oscilando trepidantes
Nesse teatral momento, 
Se arquejando ofegantes
Nesse exausto movimento,
Morrem na praia, estafantes,
Como um povo de gigantes.

Os campos, selvas, e mares,
Falam a sós com Iemanjá...
As noites, com seus luares,
Subalternas a Jeová,
Sentem nos seus tredos lares
A dor que a treva lhes dá;
Mas quando o luar se esquiva,
A luz do sol se reaviva.

                        23.04.2006

Parabéns a um amigo

Por todos os seus feitos quero aclamar seu dia,
Assim homenageando seus fraternais afetos...
Repletos de emoções, os seus corações prospectos
Aplaudirão seu dia com euforia avante:
Benevolente data! Seja de paz constante,
E se repita sempre na vastidão do tempo!
No íntimo de seu ego, seu fraternal exemplo,
Será de amor ao próximo, com vibração possante.

Boiando à flor dos anos, nos mares das Idades,
Eu sinto que o seu barco, das praias às potestades,
Terá o acesso eterno ao porto das Verdades...
O mundo é o seu trajeto de sonhos e realidades!

Por todos os seus atos de altruísmo espesso,
Eu sinto que a sua alma, em magistral progresso,
Literalmente sente que a paz dos bons momentos,
Onipresente está, do céu aos quatro ventos.

Seu dia resplendente de amor em expoência,
Eu sinto que irá se repetir constante,
Usufruindo amores com excepcional frequência.

Do mais precioso dom, o céu fez sua escolha...
Instituiu-lhe o amor com expansão vibrante
A todos que a esperança vestiu de verde-folha.

                                   04.12.2006



Vocabulário do estilo do poeta


Açoite: instrumento de tiras de couro para punir; chicote; flagelo.
Afoiteza: ousadia, arrojo, precipitação.
Albor: alvor, clarão da manhã.
Alfarrábios: livros velhos.
Alforria: liberdade dada ao escravo, libertação.
Alvinitente: de alvura imaculada.
Amenar: tornar ameno.
Anelante: ofegante, ansioso, desejoso.
Anilada: azulada, tinto, corado de azul.
Apoquentar: afligir, importunar, aborrecer.
Arcano: mistério, segredo.
Arpejos: sequência de sons sucessivos em um instrumento de cordas.
Arrastão: arrastamento violento, rede de pescaria.
Arrebol: vermelhidão da aurora ou do crepúsculo.Assaz: bastante, muito.
Atavio: enfeite, adorno.
Aterrante: aterrorizante, de fazer medo.
Bamboleante: que balança, oscila.
Báratros: abismos, precipício, inferno.
Barcarola: canção de gondoleiros, de barqueiros.
Bardo: poeta, trovador.
Bazófia: vaidade, valentia.
Brasão: escudo de armas, insígnia de nobreza.
Brejeiro: vadio, velhaco, malicioso, brincalhão.
Brenhas: matagal emaranhado, floresta espessa.
Cabrocha: mulata, mestiça de cor escura.
Campas: sepultura, túmulos.
Canícula: a fase mais aguda do verão; calor intenso.
Caotice: referente ao caos; confuso.
Catadura: semblante, aparência.
Ciclope: gigante mitológico de um só olho na testa.
Cimo: a parte mais alta de um monte; cume.
Cincerro: campainha grande pendente do pescoço da besta que serve de guia às outras.
Comburir: queimar.
Coorte: parte de uma legião entre os antigos romanos.
Cortesão: frequentar da corte, palaciano.
Coruchéu: zimbório, torre que coroa um edifício.
Covil: esconderijo de salteadores, toca, cova.
Coxilhas: campina para a pecuária no sul do Brasil.Cruciante: que aflige, torturante, penoso.
Decoro: decência, honra.
Degredo: desterro, exílio.
Desterro. o mesmo que exílio.
Detergir: limpar, purificar através de substâncias químicas.
Ebulir: entrar em ebulição, ferver.
Efêmero: de pouca duração, passageiro, transitório.
Egrégio: nobre, ilustre, distinto.
Elmo: armadura antiga para a cabeça.
Empafiar: relativo à empáfia, altivez, arrogância, orgulho.Empíreo: relativo ao céu, celeste.
Engaste: garra ou guarnição de metal que segura a pedraria nas joias.
Enrodilhar: formar rodilhas, enrolar-se.
Ergástulo: calabouço, cárcere.
Ermo: lugar solitário, deserto.
Escarlate: vermelho muito vivo, rubro.
Escumilha: chumbo miúdo para matar pássaros.
Espevitar: tornar ativo, vivaz.
Estância: o mesmo que fazenda.
Estio: a estação do verão.
Estival: relativo ao estio(verão), calmo.
Estradivário: violino que se caracteriza pela excepcional qualidade do som.
Estridente: agudo, penetrante.
Etério: relativo ao éter, celeste.
Eternais: o que é eterno.
Evocar: chamar, fazer aparecer.
Exacerbar: tornar mais intenso, mais violento.
Exalçar: exaltar, engrandecer.
Exânime: desfalecido, sem ânimo.
Exorbitar: ultrapassar os limites do justo ou razoável, tirar da órbita.
Exumar: tirar da sepultura.
Fadário: destino, sorte.
Falanges: o mesmo que infantaria para os gregos antigos; tropas.
Falaz: ardiloso, enganoso.
Fanal: farol, facho.
Folguedos: brincadeiras, divertimentos, vem de folgar.
Fráguas: fornalha, calor intenso, ardor.
Frondes: capa ou ramagem de árvore.
Fruito: o mesmo que fruto na linguagem popular.
Garradice: elegância, vaidade.
Geena: inferno, lugar dos tormentos.
Geostática: equilíbrio da Terra.
Glauco: verde-mar, verde-claro.
Guardião: superior de convento.
Hilário: relativo à alegria, riso.
Hirto: ereto, teso.
Hostes: tropas, exército.
Idades: épocas.
Idílio: composição poética pastoril, geralmente romântica.
Ilhargas: lado, flanco.
Imigo: forma poética de inimigo.
Imo: o mesmo que íntimo.
Imperato: relativo a Império, domínio, poder.
Indômito: altivo, arrogante.
Inexorável: implacável, duro.
Ingente: grande, enorme.
Insigne: notável, eminente.
Insólito: raro, incomum.
Irisar: dar cores do arco-íris.
Isocrômico: de colorido igual.
Janota: elegante, almofadinha.
Jazigos: sepulturas, túmulos.
Jungido: ligado, unido, preso.
Labor: trabalho, lida.
Lampas: lâmpadas.
Langor: enfraquecimento, apatia.
: refere-se à expressão "lé com lé e cré com cré", ou seja, cada um na sua situação.
Léu: ao léu, na ociosidade.
Libré: farda ou uniforme de criado de casa nobre.
Lirismo: relativo à poesia romântica.
Louçã: gracioso, elegante, gentil.
Malta: reunião de gente de baixa condição.
Mausoléu: sepulcro suntuoso.
Medrar: fazer crescer, melhorar.
Menestrel: poeta e músico que fazia versos e os cantava nos castelos medievais.
Mesoclítico: relativo à mesóclise.
Mimificar: relativo à mímica.
Mofino: infelicidade, desventura, azar.
Mortalha: vestidura em que se envolve o cadáver que vai ser sepultado.Náiade: ninfa dos rios e das fontes.
Nardo; planta gramínea.
Natura: o mesmo que natureza.
Nereida: ninfa do mar.
Nitentes: que brilha, fulgurante.
Noitibó: pessoa pouco sociável, ou que só aparece de noite.Obceco: de obcecar, tornar cego, obscurecer, ofuscar.Obumbrar: cobrir de sombras, tornar escuro, ocultar.
Opaco: escuro, sombrio.
Opróbrios: humilhação, desonra.
Orbe: globo, esfera, mundo.
Outeiro: pequeno monte, menor que uma colina.
Ovante: triunfante, jubiloso.
Pachorrento: lento, paciente em excesso.
Paço: palácio, corte.
Panteões: templos dedicados a todos os deuses.
Páramo: planície deserta.
Pardacento: quase pardo, amulatado.
Paul: o mesmo que pântano.
Pêndulo: instrumento que realiza movimento oscilatório.
Penedos: pedras grandes, rochedos,
Perenal: o mesmo que perene, eterno.
Pernoite: passar a noite, tomar pousada.
Pernóstico: pedante.
Pira: fogueira em que se queimam cadáveres, vaso onde arde um fogo simbólico.
Plaga: região ou país.
Plangente: que chora, lastimoso, triste, melancólico.
Plebe: o povo, em oposição aos nobres.
Pleito: questão em juízo, demanda, litígio.
Poetizar: tornar poético.
Porfia; disputa, luta.
Potestade: poder, potência, divindade.
Precípuo: principal, essencial.
Precito: condenado, maldito.
Prestimoso: obsequioso, serviçal, prestante.
Probidade: honradez, integridade de caráter.
Prócer: homem importante, líder.
Prole: filhos.
Pulular: agitar, ferver, desenvolver.
Pungentes: dolorosos.
Purpurino: da cor de púrpura, vermelho.Quilombo: lugar onde viviam os escravos fugidos no Brasil Colonial.Rajás: soberanos ou príncipes indianos.Recôndito: oculto, desconhecido.
Regurgitar: vomitar.
Relento: sereno.
Reminiscente: que relembra, relativo à lembrança.Renovo: broto, rebento.
Repelente: repugnante, nojento.
Rés: raso, rente, pela raiz.
Retretas: concerto de banda em praça pública.
Rocio: o mesmo que orvalho.
Rosicler: de uma tonalidade róseo-pálida que lembra a aurora.
Rubentes: que tem a cor vermelha ou rubra.
Saga: narração histórica ou lendária.
: Igreja Episcopal, o poder pontifício.
Século: o tempo presente, espaço de cem anos.
Sibarita: quem é amigo dos deleites da vida e dos prazeres, lascivo.
Siroco: vento quente que sopra do deserto do Saara sobre o norte da África.
Soçobrar: afundar, naufragar.
Solito: o mesmo que sozinho.
Sorumbáticos: tristes, aborrecidos.
Soturnos: tristonhos, sombrios.
Suarentos: cobertos de suor.
Sumarento: que tem muito sumo, suculento.
Suserano: aquele que concedia um feudo na Idade Média.
Tabernáculo: tenda que servia de santuário para os antigos hebreus no deserto, templo.
Tablado: palco, palanque.
Telúria: relativo à Terra.
Tétrico: muito triste, fúnebre, sombrio.
Tope: o topo, o cimo.
Torpedo: submarino de guerra.
Tramontana: rumo, direção.
Tredo: em que há traição, traiçoeiro.
Trementes: que tremem.
Trepidante: que trepida, trêmulo, hesitante.
Trevor: treva, escuridão.
Tropel: tumulto provocado pelas patas de cavalos.
Turbilhões: redemoinhos de vento.
Val: o mesmo que vale.
Vate: poeta.
Verbena: planta.
Veredito: decisão do tribunal, juízo, sentença.
Vernáculo: diz-se de linguagem correta, sem vícios ou estrangeirismos.
Versejar: compor versos.
Viajor: viajante.
Virente: verdejante, verde.
Virgínico: relativo à virgem.
Vizir: ministro de príncipe muçulmano.
Volupto: em que há prazer.
Zéfiro: vento suave e fresco.
Zênite: o auge, o ponto mais elevado.
Zimbório: a parte externa mais alta e convexa da cúpula de um edifício.






Sobre o autor


O poeta Antonio Gomes da Cruz é antigo morador de Ipatinga, tendo nascido no dia 13 de outubro de 1943, na cidade de Ferros, Minas Gerais. Filho de Manoel Afonso Rodrigues e Ana Luíza da Cruz. Veio de uma humilde família que não pôde lhe dar uma educação escolar mais ampla, mas lhe deu condições sociais que promoveram suas habilidades para a poesia e a arte.

Sua poesia possui características acentuadas do Romantismo brasileiro do século XIX. Foi um estudioso dos poetas do período, principalmente de Castro Alves, o nosso poeta abolicionista. Destaca o valor da natureza e do amor romântico em sua vasta obra poética. Foi um combatente em favor do sertão contra a exploração capitalista do meio ambiente.

Além de poeta, foi um excelente contador de histórias, possuindo uma memória extraordinária. Também gostava de cantar e tocar instrumentos musicais, como o violão e a viola. Participava ativamente de atividades culturais em nossa cidade, principalmente nas escolas municipais e na Estação Memória.

Faleceu em 14 de dezembro de 2015, com 72 anos. Uma grande perda para a cultura da cidade e região.

Saudades do amigo!