Introdução
Os primeiros "historiadores" foram cronistas, pois a palavra crônica tem sua origem no deus grego "Chrónos" que é o deus do tempo. Em sua origem os textos dos cronistas faziam um registro dos acontecimentos históricos verídicos, numa sequência cronológica, sem um aprofundamento ou interpretação dos fatos. Portanto possui uma linguagem mais leve para o leitor. A crônica narra e faz uma análise dos fatos de determinado tempo e de sua realidade, e é também motivo da preocupação do autor com alguma questão, como a política, o povo, as eleições, a religião, a cultura, etc. A cidade de Nova Viçosa é uma preocupação prazerosa do autor, acreditando que a publicação deste livro homenageia a cidade e sua gente, que tão bem o acolheu e sua família. Apesar de ser um texto de forma simples e livre, apresenta normalmente três tipos principais, podendo mesclar os mesmos em sua produção, são eles: o narrativo, o argumentativo e o poético. As crônicas, geralmente, são textos curtos, que abordam o cotidiano de forma simples, e se possível com bom humor, que deve fazer parte de uma boa leitura, e de nossa vida diária, pois mesmo nos momentos difíceis não podemos perdê-lo.
A "Terra Prometida"
A chamada "Terra Prometida" é uma expressão bíblica do Antigo Testamento, que nas informações do texto sagrado significa a recompensa dada por Deus ao seu povo, depois de um longo tempo de sofrimento no Egito, onde todos viviam em um regime de escravidão. Mas aplicando a nossa vida diária quando encontramos um lugar que passamos a gostar e nos tornar participantes de sua vida social, nos referimos ao novo local, como nossa "Terra Prometida". E assim aconteceu comigo e minha família, pois nossa chegada aqui foi totalmente acidental, pois nunca pensamos em morar em algum lugar na Bahia. Chegamos em uma excursão, e nos encantamos com o pouco que vimos da cidade, isto em 2017. Eu nunca tinha vindo aqui e minha esposa já algumas vezes. Vimos umas pessoas vendendo imóveis na praia, e resolvemos comprar um. Em uma semana já tínhamos nossa casa na "Terra Prometida" de Nova Viçosa.
Os amigos
A Cultura
Os Artistas
Um pouco de História
A política
A Educação
Baianos trabalhadores
Povo acolhedor
Uma mistura baiana e mineira
Frans Krajcberg
A Baleia Jubarte - símbolo da cidade
O Natal
O Carnaval
O Forró do Asfalto
O vocabulário
A alimentação
O melhor clima do mundo
A Mata Atlântica preservada
O circuito de vôlei de praia
O vento sul
A maresia
As praias
A sujeira da Praia do Lugar Comum
A religiosidade popular
À Guisa de Desculpa...
O processo eleitoral
O Bosque
O Pier
O Mercado do Peixe
O Museu do Professor Luís
Tempos difíceis...
Turismo sem divulgação...
Minha última revolução do cotidiano
O Mistério da Biblioteca
Os amigos
Temos tantas referências aos amigos e à amizade, que só este fato nos mostra sua importância. A Bíblia diz que "Quem encontrou um amigo, encontrou um tesouro"; o escritor diz que "amigos são raros"; o cantor diz que "Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito." Este culto ao amigo manifesta sua raridade de tão importante que é, pois o amigo é um permanente parceiro em sua caminhada nos momentos difíceis e felizes. O poeta Vinícius de Moraes fala que o "amigo se reconhece", não o procuramos, acontece! Existe amigo falso? Acredito que não, apenas não o reconhecemos, pois depois descobrimos que nunca foi um amigo, mas sim um mero companheiro de viagem por nossa vida.
Uma mistura baiana e mineira
Nova Viçosa é uma terra privilegiada, pois conseguiu, ao longo de sua história, reunir duas culturas, que sempre foram muito próximas, principalmente em sua história, pois em Minas Gerais aconteceu, talvez o mais significativo motivo em busca da liberdade no Período Colonial, e na Bahia, dez anos depois aconteceu Conjuração Baiana, outro movimento revolucionário, que teve como característica principal, a participação de uma maioria de pessoas simples, enquanto, em Minas, o movimento teve uma presença maior de intelectuais e poetas, como Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Álvares Maciel, além de um grande número de padres. Os território limítrofes, trouxe uma maior aproximação de seu povo trabalhador, inclusive foi criada uma estrada de ferro ligando o sul da Bahia a Minas, com o seu término em Teófilo Otoni. Inclusive consegui um vídeo desta estrada de ferro, feito em 1928, por alemães moradores do local, e mostrei para o meu pai que morou em Teófilo Otoni, e ele me afirmou que viu a locomotiva circular na cidade quando ele morou lá.
O Vento Sul
O vento sul foi mais uma das formas de terrorismo psicológico que tivemos de nos submeter para nossa mudança para Nova Viçosa. Falavam dele como se fosse um fenômeno que impedisse nossas atividades diárias e da cidade, Mas como tínhamos duas árvores antigas na frente da nossa casa, que depois solicitei da Secretaria de Meio Ambiente, o seu corte, conforme solicitação da pessoa encarregada do serviço, e o motivo da derrubada era que as árvores estavam cheias de formigas, quase provocando sua queda; filmei um dia de vento sul para acabar com o mistério. Vi que era um vento diferente, mais intenso do que o normal da cidade, e às vezes, com chuva, mas que não prejudicava as atividades normais dos cidadãos. Mas a vida em comunidade é assim mesmo, cada um avalia todas as coisas com o seu olhar peculiar de ver o mundo, como disse o grande artista Leonardo Da Vinci: "O homem é a medida do mundo".
O Natal
O Natal é uma festa religiosa comemorada no mundo todo pelos cristãos, portanto é uma tradição importante para celebrar o nascimento de Jesus Cristo, logo é uma das festas mais importantes do Cristianismo desde a Antiguidade. Mas ao longo do tempo foi tomando outros formatos, inclusive com a introdução do famoso Papai Noel, que é símbolo natalino, mas também comercial, pois representa o ato de levar presentes ao Menino-Deus. Como o Natal é comemorado no dia 25 de dezembro, este mês torna-se um mês de muito comércio, pois os pais compram os presentes para os filhos neste período propício. E ainda entra a propaganda dos produtos no mercado. E a religiosidade fica em segundo plano. Quando viemos morar em Nova Viçosa, percebemos que a cidade não liga muito para o Natal, a não ser as Igrejas e seu seguidores. O próprio governo municipal não investe na decoração da cidade com as belas ornamentações natalinas, como luzes, festões, pisca-piscas, anjos, presépio, etc. O objetivo é incrementar o comércio sem deixar de lado a religiosidade cristã, sabemos que é difícil, mas é um desafio que toda a administração municipal deve enfrentar.
Tempos difíceis...
Quando falamos de tempos difíceis não falamos só de Nova Viçosa, mas de todo o Brasil. Vivemos um tempo de contradições e inversão de valores nunca visto no país. Hoje ser honesto passou a ser um defeito. A mentira virou verdade para a Justiça. Valorizar os mais velhos, respeitá-los e entender seus valores adquiridos pelo trabalho árduo desapareceu. Sua sabedoria é descartada em quaisquer opiniões. Como disse uma amiga de Nova Viçosa: "Velho só pode conversar com velho." Vivemos um individualismo exacerbado, quando os meios de comunicações e as redes sociais parecem buscar uma convivência solidária e coletiva. Quando falamos em democracia, entendem que todos devem pensar do mesmo jeito, e não como em sua origem grega de respeitar a opinião da maioria. Chegamos ao disparate de um governante autoritário fazer palestra para estudantes de Universidade Federal sobre democracia, e Ministro centralizador promover debate para perseguidos pelo STF sobre democracia. Precisamos ter muita saúde para conviver e sobreviver em um país com estas características políticas e sociais. Isto em pleno século XXI. Quem pensa que é na Idade Média, está enganado!
Tributo a Nova Viçosa - A cidade do Amor
Imagem da cauda da baleia Jubarte - um dos símbolos da cidade de Nova Viçosa
Em uma excursão para a pequena e aconchegante cidade de Nova Viçosa, me apaixonei pelo lugar. Minha esposa veio comigo e nem ficou com ciúmes, pois viu tanta gente apaixonada pela cidade, que percebeu, então, que não teria a menor chance... Compramos uma casa uma semana depois. Não para mudar logo, mas apenas para namorar a cidade e conhecê-la melhor. Namoramos por uns dois anos e depois mudamos para a cidade em 2017. Casamo-nos com o local. Minha esposa não é muito fiel ao novo casamento; coisa de mãe, pois ainda sente saudades de nossa antiga cidade, pois suas duas filhas, netas e netos ainda moram lá. Por isto, voltamos lá regularmente. Mas levo Nova Viçosa comigo, em minhas lembranças e no coração. Conto os dias pra voltar e rever meu jardim, o mar, a praia, o céu azul, sua paisagem natural e sua gente carinhosa; como se retornasse ao Paraíso que Deus criou e deu ao homem para viver feliz para sempre, como está na Bíblia. E todas as pessoas quando falo de Nova Viçosa dizem, mesmo quem não mora aqui, e vem só passear: "Eu amo esta cidade!" Ninguém diz: "Eu gosto desta cidade". Mas a maior prova de Amor a esta cidade veio de um estrangeiro - Frans Krajcberg. Um artista plástico, que tendo nascido na Polônia, adotou Nova Viçosa como sua terra, tendo vivido aqui por 45 anos, e produzido obras maravilhosas que colocaram nossa cidade na vitrine mundial pela qualidade de seu trabalho. Inclusive foi considerado o maior escultor do mundo. Foi pintor e escultor, e utilizou a matéria-prima da natureza de Nova Viçosa e de outros lugares em que morou, para produzir sua arte, além da madeira queimada das matas da Amazônia. Foi um amante e defensor militante da natureza. Além desse artista plástico de renome internacional, temos muitos outros artistas, principalmente artesãos, e também historiadores e escritores, que moram e amam Nova Viçosa, Merece destaque a médica e historiadora Jean Albuquerque, que também viveu longos anos cuidando da saúde de nosso povo, e aposentada continua convivendo com nossa gente até hoje. Como historiadora escreveu a primeira História de Nova Viçosa, publicando o Livro Retrato Histórico de Nova Viçosa - Bahia. Esta mulher batalhadora também escolheu, por amor, a cidade como sua terra. Por isso, Nova Viçosa só pode ser: a Cidade do Amor!
Nova Viçosa, cidade dos amores,
Nova Viçosa, cidade acolhedora.
Nova Viçosa dos caminhos para o mar.
Nova Viçosa, contigo quero me casar.
Nova Viçosa das morenas;
Mulheres de todas as raças.
Nova Viçosa do aconchego,
Nova Viçosa do sossego.
Cidade calma, pequena e serena.
Da Mata Atlântica preservada.
Da baleia Jubarte.
De gente educada.
De artistas escultores.
Dos bem-te-vis amarelos,
Do canto dos pássaros.
Aqui quero ficar.
E em teu leito me deitar.
Numa eternidade de sonhos de ninar.
Morar na Praia
Morar na praia é o sonho de muita gente depois que se aposenta, ou de assaltante de banco, nos filmes, é claro! Quando você consegue realizar seu sonho, as pessoas geralmente perguntam: "Você vai muito à praia?" A ideia que se tem é que você vai todos os dias à praia, mas não é bem assim. Sua mudança para um novo lugar, seja praia, ou roça para quem gosta, ou mesmo para outra cidade, termina criando uma nova rotina de atividades que você passa a praticar. Nas regiões de praia acontece assim também. Você faz compras, participa de eventos, encontra novos amigos, que muitas vezes, quase nem frequentam a praia. Logo você vai se adaptando a uma nova rotina. Eu quase não vou à praia, mas tenho o privilégio de ver o mar quando chego no meu jardim em frente à nossa casa. Às vezes, faço uma caminhada na praia, ou na avenida paralela à praia. Minhas esposa gostaria de ir todos os dias para fazer caminhada, mas não gosta de ir sozinha, por isso faz caminhada na própria área do terreno de nossa residência. Não sei ficar olhando o mar o dia todo à beira da praia, como alguns amigos fazem. Tenho muitas atividades em casa que gosto de fazer como jardinagem, marcenaria, leitura e escrita. Tenho uma rotina de pequenos trabalhos prazerosos em nossa casa. Gosto muito de ouvir música e ver filmes. Portanto, não dá para ficar sentado na areia o dia todo, como faziam Vinícius de Moraes e Toquinho, em Itapuã, em Salvador, na Bahia. Prefiro minha rotina caseira. Mas você pode perguntar: "Por que você mora na praia?" Respondo; "Estou em busca de qualidade de vida, morando em uma cidade pequena, com uma paisagem natural, portanto, longe da poluição da cidade grande e de seu trânsito infernal, em que nenhum idoso consegue se locomover com segurança".
Era uma biblioteca simples, aconchegante e muito organizada onde trabalhavam pessoas cultas e de forma voluntária, apenas pelo amor ao conhecimento e ao ensino. Seu acervo bibliográfico era pequeno, mas muito significativo para os alunos que que a frequentavam e o público em geral, incluindo enciclopédias, livros infantis, didáticos, romances, revistas, jornais etc. Mas são nessas pequenas cidades que acontecem fatos inexplicáveis, inclusive os filmes e séries exploram esta peculiaridade, ou seja, como se nada fosse acontecer naquele lugar quase esquecido do grande público. Era uma biblioteca pequena que atendia bem uma cidade aconchegante, pequena e litorânea. Numa noite calma, passa um estudante em frente à Biblioteca, e observa que a mesma estava toda iluminada, e em um canto da sala de leitura viu uma pessoa não identificada lendo um livro. Mas a iluminação não era normal, pois tinha um brilho em movimento em todo o espaço, onde surgiam imagens que pareciam livros e letras circulando pelo “céu” da Biblioteca. A notícia se espalhou rapidamente, pois o estudante contou para muita gente o acontecimento inédito e maravilhoso que estava ocorrendo na Biblioteca. Mas para sua surpresa, pouca gente conseguia ver o que estava acontecendo. E com o tempo muita gente foi tentar ver o mistério. Mas muitos não conseguiam ver nada. Apenas poucas crianças, jovens, adultos e idosos conseguiam ver o que acontecia ali. Pensou o estudante que podia estar tendo miragens ou ficando louco, pois não era todo mundo que conseguia ver o que ele estava assistindo com tanta facilidade. E a notícia se espalhou pela cidade. Fizeram pesquisas para ver se achavam uma explicação para o fato. Chamaram o Prefeito, o Secretário de Cultura, de Educação, o gerente da Biblioteca, os funcionários... e nada. Ninguém sabia explicar o motivo do mistério. Colocaram a notícia na imprensa, e também tiveram a ideia de fazer um concurso com premiação pra ver quem ia conseguir desvendar o que acontecia na Biblioteca. Esta motivação animou muita gente a especular a razão de tão inusitado acontecimento, numa cidade antes tão tranquila e pacata. Chamaram o Ministro da Educação, o padre, o pastor, o detetive... Colocaram na internet, no Facebook, no Instagram, no WhatsApp, no jornal, na TV... e nada! E à noite a rua da Biblioteca ficava lotada de curiosos. O povo adora uma novidade. E um mistério, é claro! Os comerciantes passaram até a trabalhar à noite pra vender seus produtos às pessoas presentes no local. Muitas lojas passaram a abrir à noite para atender aos curiosos, ação que fez melhorar muito o comércio do centro da cidade. Só alguns conseguiam ver os mistérios que estavam se manifestando. Flutuavam no ar; embarcações, aventureiros, jardins, paisagens naturais, o mar, livros, imagens de guerras, aventuras, romances, poesia. Mas a maioria não via nada. E como uma via láctea textos de livros de poesias, romances, História voavam sobre toda a Biblioteca iluminando-a com uma luz brilhante, e mostrando as letras e imagens dos livros e seus autores, como Castro Alves, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade e tantos outros. Mas muitos só viam escuridão em toda a Biblioteca, e outros as maravilhas acontecerem o tempo todo, como numa imensa via láctea cultural. E durante o dia as pessoas lotavam a Biblioteca para ver o local onde ficava o leitor ou leitora, pois era tanta iluminação que ninguém sabia se era uma mulher, um homem, uma jovem, um jovem... Mas nada encontravam. O lugar continuava vazio. Chamaram um detetive para investigar o local pra ver se tinha alguma armadilha no local. Uma saída ou uma entrada falsa na parede. Tipo os livros da Agatha Christie. Mas não encontraram nada de anormal. Cogitou-se até em quebrar a parede para ver se encontravam alguma coisa, mas o Secretário de Obras da Prefeitura não permitiu. Chamaram até o Bispo pra fazer orações e um padre exorcista para exorcizar o local e a criatura misteriosa. Veio o pastor para ajudar a expulsar demônios antigos que poderiam estar ocupando o lugar e a mente das pessoas. Sendo a Biblioteca muito antiga, até que justificava voltar ao passado para ver se não tinha algum espírito atormentando nossos cidadãos de bem. Buscaram ajuda até com a Polícia Militar e Civil, e nada. E alguém deu a sugestão de chamar até a Polícia Federal, a CIA e o FBI, mas a vaidade policial do lugar não permitiu. Chamaram benzedeiras, Irmã Diná (será que ainda é viva e continua atuando nos mistérios do além?). Enfim, reuniram todas as autoridades para resolver o problema. E nada! E os políticos não perderam tempo; organizaram até os palanques de campanha para a próxima eleição. Depois de todas as atitudes tomadas para resolver o problema, uma velhinha que sempre ia ver a maravilha que acontecia na Biblioteca todas as noites, e era frequentadora do estabelecimento desde a adolescência teve uma ideia, e mandou que fizessem um levantamento do nome de todas as pessoas que conseguiam ver o fenômeno. Não era muita gente, logo ficou fácil para o gerente trazer o nome de todas as pessoas que tinham visto a aparição até aquele momento. Muitos não levaram a sério a sugestão. Mas a velhinha insistiu, e disse que ia descobrir o mistério. Depois de feito o levantamento, começaram a questionar o que estes nomes tinham em comum, quase uma investigação policial das minisséries atuais. Depois de pesquisar e observar atentamente os nomes, a velhinha pediu para que verificassem se aqueles nomes eram de pessoas que frequentavam regularmente a Biblioteca, olhando os arquivos do computador. E a grande surpresa: eram todos os mais assíduos frequentadores da Biblioteca para alugar livros para leitura e fazer pesquisa. Então a velhinha falou: “Lembram do poema de Olavo Bilac: Via Láctea, que fala que só quem ama pode ouvir e conversar com as estrelas? ‘Que conversas com elas? Que sentido/ Tem o que dizem, quando estão contigo?/ E eu vos direi: Amai para entendê-las!/ Pois só quem ama pode ter ouvido/ Capaz de ouvir e de entender estrelas’. Pois a resposta do chamado mistério é que só aqueles que amam a leitura podem ver o milagre da via láctea cultural e literária na Biblioteca”. Muitos não acreditaram nisso! Mas muitos também acreditaram e continuaram a frequentar o milagre da Biblioteca todas as noites. O certo é que o número de leitores da Biblioteca aumentou, pois todos queriam ter o privilégio de ver tamanha manifestação cultural e mágica. Seria esta a explicação verdadeira? Só sei que o Amor é capaz de provocar milagres muito maiores do que ver uma Via láctea de livros girando no espaço de uma biblioteca, e com um(a) leitor(a) sentado(a) em uma cadeira lendo um livro (não seria você o leitor da cadeira, pois nunca foi identificado?) e ouvir e conversar com as estrelas como o poeta. Moral da história: Quem Ama a Leitura vê muito além da realidade.
Minha última revolução do cotidiano
Esta, com certeza, foi minha última revolução do cotidiano, pois não pretendo fazer nenhuma mudança de cidade ou Estado, jamais! Já mudei quinze vezes, e cansei. E desta vez mudamos para um Estado que nunca pensei em morar - a Bahia. Foi uma revolução a decisão tomada, e a viagem... quase uma aventura estilo Indiana Jones, pois foi tudo decidido sem quase nenhum planejamento. Minha esposa falou: "Se tem que frigir, assa!" E começamos a juntar as tralhas... Uma semana antes reservamos o espaço da antiga casa no Bairro Santa Terezinha II, em Cel. Fabriciano, para receber os amigos e amigas para uma breve despedida. O Daniel e o Túlio, os filhos homens, lá compareceram e fizemos um churrasco de linguiça e cerveja. A amiga Célia Assis e o marido também nos visitaram na ocasião. Falamos de nosso passado na rede municipal de ensino de Ipatinga e amenidades. Recebemos mais visitas: minha irmã Vânia, nossa amiga Dorinha Dias e sua irmã. Falamos de nossa adolescência e estudos do Ensino Fundamental na Escola Estadual João XXIII, no Bairro Iguaçu, em Ipatinga. No dia de arrumar a mudança ficamos assustamos com o tanto de objetos que tivemos de embalar. Cada hora aparecia mais uma coisa. Colocamos tudo em caixas e sacolas de plástico, exceto aqueles objetos que podiam ser deslocados sem embalagem, como geladeira, fogão, mesas, cadeiras, bicicleta, etc. O Ateliê da Sueli foi o mais complicado para embalar, afinal tinha muito material pequeno. Mas ela deu conta. Teve uma hora em que olhei para o espaço no caminhão para colocar a mudança, e vi que estava quase cheio, e olhei para a casa e tinha coisa demais para subir... Deu um desânimo, mas superei e lotamos o caminhão, mas ainda ficou bastante coisa para pequenas mudanças nas viagens de Fabriciano para Nova Viçosa. Sem contar os objetos que doamos para amigos e familiares. A casa ficou lotada de pacotes de mudanças por todos os cômodos. A mudança foi feita em um caminhão baú e nós viajamos de ônibus da Gontijo, no mesmo dia 10 de novembro de 2017, com saída às 21h5min de Cel. Fabriciano, conforme previsão do horário. O ônibus atrasou uma hora na viagem de Belo Horizonte a Coronel Fabriciano. Saímos depois das 22 horas. Com a correria para arrumar a mudança e pegar um táxi até à rodoviária de Cel. Fabriciano, esqueci minha bolsa contendo o celular e medicamentos na varanda da casa do Bairro Santa Terezinha II. Quando chegamos em casa, em Nova Viçosa, ligamos para o Daniel pedindo para ir à casa e pegar a bolsa, e posteriormente enviar seu conteúdo pelo Correio. No sábado pela manhã chegou a mudança para ser descarregada. A viagem foi boa como de costume, e chegamos bem e no horário previsto, lá pelas 8 horas do sábado, 11 de novembro de 2017. Na viagem tivemos a presença da nossa amiga Cacau, que geralmente viaja de carro, mas o mesmo estava na oficina em Ipatinga. O motorista do ônibus, a partir de Governador Valadares, era muito brincalhão e alegre, e com aquele sotaque nordestino. Enfim, divertimos em toda a viagem. Era o começo de nossa diversão e realização de nosso sonho de morar na praia. A arrumação foi dureza. Muita coisa espalhada, apesar da tentativa de fazer uma prévia arrumação dos móveis e objetos da viagem durante a descarga do caminhão. Mesmo assim ficou uma confusão de caixas e de sacolas espalhadas pela casa, varanda e corredores dos dois andares da casa. Pouco a pouco fomos montando móveis e deslocando os objetos da mudança para seus locais definitivos. Mais de um mês depois da mudança ainda ficamos arrumando os dois andares da casa. A demora se justificava pela continuação da reforma do segundo andar. Tivemos de ter "muita paciência nessa hora", como diz o filme. Mas valeu o sofrimento inicial para a admiração e alívio do final. Afinal, estamos morando na praia tão sonhada por nós. Agradecemos a nossa família pela compreensão e ajuda quando precisamos de informações e decisões para guardar os objetos que ficaram faltando na mudança, pois o caminhão não conseguiu trazer tudo. Agrademos especialmente ao meu irmão Lula e sua esposa, Maria José, a nossa irmã Vânia e seu marido, Guilherme, pelo empenho em acomodar tudo que ficou por vir. Aos filhos e filhas pela atenção e ação em todos os sentidos para nos ajudar nessa transição de vida. Obrigado a todos e todas! A emoção dominou todo o processo de mudança. Na saída, na viagem, na chegada. E ver o "nosso mar" a partir de agora, e esperamos que seja para sempre. A emoção, a alegria, e o prazer precisam continuar..
À guisa de desculpa...
Mudamos para Nova
Viçosa no dia 11 de novembro de 2017. Viemos de uma região industrial de Minas
Gerais. Queríamos o aconchego de uma cidade pequena, e aqui encontramos um
acolhimento duplo: da cidade e de seus carinhosos moradores. Não esperávamos
tanto carinho por parte desse povo, ainda desconhecido. Chegamos aqui e tivemos
algumas informações meio assustadoras, mas não ligamos. Algumas poucas pessoas
fizeram um terrorismo, não sabemos se era sério, ou se era só para nos
inteirarmos de um pouco da cultura da cidade. Teve um morador, que inclusive me
interrogou sobre o motivo de nossa mudança. Na época, a internet era péssima;
ficava aquela bolinha girando, e testando nossa paciência. Era a única da OI.
Depois vieram as empresas de internet, e aderimos logo à primeira. Com a nossa
chegada as coisas foram melhorando aos poucos. Lembro que a coleta de lixo era
um caos, além da iluminação pública. Era normal o pagamento de eletricista para
trocar a lâmpada no poste. Continuamos a acreditar na melhoria da cidade. E
além disto, “brasileiro não desiste nunca”. Lembro de uma senhora falando
dentro do ônibus na chegada à cidade: “Venho aqui há 20 anos, e esta cidade não
muda nunca”. Agora se ela voltar não vai mais falar isto. Buscando a melhoria
da cidade, colocava reclamações nas redes sociais, e nada. Muitos desistiram
desta prática sem resultados. Mas vieram
as novas eleições, e a esperança sempre presente. Participei de um debate com a
candidata Luciana Machado, a convite de uma vizinha professora,
antes das últimas eleições, em outubro de 2020 (foto), e fiz duras críticas à
classe política, pois acompanho as eleições há muito tempo e vivi todo tipo de
prática política, e a maioria não é digna de louvor. No encontro a candidata
falou que “Existem maus políticos e bons políticos”, não discordei, mas
destaquei o que acontecia em nossa cidade na época. Votei na candidata e
participei de uma pesquisa via internet sobre as demandas da comunidade em
relação ao seu mandato. Depois de 3 anos de mandato vi a diferença de seu
governo comparado com o anterior. Desde que mudamos para Nova Viçosa comecei a
pesquisar e anotar tudo sobre a cidade. Depois de pesquisas, inclusive com os
moradores, pude perceber como a cidade mudou sua aparência a partir do mandato
do novo governo. Não fez tudo que a cidade precisa, e nem poderia no curto
mandato exercido, mas como já se percebeu sua capacidade de ótima administradora,
certamente irá focar seu segundo mandato (se vencer, é claro!), no atendimento às
lacunas que ficaram, pois, todas as cidades precisam de realizações
permanentes, é da natureza da pólis. Acredito que, pelo excelente trabalho
realizado, ela mereça um novo mandato para continuar sua obra. Em minha
opinião, seu mandato pode ser comparado aos 50 anos em 5, plagiando Juscelino
Kubitschek, pois o que ela realizou em seu mandato, a maioria dos prefeitos não
realizou em um período muito maior. Mesmo não precisando mais votar, pela
idade, darei meu voto consciente a ela. Fazendo justiça com a política: “A arte
de bem governar a cidade”.
Os Amigos
Como diz a Bíblia: 'Quem conseguiu um amigo, encontrou um tesouro." Realmente ter um amigo verdadeiro é muito rato. E aqui em Nova Viçosa encontrei, não um, mas dois verdadeiros amigos; o Samuel e o Lequinho. Duas pessoas que me dão muito prazer com suas companhias, além de perceber suas preocupações com a minha saúde, pois me visitam regularmente, coisa que nunca tive em minha longa vida em nenhum lugar em que morei. É uma felicidade tê-los como amigos! Além do mais temos muita diferença de idade, fator que não atrapalhe em nada nossa amizade. Espero que estas amizades permaneçam para sempre.
Em uma crônica de Vinícius de Moraes, este afirma que "... enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!", mas em um livro sobre sua vida, é revelada sua decepção com muitos deles. Isto quer dizer que não eram seus amigos, mas "companheiros de viagem" nesta vida. Quando nossa vida está boa, especialmente a financeira, temos muitos "amigos", mas quando perdemos essa condição, ou adoecemos, esses chamados de amigos somem. Lembro de um vizinho meu aqui em Nova Viçosa, ter me contado ter vivido uma fase de sua vida em que tinha muito dinheiro, e era cheio de amigos, especialmente quando levava a turma para o bar e pagava todas as despesas. Quando sua situação piorou e acabou o dinheiro, só restou um só amigo, que inclusive era seu parente; este ficou com ele até sua recuperação financeira, e depois continuou seu amigo. Nestes tempos de redes sociais, vemos pessoas simples, e não famosas, com mais de dois mil amigos... será que são amigos mesmo? Claro que não, pois muitos foram adicionados por pertencer à mesma cidade, profissão, crença etc. Com o tempo e experiência você percebe quem realmente é seu amigo. O amigo surge em sua vida sem marcar hora ou dia. Ele acontece em sua vida e você o reconhece logo. De repente, você percebe. Este é meu amigo. O amigo alegra com a alegria do outro, não tem ciúme de um outro amigo, entristece com a tristeza do outro. Vivemos um tempo em que a política é discutida em todo lugar. Hoje temos informações e opiniões em excesso. Aí descobrimos quem é seu amigo. Se você defende um partido e o seu amigo outro, e convivem sem conflitos; você encontrou um amigo. Se não, perdeu um amigo, como perdi um de vinte anos, porque não apoiava mais o partido que nós dois compartilhávamos. Acordei a tempo diante de seu autoritarismo e ganância. Lembro de um amigo, inclusive é uma pessoa que mora em outro Estado, e correspondemos pelas redes sociais, que me surpreendeu com sua atitude, pois o meu time perdeu, e ele disse que ficou triste; já um outro ficava alegre quando o meu time perdia, com este cortei relações. Se conhece um amigo em momento de crise, e não em tempos de alegria. Num bar todos são "amigos" de bebidas. Mas na vida real é que se revela o verdadeiro amigo. E novamente Vinícius: "A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade". E pra encerrar com uma relíquia de Milton Nascimento: "Amigo é coisa pra se guardar no lado esquerdo do peito".