Introdução
Nas capas e na Introdução, a autora, já mostra como o título do livro é impactante, pois desfaz, seguindo o título ao pé da letra, tudo que se produziu sobre a educação de filhos até hoje, desde a Antiguidade até os dias atuais. Mas o que se percebe por um público um pouco atento, é que o título tem este objetivo mesmo, ou seja, tornar o leitor receoso a tudo que já leu até hoje sobre o assunto. Mas para o leitor crítico o que fica claro, é o interesse comercial atrás do nome do livro. Li por curiosidade ou para combatê-lo. Mas esses interesses logo se desfazem (menos o comercial), quando a autora valoriza o trabalho dos especialistas em Educação, como médicos e educadores. Ou seja, não dispensa a ação desses profissionais na difícil missão de educar nossos filhos. Sou pai de quatro filhos e utilizei livros e o bom senso, como a autora defende, na educação de meus filhos, e hoje, são adultos vitoriosos na vida e na profissão. A autora defende, principalmente o uso do bom senso e da opinião de amigos na educação dos filhos.
Desenvolvimento
Nos primeiros capítulos segue o que propôs na Introdução: uma educação centrada no bom senso dos pais. Mostra como historicamente, a Igreja Católica foi a detentora, durante séculos, de quase todos os ensinamentos sobre a vida das pessoas. Mas com o avanço da tecnologia e o acompanhamento natural da sociedade, fez a Igreja se afastar desse papel. Aí entram os especialistas e aqueles nem tanto, mais aproveitadores da inocência intelectual de muitos, em harmonia com o bom senso dos pais na solução dos problemas educacionais. Logo só bom senso não resolve. Tive uma experiência com minha filha que quis obedecer apenas ao seu bom senso para corrigir sua filha que insistia em falar que não fez determinada coisa que incomodava a mãe, assim se configurava uma mentira; a partir daí começou a tortura da criança de cinco anos: a mãe falava que a filha estava mentindo, e a filha jurava que não. Ainda bem que não houve agressão física. Falei com minha filha que sua filhinha não estava mentindo, ela queria apenas estar de bem com a mãe fazendo o que ela gostava. Mandei uma cópia de um texto sobre a evolução comportamental da criança através da idade para ela ler. Ficou provado que a criança não estava mentindo, pois naquela idade as crianças não mentem como nós, ou seja, de forma planejada. Só depois dos sete anos começam as famosas mentiras para enganar os outros. Interessante notar que a autora refere-se à questão da individualidade da criança, portanto, cada uma tem uma maneira de reagir aos estímulos, pois cada um de nós é único no mundo, é a tal da natureza inata. Além do ritmo de aprendizagem do aluno ou da criança variarem, ou seja, uma criança absorve um ensinamento ou orientação de forma diferente. A questão do nível cultural dos pais também é destacado pela autora. Além disso sabemos que poucos pais têm o hábito da leitura, então têm de usar o bom senso ou alguma experiência de família e amigos.
Apesar do titulo do livro afirmar explicitamente para não usar livros para educar seus filhos, que acima afirmei que foi uma forma de atrair leitores, e parece que a fórmula afastou os leitores, pois o livro continua em sua primeira edição desde 2003, ou seja, há mais de 20 anos, é um excelente livro para ajudar os pais a educarem as crianças. A autora cria uma "pedagogia" da Educação Infantil muito interessante, pois defende um equilíbrio entre os ensinamentos tradicionais de nossos antepassados com as novas teorias científicas. Como é uma professora de História faz uma exposição das práticas educacionais desde a Antiguidade, principalmente da Grécia, passando pelo Renascimento. Mostra que devemos usar a razão, mas sem nos esquecer do sentimento dos filhos e dos pais, quer dizer, nossa humanidade no uso das práticas educativas, e não apenas uma metodologia científica com normas prontas, pois para educar nossos filhos precisamos respeitar sua identidade cognitiva e afetiva, e precisamos identificar os sinais deixados pelos filhos que nos ajudam a ajudá-los em seu comportamento. Os sinais ou dicas são percebidas quando a criança revela uma atividade que gosta de fazer, seja a mais simples possível, neste momento os pais devem aproveitar a oportunidade como espaço de educação e participação na vida da criança, e até ampliando suas intervenções de interesse do filho ou filha.
A autora passa a mostrar as diferenças entre a educação das crianças em meados de 1950 e nos dias atuais. As famílias, até as décadas de 1950/1960 eram mais numerosas, e as mães não precisavam trabalhar fora, constituindo uma humilhação quando a mesma teria de fazê-lo, pois denotava que o pai não estava dando conta de manter a casa, ou exercer com eficiência seu papel de provedor econômico do lar. Portanto as mães ficavam mais tempo em contato com a criação/educação das crianças, e tinham um papel preponderante em sua educação. Ensinavam a se comportar à mesa e outros ensinamentos para uma convivência harmoniosa na família. E não só a mãe participava do processo educacional, mas inúmeras pessoas de seu relacionamento como tias, madrinhas, amigas, avós... e sobre as avós, a autora mostra que o papel de educadora de netos é oportunizado, mas não era seu papel principal, pois já criaram e educaram seus filhos e filhas. Outra questão importante tratada no livro é a relação entre trabalho profissional e a educação dos filhos no ambiente familiar. A autora defende que tem que haver um tempo maior para o relacionamento com os filhos, mesmo se os pais precisam dedicar às suas profissões. Não importa só a qualidade do tempo dedicado às crianças, como defendiam no passado, mas também a quantidade de tempo de dedicação exclusiva.
A partir do meio do livro, a autora trata dos limites impostos às crianças em casa e na escola. Em toda sociedade organizada todos nós temos limites a obedecer, por exemplo não podemos fazer tudo que queremos se estamos incomodando os outros, como um música alta de madrugada, etc. Falando de História, a autora mostra que no Brasil e no mundo, até a década de 1950, os alunos e crianças viviam um clima de limites como se fosse natural, mas com a Revolução Cultural da década de 1960, este comportamento passou a ser invertido, como uma inversão de valores. Não se podia proibir nada, e tudo estava liberado, como na música "É proibido proibir". Mas a autora mostra que todos nós temos de conviver com os limites, mesmo os pais que transferem toda a educação de seus filhos para a escola, têm de saber que haverá limites na escola que devem ser respeitados, e muitas vezes não entendem isto, e passam a criticar a escola e os professores, e defendem sem razão nenhuma seus filhos(as), pois não entendem este processo ensino-aprendizagem nos dias atuais.
A autora utiliza bastante a História da Educação, principalmente no Brasil. Mostra como a escola da década de 1960 era dividida em Escola Pública e Escola Privada. A Escola Pública era reservada aos alunos de classe média e alta e os da Escola Privada era reservada aos alunos com um nível de vida econômico mais baixo, parece uma contradição, mas não era, pois sou desta época. Para entrar na Escola Pública o aluno passava quase por um Vestibular, e não era fácil passar; fiz um curso de Admissão de um ano, conforme orientação de meu tio que era professor de Português. Este fato a autora não comenta. Defende que o exemplo dos pais é o maior discurso educativo, mas muitas vezes os pais não têm tempo para este "discurso" e passam toda a obrigação para a escola que tem o objetivo de ensinar, mas que hoje nem isto fazem, pois têm que aprovar o aluno de qualquer jeito. Continuando a História da Educação, a autora retorna aos primórdios educacionais na Grécia e Roma, quando as crianças eram educadas pelas famílias até os 7 anos, principalmente pelas mães. Interessante notar que entrei para a escola pública em 1960, e tinha 7 anos. Era norma naquela época. Não tinha pré-escolar. Mostra, a autora que a criança a partir dos 7 anos tem condição de frequentar uma escola formal, pois já pode passar da ação para a operação. Defende, além de uma educação técnica, uma educação humanitária e emocional.
Termina o livro voltando à questão inicial: usar mais o bom senso do que manuais de educação, pois realça que cada criança tem personalidade própria, logo nenhum manual vai atingir todos os educandos da mesma maneira. Neste aspecto, a autora tem razão, mas em minha opinião os livros ajudam muito na educação de nossos filhos; o melhor é promover uma educação com toda colaboração possível, seja o bom senso e a tradição dos pais, família, amigos,,, e livros, é claro! O próprio livro dela é um excelente material de pesquisa e ajuda na criação/educação de filhos.
Eu recomendo a leitura! Linguagem fácil e formato leve para a leitura. Além de sua utilidade pedagógica.