7. De pais e da responsabilidade de cuidar
No meu tempo de criança era normal uma família ter dez filhos(as) ou mais. Esta era uma exigência religiosa que a maioria seguia. Alguns casais resistiam e tinham dois ou três filhos. Meus pais, estes eram fiéis aos ensinamentos da Igreja, e tiveram dez filhos. Todo ano chegava uma nova "cria" que ia se amontoando às que lá estavam, sem conflito, pelo menos eu não me lembro se acontecia algum; deveria lembrar, pois sou o mais velho, mas se houve, devo ter bloqueado da memória como acontece na infância. Os primeiros filhos naquela época não tinham os famosos ciúmes dos dias de hoje. Lutavam, inconscientemente para sobreviver. Consequentemente, os filhos mais velhos enfrentaram dificuldades maiores que os mais novos em questão de adaptação ao ambiente sempre renovado. Certamente, procuraram acomodar da melhor forma possível os que estavam chegando. E este cuidado se estendeu na adolescência e juventude. Na juventude os filhos mais velhos continuaram ajudando os mais novos pagando as escolas de 2° grau de alguns irmãos e irmãs, pois nosso pai manteve o Ensino Fundamental que sempre foi gratuito, e era o costume da época, principalmente para filhos de operários, pois estes sempre tiveram baixos salários. Em nosso tempo era comum as mães cuidarem da educação dos filhos, e os pais eram os provedores financeiros da família, portanto o afeto entre pais e filhos era muito limitado. Hoje é muito diferente, pois os pais participam mais na criação e educação dos filhos, fazem parte de um outro tempo. Esta exigência, inclusive está na nossa Costituicão. Tanto as mães, como os pais, trabalham fora e dividem as tarefas da casa, sendo a educação dos filhos a mais importante, pois a escola tem a função principal de ensinar e não de educar. A educação é função primordial da família. Hoje este pensamento já é dominante na sociedade, mas a escola, por ser um ambiente de interrelações sociais também contribui com a educação de seus alunos, assim como outras instituições sociais, culturais e religiosas. Enfim, todos educamos e somos educados por alguém ou instituições, pois educar é provocar mudanças de comportamento. E o exemplo é sempre o fator determinante da educação, muito mais que qualquer ensino ou estudo. O exemplo dos pais, este é essencial.
Perfeição musical
11. A rodoviária
Fui à rodoviária depois de muito tempo. Dei uma olhada no conjunto conhecido há anos. Quase nada mudou. Não vi construções novas, e as antigas lá, no mesmo lugar. Certamente trocaram algumas cadeiras, que com o tempo e uso excessivo, quebraram. Mas a maioria estava lá cumprindo seu papel de descansar os passageiros que esperam os ônibus que vão e vêm, e continuam cumprindo seus destinos. Mas uma coisa mudou muito: as pessoas que lá estavam. Não eram as mesmas do meu tempo. Tínhamos envelhecido e buscado novos destinos. Aqueles ali fariam o mesmo... Fiquei lembrando de meus amigos que estavam ali comigo. Veio uma saudade sem dor. Pensei: a vida é assim, tudo passa. Mas aquela realidade estática; confesso: me incomodou um pouco, pois percebi que, sem saber, seguimos caminhos que nunca imaginamos seguir, pois a vida está sempre em mudança... viajando! Como na música de Milton Nascimento, Encontros e Despedidas: "Todos os dias é um vai-e-vem (...) Tem gente que chega pra ficar, tem gente que vai pra nunca mais..."
07.12.21
12. A doença e seu poder de unir as famílias
As festas tradicionais nas famílias, como os Aniversários, o Dia das Mães, o Dia dos Pais, o Natal e o Ano Novo, unem as famílias em um momento de alegria. Mas passou aquele momento e os irmãos e irmãs se espalham, ou seja, cada um vai para sua casa e espera, vivendo sua rotina, o outro evento. Mas a doença tem o poder de unir as famílias com toda intensidade, pois mesmo depois de uma visita, continuamos no clima de sofrimento e esperança de recuperação da pessoa adoentada. Pedimos a Deus por ela. Sentimos no peito um estado de angústia inexplicável, e uma esperança permanente de sua melhora. E quando ficamos sabendo da situação, sentimos um abalo emocional; é como se nunca esperássemos aquela situação, diferente das festas que são programadas anualmente. E os irmãos e irmãs se comunicam, se organizam para as visitas e atendimento, e criam uma "corrente do bem e do amor" para superar este momento. Hoje com a criação das redes sociais, formamos grupos de apoio à pessoa sob cuidados. Oramos, damos sugestões de ações para a solução mais rápida da situação... enfim, nos sentimos conectados como nunca para um fato nunca esperado. Até aqueles que não tinham muita afinidade com a família, nos surpreendem com suas ações e palavras carinhosas de apoio. Esquecemos as mágoas passadas. Agora é hora de união e confraternização. É neste momento que os laços de família se unem com mais força. Todos unidos com o mesmo objetivo. Abandonamos o individualismo do mundo atual. Agora somos um coletivo para uma causa maior: a saúde de nosso irmão ou irmã. É neste momento que revelamos nossa humanidade, o nosso melhor lado, que às vezes os problemas da vida nos fazem esquecer. É hora de milagres permanentes em nossas atitudes e palavras. Nosso corpo sofre uma transformação nunca esperada. Somos outra pessoa que há muito desconhecíamos. Renovados pelo Amor. Pela crença em Deus, que havia sido esquecida no turbilhão do cotidiano. É o retorno das orações de nossas mães, que poucas vezes levamos a sério. É um novo olhar sobre a vida que estava apagado no nosso egoísmo cotidiano de buscar o melhor pra nós mesmos. É um afastamento temporário do mundo que nos engole a cada dia com sua rotina de obrigações... agora esquecemos um pouco de nós, e rezamos pela felicidade do outro. Isto é a manifestação plena de nossa humanidade. Como dizem: "Tudo tem seus dois lados.". E até a doença tem seu lado bom: humano, fraterno, carinhoso, amoroso...
01.12.21
13. Como era lindo o meu Natal
Como era lindo o meu Natal! Todo ano era a mesma alegria sempre prevista; a família reunida para a Missa do Galo, e, íamos a pé, sem cansaço, com o maior agrado, e sem reclamação do tempo gasto no trajeto até outro bairro. E lá íamos nós: os pais, os filhos, os amigos, adorar a cena já tão familiar. Na Missa tinha aquele presépio lindo com os animaizinhos em volta do menino Jesus. E muita luz em toda a Igreja. Era como o céu na Terra, acho que inconscientemente acreditávamos nisso. Em casa era aquela ansiedade. Todos aguardando o que o Papai Noel, na sua santa bondade, iria nos presentear... E todos os anos, diante da árvore colorida, lá estavam os presentes tão esperados... E o bom Papai Noel nunca errava, trazia sempre os presentes tão desejados: era um carrinho, uma boneca, simples e amados. O dia seguinte era uma festa. A rua cheia de meninos e meninas com seus brinquedos coloridos e cheirosos de novos. Era como um Parque de Diversões em plena rua. E os pais alegres com a felicidade dos filhos e filhas. Não tínhamos televisão, computadores, celulares, brinquedos eletrônicos, aviões voadores, foguetes. Mas tínhamos a imaginação na velocidade do coração. Amizade na convivência constante. Os gestos infantis, os olhares... E os sonhos, viagens nunca imaginadas. A natureza se enfeitava com o brilho do sol. O verde das matas, as cores das flores. E as crianças em comunhão com o menino-Deus. Era Deus que visitava os homens na simplicidade de uma manjedoura simples e humilde, mas rica de sonhos e luz para a humanidade. Repleta de amor que transbordava por séculos de história dos seres humanos... Por algum motivo sabíamos disso. E éramos felizes na simplicidade de nossa vida de crianças.
22.11.21
14. Homenagem aos Professores(as)
Em meu tempo de criança admirava as poucas professoras do bairro. Significavam sabedoria, autoridade, guias seguras em que nós crianças depositávamos toda confiança. Eram nossas mães e pais fora de casa. Falávamos das professoras com carinho e orgulho. Eram presentes que a comunidade tinha recebido. Eram eficientes e fundamentais para a sociedade. Formavam todos os profissionais da cidade: os médicos, os advogados, os engenheiros, afinal, todos passavam pelas mãos carinhosas de nossas professoras primárias. O tempo foi passando e continuamos nossos estudos sempre carregando aquela lembrança carinhosa de nossas primeiras professoras. Vieram os professores que também carregavam a lembrança e os sonhos de suas primeiras professoras, e transmitiam as mesmas ações humanas e afetivas da infância escolar. Conversavam e incentivavam com um sorriso os alunos em seus trabalhos escolares. Eram os companheiros inseparáveis das aulas e de muitos momentos fora da escola. Estes exemplos de dedicação ao conhecimento e à formação do ser humano transformaram muitas vidas. Hoje sou professor. Sei que devo minha carreira vitoriosa às minhas primeiras professoras e professores. Tenho consciência de meu papel social na transformação do ser humano. Acredito que minha ação irá mudar muitas vidas para melhor ou para pior. É uma grande responsabilidade que vou carregar sempre comigo. Por isso, tenho dedicado minha vida a essa profissão, que além de um trabalho profissional, é um dom dado por Deus a mim e a outras pessoas privilegiadas. E precisamos, pelo imenso poder que recebemos, contribuir decisivamente para a construção de um mundo mais humano e marcado pela paz e solidariedade entre os homens. Hoje, infelizmente, os(as) professores(as) já não são vistos assim. A tecnologia desafia o papel do professor, pois o aluno acredita mais numa informação virtual do que na escolar, como era no meu tempo. O mundo globalizado e tecnológico criou outros valores que descaracterizam o Profissional da Educação. A sociedade atual é altamente individualizada e competitiva. O conhecimento técnico superou as relações afetivas, tornando o carinho e a humanidade entraves à competição. Não se respeita mais ninguém: pais, professores, autoridades. O professor, nesse quadro, torna-se um acumulador voraz de informações para transmiti-las aos alunos, que têm de enfrentar testes cada vez mais seletivos. Vivemos uma Era Globalizada pela informação, mas uma vivência solitária em frente ao computador e aos celulares. E o professor insiste em criar alternativas que combinem tecnologia avançada com relações humanas afetivas e cooperativas. Este é o grande desafio do professor hoje. Sabe-se fundamental e insiste em seu papel histórico de transformação pessoal e social. Esta reflexão é uma homenagem àquele que está sempre atento ao seu tempo e aos seus desafios.
No livro abaixo um pouco da vida do professor na escola e na comunidade
22.11.21
15. Aniversário
De todos os dias do ano, o dia de nosso aniversário, é, sem dúvida, o mais importante, pois neste dia, Deus nos presenteou com a vida. Nosso aniversário é, portanto, um presente de Deus, que todos os anos se renova... É Deus comemorando conosco - sua família na Terra. É o momento da aceitação consciente de Seus filhos da dádiva da vida. Mais que receber amigos em nossa casa; muito mais que fazer festa; estamos afirmando que queremos viver; que não abdicamos da felicidade de vir ao mundo, mesmo sabendo dos problemas que nos esperam. Este dia é único para cada um de nós. Só o aniversariante sabe seu real significado: é vida plena! Que só nasce e renasce sempre em cada ser humano. Lembre-se do dia em que muitos olhos brilharam de alegria por seu nascimento. O sorriso de sua mãe, pai, talvez um leve soluço de emoção... Quem sabe uma ânsia prematura de vê-lo crescer e ser feliz! Mãos carinhosas o tocaram. Sentiram seu corpo macio. Viram seus pequenos olhos espertos como a procurar novos parceiros... Novos presentes de Deus, como você. Encontraram ao seu lado, novos presentes de Deus, também a te procurar; e foi uma comunhão de olhares e surpresas que ninguém consegue explicar. Uma nova vida é sempre um mistério, nunca desvendado, mas sempre vivido e amado.
22.11.21
16. Leitura prazerosa e transformadora...
O hábito de leitura se adquire com tempo e gosto. É uma arte, geralmente se começa cedo. Mais tarde fica difícil aprender a tocar um instrumento. A leitura está intimamente associada à escrita, pois geralmente quem lê bem, escreve bem, pois a leitura te mostra os caminhos da escrita. Como um texto é escrito, ou seja, o processo de escrita estruturado pelo(a) escritor(a). Como ocorre a divisão de parágrafos dentro do texto; o tipo de vocabulário utilizado para se atingir o público desejado... Enfim, você escreve para o(a) leitor(a), e não para você. Daí a atenção nas palavras, na ordem das ideias, etc. Como disse um escritor: "Quem escreve não é quem sabe escrever, mas quem tem ideias". A gramática fica por conta do editor. Nas páginas de um livro, quantas histórias estão escondidas à espera de um leitor! Quanto mistério! Beleza! Sonhos! E nas prateleiras das estantes empoeiradas, clássicos sobrevivem sem saber o seu destino, que pode ser apenas um depósito de livros no futuro, ou se for novo, um enfeite da estante da sala de alguém... Mas o que nos interessa mesmo aqui, é a leitura. Primeiro: tem que ser prazerosa, como disse Rubem Alves; segundo: é reprodutora, ou reveladora de ideias. Logo é transformadora da visão que o leitor tem do mundo, gerando portanto ações novas por parte deste (leitor). A leitura muda a postura e as decisões das pessoas, pois com o conhecimento que adquirem sabem, por exemplo, em quem votar nas eleições, principalmente para os leitores de livros de historiadores, pois estes gastam tempo em pesquisa e na coleta de documentos para comprovar suas ideias, e não trabalham com informações imediatas das redes sociais; que é hoje, a principal fonte de notícias da população. Mas prepare-se, num mundo de poucos leitores, você não terá muitas companhias para uma boa conversa, limitando-se ao trivial em respeito aos que não leem. É uma pena! Hoje, como sou um leitor mais que habituado, fico pensando como as pessoas podem viver sem uma boa leitura! As pessoas perdem em qualidade de vida, e a sociedade também. Os países que saíram do subdesenvolvimento adotaram a Educação Escolar como solução, e com ela a leitura de livros de todos os conteúdos. Não só de romances, crônicas, mas de História, Geografia, Línguas, Matemática, e outros. Ou seja, os cidadãos precisam de uma cultura geral para que o país chegue a ser desenvolvido. Mas os governos, infelizmente não se preocupam com isto, pois a Educação e a Cultura geram despesas no início, e isto não interessa ao poder público, querem mesmo é lucro imediato, e não a longo prazo.
20.11.21
17. Filhos - pedacinhos de nós...
Que nos unem e amamos. Antigamente achávamos que nossos filhos tinham muito mais dos pais do que a ciência hoje constata. Era comum a expressão: "Árvore ruim não dá fruto bom". Ou seja, se o pai ou a mãe fossem maus exemplos, os filhos seriam sempre maus também. Mas vimos ao longo de nossa vida tantos exemplos de bons filhos, de pais complicados, e o inverso também. Isto terminava por colocar em dúvida a máxima acima. Hoje está comprovado que os filhos são pedacinhos de nós, e têm muito mais deles próprios do que de seus pais, Este conhecimento nos dá uma certa tranquilidade, aliás necessária para criar os filhos, ou seja, não somos tão culpados na formação de suas personalidades, pois as mesmas já nascem quase prontas, e é própria deles mesmos. Sofrem influências da sociedade e do DNA dos pais, mas em doses pequenas. A maior parte pertence a eles. Confirma a mensagem daquela fábula, muito conhecida do público: Depois de insistentes pedidos e promessas do escorpião de que não iria picar o sapo na travessia do rio, o sapo resolve colocar o escorpião em suas costas e atravessá-lo até a outra margem. Quando estavam no meio do rio, o escorpião fala que vai picar o sapo, e este, apavorado, insiste que o escorpião prometeu picá-lo, mas o escorpião afirma: é da minha natureza! E pica o sapo e os dois morrem no rio. O escritor Rubem Alves, afirma que "Filhos são como pássaros; nascem, crescem e voam". Ou seja, passam a ter vida própria. Eu acho que filhos são como os nós nas árvores; nascem, crescem, voam, mas permanecem conectados aos pais, mesmo que em pequena parte, como os nós das árvores. As árvores viram madeira para diversos fins; mas os nós estão lá, mesmo que não cresçam mais folhas. Elas já velhas, às vezes, apodrecendo, mas os nós continuam lá, grudados na madeira, talvez esperando uma oportunidade para voltarem a brotar. As árvores se multiplicam, e os nós continuam unindo cada parte da planta nova, como os nossos netos. Os nós estão sempre na história das plantas. Mesmo nas pequenas plantas, como as rosas. Em seu delicado caule, lá estão os nós; firmes unindo todo o fino tronco, gerando novos brotos e folhas, e no alto, suas flores exalam seu perfume delicado para todo o ambiente, como a presença dos filhos em nossa vida. Mesmo que tenhamos problemas com eles, mas a pequena parte de suas presenças continua lá; intacta para sempre!
Olhe quantos nós unem os galhos à arvore
18.11.21
18. Cruzeiro - fazendo justiça com sua história de glórias
Um clube de tantos títulos merecia ser rebaixado para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro? Esta é uma questão que foi respondida por um comentarista de futebol: "Todos os times um dia vão ser rebaixados, isto é normal". Mesmo para nós torcedores fanáticos entendemos isto pela história dos rebaixamentos, não só no Brasil, mas também na Europa com seu futebol milionário. Quase todos os grandes clubes brasileiros já foram rebaixados, inclusive alguns mais de uma vez. Mas no caso do Cruzeiro, o rebaixamento ocorreu de forma inusitada, pois foi o resultado efetivo de má gestão do clube, comandada por uma administração envolvida num mar de corrupção, o que gerou, inclusive reportagem especial no Programa Fantástico, da rede Globo de Televisão. Enquanto a corrupção corria solta, os jogadores ficaram sem receber seus salários por meses. No início do ano de 2019, ano do rebaixamento, o clube tinha um excelente plantel de jogadores, inclusive com muitos de nível de seleção brasileira. Lembro de uma reportagem com o treinador Mano Menezes, que tinha feito um excelente trabalho no clube por três anos, quando o mesmo foi perguntado sobre quais os títulos o Cruzeiro pretendia sair vencedor no ano, ele respondeu: "Todos!" E na verdade, o clube era candidato a campeão de todos os campeonatos que iria competir, principalmente do Campeonato Brasileiro daquele ano. Mas a falta de motivação dos jogadores não fazia os resultados acontecerem. Vi quase todos os jogos, e nunca vi desânimo nos jogadores, se empenhavam intensamente em todos os jogos, mas os gols não aconteciam. Acredito que aí entra o lado psicológico e as coisas não acontecem como esperamos. E as competições foram se sucedendo, e o time abandonando as competições, inclusive a Libertadores da América. E veio o indesejado rebaixamento para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro de 2020, apesar das várias mudanças de técnicos para tentar evitar o rebaixamento. E o início do Campeonato da Segunda Divisão foi difícil para o Cruzeiro, fato que nenhum clube brasileiro tinha passado. Começou a competição já com 6 (seis) pontos negativos devido a dívidas com jogadores, em uma punição pela FIFA. A partir daí teria que repor os pontos descontados e ampliar a pontuação com os jogos que iam surgindo durante a competição. Mas o fator determinante para que continuasse na Segunda Divisão na próxima temporada foi o desmonte do time, pois muitos jogadores foram para outros clubes, porque o Cruzeiro rebaixou o salário de todos os jogadores para o teto máximo de 150 mil reais mensais, salvo raras exceções, e alguns ganhavam até 700 mil reais mensais ou mais. O time foi todo remontado, inclusive com muitos jogadores da base, ou seja, jogadores muito novos. Os demais clubes do campeonato da Segunda Divisão já tinham seus times montados, tendo alguns um elenco já bem antigo. Os clubes que desceram para a Segunda Divisão também já tinham seu quadro de jogadores sem alteração, ou com poucas mudanças em relação à Primeira Divisão. Consequentemente, a situação do Cruzeiro ficou cada vez mais complicada para o acesso. Como tudo tem dois lados: um bom e outro ruim, ou nem tanto... O rebaixamento do Cruzeiro, que foi o lado muito ruim, especialmente para mim, que vi tantos títulos deste clube do meu coração, desde a década de 1960, do século passado; mas terminou tendo seu lado bom como o repensar dos salários milionários dos jogadores brasileiros, diante de uma população em que a maioria ganha um salário mínimo, o que entendo como uma violência contra o trabalhador brasileiro. Diante da divulgação da corrupção no Cruzeiro, e da consequente publicação dos salários milionários dos jogadores, alguns clubes passaram a reduzir os salários de seus jogadores, e os mesmos passaram a aceitar esta redução. A nova reestruturação do clube com a mudança da Diretoria e dos jogadores, o time continuou na Segunda Divisão por mais tempo do que o previsto, e terminou passando o centenário de fundação em 2021, sem a possibilidade do acesso à Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro, que era seu principal objetivo para homenagear a história do clube e sua torcida. No início de 2022, o Cruzeiro acabou se transformando num Clube Empresa, como alguns clubes europeus; ideia ventilada ainda em 2021. O ex-atleta Ronaldo, que teve o início de sua carreira vitoriosa, ainda adolescente no clube, e que hoje é um grande empresário do futebol, inclusive com investimentos na Europa, comprou a maior parte do patrimônio cruzeirense, chegando a adquirir 95% de seu patrimônio, inclusive sua enorme dívida. Neste processo de alteração administrativa do Cruzeiro foi cometida uma enorme injustiça com o goleiro Fábio, ídolo do clube e um dos responsáveis diretos por grandes títulos em sua história. A atual Diretoria não quis reformar seu contrato para mais um ano, fato que levaria o jogador a entrar para uma trajetória quase impossível de ser superada por qualquer jogador em clubes de futebol profissional: o número de 1000 (mil) jogos pelo mesmo clube como titular. Fábio aceitou até a redução de seu salário ainda mais para a renovação, mas não conseguiu seu intento. Acredito que aí entrou a "inveja mata" do principal acionista do clube, Ronaldo, pois em janeiro, o goleiro Fábio fechou contrato de um ano com o Fluminense do Rio de Janeiro, clube que já tinha levado um ídolo do Cruzeiro, o atacante Fred. Para provar esta minha análise é só prestar a atenção na proposta do Cruzeiro para o goleiro: renovavam apenas por 90 (noventa) dias, fato que não levaria o jogador a chegar ao seu objetivo dos 1000 jogos. Mas que fique a lição para o novos gestores do clube; as consequências que podem gerar uma má gestão de uma entidade com a história gloriosa do Cruzeiro. Em 2022, devido a uma gestão séria e competente comandada pelo empresário, Ronaldo, o Cruzeiro se reergueu financeiramente e no futebol, com as novas contratações. A torcida também teve papel fundamental no acesso do time, pois nunca deixou de dar o seu apoio, inclusive lotando os estádios durante os jogos, principalmente no Mineirão. Houve uma harmonia contagiante entre torcida, jogadores e a Direção do clube.
No dia 21 de setembro, uma quarta-feira, aconteceu o jogo entre o Cruzeiro e o Vasco da Gama, no Mineirão, evento que levou o clube azul a se classificar antecipadamente para a Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro, depois de um placar de 3 x 0 e um show de futebol do time celeste e de presença da torcida, com mais de 59 mil torcedores no estádio, e com direito à presença de Ronaldo, atual Presidente do Clube. O Daniel, meu filho, esteve presente nesta alegria. A classificação veio com a antecipação de sete rodadas do campeonato, fato inédito na II Divisão do Campeonato Brasileiro. Agora é esperar para ser o campeão. Com seis rodadas de antecipação, o Cruzeiro se tornou campeão, também fato inédito no campeonato da Segunda Divisão do Brasileiro. No dia 06 de novembro - domingo, às 18:30h, em um jogo no Mineirão, e com a presença de mais de 61 mil torcedores, recorde de público no Mineirão este ano, o Cruzeiro vence o CSA por 3x2 e recebe as medalhas e o troféu de Campeão da Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol. Abaixo o time que inspirou minha paixão cruzeirense e vídeos do acesso à Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro.
19. Avós não são pais de netos
Avós são pais de seus filhos, não de seus netos. Avós são avós, simples assim. Muitos filhos casados acham que os avós devem cuidar de seus filhos quando viajam de férias, vão ao clube, às baladas de fins de semana... Sem contar que muitas vezes, os pais abandonam definitivamente seus filhos aos cuidados dos avós quando o casal separa. Isto já virou um problema social no país, me informou um advogado especializado em aposentadorias, pois muitos aposentados têm que gastar seu pouco dinheiro para se sustentarem e aos netos. Lembro de quando tivemos um problema sério de pagamento na Prefeitura de Ipatinga, e muitos(as) aposentados(as) reclamaram quase aos prantos que não estavam dando conta de manter sua família com os netos. E o pior é que muitas famílias acham isso normal. Lembro de minha mãe, depois de uma certa idade, me falando: "Não aguento mais cuidar de criança". Só que ela cuidou de apenas 10 crianças em sua vida. Deixar avó cuidar de netos é uma desumanidade. Deveria haver uma lei que proibisse esta atitude em nível nacional. Talvez pudesse constar no Estatuto do Idoso. Eu tive quatro filhos(as) e nunca os deixei com ninguém para sair para me divertir ou por qualquer outra ocasião. Levava-os para todos os lugares que a família ia, chegando até a deixá-los dormir debaixo de mesas e em cadeiras unidas... mas lá estavam pai e mãe ao seu lado. E os avós em casa gozando do merecido descanso por ter nos criado com uma boa educação.
20. Os Românticos tinham razão...
Um simples olhar marca uma vida para sempre. Mesmo que você nunca mais o(a) veja. Mas fica a lembrança. O sentimento de ter sido, talvez desejado, mesmo que para uma conversa amigável... mas nunca saberemos. E isto basta! Pois fomos escolhidos e escolhemos na multidão de seres humanos que habitam o planeta Terra, e isto vale mais que tudo, quando se sente este momento único em sua vida. O que ela estava fazendo; pequenos detalhes ficam sem lembrança, porque não tivemos a coragem de nos aproximar... talvez tenha sido melhor, pois teria perdido a magia do inusitado "encontro" de olhares, de dizeres do coração. Como os poetas românticos que não queriam ser conhecidos pela mulher amada, apenas a admiravam passar por um jardim, em frente a sua casa, mesmo que ela nem imaginasse que estava sendo amada a distância, e isto bastava... um amor sem compromisso, sem disfarce, puro sentimento de amar sem nada exigir, pedir, ou retribuir... um amor totalmente gratuito, pois quando nos comprometemos com uma rotina sempre em mudança, a magia desaparece, e com ela o amor. Alguém me disse isto um dia, e hoje sei que era verdade. Um pouco do Romantismo brasileiro em Gonçalves de Magalhães - Noite Tempestuosa -, o autor está distante da amada, e nela pensa todo o tempo e a imagina perfeita.
Para animar-me
Contigo todo
Quero ocupar-me.
A tua imagem
Ante mim vaga
Ela me afaga;
E co'um sorriso
Me faz sorrir.
pronunciando,
Meu sofrimento
Vou acalmando.
O que mais sinto
É a inclemência
Da dura ausência,
Que sem remédio
Devo sentir.
28.10.21
21. Tributo a Nova Viçosa - A cidade do Amor
Em uma excursão para a pequena e aconchegante cidade de Nova Viçosa, me apaixonei pelo lugar. Minha esposa veio comigo e nem ficou com ciúmes, pois viu tanta gente apaixonada pela cidade, que percebeu, então, que não teria a menor chance... Compramos uma casa uma semana depois. Não para mudar logo, mas apenas para namorar a cidade e conhecê-la melhor. Namoramos por uns dois anos e depois mudamos para a cidade em 2017. Casamo-nos com o local. Minha esposa não é muito fiel ao novo casamento; coisa de mãe, pois ainda sente saudades de nossa antiga cidade, pois suas duas filhas, netas e netos ainda moram lá. Por isto, voltamos lá regularmente. Mas levo Nova Viçosa comigo, em minhas lembranças e no coração. Conto os dias pra voltar e rever meu jardim, o mar, a praia, o céu azul, sua paisagem natural e sua gente carinhosa; como se retornasse ao Paraíso que Deus criou e deu ao homem para viver feliz para sempre, como está na Bíblia. E todas as pessoas quando falo de Nova Viçosa dizem, mesmo quem não mora aqui, e vem só passear: "Eu amo esta cidade!" Ninguém diz: "Eu gosto desta cidade". Mas a maior prova de Amor a esta cidade veio de um estrangeiro - Frans Krajcberg. Um artista plástico, que tendo nascido na Polônia, adotou Nova Viçosa como sua terra, tendo vivido aqui por 45 anos, e produzido obras maravilhosas que colocaram nossa cidade na vitrine mundial pela qualidade de seu trabalho. Inclusive foi considerado o maior escultor do mundo. Foi pintor e escultor, e utilizou a matéria-prima da natureza de Nova Viçosa e de outros lugares em que morou, para produzir sua arte, além da madeira queimada das matas da Amazônia. Foi um amante e defensor militante da natureza. Além desse artista plástico de renome internacional, temos muitos outros artistas, principalmente artesãos, e também historiadores e escritores, que moram e amam Nova Viçosa, Merece destaque a médica e historiadora Jean Albuquerque, que também viveu longos anos cuidando da saúde de nosso povo, e aposentada continua convivendo com nossa gente até hoje. Como historiadora escreveu a primeira História de Nova Viçosa, publicando o Livro Retrato Histórico de Nova Viçosa - Bahia. Esta mulher batalhadora também escolheu, por amor, a cidade como sua terra. Por isso, Nova Viçosa só pode ser: a Cidade do Amor!
Nova Viçosa, cidade dos amores,
Nova Viçosa, cidade acolhedora.
Nova Viçosa dos caminhos para o
mar.
Nova Viçosa, contigo quero me casar.
Nova Viçosa das morenas;
Mulheres de todas as raças.
Nova Viçosa do aconchego,
Nova Viçosa do sossego.
Cidade calma, pequena e serena.
Da Mata Atlântica preservada.
Da baleia Jubarte.
De gente educada.
De artistas escultores.
Dos bem-te-vis amarelos,
Do canto dos pássaros.
Aqui quero ficar.
E em teu leito me deitar.
Numa eternidade de sonhos de
ninar.
18.07.23
22. Cuidar do corpo e da mente...
A relação corpo/mente é discutida e praticada desde a Antiguidade. Os gregos foram os campeões em preparar seus jovens para o desenvolvimento do corpo em harmonia com uma mente brilhante de sabedoria desde a mais tenra idade. Desta iluminada civilização herdamos grandes mestres como Sócrates, Platão, Aristóteles, Heródoto, entre tantos outros. Até hoje estudamos suas filosofias e História em nossas Faculdades. Roma, ao contrário, deu mais atenção ao culto do corpo, pois foi uma cultura mais guerreira e expansionista. A Idade Média, apesar das muitas guerras, foi um período excessivamente espiritualista (dando pouco valor ao corpo e à mente), devido ao imenso poder da Igreja Católica, tanto religioso, como político e econômico. A partir daí há um predomínio do corpo, pois as guerras proliferam até o século XX. O poeta Vinícius de Moraes, em um belo texto que dá nome a um de seus muitos livros - Para viver um grande amor -, afirma: "É preciso um cuidado permanente não só com o corpo, mas também com a mente, pois qualquer 'baixo' seu, a amada sente - e esfria um pouco o amor". E hoje, no século XXI, vivemos, como nunca, o culto do corpo nas Academias de Ginástica espalhadas por todo o mundo. Temos de seguir a moda ditada pela televisão, e as redes sociais na internet. Não somos guerreiros, e muito menos filósofos como na Grécia Antiga. Mas temos que seguir os caminhos que o Capitalismo nos manda seguir, pois somos as novas mercadorias que o mercado precisa consumir. Temos que ter a roupa e o corpo da moda...E a mente? Esta não importa mais. Tem gente pensando por nós... não é uma coisa boa? É só obedecer e está tudo resolvido. Hoje pensar é castigo de criança na escola. E a amada não liga se nossa mente não for cuidada, basta ter o corpo da moda, salvo raras exceções.
24.10.21
23. Ladrão de flores
Vi, assustado, uma notícia inusitada na TV: pessoas descendo de carros para roubar flores dos jardins das praças da cidade. O repórter da TV ficou assustado, e a população mais ainda. As cenas eram ridículas: mulheres correndo para seus carros, enquanto pessoas, aos gritos chamavam a atenção das destruidoras do patrimônio ecológico público. Fizeram reportagem com a Polícia, que orientou sobre a legislação referente ao caso que pode levar até à prisão; e com o gerente do Viveiro Municipal que explicou sobre o processo de produção de plantas que exige um planejamento adequado pra manter a beleza dos jardins da cidade. Também já tirei mudas de plantas nas ruas para replantio em meu jardim, mas não atrapalhando a estética dos canteiros. Prefiro plantas que se reproduzem pelo método chamado de estaquia (são pequenos galhos que plantados em vasos ou no chão se reproduzem). Mas tirar buquês de flores para ornamentação e depois jogar fora, este é um crime. Na música Modinha, se diz poeticamente: "Se eu pudesse ser menino,/eu roubava essa rosa...". Mas roubar cachos de flores e, até árvores em jardins públicos! Aí já é demais! Falta educação ambiental para nosso povo! E educar demora tempo e persistência. Mas não existe outra alternativa.
Flor nativa de Nova Viçosa
22.10.21
24. Democracia - um sonho a mais...
Vivi um tempo privilegiado de democracia. Era a década de 1980. Tempo em que o Regime Civil-Militar (1964-1985) estava tirando seu time de campo. A partir do final da década de 1980, o governo passou a dar maior liberdade de manifestação aos trabalhadores. Isto para a maioria da população tinha um nome: democracia. Mas nunca tivemos democracia na história, disse um velho professor em uma escola em que trabalhei. Mas como eu estava envolvido com os Movimentos Populares de combate à ditadura militar, discordei do colega, mas não disse nada em respeito a sua idade e experiência, mas hoje sei que ele estava com a razão. A democracia não faz parte do DNA do homo sapiens, pois em nenhum país do mundo, a decisão da maioria é respeitada; e isto sim, é democracia. Em todos os níveis de governo todos querem mesmo é estar no poder, fazem oposição com o objetivo único de assumir efetivamente a administração, principalmente no Executivo. Em nossa luta por democracia não percebíamos como éramos manipulados pela direita e pela esquerda. Éramos ingênuos e idealistas demais para entender que estávamos vivendo um intenso jogo do poder. Acreditamos até num sonhado Socialismo Democrático impossível, pois foge a teoria original do Socialismo, chamado de científico. Hoje, com a imensa rede de informações a nosso dispor, podemos compreender melhor o que estamos vivendo e como fomos manipulados no passado, apesar das constantes desinformações a que estamos sujeitos. Mas muitos continuam sendo manipulados até hoje, talvez por preguiça de uma reflexão mais aprofundada, ou por um fanatismo político que os impede de uma análise mais independente dos formadores de opinião interessados na alienação e ausência de crítica do cidadão. E a democracia continua sendo um sonho a mais...
22.10.21
25. Humildade e simplicidade
Ah! Como é difícil ser humilde! Como é difícil ser simples! E como são famosas estas palavras. Lembro bem dos políticos falando com o maior rompante: "Eu vim de uma família simples e humilde... meu pai era lavrador e minha mãe faxineira..." Mas o politico já está no terceiro mandato e jogou a humildade e simplicidade no lixo, mas não o discurso que o elegeu. Este fato mostra como a humildade é um valor difícil de manter, assim como a simplicidade. Estes valores dependem de maturidade, e não de situação financeira. Vemos pessoas ricas e intelectuais de permanente humildade e simplicidade. Parece um dom inato. E pessoas pobres vaidosas e orgulhosas. Lembro de um padre com ampla cultura intelectual, e com uma simplicidade e humildade de admirar. E outro com a mesma cultura, com valores e práticas opostas. A natureza de cada um tem um papel preponderante, mas os fatores sociais como a família, a escola e a sociedade também influenciam na formação destas personalidades, e como as mesmas geralmente não mudam; dificultam ou facilitam os relacionamentos. Portanto é preciso ter cuidado quando começamos um relacionamento - é preciso conhecer com que tipo de personalidade estamos nos envolvendo e não procurar mudar ninguém.
21.10.21
26. Simplicidade - um sonho possível
Ser simples é mais um sonho do que uma realidade. Muitas vezes, a simplicidade é apenas um discurso bonito, e, às vezes, de falsa modernidade. Muita gente diz que quer ter uma vida simples, mas na realidade quer ter é uma vida de muito conforto e consumo sem limites. Num mundo capitalista e consumista, reconheço, não é fácil ser simples, pois a sociedade nos cobra posturas adaptadas ao mundo do consumo desenfreado, pois temos que consumir os produtos da moda. "Uma casinha branca de varanda", como diz a música, não faz parte da ideologia capitalista. Isto é poesia. Mas felizmente ainda temos algumas pessoas simples no mundo, e de uma simplicidade por opção; pessoas que tiveram a coragem e a personalidade para resistir às tentações de uma sociedade fútil e com sonhos mirabolantes, e assumir uma vida plena e independente de propagandas massificadoras. Faço o possível para simplificar minha vida, mas é realmente difícil. Faço isto há anos. Fiz até um pensamento sobre o tema: "Nada mais difícil do que tornar simples nossa vida". Inclusive tive uma namorada que achou minha simplicidade um defeito. Resultado: terminamos. Falava que eu não tinha ambição. Ambição pra ela era "correr atrás do dinheiro". Eu acredito que a maior ambição do mundo atual é ser realmente simples em tempos de tanta ganância do ser humano. Vivemos uma inversão de valores nunca vista na história da humanidade. Como dizia Sócrates, olhando uma Feira, ainda no século V a.C.: "Um ateniense precisa de muita coisa pra viver". Ele se assustaria mais ainda diante de nossos mega shoppings, com tanta bugiganga para vender, e que, muitas vezes, nunca vamos usar.
19.10.21
27. No stress
Desde o século passado tenho como meta anual a redução, ou até a eliminação do stress. Até hoje busco de várias formas tornar minha vida mais leve, com menos compromissos. Mas sei que é muito difícil atingir este objetivo pela estrutura do sistema capitalista em que vivemos, pois temos muitos compromissos a cumprir, especialmente depois do avanço ilimitado da tecnologia. Na era dos computadores e celulares, estes deram origem a outras práticas, que com a aparente intenção de facilitar nossa vida, na realidade tinha o objetivo principal de obter mais lucros para as empresas. Terminou, essa modernidade, aumentando nossa carga de atividades, despesas e stress. Lembro de meu pai, hoje com 95 anos, desconhecer o que é stress. Na época dele chamava estafa. Que ele também não conhecia, apesar de ter criado 10 filhos. Acontecia que até meados do século XX a vida era mais simples e calma. As obrigações eram as básicas para a sobrevivência. A maioria das pessoas só pensava em reproduzir a cultura tradicional em cada geração que surgia: estudar, trabalhar e constituir uma família. Com o avanço da tecnologia a sociedade foi se modificando, e consequentemente os valores tradicionais foram sendo questionados, e acrescentados novos costumes e obrigações. E à medida que o mundo foi se modernizando, os compromissos foram aumentando. E os trabalhadores mais cobrados e estressados. E hoje precisamos criar mecanismos para combater este estresse, que pode terminar virando uma depressão. E a sociedade de consumo não está nem um pouquinho preocupada com este problema, e muito menos os governos. A solução passa pela formação de uma nova cultura que leve o cidadão a se preocupar com sua saúde física e mental, ou podemos passar por uma situação social de difícil solução para o planeta.
20.10.21
28. Ninguém se aposenta...
Esta é uma verdade que pouca gente percebe. Eu só percebi depois de mais de dez anos de aposentadoria, pois de vez em quando eu falava com minha esposa: "Quando vou me aposentar?" O motivo da reclamação delicada é que quando nos aposentamos criamos uma nova rotina que inclui uma série de atividades novas incorporadas às antigas como fazer compras, pagar contas, participar de encontros de familiares e amigos, planejar os gastos etc. Quanto a nova rotina cada um cria a sua. Uns preferem ficar mais ociosos, e por isso, passam a conversar na rua, ver televisão etc. Outros preferem uma atividade prazerosa como leitura, fazer artesanato, escrever, cuidar de jardim ou horta. Outros ainda preferem participar de movimentos sociais e reivindicatórios, ou até buscar um novo emprego para melhorar seu salário, ou porque acham que não sabem fazer nada além de trabalhar em uma empresa com cobranças de produtividade e horários. E como estão enganados: todos nós somos capazes de fazer muitas coisas criativas que nunca pensamos em fazer... falta só um empurrãozinho. Lembro de uma professora que me disse certa vez, depois que se aposentou: "Amigo, quando aposentei pensei que não seria capaz de fazer nada além de dar aulas, e logo depois descobri tanta coisa para fazer que não estou dando conta". Esta professora passou a produzir arte e a participar da Feira de Artes da cidade, entre outras coisas, inclusive administrar um restaurante. Fiz a opção de fazer uma rotina que eu possa administrar horários, volume e atividade. Passei a ler mais, escrever, mexer com jardinagem, inclusive fiz um Curso de Jardinagem por correspondência para uma melhor aprendizagem, trabalhar com madeira, caminhar, conversar, ouvir música, ver filmes... quer mais? Estou feliz com minha nova rotina. Não aguento mais regime de empresa. Aposentadoria não significa inatividade, e o nosso Movimento de Aposentados em Ipatinga provou isso, pois conseguimos reverter uma situação de extrema injustiça com os aposentados através da mobilização e participação efetiva de toda a classe por um período de três anos. Inclusive publiquei um livro sobre o assunto para ficar na História e não se repetir nunca mais uma violência dessa magnitude com a classe trabalhadora de nosso país, principalmente com os aposentados, pois os governos acham, e nos tratam como inativos - ideologia de dominação, que infelizmente, muitos acreditam. Abaixo alguns versos que fiz sobre aposentadoria, que foi utilizado para cursos por ocasião de encontros de aposentados.
Convite à Vida
A quem está se aposentando, nunca pergunte:
"O que você vai fazer?".
Ele(a) já fez muito pelos outros,
Pelos governos, pelos patrões.
Agora é sua vez de produzir coisas novas.
Realizar sonhos reprimidos...
Deseje a ele, como diria Drummond:
Um céu sempre azul de verão.
Um sorriso de criança, energias infantis.
Rebeldia de adolescente.
Um olhar carinhoso de mãe, conselhos de pais.
Um jardim no fundo do quintal
Com muitas flores coloridas...
Rosas... muitas rosas, de todas as cores...
Quem sabe, uma azul como o céu, abrindo-se ao vento.
Música boa o tempo todo, filme bom a qualquer hora.
Um café quentinho e cheiroso pela manhã
E uma voz preguiçosa ao fundo chamando
Para um carinho.
Canto de pássaros a acordá-lo todas as manhãs.
Lágrimas, sim, lágrimas de emoção
A cada gesto puro e desinteressado.
Viagens, muitas viagens; solidão necessária
Para a inspiração criativa.
Presenças renovadoras, sempre!
Poesias de Vinícius...
Amor, excesso de amor, para dar, para receber.
Um Paraíso de amor eterno.
Churrasco com amigos.
Palavras de otimismo.
Leitura de livros, relatos de passeios.
Alegria, só alegria!
Sonhos de estudantes...
Cumplicidade de professor!
29. Há um tempo para tudo...
Eclesiastes. 3,1-8
Este é um pensamento da Bíblia que tem uma validade histórica. Em todos os tempos este pensamento teve seu valor, e quando atingimos uma idade mais avançada é que percebemos melhor sua validade. Nossa experiência de vida nos mostra como as coisas acontecem no tempo certo, principalmente os bons acontecimentos. E na idade avançada percebemos com clareza essas várias fases que passamos durante a vida. Tempo de alegrar com os aniversários e encontros de família, e que com o tempo já não possuem o mesmo brilho. Tempo de acumular coisas... Ah! como compramos coisas desnecessárias, e depois jogamos fora sem pestanejar. Mas no ato da compra ai de quem tentar nos combater. É verdade que tem a arte do comerciante que nos convence a comprar o que não precisamos. O nascimento também é um belo momento de alegria, e só pensamos na vida. Mas a morte é infalível e começa a chegar em nossa família, aí vem o tempo do sofrimento que nunca previmos, e no fundo é melhor assim, pois não sofremos por antecipação. Interessante é a visão de meu pai sobre a morte, ou seja, pra ele todo mundo vai para o céu quando morre, ledo engano, mas que o mantém vivo sem esse tipo de preocupação. Mas o tempo de amar permanece para sempre nos bons corações, disto não tenho dúvida, mesmo que algum descontentamento te domine por algum tempo, mas não chega no estágio do ódio. A paz, esta deve permanecer sempre ao lado do amor... é uma exigência do bem viver. Mesmo que existam guerras no mundo por motivos os mais variados, no final a paz retorna ao seu lugar. E o amor domina os corações...
09.10.21
30. De costumes, modismos e capitalismo
A sociedade vive em permanente mudança, mesmo que não fique muito claro o que está mudando ou não, pois temos tantas atividades na vida que não dá para perceber muita coisa que acontece em nosso meio. Muitas vezes já perguntei a algumas pessoas se elas se lembram de alguma coisa específica de nosso tempo: um comercial, um filme, uma canção, e elas, raramente possuem esta memória. Assim também acontece com os costumes. A década de 1970 me marcou muito, pois foi o período em que passei a maior parte de minha juventude. Olhando as fotos da época vejo como nos vestíamos, os tipos de calças, camisas, etc. Como os jogadores usavam os calções nos jogos dos campeonatos. Lembro dos calções curtos exibindo a maior parte das pernas. Hoje os jogadores usam calções maiores, sem muita exibição do corpo. Lembro também que não se usavam propagandas de empresas nas camisas dos jogadores, e como foi a polêmica sobre a questão de usar ou não os logotipos das marcas, mesmo aquelas ligadas ao futebol. Mas no final terminaram aceitando colocar as imagens das marcas nas camisas, pois afinal esta atitude gerou os famosos patrocínios que hoje clube nenhum vive sem eles. E ligada a essas alterações está a moda da época. Hoje usar roupas ou atitudes parecidas com as das décadas de 1970, 1980, é considerado cafona. Mas alguns detalhes chamam a atenção sobre esta questão da moda, pois a mesma está sempre em mudança, e aí entram os interesses de grandes empresas capitalistas. Os empresários da moda querem lançar um tipo de vestuário para vender, e aí começa o marketing para fazer todo mundo acreditar que aquilo é o mais bonito e está na moda. E neste embate a juventude é a mais vulnerável. Só que o que está na moda hoje vai ser cafona no futuro, e vice-versa: como disse o cantor e compositor Cazuza: "Um museu de grandes novidades". Vejamos um exemplo: um jovem está usando uma roupa que ele acha que é a última moda, mas não sabe o vaidoso rapaz, que está vestindo um modelo que já foi sucesso em décadas passadas, portanto deveria ser cafona hoje. Assim também acontece com a música, pois muitas músicas ditas atuais são reproduções de músicas antigas, que a juventude acredita que está arrasando ao cantá-las. Acontece também com os cabeleireiros(as), que fazem e refazem modelos de penteados que já foram a moda em tempos imemoriais. Enfim, quem manda e desmanda nos costumes e na moda é o poder do dinheiro, ou seja, o Capitalismo... mas ninguém liga para isso! Como um artista disse: "Sou feio, mas tô na moda!". E parece que isto é o que importa.
09.10.21
31. De volta à normalidade
Para o jovem tudo é normalidade. Não existe anormalidade, pois vê o mundo como o mesmo se apresenta ao seu olhar, que é sempre o lado positivo. Se a cidade está em funcionamento com todas as atividades sendo realizadas; tá tudo normal. Se um setor produtivo não está em funcionamento, também é normal, pois quando menos se esperar ele voltará a funcionar. Mas para as pessoas que administram a cidade a coisa não funciona assim. Elas têm a responsabilidade de manter tudo na mais perfeita ordem. Quando eu era jovem, e mesmo já no mercado de trabalho, também via a situação assim, tudo na normalidade. Em minha vida de professor pude notar o quanto é importante "a volta à normalidade". Mesmo que nós trabalhadores não sejamos muito afetados por este estado de anormalidade, mas percebemos como as autoridades adoram a volta à normalidade, e se percebe este fato também na comunidade quando algum serviço passa a não ser oferecido, principalmente as aulas escolares quando estamos de greve. Lembro de uma mãe me perguntando quando as aulas iam voltar na rede estadual de ensino de meu bairro. Isto quer dizer que esta mãe já não sabia administrar a presença do filho ou filha em sua casa após a paralisação. Mas os educadores tinham suas reivindicações e esperavam seu atendimento para o retorno às atividades, Enfim, não se importavam muito com a situação "anormal" da falta das aulas. Uma vez participei de um debate com o prefeito de Ipatinga e seu secretário de Educação em uma rádio da cidade, e me lembro bem do prefeito me pedindo para solicitar aos profissionais da Educação para retornarem as suas atividades. Coisa que eu não tinha autoridade para fazer, mesmo sendo um dos líderes do Movimento, pois esta decisão passava por uma decisão em assembleia. Mas na verdade o governante queria era a volta à normalidade, e nós a concretização de nossas demandas salariais e sociais. Só o tempo e a maturidade nos faz perceber esta realidade. Ainda bem que quando estamos envolvidos nestas lutas não temos esta consciência, por isto, levamos nossas propostas até às últimas consequências, pois do contrário, nunca teríamos conseguido nenhuma melhoria em nossa vida profissional, pois a normalidade social seria o "freio" para não darmos início às lutas sociais, que hoje percebemos como importante foram para consolidar um padrão de vida de qualidade em nossa aposentadoria.
10.10.21
32. O eremita urbano
O que é um eremita? Conforme o dicionário, eremita é o indivíduo que, por penitência, vive em um lugar deserto, isolado, ermitão; ou indivíduo que foge ao convívio social, que vive sozinho, solitário, ermitão. O segundo significado me interessa mais, pois não estou querendo fazer penitência, pois a vida por si só já é uma penitência, de um jeito ou de outro, mesmo que não seja o tempo todo, pois na juventude não fazemos penitência alguma, a não ser em caso de pobreza extrema ou doença; mas na velhice é difícil não fazer penitência, pois ela, por natureza, já traz consigo uma boa dose de sofrimento físico e psicológico, suportável, é claro, se bem administrado com sabedoria e criatividade. Atualmente, pelo fato do excesso de informações, ficamos sabendo de quase tudo muito rapidamente, e diariamente, fato que termina nos estressando, pois não ouvimos só coisas boas de nossos "amigos" das redes sociais, principalmente. E na minha idade a informação não é tão importante, pois não estou interessado em fazer nenhum concurso, teste ou vestibular. Portanto, estou cada vez mais limitando os chamados amigos que não conheço, e as informações que não me interessam. Lembro novamente do poeta Vinícius de Moraes que disse certa vez que com o tempo vamos fechando determinadas portas. E como já fechei portas! Hoje, por exemplo, me convidar para festas, ao invés de me agradar, me agride. Quero mais é ficar com meus "brinquedos de adultos" como livros, computador, televisão pra ver os jogos do Cruzeiro, mesmo quando estava na segunda divisão, celular para ler e acessar o que me interessa, e escrever resenhas e crônicas... Ah! ainda tenho um jardim para cuidar e admirar, trabalhos artísticos de Marcenaria... e música boa para ouvir. Portanto, sou o típico eremita urbano, pois já me acostumei com os confortos da cidade, mas não quero conflitos com ninguém. Como disse o Raul Seixas, "Tenho opinião formada sobre quase tudo", e eu como professor, mesmo aposentado, vou mais além, tenho a opinião formada sobre tudo, estando certo ou errado, isto não me interessa. Só sei que tudo que eu queria discutir já discuti... e lembrando outro escritor: perguntado sobre o motivo de não escrever mais livros, ele disse: "Já falei tudo que queria falar". Assim também estou eu: numa "mudez" prazerosa em meu espaço de convivência, hoje com a esposa, e esporadicamente com os filhos(as)... amigos(as)? Estes raros! Estou feliz, e isto é o que importa. Perguntado sobre o motivo de não participar mais dos eventos decisivos da comunidade, sempre respondo: já fiz a minha parte. Tenho minha história de luta por um país melhor, agora é a vez das novas gerações. Se fiz bem, não importa, o que realmente importa é que dei o melhor de mim em tudo que fiz. Por isso, hoje sou um eremita urbano convicto... outros virão, com certeza!
05.10.21
33. Ninguém previu a internet
Li um livro de História recentemente em que o autor comenta sobre as previsões dos escritores ao longo do tempo, mesmo que este não seja o assunto principal da obra; e o mesmo fica admirado como imaginaram que no futuro iriam existir naves espaciais levando seres humanos de um planeta a outro, coisa que não aconteceu até hoje; e que todos nós seríamos vigiados pelo "Big Brother", cotidianamente, fato que aconteceu, mas não como previram, com uma estrutura de controle social explícito por parte do governo; mas não imaginaram o surgimento da internet. É realmente interessante pensar nisso, principalmente pelo impacto causado pela internet em nossa vida, e as mudanças que provocaram em nosso comportamento. Hoje, através das redes sociais nos conectamos com nossos amigos a qualquer distância, e não só em nosso país, mas no mundo inteiro. Mas não só pela comunicação entre pessoas, mas também na forma de incremento comercial, quando compramos e vendemos pela internet. Existem empresas que trabalham só de forma virtual, ou seja, oferecendo produtos de outras lojas através de um canal próprio que concentra uma variedade enorme de produtos e marcas, além de nomes de empresas que interessam ou não a cada consumidor. No seu bairro e cidade, as lojas conectam com seus clientes através da internet, utilizando o mecanismo simples do whatsApp, que é um tipo de comunicação virtual, no qual você pode divulgar imagens de produtos, textos e quaisquer tipo de foto, além de sua utilização como telefone. Pelo Facebook você divulga suas imagens e textos preferidos, além de comprar e vender produtos. E o Instagram faz a mesma coisa que o Facebook, mas com um visual diferente. Ou seja, não temos como não nos comunicar... hoje temos excesso de informação, o que nos leva à necessidade de sermos mais seletivos nos contatos, pois alguns podem ser prejudiciais. No computador e no celular temos um mundo a nossa frente para ser visualizado. Os aplicativos de bancos fazem maravilhas nunca imaginadas como pagamentos de contas, transferências e até empréstimos sem precisar ir a uma agência bancária, evitando acidentes no trânsito, pois diminui a circulação de pessoas nas ruas para resolver estes serviços. Nos computadores e celulares podemos fazer pesquisas, comprar, vender, ver filmes, ouvir músicas... estamos vivendo em mundo nunca imaginado pelos nossos antepassados, mesmo pelos cientistas e visionários.
04.10.21
34. As contradições da tecnologia
Vivemos um tempo que pode ser considerado como um período histórico caracterizado pelo avanço desmesurado do desenvolvimento tecnológico em todas as áreas das atividades humanas. Poderíamos chamar de Idade da Tecnologia. Temos computadores superpotentes e com uma capacidade criativa sem limites. Todo tipo de conhecimento encontramos na memória destes aparelhos, seja o conteúdo mais simples possível ao mais complexo. E os celulares estão, a cada dia, incorporando as informações e ações dos computadores mais sofisticados. As criações tecnológicas abrangem áreas as mais variadas, e algumas de extrema necessidade como na Educação, na Indústria e na Medicina, por exemplo. Fazem-se exames raros e quase impossíveis de realizar, mesmo pelo computador, sendo que antigamente nunca pensamos que chegaríamos a este ponto, pois quase tudo na Medicina era feito com alguns aparelhos e pelas mãos dos profissionais da saúde. Mas, apesar de todo esse desenvolvimento tecnológico, especialmente na Medicina, infelizmente esta tecnologia se rende a um vírus desconhecido pelo mundo todo, inclusive dos países chamados de desenvolvidos como os europeus e os Estados Unidos. Estamos falando do coronavírus ou covid-19. Além do câncer que há tantos anos vem matando milhares de pessoas. Nos preocupa como a alta tecnologia não tomou conhecimento desse vírus em tempo hábil para seu combate. E mesmo depois de sua ação devastadora pelo planeta, a ciência tecnológica ficou desnorteada sobre a forma de seu combate e de sua capacidade de propagação e destruição. E, talvez, para disfarçar essa incapacidade, os países passaram a acusar o outro de negligência, além de, deslocar o foco para a área política e de poder, sugerindo que o vírus foi produzido por determinado país em busca da solução de algum problema nunca explicitado. Enfim, não entendemos como a tecnologia que hoje dispomos não foi capaz de impedir tamanha violência contra o ser humano devido ao número elevado de mortes em todo o mundo. O que está faltando para o combate dessas doenças que surgem do nada e sem explicação científica? Talvez menos política, e mais humanidade na aplicação dos recursos para investimentos tecnológicos, especialmente para a Medicina.
04.10.21
35. Uma nova geração de família
Nasci numa família tradicional mineira onde a religião, a escola e o trabalho eram elementos essenciais. Fomos educados nos mais rígidos comportamentos que implicavam um profundo respeito aos mais velhos e às autoridades constituídas. Mas a relação entre pais e filhos, esposo e esposa, não era de uma proximidade carinhosa. Os pais pouco falavam com os filhos, e as mães eram as "educadoras" dos mesmos, ou seja, mais corrigiam do que orientavam, fator que também é um elemento da educação, mesmo que mais disciplinador. Nesta época a mulher tinha pouco valor, e geralmente era apenas dona de casa. Separação, por exemplo, não fazia parte do discurso e da prática da época. Mas hoje este tempo passou, e as famílias já não possuem os valores de antigamente. E a mulher, depois de longa luta conseguiu sua emancipação através da conquista de direitos sociais. Já na década de 1980 quando me casei já pensava que poderia me separar se a relação não fosse o que eu esperava....e não deu outra: me separei depois de 12 anos de casado. Hoje não esperam tanto! Famílias "normais", ou seja, sem separações são raras. Hoje temos casais que convivem bem com filhos(as) de outro pai ou mãe. Coisa impensável em meados do século XX no Brasil. Vivemos um novo tempo de profundas e rápidas transformações em todos os setores da vida em sociedade, e isto tem refletido na formação familiar. Isto é bom? Não sabemos a resposta. Mas o certo é que devemos criar alternativas para a concretização de um modelo de família que não só responda às exigências atuais, mas um núcleo familiar rico de convivência e fraternidade, pois mesmo que a família tenha sua origem burguesa e de preservação da propriedade, não podemos viver sem ela. E para manter a unidade familiar não existe outro meio a não ser os cônjuges aceitaram as diferenças entre os seres humanos, especialmente entre o homem e a mulher, convivendo com seu modo de ser, pois as mudanças comportamentais são muito difíceis e lentas. E para os casais novos esta aceitação é quase impossível, apesar das muitas informações existentes neste sentido através de estudos de especialistas. É um imenso desafio formar uma família harmoniosa hoje, pois os papéis familiares são pouco definidos, diferente de antigamente.
03.10.21
36. Precisamos esquecer...
Das coisas ruins que passamos... Mas nos lembrar das coisas boas. E como os dois são difíceis de administrar em nossa cabeça! Mas temos que tentar realizar este exercício para sobreviver... viver bem. Em nossa vida, querendo ou não, passamos por momentos bons e ruins, e estes últimos nos atormentam para o resto da vida, mesmo que tentemos esquecê-los. Sabemos que de tempos em tempos temos recordações de nosso passado... e os tempos ruins nos marcam mais , infelizmente. Hoje faço um exercício enorme para esquecer alguns problemas que passei envolvendo amigos, familiares, e até no nosso ambiente de trabalho. Lembro que li uma revista que tratava desse assunto. Era a antiga revista Galileu. O título era Delete. Referia-se ao processo de "anular" nossos problemas utilizando o esquecimento, mas usando o termo tão comum hoje que é o delete do nosso computador - o que não queremos mais, deletamos. Nunca mais esqueci dessa reportagem, e com certeza me ajudou a adotar a prática de deletar meus problemas passados. Também vi num filme a afirmativa: "O passado sempre volta". E é verdade, por isso precisamos fazer sempre o melhor de nossa vida, e conviver com pessoas positivas para que não venhamos a sofrer nos relacionamentos e ter de voltar ao passado com os consequentes problemas. Mas, às vezes, é bom lembrar de nossos momentos difíceis para que os mesmos não voltem a acontecer, ou seja, servindo de lição para nossas experiências atuais. É uma lição da História, pois o seu conhecimento nos permite evitar sua repetição. Mas não dá pra ficar se estressando com mágoas passadas. Daí o delete é essencial! Por experiência própria descobri que o esquecimento acontece de forma processual, ou seja, com o passar do tempo parece que as imagens vão se apagando de nossa memória, mesmo sabendo que nunca serão deletadas por completo. Esquecemos os fatos, os lugares e até os nomes das pessoas. Estou passando por esta fase no processo de esquecimento dos sofrimentos, mas as alegrias, estas devem permanecer para sempre! Mas não podemos nunca nos esquecer de um abraço em nossos filhos e filhas, principalmente quando eram crianças... como era bom aquele abraço aconchegante quando chegávamos do trabalho! Esta imagem é comovente para qualquer pai ou mãe... fica colada nas nuvens da memória e do coração.
03.10.21
37. Convivendo com o acaso
O acaso faz parte de nossa vida. Lembro do poeta Vinícius de Moraes falando que em sua vida as coisas foram acontecendo, e ele foi assumindo tudo. E acho que na vida de todas as pessoas acontece o mesmo. Eu já disse várias vezes que foi assim que aconteceu comigo. Pois mesmo que façamos algum planejamento, as coisas vão acontecendo e nós vamos fazendo as alterações necessárias e nos adaptando. Quantos vezes você terminou trabalhando, ou morando em lugares que você nunca pensou nem menos em conhecer. Isto também aconteceu comigo. Morei em lugares que jamais pensei em morar, e até em passear. E a profissão que você imaginou seguir, de repente não te interessa mais, e você parte para outra. Por isso, quando vejo alguém falando que vai estudar para alguma profissão eu digo: "Você pode mudar de opinião". E como mudei de opinião em minha vida! Mas o acaso pode nos trazer boas surpresas, acho que esta é sua vantagem, sempre é assim, e você tem que mudar o rumo... e aí o acaso pode agir de novo! No meu caso, o acaso tem sido generoso, principalmente diante dos problemas, pois sempre me trouxe uma boa solução nunca esperada. Dizem até que o mundo foi feito por acaso... será?
03.10.21
38. O Mistério da Biblioteca
Era uma biblioteca grande e muito organizada onde trabalhavam professores(as) e funcionários(as) de vários setores da Prefeitura Municipal. Seu acervo bibliográfico tinha mais de 10 mil títulos, incluindo enciclopédias, livros infantis, didáticos, romances, revistas, jornais etc. Numa noite calma, passa um estudante em frente à Biblioteca, e observa que a mesma estava toda iluminada, e em um canto da sala de leitura viu uma pessoa não identificada lendo um livro. Mas a iluminação não era normal, pois tinha um brilho em movimento em todo o espaço, onde surgiam imagens que pareciam livros e letras circulando pelo “céu” da Biblioteca. A notícia se espalhou rapidamente, pois o estudante contou para muita gente o acontecimento inédito e maravilhoso que estava ocorrendo na Biblioteca. Mas para sua surpresa, pouca gente conseguia ver o que estava acontecendo. E com o tempo muita gente foi tentar ver o mistério. Mas muitos não conseguiam ver nada. Apenas poucas crianças, jovens, adultos e idosos conseguiam ver o que acontecia ali. Pensou o estudante que podia estar tendo miragens ou ficando louco, pois não era todo mundo que conseguia ver o que ele estava assistindo com tanta facilidade. E a notícia se espalhou pela cidade. Fizeram pesquisas para ver se achavam uma explicação para o fato. Chamaram o Prefeito, o Secretário de Cultura, de Educação, o gerente da Biblioteca, os funcionários... e nada. Ninguém sabia explicar o motivo do mistério. Colocaram a notícia na imprensa, e também tiveram a ideia de fazer um concurso com premiação pra ver quem ia conseguir desvendar o que acontecia na Biblioteca. Esta motivação animou muita gente a especular a razão de tão inusitado acontecimento, numa cidade antes tão tranquila e pacata. Chamaram o Ministro da Educação, o padre, o pastor, o detetive... Colocaram na internet, no Facebook, no Instagram, no WhatsApp, no jornal, na TV... e nada! E à noite a rua da Biblioteca ficava lotada de curiosos. O povo adora uma novidade. E um mistério, é claro! Os comerciantes passaram até a trabalhar à noite pra vender seus produtos às pessoas presentes no local. Muitas lojas passaram a abrir à noite para atender aos curiosos, ação que fez melhorar muito o comércio do centro da cidade. Só alguns conseguiam ver os mistérios que estavam se manifestando. Flutuavam no ar; embarcações, aventureiros, jardins, paisagens naturais, o mar, livros, imagens de guerras, aventuras, romances, poesia. Mas a maioria não via nada. E como uma via láctea textos de livros de poesias, romances, História voavam sobre toda a Biblioteca iluminando-a com uma luz brilhante, e mostrando as letras e imagens dos livros e seus autores, como Castro Alves, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade e tantos outros. Mas muitos só viam escuridão em toda a Biblioteca, e outros as maravilhas acontecerem o tempo todo, como numa imensa via láctea cultural. E durante o dia as pessoas lotavam a Biblioteca para ver o local onde ficava o leitor ou leitora, pois era tanta iluminação que ninguém sabia se era uma mulher, um homem, uma jovem, um jovem... Mas nada encontravam. O lugar continuava vazio. Chamaram um detetive para investigar o local pra ver se tinha alguma armadilha no local. Uma saída ou uma entrada falsa na parede. Tipo os livros da Agatha Christie. Mas não encontraram nada de anormal. Cogitou-se até em quebrar a parede para ver se encontravam alguma coisa, mas o Secretário de Obras da Prefeitura não permitiu. Chamaram até o Bispo pra fazer orações e um padre exorcista para exorcizar o local e a criatura misteriosa. Veio o pastor para ajudar a expulsar demônios antigos que poderiam estar ocupando o lugar e a mente das pessoas. Sendo a Biblioteca muito antiga, até que justificava voltar ao passado para ver se não tinha algum espírito atormentando nossos cidadãos de bem. Buscaram ajuda até com a Polícia Militar e Civil, e nada. E alguém deu a sugestão de chamar até a Polícia Federal, a CIA e o FBI, mas a vaidade policial do lugar não permitiu. Chamaram benzedeiras, Irmã Diná (será que ainda é viva e continua atuando nos mistérios do além?). Enfim, reuniram todas as autoridades para resolver o problema. E nada! E os políticos não perderam tempo; organizaram até os palanques de campanha para a eleição do ano que vem. Até o Zema, o Lula e o Bolsonaro foram chamados. Mas não levaram muito a sério o acontecimento. Acharam que era imaginação e superstição de gente do interior. Não iam perder tempo com coisa sem importância, e não ia render muitos votos para a eleição, pois era um fato local. Depois de todas as atitudes tomadas para resolver o problema, uma velhinha que sempre ia ver a maravilha que acontecia na Biblioteca todas as noites, e era frequentadora do estabelecimento desde a adolescência teve uma ideia, e mandou que fizessem um levantamento do nome de todas as pessoas que conseguiam ver o fenômeno. Não era muita gente, logo ficou fácil para o gerente trazer o nome de todas as pessoas que tinham visto a aparição até aquele momento. Muitos não levaram a sério a sugestão. Mas a velhinha insistiu, e disse que ia descobrir o mistério. Depois de feito o levantamento, começaram a questionar o que estes nomes tinham em comum, quase uma investigação policial das minisséries atuais. Depois de pesquisar e observar atentamente os nomes, a velhinha pediu para que verificassem se aqueles nomes eram de pessoas que frequentavam regularmente a Biblioteca, olhando os arquivos do computador. E a grande surpresa: eram todos os mais assíduos frequentadores da Biblioteca para alugar livros para leitura e fazer pesquisa. Então a velhinha falou: “Lembram do poema de Olavo Bilac: Via Láctea, que fala que só quem ama pode ouvir e conversar com as estrelas? ‘Que conversas com elas? Que sentido/ Tem o que dizem, quando estão contigo?/ E eu vos direi: Amai para entendê-las!/ Pois só quem ama pode ter ouvido/ Capaz de ouvir e de entender estrelas’. Pois a resposta do chamado mistério é que só aqueles que amam a leitura podem ver o milagre da via láctea cultural e literária na Biblioteca”. Muitos não acreditaram nisso! Mas muitos também acreditaram e continuaram a frequentar o milagre da Biblioteca todas as noites. O certo é que o número de leitores da Biblioteca aumentou, pois todos queriam ter o privilégio de ver tamanha manifestação cultural e mágica. Seria esta a explicação verdadeira? Só sei que o Amor é capaz de provocar milagres muito maiores do que ver uma Via láctea de livros girando no espaço de uma biblioteca, e com um(a) leitor(a) sentado(a) em uma cadeira lendo um livro (não seria você o leitor da cadeira, pois nunca foi identificado?) e ouvir e conversar com as estrelas como o poeta. Moral da história: Quem Ama a Leitura vê muito além da realidade.
19.09.21
39. A Mágica da Escrita e dos Livros
A escrita surgiu na Suméria em mais ou menos 4.000 a.C. Mais ou menos na mesma época surgiram sistemas de escrita parecidos em outras partes do mundo, como no Egito, principalmente. Eram um sistema bem simples que representavam mais imagens do real do que um símbolo próprio para sua representação, como o nosso alfabeto, que foi surgindo aos poucos ao longo dos anos, e se aperfeiçoando até os nossos símbolos sofisticados dos nossos computadores. A própria pintura rupestre é uma forma de escrita, pois mostra o cotidiano dos povos pré-históricos em formas de desenhos nas cavernas. Na Mesopotâmia a escrita é chamada de cuneiforme (ou em forma de cunha, talvez pelo objeto utilizado em sua confecção, ou pelo predomínio de sua forma nos símbolos), e no Egito era chamada de hieroglífica, que também representava imagens.
Qual a intenção desta criação ou descoberta? Não seria o registro da história de vida desses povos? Seus costumes? E certamente para facilitar a compreensão de seu modo de vida. Pode ser isso, e muito mais, mas hoje sabemos de sua imensa importância para o mundo atual. No início era tudo muito simples, mas não deixava de ser útil para todos. Hoje, armazenamos informações em vários equipamentos, mas todos têm em comum o uso da escrita, tão antiga e que continua tão atual para nossas necessidades. Hoje os livros são quase obsoletos, mas continuam revelando a magia da escrita em suas páginas, principalmente para aqueles que preferem o romantismo de folhear e tatear as folhas de um livro, seja novo ou antigo. Muitos afirmam que gostam até do cheiro do papel usado na confecção dos livros. Eu já prefiro a nitidez e a comodidade do livro eletrônico. Mas leio também aqueles que não encontro em produções virtuais. Mas a mágica da informação, das histórias e das ideias continuam guardadas para aqueles que amam o conhecimento organizado, pesquisado e bem elaborado dos livros e de sua escrita. Abra um livro e descubra um mundo novo a sua volta, e descanse do estresse do dia a dia sufocante do terceiro milênio. Nele você viaja sem sair de casa... e sem gastar muito tempo e dinheiro.
19.09.21
40. Solidão necessária...
No poema Convite à Vida mostro como necessitamos de uma solidão necessária para o exercício da criatividade, mas esta solidão não se resume apenas à produção artística, mas a um exercício necessário e permanente em nossa vida. Lembro de uma psicóloga, minha irmã, afirmando: "Nascemos sozinhos e morremos sozinhos". Mesmo que em nosso nascimento ou morte tenhamos uma plateia de presenças marcantes em nossa vida, o ato de nascer e morrer é solitário - só nosso. E durante a vida precisamos experimentar esses momentos de solidão para revelar o que realmente somos, sem a observação de outra pessoa. Precisamos nos revelar a nós mesmos; nos reconhecer depois de tantas influências sociais. Falar conosco. Cantar as músicas que gostamos do nosso jeito, e sem medo de críticas. Nos desnudar de preconceitos alheios, e até de invejas que possam surgir de nossas ações. Outro psicólogo falou uma frase que também muito me marcou sobre a solidão: "Quem consegue conviver consigo mesmo, tem maior facilidade na convivência com outras pessoas". Isto se explica pelo "Conhece-te a ti mesmo", de Sócrates, pois se nos conhecemos fica mais fácil conhecer o outro. Agora outra citação sobre o assunto, esta é do gênio Leonardo Da Vinci: "O homem é a medida do mundo". Portanto, se vemos tudo através do que somos, fica mais fácil conhecer o que o outro é por suas ideias e atitudes. Outra lembrança importante, e esta é da minha mãe em sua imensa sabedoria de uma mãe que criou e educou 10 filhos: "Seu pai não me deixa sentir saudades dele". Por que será? Porque não dá liberdade para ela ficar um pouco sozinha para sentir saudades, e também para se conhecer melhor, estando diante dela mesma - de sua identidade. Um descanso da presença do outro é salutar: dos amigos, do cônjuge, da família... Precisamos desse aconchego de nós mesmos para seguir em frente na maratona da vida. Não aguentamos a famosa "marcação cerrada". Quando a TV faz uma marcação cerrada durante o jogo em apenas um jogador, este joga mal, porque sabe que está sendo observado o tempo todo e precisa dar o melhor de si. Não precisamos dessa cobrança dos outros, devemos dar o melhor de nós mesmos em tudo que fazemos... isto é o que importa, e para isso precisamos de liberdade pra criar, fazer, viver! Isto não é falta de amor, como muita gente pensa, mas é amor comprometido consigo mesmo e com os outros... queremos ser melhores, e para isso precisamos recarregar nossas baterias, e muitas vezes, a solidão é a solução, mesmo que por pouco tempo... e voltamos novos, renascidos para viver em intensidade. Até as máquinas precisam da solidão do descanso para voltarem a funcionar com eficiência. Imagine nós humanos com toda nossa complexidade! Dá um tempo para você e os outros, e verá como será muito melhor para todos! E pra encerrar, vamos ouvir o sábio Drummond: "A vida necessita de pausas".
16.09.16
41. A Fome
Que coisa horrível é sentir fome, mesmo só quando o almoço atrasa... imagina quando não temos nada para comer. Já percebi que todas as pessoas que um dia passaram fome, nunca mais foram as mesmas. Ficam sempre com medo de passarem fome de novo, e investem sempre, na aquisição/produção de alimentos. Não gostam de plantas ornamentais, mas sim das plantas comestíveis. Vemos os governos falarem em todas as campanhas eleitorais sobre erradicar a fome no país. Em um governo federal foi criado até um Ministério da Fome, que rapidamente desapareceu. Fazem campanhas internacionais de combate à fome enviando aviões com alimentos para países africanos, e ficamos assistindo pela TV a cena humilhante de pessoas buscando alcançar os pacotes de alimentos lançados das alturas... talvez signifique que a solução está nas alturas com Deus, pois quando os homens assumem o comando, a ganância domina e a humanidade desaparece. Vemos até campanhas de artistas com gravação de discos e apresentação de shows para arrecadar fundos para combater a miséria da fome... E não vemos resultado algum, pois a fome continua a grassar no mundo subdesenvolvido e até nos desenvolvidos. Conforme um historiador, a solução está no desenvolvimento de tecnologia voltada para a produção de alimentos, mas se o Capitalismo continuar com essa voracidade pela acumulação de capital, a tecnologia avançada não vai ser suficiente para solucionar o problema. Precisamos de mais humanidade no trato com as pessoas, a partir de governos e de pessoas comuns, ou a profecia de Jesus, em Marcos, vai continuar prevalecendo: "Sempre tendes os pobres convosco, e podeis fazer-lhes bem, quando quiserdes; mas a mim nem sempre me tendes" (Marcos 14,7). E para concluir, plagiando um grande nome da poesia e da crônica, nada menos que Carlos Drummond de Andrade, afirmo com verdadeira intenção sonhadora:
"Fosse eu Rei do Mundo,
Baixaria uma lei;
Fome jamais existirá
Na vida das pessoas,
Especialmente entre as crianças."
13.09.21
42. Um 7 de setembro apreensivo...
Existem disputas ideológicas hoje no Brasil? É claro que não! Existem sim; disputas de interesses pessoais e de grupos. Veja o caso da grande mídia, principalmente da Rede Globo e da Revista Veja, ambas foram criadas para defender o Regime Militar, ainda na década de 1960, hoje defendem as esquerdas no Brasil. Será por quê? Simples: deixaram de participar das mamatas financeiras patrocinadas pelo PT no governo anterior. E aí, onde está a ideologia? Todo mundo quer se eternizar no poder, isto sim, e para isto precisam de dinheiro licito ou não. E a tal democracia, que é, em linhas gerais, o respeito às decisões das urnas, não existe, pois os perdedores querem alçar ao poder já visando o próximo pleito. E não respeitam as decisões da maioria, ou seja, do povo, e fraudam as eleições, como sempre existiu no Brasil em sua História. E depois dizem que o poder emana do povo... isto sim, quando elegem seus candidatos. E o país não interessa, mas sim seu partido no governo. Golpe Militar é o sonho das esquerdas hoje, para comprovar o que não existe; um governo autoritário no poder. Presidentes militares no Brasil e no mundo, tivemos muitos, inclusive nos Estados Unidos, mas uma ditadura militar é diferente. Se um cidadão militar pode candidatar-se, então pode ser Presidente, Governador, Deputado, etc. O que não quer dizer que este militar eleito vá implantar uma ditadura militar. Isto não é um determinismo histórico. Simples assim!
43. De eventos e ideias
Os eventos nos trazem a oportunidade de relações interpessoais. E estas relações terminam por revelar o quanto as pessoas hoje estão sendo manipuladas pelas redes sociais; e o fator provocador deste fato é que paramos de ler boas produções literárias, salvo raras exceções, e nos contentamos com postagens imediatistas dos "especialistas" em tudo... como disse uma pessoa fazendo este tipo de crítica: "Agora tenho que ouvir a opinião do frentista, do mecânico, do eletricista, da empregada doméstica, sobre tudo... todo mundo agora é especialista".
A vantagem dos eventos, principalmente dos aniversários de crianças são os salgadinhos, os docinhos, os refrigerantes... E se der sorte, pode rolar uma cervejinha gelada. Mas, por favor, nas conversas, não aprofunde nas questões políticas, religiosas, musicais e até no futebol. Fique nas condições do tempo, na paisagem, no vestuário, na beleza...
Ou vai morrer de raiva de tanto ouvir besteira, pois fundamentação teórica na prática não existe mais. Domina hoje nas conversas, o mais descarado individualismo, mesmo quando alguém pensa por você... e você não sabe. É uma pena: tanta tecnologia ao lado de tanta ignorância. E acham que são "os cara!"
44. O livro e a margarida
Quando passava em frente de uma casa via várias margaridas brancas no quintal, então, com muito jeito, enfiava a mão nos vãos da grade que cercava a frente da casa, e puxava do chão seco do lugar algumas mudas de margaridas brancas. Tinham muitas margaridas brancas, e sempre floridas no lugar. Levava para casa e plantava em meu quintal com o maior cuidado e carinho, e com o tempo morriam. Mas continuei insistindo nas "coletas" e nada das margaridas pegarem em meu jardim. Um dia voltei ao mesmo lugar para levar meu livro A Arte da Jardinagem Caseira e Litorânea para vendas na Banca de Revistas da Rodoviária da cidade. Passei no local das margaridas e desta vez encontrei uma moça no quintal. Pedi a ela uma muda das margaridas, e ela falou que tinha que falar com a dona da casa. Em seguida veio uma senhora de cabelos brancos e muito simpática. Logo foi falando que muita gente pega mudas no local, mas não falei que eu era um dessa "gente". Falei com ela que tinha um jardim onde morava, e ela falou que foi Diretora na Escola Estadual do meu bairro. Passamos a falar da escola, pois fui membro do seu Colegiado. Falei com ela que tinha publicado um livro sobre Jardinagem e dei um exemplar para ela, pois estava com os livros para levar para a banca de revistas. Aí um rapaz que estava no quintal falou que era jardineiro e queria um livro. Dei o livro para ele, e imediatamente começou sua leitura. A senhora mandou o rapaz me dar mais mudas de margaridas. Voltei para casa e fiz novamente o plantio das mudas. E comecei a acompanhar sua evolução. Incrível. Mas consegui que as margaridas pegassem e dessem belas margaridas brancas. Será que foi a bondade da senhora que comoveu as margaridas, ou o poder do livro que "adubou" o crescimento das mesmas? Talvez seja a união dos dois motivos. São os mistérios da natureza, com certeza. Já vi tantos em minha vida de jardineiro!
Agosto/21
45. A Pandemia do Covid-19
A pandemia chegou e não nos avisou. Nem um pequeno sinal nos mandou. E mexeu com a gente. Com toda a população mundial, por isto virou pan, não pão, como seria bom se fosse pão pra aliviar a fome de muitas pessoas; de crianças, jovens e adultos! Mas chegou e matou tanta gente boa, nova, velha... e ficou tanto tempo deprimindo nossas cabeças. Fizeram política como se fosse mentira sua existência. Fizeram terrorismo psicológico, vendendo seus produtos num capitalismo, sem vergonha de enganar. E rolou dinheiro, doenças, mentiras, desumanidade e muito mais, como na Idade Média que ninguém entendia nada e via tudo. E agora sabemos de tudo e não podemos acreditar, porque mentem sem escrúpulo nenhum. As vacinas chegaram e quase todo mundo vacinou, e ainda não acreditam na solução tão anunciada, e vão aplicar e vender mais vacinas. Seria uma praga do Egito, sem a intervenção de Deus? Mas uma lição importante ficou: nunca mais seremos os mesmos em relação aos cuidados com a higiene, pois o ato de lavar as mãos e higienizar quase tudo, inclusive as chaves das casas, virou quase uma obsessão, além das máscaras que tivemos de usar por longo tempo. Provavelmente este ato vá entrar para nossa cultura, e quem sabe ficar sacralizado como fizeram os judeus antes de Cristo, com seus hábitos cotidianos (Levítico). Duvida? Eu já deixei de pegar um objeto, para lavar as mãos antes, isto instintivamente. Você nunca fez isto? Entre 2020 e 2021 foi o período mais crítico da pandemia, no qual os cuidados com a saúde foram redobrados e o número de mortes foi alarmante. Perdemos milhares de vidas em todo o mundo. Em Coronel Fabriciano, o governo Municipal cumpriu todos os protocolos exigidos pelos órgãos oficiais de Saúde, decisão que evitou um número maior de casos e óbitos na cidade, assim como em muitas cidades do país que fizeram o mesmo. Em 2022 a situação voltou quase à normalidade, com exceção do atendimento médico hospitalar.
agosto/21
46. O Jardim e a Primavera
O inverno chegou no jardim que ainda estava florido. E as flores com o frio, mesmo nas regiões em que o inverno é pouco rigoroso, desaparecem quase por completo. É o período que chamamos de "dormência", pois as plantas passam por um tempo de pouco desenvolvimento, talvez para recuperar as energias liberadas nas outras estações, principalmente na Primavera, que é a estação mais alegre e florida do ano. Como o poeta disse: "Jardim é Paraíso!" Porque é beleza, principalmente na Primavera. As plantas do jardim esperam o ano todo pela chegada da Primavera para revelarem toda a beleza que fica escondida para desabrochar no momento certo. Como uma dama que se prepara para o baile da natureza, a Primavera começa a chegar levemente ainda no final do inverno, não quer causar impacto, mas quer ir se mostrando aos poucos em uma planta que tem sua floração antes da plenitude da Primavera, e depois vai tomando conta de todo o jardim. E quando chega é a festa da natureza! O jardineiro, este é o maior privilegiado, pois vai acompanhando a chegada da Primavera em cada detalhe. É um broto de flor que começa a se destacar; é o verde das folhagens ficando mais intenso; é o brilho do sol que se manifesta revelando a beleza do Jardim. E o olhar atento do jardineiro é constante nas manifestações das plantas. Caminha entre elas. Sente seu perfume. Suas cores... E sorri de alegria ao sentir que a nova estação está chegando, como um sol matinal a invadir os espaços e a vida da natureza; e sente-se realizado, feliz, completo, porque é o arquiteto que moldou a paisagem bela que Deus doou aos homens. E vê o Paraíso e a Felicidade a sua frente! Brilha como as flores em seu coração de amante da beleza e da natureza.
Agosto/21
47. A velhice
Em nossa juventude não pensamos que um dia vamos ficar velhos e passar pelos problemas da falsa "melhor idade". Estamos envolvidos demais com outros pensamentos mais positivos... ainda bem! E viver a vida é o que importa. Muitos, infelizmente não chegam à velhice, mas não nos importamos muito, pois afinal, o que importa para todos nós jovens é a vida, e a morte pertence ao mundo dos idosos. Não fazemos este tipo de reflexão. Vivemos a vida! Lembro da minha juventude como um período de realizações: trabalho, estudo, lazer, principalmente. Achava, talvez inconscientemente, que iria viver eternamente com a minha aparência de jovem... no meu caso, ainda com cabelos longos como era próprio da época. Mas o tempo vai passando e as coisas vão mudando no mundo, assim como nós mudamos física e emocionalmente. E vamos levando a vida. Enfim, na maioria dos casos vem o casamento... aí sim, é uma guinada na vida de cada um de nós. Não nos preocupamos apenas conosco. Temos uma esposa ou esposo, e depois filhos(as)... Ôpa! Aí a coisa se complica de verdade. Passamos até a nos esquecer de nós mesmos, e a nos preocupar mais com a(o) esposa(o) e os filhos. Passamos a atender demandas que antes nunca pensávamos que iriam acontecer. Agora há uma identificação maior com nossos pais. Percebemos que os mesmos estão mudando fisicamente. Começam a mudar o visual, antes jovial e belo. Aparecem algumas doenças próprias da idade, manchas no corpo; é a fase em que começam a tomar muitos remédios, já não caminham com aquela facilidade; achando o dia longo, não pelas horas, mas pelo cansaço do dia a dia, e por isto, à tarde ficam mais cansados; pois continuam com uma nova rotina de atividades. É o início de nossa percepção de que poderemos chegar a este estado, então a cabeça começa a refletir sobre o tema da velhice. Será que vamos ficar "Como nossos pais", como dizia o cantor e compositor Belchior? E com o tempo passamos a viver como nossos pais, e até a ter alguns comportamentos semelhantes, principalmente em relação aos filhos e netos. É um mundo novo que se abre, não tão bom como a juventude, mas é novo e devemos aproveitar, principalmente quando chega a aposentadoria. Passamos a querer fazer só aquilo que nos dá prazer, mas muitas vezes somos impedidos, pois os compromissos não acabam, apenas mudam para atitudes diferentes de quem está na chamada "ativa"; é o período em que somos chamados de forma pejorativa, principalmente pelos governos, de "inativos". Mas sabemos que continuamos muito ativos em pensamento, atitudes e criatividade. Aproveito minha aposentadoria ao máximo fazendo aquilo que gosto. Hoje posso ler o livro que sempre quis ler. Escrever no computador a qualquer hora. Ver filmes. Cuidar do jardim. Viajar sem depender de folga de trabalho. Trabalhar na produção de objetos úteis de madeira. Ouvir minhas músicas favoritas, ir à praia. Conversar com minha esposa, Sueli, e com os amigos, e vizinhos, ao vivo ou na internet, etc. Viver a vida de forma diferente da minha juventude, mas continuando sendo útil e ativo... com meus remedinhos, e dores, é claro! Até a Bíblia não dá mole com a velhice, nos Salmos: "Setenta anos é o tempo da nossa vida, oitenta anos, se ela for vigorosa; e a maior parte deles é fadiga e mesquinhez, pois passam depressa, e nós voamos". (Salmos 89,10). Mas, recentemente, a ciência tem nos animado com informações importantes sobre nossa vida nesse período. Li em trabalhos de pesquisas de Universidades, que o período depois dos 60 até os 90 anos, é o tempo mais criativo de nossa vida, pois nessa idade, a interação dos hemisférios esquerdo e o direito do cérebro torna-se harmoniosa, ou seja, o lado cognitivo e o criativo, mesmo que o cérebro não seja tão rápido como na juventude. Identificam o pico da atividade intelectual humana por volta dos 70 anos... E lá vou eu! Estou chegando lá! Afirmam também que após os 60 anos uma pessoa pode usar os 2 hemisférios ao mesmo tempo, fator que permite a resolução de problemas muito mais complexos. Mas alertam: precisamos estimular a atividade cerebral com atividades constantes como leitura, tocar instrumentos, dançar, pintar quadros, viajar, praticar exercícios físicos, etc. E uma grande revelação: Os neurônios no cérebro não morrem, como dizem, mas simplesmente desaparecem se a pessoa não se envolver em trabalho mental. Tomara que seja verdade! Aí sim, poderemos estar vivendo a "melhor idade".
Agosto/21
48. Coisas de cinema e filmes... e músicas
Em minha adolescência, falar em sair para uma diversão era ir ao cinema. No bairro mais próximo do nosso tinha um cinema em frente à Igreja Católica, e como o nosso bairro não tinha Igreja e nem cinema, íamos à Missa do Domingo no outro bairro, e aproveitávamos para ir ao cinema, sem é claro, deixar de ouvir a crítica do padre sobre esta prática. Parecia que a Missa era só um pretexto para irmos ao cinema, talvez o padre pensasse assim. Mas íamos à Missa por exigência familiar, e ao cinema por diversão. Mas não era sempre assim, íamos ao cinema em outras ocasiões, afinal era nossa melhor diversão. Inclusive o encontro favorito com minha primeira namorada, já na juventude, era assistir filmes no cinema da cidade mais próxima, pois trabalhava lá. Dos filmes tenho boas recordações e até aprendizagens. Lembro de muitas passagens dos filmes que não me saem da memória e gosto de recordar. Uma cena de um filme do Indiana Jones que nunca esqueço, é quando o personagem principal fica numa multidão e chega um lutador, tipo ninja, e começa a "dançar" em sua frente com um chicote... aí nosso herói tira o revólver, atira nele e sai correndo. Sempre vi nesta cena uma leve referência às diferenças entre a cultura ocidental e a oriental, sendo a primeira mais prática pra resolver a situação. Outra mais romântica é do filme Melhor é Impossível, quando o personagem, portador de depressão, passa a tomar os medicamentos, depois de muita resistência. E sua namorada, em determinado momento pergunta: "Por que está tomando os remédios?". E ele responde: "Pra ficar melhor pra você!" Não dá pra esquecer um romantismo desse. Gosto também de uma cena de mais um filme de ação. É o Duro de Matar. Em determinado momento quando o personagem principal está atirando com uma metralhadora, e matando terroristas, afirma: "Gosto disto!" Os filmes nos ensinam muitas lições de vida importantes através de suas histórias verídicas ou fictícias. Precisamos aproveitar estes momentos de informações e lazer que podem se transformar em fatores educativos. Gosto de memorizar nomes de filmes, atores e atrizes, e como sou professor de História tenho boa memória para este exercício. Fico feliz quando vejo um filme antigo e lembro o nome do ator, e até de outros filmes que realizou. Tenho um irmão que gostava de assistir os filmes e anotar seus títulos num caderno. Fazia um registro histórico dos filmes que via. Achava isto muito interessante. Outra curiosidade interessante sobre filmes aconteceu na época das locadoras, quando o dono do estabelecimento me contou que tinha uma senhora que alugava sempre o mesmo filme. Um dia resolveram perguntar o motivo da permanente repetição do mesmo filme, e ela disse: "Tenho medo de alugar outro e assistir um filme ruim!" Esta é uma cena de cinema! Faço assim com as músicas, pois às vezes, ouço a mesma música repetidamente, mas não é por medo de ouvir uma música ruim, mas porque naquele momento me dá vontade de ouvir aquela música de novo... e de novo!
Agosto/21
49. Os pardais e as migalhas de pão...
Nossa cidade ainda preserva as características de uma cidade do interior: um ambiente natural com uma paisagem dominada por muitas árvores, o mar sem o calçadão das cidades praieiras e urbanizadas, e a ausência da indesejável poluição. Neste ambiente dominam variados pássaros, como os tradicionais canários, os bem-te-vis, e os domésticos pardais. Todas as manhãs tomo meu café de frente para um pergolado que construí com eucalipto tratado, e coberto de ora-pro-nóbis floridos , além de algumas plantas e flores sob o mesmo como rosas, ixoro, margaridas, espadinha (um tipo de suculenta parecida com a espada de São Jorge); enfim, uma paisagem agradável de se admirar a qualquer hora. Vejo também pés de ipês na calçada, tuias e murta. Sento-me no banco encostado na parede e começo meu café. De repente, olhando o pergolado vejo os pardais me admirando, e esperando o fim de meu café da manhã para comerem as migalhas de pão que caem no chão. Esperam pacientemente, e talvez ansiosos devido a minha demora para terminar o café. Um dia, fazendo meu café diário no lugar de costume, me assustei com um pardal bem próximo de mim, em cima do carrinho de mão a me esperar terminar o café. Trocamos olhares e ele continuou ali... quieto esperando a hora de seu lanche, sem medo de algum movimento brusco meu em sua direção... saí e ele foi fazer sua refeição tranquilamente. E todos os dias este ritual se repete, como a Missa de Domingo. E fico feliz por fazer parte deste ambiente harmonioso entre as criaturas de Deus. Assim, todas as manhãs tenho esta alegria silenciosa que me torna mais humano na convivência com a natureza.
Agosto/21
50. A gameleira - um exemplo de resistência ao descaso dos governos
A gameleira é uma árvore centenária localizada ao lado de uma casa que morei no interior de Minas Gerais. Sua preservação não interessou aos órgãos públicos, pois sua área é propriedade privada. No início que frequentei seu espaço, nem notei sua presença, apesar de sua imensa copa e tronco grosso de forma anormal por sua longevidade. Ficava em um ambiente sem cuidado algum, e com muito mato a sua volta, exceto pela existência de uma área plana de terra limpa para a prática de esportes por parte da comunidade. Meu pai era proprietário da casa onde, depois de algum tempo, passei a morar. Frequentava a casa para ajudar na sua preservação, junto com meu pai, mas nunca percebi a presença da árvore. Como bem dizem: "Você vê o que quer ver". Portanto, para mim a gameleira não existia. Depois que passei a morar na casa é que percebi sua presença, e fiquei admirado como não via tamanha riqueza natural abandonada pelos governos e pela comunidade. A partir daí passei a cuidar da área a sua volta, e dispensar carinho a sua presença, que muito contribui para a melhoria do ar que respiramos, e para o meio ambiente. Fiquei amigo da gameleira como ninguém. Inclusive quando tive uma reunião com o vice-prefeito da cidade para tratar da situação da preservação da árvore, o mesmo me cumprimentou dizendo: "Você que é o protetor da gameleira?" Fiquei feliz com isto. Tentamos várias vezes garantir sua preservação, inclusive com a criação de um projeto de lei que foi aprovado pela Câmara Municipal e pela Prefeita da cidade, para que se tornasse patrimônio histórico e ecológico do município, mas infelizmente até hoje não conseguimos nosso objetivo, por falta de interesse político. Mudei da cidade, mas continuei a dedicar meu amor pela árvore da minha vida - a gameleira. Hoje acompanho sua situação através da informação de amigos, e graças a Deus, continua sendo preservada. Imagem da gameleira abaixo:
Em toda família numerosa, que aliás não é comum nos dias atuais, os primeiros filhos geralmente têm conflitos com os pais. Os mais novos, como são ajudados pelos mais velhos, terminam tendo uma relação melhor com os pais, pois alcançam um nível melhor de vida com a ajuda dos mais velhos, pois os mesmos já começam a trabalhar fora, e a ajudar no sentido de maior conforto para a família, e assistência emocional e educacional compartilhada. Consequentemente a frase do "Quando fizer 18 anos vou embora..." é típica dos filhos mais velhos. E tem sua origem na chamada maioridade que chega aos 18 anos, e o filhos ficam livres do domínio dos pais, isto se casarem cedo, o que é raro, ou quando já têm independência financeira. Mas com 18 anos ninguém tem independência financeira. E outro fator favorável deste fato, é que a vida em casa melhora, e esquecemos da promessa. E os pais gostam dos filhos em casa, como nas sociedades patriarcais em que os filhos ficavam morando com os pais até quando constituíam família. Comigo foi exatamente o que aconteceu, ou seja, falei que ia sair de casa aos 18 anos em um momento de explosão conflituosa com os pais, e depois esqueci disto; acredito que o motivo primeiro foi a melhoria da situação financeira familiar, aliada a uma aproximação maior com os irmãos que também já estavam no mercado de trabalho, além do carinho dispensado aos mais novos. Esta é uma situação tão normal, que os pais não levam a sério o que os filhos prometem, pois sabem que não vão cumprir, pela experiência de vida que têm. É como o famoso "Não pedi pra nascer". Qual pai não ouviu esta frase? Eu certamente falei esta também, mas na verdade, falamos isto é para manifestar alguma revolta, na maioria das vezes, sem nenhum motivo... Mas é a vida! E como disse o poeta: "É bonita, e é bonita!" Com seus mistérios, contradições e reconciliações.
Agosto/21
52. Minha última revolução do cotidiano
53. Meninos, eu vi!
Juca Pirama - Gonçalves Dias
Na verdade, este poema entrou em minha vida de duas maneiras: quando meu tio, professor de Português me falou dele quando eu era criança... mas certamente não levei muito a sério. Mas anos depois vi uma novela na televisão em que o personagem fazia denúncias políticas em uma pequena rádio do interior, e afirmava no final: "Meninos, eu vi!" Este fato me chamou a atenção para sempre. Daí resolvi revelar alguns fatos da minha vida com base nesta afirmativa. Gonçalves Dias usa esta afirmativa no final do poema, eu o farei no início.
Meninos, eu vi!
Sonhos desfeitos.
Alegrias contidas por ações irresponsáveis.
Alegria completa e tristezas.
Sonhos realizados e desfeitos. Promessas vãs.
Perseguições políticas.
Desrespeito de profissionais e desumanidade.
Fanatismo político.
Políticos corruptos e políticos honestos comprometidos com o bem social.
Traição de trabalhadores com os próprios trabalhadores por interesses individuais.
Ganância, bondade e maldade.
Amizade sincera.
Falsas amizades e inimizades.
Vaidade e hipocrisia.
Ditaduras de esquerda.
Ditaduras de direita.
Democracia e demagogia.
Enganação consciente.
Anarquia.
Pais presentes e pais ausentes.
Filhos presentes e ausentes.
Humilhação do ser humano.
Valorização de professor(a).
Desvalorização de professor.
Candidato condenado pela Justiça por corrupção, lavagem de dinheiro, e outros delitos, ficar preso por mais de um ano, ser absolvido para candidatar à Presidência, e ganhar a eleição por fraude tramada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2022.
Se alguém duvidar do que eu conto, eu respondo: "Eu estava lá!".
Agosto/21
54. O cheiro de meu tempo
Não me lembro de muita coisa da infância, acho que todos nós somos assim. Meu filho, Daniel, disse só se lembrar da parte de sua infância que começa a partir dos 8 anos, eu também só me lembro quando estava com uns 9 ou 10 anos - o resto deve ficar no inconsciente para ser liberado quando for necessário. Dizem que todas as pessoas, no final da vida começam a se recordar da infância, ou seja, passam a ter uma memória remota, e não se lembram de coisas que aconteceram recentemente. Talvez seja um resgate daquele período que ficou guardado em um cantinho da memória, revelado quando ficamos mais maduros. Isso confirma o que disse o Daniel. Talvez seja um presente do tempo para todos nós. Quem sabe? Na infância dos primeiros filhos, fomos criados com um excessivo rigor comportamental pelos nossos pais. Por isto, ficamos crianças e adolescentes com muita timidez, coisa quase inexistente nos tempos atuais, pois crianças e adolescentes de hoje tomam conta "do pedaço". Lembro que para irmos até o final da rua onde morávamos, tínhamos que pedir bênção para nossa mãe. E assim vivemos por muito tempo. Nas raras festas de aniversário em que participávamos no bairro, só era permitido comer alguma coisa no evento se minha mãe autorizasse. Lembro de um dia em que aceitei, talvez um doce, em uma festa, e minha irmã contou para minha mãe em forma de repreensão, como se eu tivesse feito alguma coisa de errado. Lembro das brincadeiras na rua com os colegas, geralmente jogando futebol em frente da nossa casa. Era um campo de terra mesmo, pois o bairro ainda não era asfaltado, mas a rua era larga o suficiente pra todos jogarem sem confusão ou disputa por espaço. Lembro de minha mãe me chamando pra almoçar durante o jogo. Esquecia até de alimentar. E não tinha perigo de acidentes com carros, pois os mesmos eram raros na época. Brincávamos nas áreas verdes de nosso bairro, que eram muitas... não esqueço do cheiro de maracujá no pé espalhado na vegetação. O roxo intenso de sua flor. Fazíamos cavernas no meio do mato verde, e sentíamos o cheiro bom de natureza e da terra, escavada com qualquer instrumento para nossas conversas de não sei o quê. Os pais e as mães nem imaginavam onde estávamos. Á noite aconteciam as brincadeiras entre meninos e meninas nas portas das casas. As casas eram geminadas, ou seja, ligadas umas às outras. Ficava fácil para os pais controlarem. Meu hábito de leitura e escrita, provavelmente tenha sua origem quando em minha infância procurava revistas no lixo para que pudesse ler, pois não tínhamos a fartura de informações que temos hoje e nem condições de adquirir livros e revistas. Encontrava as revistas e passava a fazer a leitura. Sentia o cheiro das revistas, mas não do lixo em que estavam de tão feliz que ficava ao encontrá-las. Não sei explicar como eram os aromas da leitura... mas eram bons. Hoje, quando não leio algum livro durante o dia, é como se o dia ficasse incompleto. Termino um livro e começo outro, este é um hábito de longa data, e mesmo quando tive uma depressão forte nunca deixei de ler e escrever. Comecei a estudar com 7 anos como era costume na época. Entrei para a escola sem saber escrever uma vogal. Os pais naquele tempo não preparavam os(as) filhos(as) para a entrada na vida escolar como hoje. A maioria dos pais era analfabeta e muitos não tinham tempo ou interesse em ensinar aos filhos qualquer tipo de conhecimento escolar, consequentemente, transferiam todo o aprendizado para os professores e professoras. Fui reprovado na 1ª e 2ª séries primárias, mas depois disparei, ou seja, peguei o ritmo escolar e nunca mais fui reprovado até fazer a Faculdade. Por minha notável timidez nunca fiz uma amizade na escola. Na infância, mesmo com todos os limites impostos por uma educação repressiva, tínhamos uma vida boa, pois as preocupações não existiam. Preocupações são problemas de adultos. Com o tempo e decisão superei a timidez e pude desenvolver bem no trabalho e nos estudos. Fiz Faculdade, fui professor valorizado e diretor de escola. Líder sindical e de comunidade. Enfim, senti e vivi todos os cheiros e aromas de ter vivido com intensidade em todas as atividades que participei. E continuo a sentir o cheiro bom de bem viver com a família e os amigos. Problemas? Todos temos, mas as vitórias... ah! Como são boas as vitórias, principalmente do nosso time!
Agosto/21
55. Senhor, dai-me paciência!
Em minhas orações, quase não peço nada a Deus. Mas agradeço sempre pela minha vida, minha família, meus pais, meus filhos, meus irmãos e meus amigos. Mas uma coisa que eu sempre peço nas minhas orações, é paciência. Acho até que não chorei quando nasci, mas já cheguei implorando por paciência. Peço paciência com o vizinho que toca o dia inteiro uma Sofrência (sertanejo de corno) insuportável. Peço paciência com os amigos, que muitas vezes adotam um fanatismo político incompreensível. Peço paciência com os meus pais... Com os políticos irresponsáveis, e acho que às vezes, Deus tem paciência demais com eles. Com as ligações do 011 de São Paulo, nas quais ninguém fala nada. Com as Telefonias da OI e da Tim para venderem seus produtos, mas que nunca resolvem nossas solicitações. Com o atendimento virtual das empresas em que os(as) atendentes são programados(as) para alguns tipos de perguntas e respostas, e se não “entendem” o que queremos nos transferem para outros setores. Este jogo de empurra, às vezes termina fazendo com que o usuário desista da solicitação. Com os amores... Ah! Com estes temos de ter paciência em excesso... mas com algumas compensações.
Agosto/21
56. Tempo da palavra e tempo da ação
Devido às publicações em massa nos meios de comunicação, e principalmente nas chamadas redes sociais, como o Facebook, o Instagram e o WhatsApp, principalmente, sobre questões de comportamento, e tantos outros assuntos, chegamos à conclusão de que vivemos o tempo da palavra. Nunca se escreveu tanto dando conselhos sobre tudo. Fala-se de dentro do carro, da rua, das casas, do trabalho, afinal, de todos os lugares dando informações para prevenir e melhorar a vida, criticar os governos, os políticos, etc. Se depender desses conselhos vamos viver mais de 140 anos (como disse um político para justificar a Reforma da Previdência); não vamos adoecer, não vamos cair em armadilhas de assaltantes, de golpes na internet, etc. E o instrumento utilizado para estas comunicações é o celular que não abandonamos nem para ir ao banheiro... não vai demorar as crianças já vão nascer com um celular na mão! Mas o controle das ações individuais ou coletivas dependem de atitudes, decisões e vontade de mudar comportamentos. E nem tudo funciona como alguns acham que vai funcionar. Sem contar as contradições nas informações, pois muitos dizem que alguma coisa é boa para a saúde, e vem um médico e diz que o melhor é evitar aquilo, e recomenda nova receita, que também pode ser desfeita por outro "especialista". Enfim, a internet realizou o sonho de transformar a população em alguma espécie de artista ou profissional de seus sonhos: cantor, ator, humorista, comentarista político, líder religioso, médico, psicólogo, professor, advogado, técnico de futebol... sem nenhuma preparação para tal atividade, apenas o espaço criado pelo celular e seus adereços. O certo é que temos informações em excesso sobre tudo nos dias atuais, fato nunca imaginado no passado. Mas como bem diz a sabedoria popular: "Tudo demais faz mal", logo temos de tomar cuidado com esse mar de informações e desinformações de toda espécie, e usar um filtro pra verificar o que realmente nos faz bem e aquilo que pode nos prejudicar, e portanto descartar, pois más intenções não faltam, e interesses individuais de levar vantagem sobre os incautos. O tempo da palavra tem de coincidir com o tempo da ação - e das boas ações. Ou então vamos ficar com um monte de teorias e informações sem nenhuma prática para melhorar nossa vida de cidadão. Precisamos fazer uma seleção do que realmente nos faz bem e colocar para funcionar, e para isto precisamos perder a preguiça da pesquisa e da leitura. Vamos pesquisar e ler bons livros e não só produções imediatistas das redes sociais. Livros levam anos de pesquisa e estudo para serem produzidos, e não minutos como mensagens de celulares.
Agosto/21
57. O bem-te-vi mineiro
No meu tempo de criança, vivíamos, minha família e eu, numa cidade pequena, que depois se tornou grande graças a instalação de uma siderúrgica de grande porte no local. Mas no início morávamos em um bairro humilde e natural. A paisagem natural ainda dominava o ambiente com suas ruas sem calçamento, em pura terra, com algumas casas cercadas de vegetação e pássaros nativos da Mata atlântica. Corria um rio que cercava a mata e separava o bairro, que ainda continua lá, mas não caudaloso e limpo como antigamente. A poluição industrial chegou em toda a região. Mas não me lembro dos bem-te-vis. Meu sonho de criança era matar uma rolinha pra comer, pois ela era mais gordinha que os outros pássaros. Tentar eu tentei, mas nunca consegui, talvez eu não fosse um bom atirador no estilingue. Pardais não me interessavam. Fazia armadilhas no mato para pegar qualquer passarinho... mas nada! Falo dos bem-te-vis porque onde moro, agora na Bahia, quase divisa com Minas, tem muito bem-te-vi. Acordo com seu canto todas as manhãs, que às vezes, até incomoda. Mas é saudável, principalmente para quem está aposentado como eu; e talvez esteja realizando o sonho de muita gente que morou na roça, foi para a cidade grande, e queria, um dia, poder voltar a morar em um lugar tranquilo de novo. Mas no meio de tantos bem-te-vis, descobri um ou alguns bem-te-vis mineiros em solo baiano. Mas por que bem-te-vi mineiro? Certamente não é para me homenagear porque sou mineiro. Então será por quê? A razão é seu canto faltando sílabas, como fazemos nós mineiros, no famoso "comer sílabas", ou seja, falando as palavras faltando pedaços. Faço isto direto sem perceber. Mas como é o canto do bem-te-vi mineiro? É simplesmente assim: "Te-vi! Te-vi! Te-vi!" .Aí eu falo, sei que me viu. Não é engraçado? Até fiz um vídeo com o seu canto para quando aparecer um São Tomé. Acho que ele tá fazendo uma gozação para nós mineiros. Será?
Vídeo do bem-te-vi mineiroAgosto/21
58. De voto impresso auditável e maracutaias..
Na história das eleições no Brasil, já tivemos de tudo em se falando de malandragens e malvadezas. Do Império, passando pela República Velha, tivemos fatos marcantes nas fraudes eleitorais. Na República Velha com o voto aberto, o "mesário" anotava o nome dos eleitores para votarem no "Coronel" do lugar. E sobre isto temos documentos mostrando as assinaturas todas iguais, inclusive de eleitores mortos e de outros que nem sabiam escrever. Foi assim construída a nossa história eleitoral republicana - sem nenhum escrúpulo ou honestidade. Ganhava o mais poderoso financeiramente. Depois vieram as empresas patrocinando seus candidatos, compra de votos e até o narcotráfico garantindo seus interesses através de "doações" aos candidatos. E agora se discute se o voto nas urnas vai ter um comprovante impresso da escolha do eleitor. A questão que se discute, além da ausência de fraude no processo eleitoral, é da hombridade do povo brasileiro. Pois os políticos, gostando ou não, fazem parte do povo brasileiro - Viva Darci Ribeiro! Nos movimentos sociais do passado, vimos como os líderes chamados de populares traíam seus companheiros quando entravam para a política, pois mudavam de classe, passando a pertencer à classe política, não são mais trabalhadores... então isto só pode ser uma praga brasileira que continua acontecendo. Quando se descobre/constrói um mecanismo para dar mais segurança a alguma coisa, aos bancos, por exemplo, a bandidagem consegue coisa mais eficaz. Assim tem sido nas eleições. Será que o voto com comprovante, que alguns chamam de voto impresso, vai resolver o problema das fraudes eleitorais que devem ter elegido muita merda na nossa história? Se só o Brasil, Bangladesh e Butão não têm urna eletrônica com comprovante, não dá para desconfiar de que tem algo de errado no processo eleitoral desses países, afinal são países do chamado Terceiro Mundo, no qual as eleições sempre foram caracterizadas pelo voto de cabresto; em que os eleitores são como animais obedientes aos seus donos, no caso das eleições no Brasil, obedientes ao fazendeiros ricos? Vamos ver quando vai ser aprovada a lei do voto auditável. Esperamos que não demore, mas com muita desconfiança nessa possibilidade. Enquanto os "coronéis" puderem resistir...
Agosto/21
59. Tempo de contradições e falta de memória histórica
Vivemos tempos difíceis de relacionamento social. Tempo de fanatismo político, principalmente, e sem uma preocupação com a memória histórica recente. Voltamos muito mais para o nosso individualismo no pensar. Não queremos buscar a verdade dos fatos, salvo raras exceções. Aí entram as contradições, os discursos e as ações. Fomos dominados por um discurso manipulado por elites pensantes em uma época em que éramos idealistas, mas sem uma visão crítica das informações recebidas, e por nós transmitidas. Éramos ingênuos e, por isto, realizávamos a obra de outrem. E como acreditávamos em coisas absurdas, e que hoje são tão óbvias. Hoje se fala em ditadura, fascismo, genocídio, mas sem uma leve consulta ao dicionário, para seus significados e aplicação na prática política. Vivemos um tempo de excesso de informações e pouca reflexão... afinal temos muita gente pra pensar pra gente. Como diz a música do conjunto Capital Inicial: "Sua inteligência ficou cega de tanta informação". E assim seguimos a vida, no comodismo do não pensar. E haja saúde pra aguentar tanta asneira de todo lado. E como disse o poeta Carlos Drummond, uma vez, em canal de televisão: minha deficiência na audição me ajuda a não ouvir tanta besteira. Este sempre soube o nível cultural de nosso "povo".
Julho/21
60. Dia dos Pais
Hoje, 08 de agosto de 2021, é o Dia dos Pais, segundo domingo do mês. Um dia em que se comemora todos os anos aquele, que em parceria com uma mulher, dá a vida e cuida de seus filhos para sempre... para sempre mesmo, pois nunca paramos de nos preocupar com o bem estar de nossos filhos e filhas, independente de idade. Mas, infelizmente nem todos os pais biológicos têm esta preocupação. Vemos no dia a dia os pais abandonando os filhos para os cuidados de mães, avós, avôs, parentes e até amigos. E crianças jogadas das janelas de ônibus, de automóvel em movimento, na lagoa... O dom de ser pai deveria ser seletivo, ou seja, nem todos os homens/mulheres deveriam ser pais, apenas aqueles que têm o dom para exercer tal função. Recebi os parabéns de meus filhos(as), de amigos e esposa. E presente útil, como é do gosto de todo pai. E vivemos de presenças e presentes...
Agosto/21
61. O "Comedor de Livros"
Não sei a conta dos livros que li desde a minha infância. Fui incentivado para a leitura pelo meu tio, Professor de Português, Maninho. Ele me deu dois livros que nunca mais esqueci os nomes. Um era de Língua Portuguesa e se chamava Português ao alcance de todos; e o outro foi uma biografia de Carlos Gomes, que nunca li. Mas ficou o incentivo à leitura... me bastou. E sempre fui bom na Língua Pátria em todas as escolas que estudei. Só a Matemática me assustava, mas dava para passar... devem ter me dado uns empurrãozinhos de vez em quando. Professor(a) faz isso! Eu também já fiz, ação que pode incentivar o aluno, quem vai saber?! Ou o contrário, mas o fazemos com a melhor das intenções. Desde muito novo me dediquei à leitura e escrita. Mas tinha vergonha de divulgar meus textos devido a minha doentia timidez, fruto de uma educação familiar muito rígida. Lia tudo que aparecia na minha infância e adolescência. Na juventude quando comecei a trabalhar, passei a comprar livros nas livrarias e bancas de revistas. Comprava tanto livro que não dava conta de ler todos no tempo previsto. Teve livro que li vinte anos depois de sua aquisição. Adotava uma hierarquia de leitura, por isto alguns ficaram muito tempo em minha estante esperando sua vez. Outros até doei para bibliotecas escolares e públicas. Depois da aposentadoria passei a ler e escrever mais ainda, pois passei a ter mais tempo de dedicação ao meu prazer. Continuei comprando livros, principalmente aqueles que não pude ler na Faculdade, e agora com a facilidade da internet compramos quase tudo que precisamos e recebemos em nossa casa. Já tive de viajar longas distâncias pra comprar livros, hoje compro qualquer produto usando o computador ou celular em qualquer lugar que eu estiver. Melhorou demais o acesso a tudo graças às novas tecnologias. Atualmente, leio e faço resenhas de livros; um hábito que se tornou rotina em minha vida. Não consigo viver sem ler e escrever quase que diariamente. A leitura é minha maior fonte de informações e conhecimento. Sempre aprendi e continuo aprendendo com minhas leituras. Como diz o pensamento abaixo:
"Não há livro tão ruim que não se possa aprender nele algo de bom." Plínio, o Jovem
14.04.22
62. Filhos do Amor
A miséria incomoda todo mundo. Quando vejo aquelas crianças famintas da África na televisão, mudo de canal imediatamente. Um pedinte na rua; na porta do restaurante pedindo comida. São cenas que me levam à reflexão. São filhos e filhas da esperança e do Amor, que no caminho da vida, se perderam, talvez por descuido com os obstáculos que foram surgindo, e que, de repente, se tornaram intransponíveis. Quantos sonhos de crianças, adolescentes e jovens casais não foram deixados para trás?!! E os filhos e filhas abandonados, lutando humilhados para sobreviver, como animais fora de seu habitat. Podemos dividir a culpa? Sim, podemos! Mas para mim, basta a perda do sonho para surgir o sofrimento. Não busco culpados nem soluções; apenas queria que o Amor não tivesse abandonado a vida.
15.04.22
63. Os políticos e os palácios
Muitas vezes os políticos saem de famílias humildes, e até se vangloriam disso nas campanhas eleitorais, afirmativa estratégica para conseguir votos dos desinformados, mas quando assumem o poder passam a morar em palácios e a receber salários astronômicos, além das vantagens extras do cargo. Diante desta situação se esquecem dos menos favorecidos, dos quais faziam parte. A origem modesta de sua antiga vida é esquecida. Seus antecedentes não garantem nenhum compromisso com seu passado, pois este vira ideologia para garantir seus privilégios durante o maior tempo possível. Até aqueles(as) que tiveram um passado de busca de soluções para os problemas sociais, quando entram para as mordomias da política, se esquecem de seu passado. Antes as Igrejas incentivavam o eleitor a escolher aquele candidato com uma história de vida voltada para as questões populares, hoje já não o fazem mais, pois viram que estas pessoas se encantam com as facilidades e as benesses do poder e esquecem de seus compromissos sociais.
16.04.22
64. Ninguém faz greve porque gosta
Já me chamaram de "Eterno grevista". Será que gostamos de fazer greve? Claro que não. A greve é o último recurso que o(a) trabalhador(a) utiliza após esgotarem-se as negociações, ou seja, quando as partes interessadas não chegam a um acordo satisfatório. Logo, a greve é uma situação de instabilidade, podendo gerar retaliações, como advertências, exonerações e até demissões da empresa. Eu já fui exonerado do cargo de Diretor Escolar por participar de uma greve dos(as) professores(as), mesmo sendo eleito em eleição direta. Muitos trabalhadores não participam das greves, principalmente pelo medo de perderem o emprego. Nas greves somos ameaçados pelos patrões, inclusive do corte dos dias parados, mesmo sabendo-se que a greve é um direito dos trabalhadores. A greve dos professores da rede pública altera mais a normalidade social, pois mexe com a classe politica e as famílias. As lideranças são sempre questionadas sobre o retorno às aulas pela imprensa, pela classe política e pelos pais. O fim de uma greve não significa que todos os seus objetivos foram atingidos, mas fica exposta para a sociedade em geral, a insatisfação da categoria com a situação profissional em que estão vivendo já há algum tempo. Talvez este seja o maior objetivo de todas as greves, mesmo que de forma inconsciente; muitos não percebem isto, pensando que só o item financeiro da pauta de reivindicações interessa. Esta é mais uma ideologia que a classe trabalhadora vai ter que enfrentar sempre. E a união da categoria no Movimento Grevista é um desafio de toda classe de trabalhadores, pois muitos não participam, e até alguns sindicatos ficam ao lado dos patrões, muitas vezes, principalmente quando são ligados ao partido no governo. Lembro de uma professora falando: "Esta é a blusa que fiz na greve de 1981, esta na greve de 1984, e vai por aí... Ficava em casa fazendo tricô, crochê, enquanto seus colegas ficavam nas Assembleias defendendo os direitos de toda a classe, inclusive o dela. Não tem remorso quando recebe o pagamento com reajuste? Ou vergonha?
18.04.22
65. Respeite a Língua Portuguesa! Uma crítica ao vocabulário das redes sociais
O tempo muda e custamos para perceber estas alterações, mas recentemente não tem como não perceber estas mudanças dos últimos cinquenta anos no mundo globalizado. Hoje fazemos parte de um planeta e não só de uma cidade, região ou país, pois tudo que acontece no mundo aparece aos nossos olhos de forma imediata e ao vivo, o que temos de fazer é decifrar esses acontecimentos, que é o mais difícil, porque o que está por trás desses fatos, ou nos bastidores, não é visível aos nossos olhos. Sou de um tempo em que a leitura era uma das mais importantes diversões e lazer da população; dos adolescentes, jovens e adultos. Hoje a leitura é um "privilégio" de poucos "viciados" em livros, sejam eles os tradicionais, em papel, ou mesmo os virtuais em computadores, PDF, celulares ou Kindle. A maioria da população aderiu a uma leitura rápida e sem compromisso com a qualidade do texto e norma culta nas redes sociais. Os usuários dessa informação produzem textos simplificados e sem obediência a nenhuma norma gramatical. O que vemos hoje são muito piores do que os antigos telegramas resumidos dos Correios para dar uma rápida informação. Hoje escrevem palavras resumidas, não usam letras maiúsculas no início das frases e nem pontuação. Beleza é blz, um entre muitos exemplos. Tem texto que fica difícil identificar seu conteúdo, ou seja, o que o "amigo" quer nos informar. Temos de fazer uma ginástica para sua compreensão. Isto mostra que a leitura de livros está ultrapassada, vivemos hoje quase que somente da leitura dessas "notas" que, geralmente são menores do que as notas dos rodapés dos livros, sem falar de sua falta de cuidado com a redação. Mas felizmente existem aqueles que se preocupam em escrever como se deve fazer, isto nos anima um pouco. Pensei, ingenuamente, que as redes sociais iriam ajudar no conhecimento e prática de nossa Língua, mas me enganei. Ocorreu foi quase a criação de uma nova língua ou dialeto português. Para quem está acostumado a ler os grandes escritores e poetas brasileiros, como Machado de Assis, José de Alencar, Jorge Amado, Rubem Alves, Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Castro Alves, Olavo Bilac, e tantos outros; fica difícil se acostumar com essa pseudoliteratura das redes sociais. Quando lemos estes autores sentimos o prazer da leitura, e não só o conteúdo ou a história contada. É sempre um texto trabalhado com afinco, muitas vezes revisado por longos anos... Quantos escritores não gastaram dez, vinte e até trinta anos para escrever um livro? Quantos não revisaram seus livros por longos anos!? E os "escritores" das redes sociais escrevem, geralmente em minutos, e espalham palavras e conteúdos sem nexo mundo afora, sem nenhum pudor ou respeito pela nossa bela e lapidada Língua Portuguesa - a "Última flor do Lácio" (Olavo Bilac).
10.06.22
66. O importante é ser flexível
Este título e tema têm como base o texto de Shakespeare, abaixo:
"Aprende que, ou você controla seus atos, ou eles o controlarão… e que ser flexível não significa ser fraco, ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem, pelo menos, dois lados".
Esta ideia muito me interessou, pois sempre falaram que sou muito fácil para mudar de ideia, Mas sempre disse que mudo de ideia para uma coisa melhor... que mal há nisso? Não falam que determinada pessoa é "cabeça dura"!? Portanto fazem uma crítica a quem não muda de ideia, mesmo estando errado. E isso se aplica também a quem nunca assume seus erros, principalmente na política, pois sempre arruma uma maneira de mudar de assunto, ou que fez alguma coisa positiva, como se isto justificasse não assumir o erro. Mudar de ideia é muito natural, pois podemos fazer uma nova avaliação da situação que vivenciamos, ou simplesmente que demos uma opinião sem muita reflexão. É, inclusive, um ato de humildade mudar de ideia, pois isto quer dizer que assumimos nosso erro, coisa difícil de acontecer entre seres humanos, que são, na realidade, muito vaidosos para mudar de opinião sobre alguma coisa. Queremos ser os donos da verdade, mas isto não é verdade. Como disse o texto de Shakespeare: "... sempre existem, pelo menos, dois lados" de uma situação. Podemos ter escolhido o lado errado, e é hora de mudar de lado, como as moedas que têm dois lados. Isto não significa ser fraco; mas ser humano. Não somos perfeitos, por isto temos o direito de errar, e mudar para acertar.
23.09.22
67. Memórias de um humanista militante
Vivi um tempo de minha juventude e fase adulta em que os Movimentos Sociais tinham muita força, pois combatiam a Ditadura Civil--Militar, e com um projeto de construção de uma nova sociedade, que nós não tínhamos muita certeza de como seria. Mas uma coisa era certa; queríamos uma nova sociedade mais justa, com liberdade e igualdade social, coisa que não víamos na prática do governo da época. Participei desta militância sem muita consciência do que era. Acompanhava os amigos e orientações da Igreja Católica.
Quando já estava no Magistério nas redes estadual e municipal continuei esta militância, mas sem me envolver muito com os partidos políticos. Participava em defesa dos direitos sociais e principalmente, dos(as) professores(as). Aí um dia, um amigo meu, professor de História, Euclides, me disse: "Você é um humanista!"Pois neste tempo se falava muito em Socialismo, Comunismo, Capitalismo, Fascismo etc. A partir daí me lembrei como gostava de estudar os chamados Iluministas na História, que defendiam a razão humana em oposição à visão religiosa da sociedade defendida pela Igreja. Vi que eu tinha muito a ver com eles, principalmente com Voltaire, que foi perseguido durante toda sua vida por defender essas ideias.
Lembro de uma professora, minha amiga falando na sala dos professores para todo mundo ouvir, isto lá por volta de 1981: "O Beto não acredita na classe política". E não acreditava mesmo, pois quando os candidatos ganham a eleição, eles mudam de classe, pois começam a ganhar um salário muito acima da média dos trabalhadores, logo defendem os interesses da classe a que passam a pertencer, ou seja, a classe política.
Mais uma lembrança sobre a questão dos políticos: A Igreja Católica na década de 1980 defendia que devíamos escolher aqueles candidatos que tinham uma história de vida voltada para a defesa dos interesses da comunidade. Fizemos isto e não adiantou nada, pois os candidatos quando mudam de classe (como disse acima), se esquecem dos interesses da sociedade e defendem apenas os interesses pessoais. E vimos muitos exemplos como este; tanto é que a Igreja abandonou este discurso. Abandonam a base, como era chamada a classe trabalhadora.
Nunca fui defensor de nenhuma instituição política ou social, a não ser a Escola, pois todas terminam por criar uma liderança que passa a não ter compromisso nenhum com a sociedade, mas sim com interesses pessoais ou corporativos. O padre da nossa paróquia me convidou para participar de um encontro do PT, quando ele estava começando em Ipatinga. Foi na casa de um amigo nosso que morava no Bairro Bom Retiro. O padre me avisou que se não gostasse não voltasse a participar. E não gostei. Não fui mais. Os documentos do partido ficavam em uma gaveta de uma mesa na casa da pessoa. Mais tarde, quando já trabalhava na Prefeitura de Ipatinga como professor e vi o bom trabalho do PT no primeiro mandato de governo, me filiei ao partido. Mas o entusiasmo durou pouco, pois o partido passou a adotar medidas autoritárias de governo e a discriminar todas as pessoas que faziam alguma crítica a suas atitudes, inclusive fui exonerado do cargo de Diretor eleito pela comunidade em 1997. Este relato está no meu primeiro livro Professor e Poder na Escola Pública.
Um amigo meu me disse uma vez para não ficar sozinho nos trabalhos de comunidade. Ele era de um partido político. Eu continuei sozinho. Mas fiz do meu jeito e lutei pelo que acreditei. E não me arrependo. Nunca fui obediente a decisões de instituições, sem antes fazer uma avaliação do que era bom ou ruim para nossas lutas. Numa aula do Ensino Supletivo Municipal de 2º grau, falei para um aluno filiado a um partido político que não concordava com a ideia de se matar alguém por ideologia, religião ou governo. E ele me respondeu: "Se é contra a gente tem que morrer mesmo!" Por onde anda a democracia tão defendida pelos partidos? Valeu a pena minha solidão em defesa da pessoa humana!
Numa Assembleia para decidir sobre se deveríamos entrar de greve para defender nossos reajustes salariais na Prefeitura Municipal de Ipatinga, inclusive com a presença do Secretário de Educação para nos intimidar, fui o único a defender a greve. E assumi minha posição na frente de todos. Depois da Assembleia saí sozinho, pois ninguém queria minha companhia. Este fato aconteceu no final da década de 1980. Já tínhamos saído da Ditadura Civil-Militar; mas seu fantasma continuava lá, assombrando nossas mentes e decisões.
Na década de 1980 éramos ainda muito ingênuos e desorganizados para a luta em defesa de nossos direitos. Além do fato de não termos sindicatos, pois o governo considerava a Educação um serviço essencial. Tínhamos uma Associação de Professores que funcionava de forma precária. Diante deste quadro, colocávamos algumas lideranças para assumirem posições em nome da categoria, às vezes sozinhos, como foi o meu caso em determinado momento. Um dia, passando pela Av. João Valentim Pascoal, no centro de Ipatinga, alguém me avisou que o Prefeito e o Secretário de Educação estavam na Rádio Vanguarda para falar de nossa greve (estávamos de greve nesta época em busca de melhorias salariais e outras reivindicações), e que era para eu participar de um debate com eles naquele momento. Como vivíamos um momento mais de entusiasmo do que de razão, fui debater com as autoridades sem nenhuma orientação de nosso Movimento. Lembro que o Prefeito me pediu para garantir que os professores iriam voltar a trabalhar imediatamente. Ainda bem que tive a sabedoria de não assumir nada em nome de nossa categoria, então falei com ele que faríamos uma Assembleia, e que ela iria tomar uma decisão, ou seja, continuar de greve ou voltar a trabalhar. Muita gente não sabe deste fato.
A narrativa a seguir está no meu livro Professor e Poder na Escola Pública, mas na minha opinião, o acontecido é tão significativo para o momento que nós professores vivíamos, ou seja, de despreparo para a vida sindical, que pretendo repeti-lo aqui. Fomos chamados para uma reunião com o Prefeito e seus Secretários para a discussão de um índice salarial para negociação. Aí foi uma equipe do Sindicato. Nesta época já tínhamos sindicato. Chegando lá, o Prefeito pediu o nosso índice para negociação. E não tínhamos levado nenhum número para negociar, pois acreditávamos na boa vontade da administração. Quanta ingenuidade! Eu estava na equipe. Tivemos de voltar e discutir um índice com a categoria para voltar para a negociação. Esta foi de lascar! Essa ingenuidade me fez lembrar da fala de um colega professor, depois que o PT assumiu o governo, e entramos de greve: "Uai, pensei que com o PT no governo as greves iam acabar". Pensava o amigo que o PT no governo ia entender a situação do trabalhador e dar os reajustes necessários à categoria. Enganou. Nesta mesma época tivemos uma negociação com o governo da qual eu fazia parte da Comissão para negociar. No final da reunião, o governo nos deu um documento para que assinássemos garantindo a volta dos(as) trabalhadores(as) para o trabalho. Todos nós assinamos. Depois pensei melhor sobre a situação e não participei mais das negociações. A categoria nunca soube disto. E alguns professores falaram que puxei para trás, como gostam de fazer, infelizmente, e sem saber o motivo. Mas continuei na greve até seu final, e participando de todos os encontros, menos das negociações. Assumi meu erro. Os outros acharam tudo normal. E voltaram para as negociações.
Mais um fato de nossas greves em Ipatinga. Estávamos em uma Assembleia na Igreja Cristo Rei, no centro de Ipatinga. Naquela época a Igreja Católica estava muito empenhada em apoiar nossas lutas sindicais. Na ocasião chamaram um Deputado Estadual para participar da Assembleia. Este Deputado depois foi Prefeito de Ipatinga. Questionei sua participação com um membro de nosso sindicato, e o mesmo me disse: "Você prefere fulano de tal?". Este fulano de tal era o Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Usiminas, considerado um pelego pelos nossos líderes. Só que quando o partido desse amigo meu assumiu a Prefeitura, o nosso sindicato ficou mais pelego do que o pelego da Usiminas. Perseguiu professores, exonerou diretor eleito pela comunidade, e tirou toda nossa liberdade de trabalho, impondo todos os seus valores educacionais, principalmente aproveitando líderes e ideologias de fora.
Quando participei da Diretoria de nosso sindicato, fui Diretor Social, ou seja, aquele responsável por entrevistas na imprensa e redação de nosso jornal. Quando ia dar entrevista nas rádios da região, o nosso Coordenador ficava ao meu lado para ouvir o que eu ia dizer sobre o governo, o qual era seu apoiador. Além disso, um dia este mesmo Coordenador ao ler o texto do jornal que eu estava redigindo me disse: "Você não pode bater no governo desse jeito não!" Simples, era um baita pelego do governo no poder. Além de receber telefonema do Prefeito na sede do sindicato e ficar escondido para que ninguém ouvisse a conversa. Aposentou por invalidez depois de voltar para a escola após mais de dez anos na Direção do Sindicato. Trabalhou comigo na Biblioteca Pública recebendo salário integral além de uma ajuda financeira para segurar nossas greves. Eu recebia metade do salário, conforme lei municipal. Tentaram me demitir com processo administrativo, mas viram que politicamente seria desgastante para o partido, conforme depoimento de um amigo que participou do encontro; e me aposentar com metade do salário. É assim que fazem com quem discorda da política partidária.
Em minha exoneração do cargo de Diretor de Escola, não me esqueço do momento ímpar de gestão que presenciei. Chegando ao gabinete do Secretário de Educação fiquei esperando para ser atendido. De repente vi o Colegiado de Diretores saindo de uma reunião (uns trinta diretores). Me olharam assustados, pois certamente não sabiam o que estava acontecendo. Fui convocado para a exoneração logo depois de uma reunião que eu deveria participar, pois fazia parte do Colegiado de Diretores. Poderiam ter marcado a reunião comigo em outro horário. Qual seria a intenção? Mostrar a força do governo em exonerar um diretor eleito democraticamente com 92% de aprovação popular? Ou quem sabe testar o poder de união do Colegiado em defesa de seus componentes? Talvez as duas coisas. Depois do ocorrido um Diretor de Escola me disse que não fizeram nada a meu favor com medo de que o governo exonerasse todos eles. Eis o socialismo democrático! E este governo vivia falando em governo democrático, pois foi o mesmo que instituiu a eleição direta pra diretor na rede municipal de ensino de Ipatinga. O Secretário de Educação me disse que eu não era da confiança do governo e nem da comunidade. Eu apenas perguntei para onde iriam me mandar. Fui trabalhar na Escola Municipal Vilma Faria, a mais distante do prédio da Prefeitura. O Secretário depois de terminado seu mandato deve ter mudado de Ipatinga. Nunca mais o vimos na cidade. Logo depois de minha exoneração, muitos professores foram chamados à Secretaria de Educação para conversar, pois tinham ficado do meu lado; e conforme o governo estavam sem motivação para o trabalho.
Quando trabalhei na Empresa Bemoreira, uma loja de eletrodomésticos e móveis, que na década de 1970 era a maior rede do ramo no país, com 19 anos de idade passei a ser gerente do depósito de móveis da empresa. Trabalhávamos em condições precárias: sem treinamento, pessoal sem uma escolaridade de nível médio, com espaço físico inadequado (pouco espaço para um grande número de produtos), e com número mínimo de funcionários que não conseguiam dar conta do trabalho com qualidade. Eu, como gerente, terminava tendo que trabalhar de montador de móveis no depósito, e muitas vezes fazer entrega nos caminhões de entregas (geralmente veículos antigos e mal cuidados). Como eu não tinha tempo de ajudar ao pessoal que fazia o trabalho de montagem de móveis e entregas, e além disso, fazer o controle das mercadorias que chegavam e saíam do depósito; fazia este último trabalho no domingo, sozinho, e sem ganhar nenhuma hora extra. Chequei a procurar um médico de tanto cansaço em que estava, pois estava sentindo dores no estômago. O médico me disse que eu estava com estafa, é assim que chamavam o estresse de hoje. Uma vez foi um chefe de Belo Horizonte, famoso por sua exigência e falta de educação vistoriar o depósito. Chegou de repente e começou a falar que o depósito estava desarrumado e que era para eu colocar ordem naquilo. Então respondi colocando toda a situação que vivíamos no trabalho, sem me preocupar com sua fama de mau. O pessoal todo ficou assustado. Mostrei o abandono em que vivíamos e as péssimas condições em que desenvolvíamos o trabalho. Ele saiu e todo mundo pensou que eu ia ser mandado embora. Para minha surpresa, na próxima semana dobraram o meu salário e me mandaram para um treinamento em Belo Horizonte com todas as despesas pagas pela empresa. Voltei, mas a situação não melhorou em nada no funcionamento do depósito. Não demorou e pedi demissão. E ainda tive de pagar um terço do Aviso Prévio devido ao cansaço. Daí uns 10 anos a Bemoreira faliu por má gestão, e certamente corrupção.
Em 1991 tivemos uma greve histórica em Ipatinga; período em que eu era Diretor da Escola Municipal Presidente Vargas. Primeiro mandato eletivo de Diretor na rede municipal promovido pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Participei da greve na liderança sendo Diretor, coisa inconcebida quando os diretores escolares eram indicados pela classe política. Foi um teste para a democracia na cidade, pois o Diretor Escolar era eleito pela comunidade e tinha a aprovação do Prefeito Municipal com a publicação de um Edital de Nomeação. O Secretário de Educação me perseguiu com palavras (repetia o que eu dizia nas reuniões de forma depreciativa, utilizando palavras que eu utilizava para expressar alguma ideia, principalmente aquelas menos usuais); e atitudes como a minha convocação para reunião com a administração dentro de nossas assembleias, mas isto fez com todos os diretores também, desrespeitando o espaço de decisões dos trabalhadores. Infelizmente tivemos o caso de um Diretor, na frente do Prefeito e de seus Secretários, falar com todas as letras que Diretor não podia entrar de greve, sendo que apenas eu entre os Diretores das Escolas de 5ª a 8ª séries participou da greve. Durante a greve tivemos um debate na TV Cultura de Ipatinga, no Programa Cheque Mate, com a participação de representantes do sindicato, um representante dos professores e um representante dos Diretores, e o Secretário de Educação. Eu representei os Diretores. O Secretário de Educação me bombardeou com perguntas sobre a greve, inclusive me perguntando se não foi o Partido dos Trabalhadores que criou a primeira eleição direta para diretor em Ipatinga. E eu respondi que não, pois tínhamos feito uma eleição direta para diretor na Escola Presidente Vargas no governo anterior. A partir daí ele me deixou em paz. Este debate foi assistido pelos professores em Praça Pública em frente à Prefeitura Municipal ao vivo no telão.
No governo Sarney, logo após o Regime Civil-Militar (1964-1985), a inflação que já estava alta chegou a níveis insustentáveis para a manutenção de um governo no poder. Consequentemente o governo deveria tomar uma medida radical... e tomou! Congelou todos os preços e salários. Provocou revolta de quem tinha algum dinheiro em depósito, principalmente na Poupança, e satisfação para quem tinha baixos salários. Para manter esta situação o governo pediu o apoio da população na fiscalização dos preços. Surgiram os famosos "fiscais do Sarney". Mas, infelizmente este Paraíso durou pouco por questões eleitoreiras, é claro! Mas de qualquer forma muita gente acreditou no governo, como eu. Por isso, criei no Bairro Amaro Lanari o chamado Movimento da Carne, pois os açougueiros não queriam congelar seus preços. Fizemos reuniões no Clube Olímpico e na Igreja Católica para incentivar a população a não comprar a carne com os preços sem o congelamento. Fizemos tabelas de preços e panfletos para distribuir para a comunidade. Inclusive disseram que fui ameaçado de morte por um proprietário de uma rede de açougues, mas não recebi nenhuma ameaça pessoal. Com o fim do congelamento logo depois da vitória esmagadora do partido do governo nas eleições, o congelamento acabou, e com ele o nosso Movimento.
Fui um dos líderes de um Movimento para tirar a Diretora da Escola Estadual Raulino Cotta Pacheco, no Bairro Amaro Lanari, e colocar uma Direção voltada para os interesses da comunidade escolar. A atual Diretora era indicada pelo Deputado majoritário da região, e atendia apenas aos interesses pessoais e do político. Esta situação era normal em todo o país. Só que a Diretora desorganizou toda a escola de forma administrativa e pedagógica. Além disso, ela tinha sido sucessora de uma Diretora moradora do bairro e de extrema competência em gestão escolar por sua longa carreira no Magistério nas cidades de Ipatinga e Coronel Fabriciano. Para atingir nosso objetivo montamos um Movimento em 1986, para realizar uma Eleição Direta para escolher uma nova Diretora ou Diretor. Fizemos várias reuniões com o prefeito da cidade de Coronel Fabriciano e com o representante do Deputado. Convocamos as Associações de Moradores da região para nos apoiar, principalmente a Associação de Moradores do bairro, da qual tivemos todo o apoio. Participaram do Movimento: professores, alunos(as) e a comunidade em geral. A imprensa divulgou amplamente nosso Movimento pelo jornal e rádios. Eu participei do Movimento na liderança, mesmo sendo o único professor contratado. Avisaram que eu poderia ser demitido, mas não levei isto a sério e continuei a participar. No final saímos vitoriosos e realizamos a tão sonhada Eleição Direta para Diretor em nossa escola, talvez a primeira do Estado de Minas Gerais. No mesmo ano também realizamos uma Eleição Direta para Diretor na Escola Municipal Presidente Vargas, em Ipatinga (citada acima), da qual também participei. Posteriormente o Sind-UTE conseguiu implantar estas eleições diretas em todo o Estado.
Numa Assembleia conjunta entre os sindicatos que envolviam os trabalhadores do ensino e o funcionalismo público de Ipatinga, fui impedido de subir no palanque porque sabiam que eu ia puxar a greve. Os participantes impediram minha passagem para o palanque. Os dois sindicatos eram coniventes com o governo do município.
Com 24 anos já tinha passado no Concurso Público da Cemig (Companhia energética de Minas Gerais). Uma das maiores empresas no ramo de energia elétrica no Brasil. Era quase um sonho trabalhar nesta empresa. E muito novo já era concursado nela para trabalhar em seu Escritório em Coronel Fabriciano. Para mim não era um sonho trabalhar em empresa nenhuma, mas sim uma forma de garantir a minha sobrevivência e ter dinheiro para continuar a estudar. O salário da empresa era dos melhores do Brasil, inclusive tínhamos algumas vantagens como o 13º; 14º, e até um 15º salários; incentivos que nenhuma empresa oferecia na época. Mas ali não estava meu sonho até chegar a aposentadoria, como a maioria de meus colegas de trabalho fizeram, ou seja, se acomodaram com o bom salário que recebiam sem se preocupar com sua realização pessoal. Concorri com um pouco mais de 50 candidatos, e apenas dois foram aprovados. Eu e mais um. Não sei se fui classificado em primeiro ou segundo lugar. Não ligava para isso. Trabalhei na empresa por quase 4 anos e depois saí, pois fui aprovado no Vestibular para História na Faculdade em Caratinga, e os horários do trabalho com a escola não se harmonizavam. Saí da Cemig e comecei a trabalhar na Escola da Comunidade Castro Alves (CENEC), com carteira assinada e como contratado na Escola Estadual Raulino Cotta Pacheco, em 1981, ainda frequentando o 2º ano da Faculdade, e não deixei mais o Magistério. Na época o Magistério estadual não tinha nem 13º salario, ou seja, deixei 15 salários para ganhar 12. O 13º foi conquistado com nossas greves constantes na década de 1980, e de forma parcelada por um bom tempo. E fiquei feliz, pois era minha realização pessoal ser professor. Isto chamamos também de idealismo.
Na década de 1980 eu fazia concurso para ver se era bom estudante. Fiz um Concurso na Escola Militar Tiradentes, em Ipatinga, no ano de 1986, só para me testar. Passei em primeiro lugar, mas não pude assumir porque já tinha concurso no Estado de Minas Gerais, e na Prefeitura Municipal de Ipatinga. Tive que dispensar redigindo uma carta de desistência escrita à mão para a escola, pois assim dava direito ao segundo lugar de assumir. Hoje não estou querendo me testar em quase nada... chega de testes!
Meu primeiro emprego de carteira assinada foi na Usiminas. Em fevereiro de 1972 comecei a trabalhar na Sinterização, depois dos testes. Não tínhamos escolha de setor de trabalho. A Sinterização é uma área de produção do sínter, que é uma mistura de vários elementos químicos que se transformam no ferro gusa para a produção do aço, após passar pelo Alto Forno e depois pela Aciaria. Eu trabalhava na máquina de sinterizar, depois de um treinamento de mais ou menos trinta dias com um operador. Eu estava estudando na Escola Estadual João XXIII, no Bairro Iguaçu, à noite, fazendo o Ensino Médio. Trabalhava de três turnos. Numa semana saía da escola e ia direto para a empresa. Era um serviço muito cansativo. E eu era responsável por toda a produção do setor. Devido ao meu excessivo cansaço pedi transferência de setor para continuar meus estudos sem muito desgaste. Lembro da cena que passei com o atual Presidente da Usiminas hoje (2022). Ele era o chefe da seção naquela época. Não cito o nome, pois como disse Drummond: "Não faz jus ser glorificado". Estava aguardando na sala junto dele e de outro chefe, e lembro dele falando baixo, mas que deu para eu ouvir: "Esta turma quando vem pra cá aceita até limpar banheiro, e depois quer transferência". Fiquei calado. Hoje não sei qual seria minha reação. Mas ele também não ia dizer isso hoje, temendo uma reação. Saí da Usiminas e fui trabalhar na Bemoreira com o mesmo salário e com um mínimo de desgaste. Depois trabalhei na Cemig. Lembro que trabalhando na Cemig no atendimento ao público na hora do almoço da atendente, chegou o antigo Líder de Grupo do meu turno (ótima pessoa que todo mundo adorava), para ser atendido, e quando me viu, falou: "É rapaz, se você estivesse na Sinterização não estaria bonito assim, não". Nunca esqueci disto. Sofremos humilhações nessa vida, mas nossa coragem e determinação podem mudar tudo. Foi o que eu fiz. E naquela época trabalhar na Usiminas era o sonho da juventude de meu tempo. Ledo engano!
25.09.22
68. Será que somos tão analfabetos políticos e sem memória tanto assim?
Num debate de campanha política falei que a população estava cagando e andando para a classe política. Achei que fui muito duro. Depois até fiquei com um pouco de remorso. Mas agora vi que estava completamente com a razão, pois os políticos, em sua maioria não nos respeitam. Acham-nos analfabetos políticos, retardados e sem memória, e sem discriminar nível cultural ou função social, nivelam a população sempre por baixo. Vejamos alguns exemplos abaixo:
1. O ex-Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa foi o algoz do Lula no julgamento do Mensalão (quem quiser saber mais sobre o Mensalão é só ler o livro do Historiador Marco Antonio Villas); e hoje (setembro de 2022) escreveu uma carta dizendo que vai votar no líder condenado no processo do Mensalão. Deve estar pensando que somos retardados e sem memória.
2. A ex-Prefeita de Ipatinga (MG), Cecília Ferramenta que tentou tirar os direitos dos aposentados à Complementação salarial depois de 20 anos de seu pagamento ininterrupto, candidatou-se a vereadora no pleito (2020-2024), e foi eleita, certamente pelos votos de seu partido, o PT. Agora em 2022 é candidata a Deputada Federal. Dá pra entender? Haja saúde! Ainda bem que perdeu a eleição.
3. O Ex-Presidente e ex-presidiário por um ano e meio mais ou menos, é candidato a Presidente em 2022. Foi julgado e preso. Depois por uma manobra do STF, os atuais Ministros o libertaram alegando problemas no processo de julgamento, mas não o inocentaram dos vários processos que correm na Justiça, mas o consideraram ficha limpa pra candidatar-se à Presidência, e em nova reunião do Supremo o inocentaram de todos os crimes para justificar ainda mais sua candidatura; mas é bom ressaltar que vários desses Ministros foram indicados por Lula quando o mesmo foi Presidente por 8 anos. Tem alguma coisa podre no Reino da Dinamarca! Haja saúde! Que eu não tenho mais!
69. Tempo de descrenças
Hoje, com o avanço sem limites da tecnologia, infelizmente não podemos acreditar em quase nada, a não ser com profundas verificações dos fatos. A internet criou mecanismos nunca imaginados pelo ser humano, o mesmo que a criou. Isto porque depois de uma nova melhoria, outras ideias foram surgindo e acrescentadas ao produto inicial. E nessas atividades entraram as pessoas do bem e do mal. Gente querendo ajudar os outros, e gente querendo prejudicar todo mundo para se beneficiar. Então todo cuidado é pouco. Vivemos recebendo informações de golpes que estão sendo dados em aplicativos e redes sociais para nos prejudicar, e na maioria das vezes não sabemos se estes alertas são verdadeiros ou falsos. Vivemos tempos perigosos e estressantes, pois estamos sem rumo, apesar do mar de trilhas divulgadas. Chegamos ao ponto de nos afastar das informações, pois não acreditamos nelas, coisa que no passado era impensável. Corríamos atrás de notícias, principalmente de nossa cidade, através do rádio, jornal ou televisão. Hoje não queremos mais saber de nada, pois não acreditamos em quase nada que os meios de comunicação nos informam. Vivemos na solidão no meio da multidão de pessoas e informações. Acreditar em quê e em quem? Talvez só em Deus para nos fortalecer, pois estamos fragilizados diante de tanta desinformação.
28.09.22
70. Ninguém conhece a vida de ninguém
É muito comum alguém dizer, com a melhor das intenções: "Se eu fosse você eu não faria isso."... ou faria isso". Mas esta é uma impossibilidade, pois somos pessoas individuais e com nossa própria natureza, fazemos as coisas do nosso jeito; certas ou erradas para o momento. Ninguém entende e nem consegue viver a vida de outra pessoa, principalmente os momentos de sofrimento. Lembro de uma situação que muito me desagradou: estava passando por numa situação financeira horrível, pois a Prefeitura Municipal na qual eu era concursado, reduziu meu salário pela metade, pois mudei de função para continuar produtivo. Esta era uma lei municipal. Mas como eu queria voltar a trabalhar com dedicação como sempre fiz, aceitei o desafio. Então todo final de mês lamentava a falta de dinheiro no ambiente do meu trabalho, aí uma colega minha falou para eu passar o meu salário para ela administrar para mim. Isso foi uma agressão sem limites de uma colega. Ela não tinha filhos, e eu tinha quatro e pagava pensão para dois, logo minha situação financeira alterou muito. Passei a fazer empréstimos quase todos os meses para pagar as contas. Aguentei esta situação por um ano e depois voltei para o meu antigo trabalho nas escolas com a carga horária completa... Pronto! Situação resolvida. Outra pessoa fez melhor, não me deu conselho, mas ao me ver andar de cabeça baixa na rua, me disse um dia, me valorizando: "Você não merece andar de cabeça baixa". Não devemos nos oferecer para resolver problema de ninguém, ou mesmo para ajudar, a não ser que sejamos solicitados, afinal cada um deve dar contas de seus compromissos. Todos nós temos um pouco de amor próprio e vaidade; isto é normal. Não queremos depender de ninguém. Não queremos revelar nossos problemas para ninguém, e também ninguém quer ouvir lamentos de outros, pois já possuem os seus; então como terão noção de nossa realidade? Como diz a música: "A dor é minha; é minha dor!"
28.09.22
71. Uma eleição "Padim Cícero" no século XXI
Muitos conhecem a história do Padre Cícero, um "milagreiro do Nordeste" que mantinha suas fraudes para unir o povo. Coisa até louvável que aprendi com leituras de livros na Faculdade. Inclusive o "santo" padre foi deputado e nunca assumiu o cargo. Não era chegado à política de sua época. Este fato histórico ajuda a compreender um pouco a eleição de 2022. Um candidato ligado à tradição religiosa, familiar e dos costumes de nosso povo; e outro que virou um "Padim Cícero" por sua história de ligação com o povo através de seu partido chamado dos trabalhadores (PT), mas que pouco defendeu o trabalhador quando esteve no poder, defendeu mais quando fazia oposição. Então tivemos uma eleição caracterizada por uma disputa entre esquerda e direita que se confundem, pois ideologia é coisa do passado.
Assim foi a eleição para Presidente em 2022, especialmente no segundo turno quando houve a concretização da polarização esquerda/direita já esperada. De um lado um Presidente de origem militar, que por esta origem já traz uma grande rejeição, devido ao Regime Civil-Militar (1964-1985), e outro motivo de rejeição, foram suas palavras pouco usuais para quem ocupa um cargo de Presidente da República, especialmente em seu linguajar muito liberal, talvez com a intenção de se aproximar mais do eleitor, que em muitos casos preferia um vocabulário tradicional para uma autoridade, o chamado "politicamente correto", afinal somos uma sociedade conservadora, além de incitar o conflito com seus opositores, (críticos da imprensa, inclusive falaram que fazia isso para provocar conflitos, elemento de sua estratégia de comunicação), mas fez um bom governo, mesmo tendo enfrentado uma pandemia que dizimou milhares de vidas no Brasil e no mundo. Bolsonaro com sua postura firme de político de direita, deu vida e dignidade a esta camada majoritária da sociedade brasileira, que terminou por sua influência, assumindo a postura política de direita, fato novo na História do Brasil, pois antes tínhamos vergonha de assumir nossa opção política. Na década de 1980 ninguém falava que era de direita; ou se era de esquerda ou ficava calado e votava na direita. E os intelectuais, especialmente os de Faculdade, artistas de todos os ramos, eram, em sua maioria de esquerda, parecia um modismo herdado da Revolução Francesa, pois a esquerda foi aquela que combateu o Absolutismo francês.
Por outro lado tínhamos um candidato de passado complicado. Foi um líder sindical influente a partir da década de 1980, principalmente em sua luta de combate ao Regime Civil-Militar, e dessa sua luta sindical surge o Partido dos Trabalhadores (PT), que se organiza com a presença marcante dos trabalhadores de todos os setores, principalmente de metalúrgicos e professores(as). Em seu início teve o apoio de muitos intelectuais de esquerda e até da Igreja Católica com suas várias Pastorais, inclusive com a criação da Pastoral Operária e das Comunidades Eclesiais de Base, sendo que esta última teve grande participação na formação política dos cidadãos. No princípio não se pensava em participar do governo no Poder Executivo, mas com o crescimento do Partido viram esta possibilidade, e começaram a articular possíveis candidatos para os cargos tanto no Legislativo quanto no Executivo. Mas sua origem sempre foi um partido de oposição, prática que aprendeu a realizar com muito dinamismo e organização. Com seu fortalecimento, o PT passa a lançar candidatos a todos os cargos do Legislativo e Executivo. Obtém enorme sucesso no meio da população por sua pauta de propostas sociais, o que agrada muito ao povo, especialmente quando trata da Educação e Saúde, Só que quando assumiu o poder passou a tomar atitudes que contrariavam sua ideologia socialista, ou seja, fez acordos com políticos de direita que já estavam no poder por longo tempo, como o caso de José Sarney e Paulo Maluf, conhecidos por seus envolvimentos em corrupção. Em seus dois governos, Lula se envolveu em esquemas de corrupção nunca vistos no Brasil, mas superou, durante seus mandatos todos os processos, mesmo saindo presas pessoas importantes de seu governo, como alguns Ministros. Para sua sucessão indicou sua Ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, que terminou perdendo seu segundo mandato por irregularidades no governo. Lula, mesmo depois de sair do governo, foi julgado por vários crimes e foi preso por um ano e meio mais ou menos. Consequentemente sua volta à Presidência foi muito complicada, pois foi chamado constantemente de ladrão e corrupto. Mas foi favorecido por um sistema de mídia e pelo Supremo Tribunal Federal que o absolveu de todos os crimes para que pudesse voltar a se candidatar e combater o candidato Jair Bolsonaro, representante da direita conservadora do Brasil. Sua eleição, conforme muitas publicações, foi garantida por grande número de fraudes eleitorais, pois o mecanismo do voto auditável, como é feito quase que no mundo todo foi rejeitado pelo Congresso, fator que certamente facilitou as fraudes, pois no processo eleitoral atual o eleitor não tem um comprovante de seu voto. Este candidato venceu as eleições por sua postura "Padim Cícero", mas sem a boa intenção do personagem histórico.
15.11.22
72. A classe política e o povo