Como
a ave que volta ao ninho antigo,
Depois
de um longo e tenebroso inverno,
Eu
quis também rever o lar paterno,
O
meu primeiro e virginal abrigo.
Entrei.
Um gênio carinhoso e amigo,
O
fantasma talvez do amor materno,
Tomou-me
as mãos — olhou-me grave e terno,
E,
passo a passo, caminhou comigo.
Era
esta sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)
Em
que da luz noturna à claridade,
Minhas
irmãs e minha mãe... O pranto
Jorrou-me
em ondas... Resistir quem há-de?
Uma
ilusão gemia em cada canto,
Chorava
em cada canto uma saudade.
LUÍS
GUIMARÃES JÚNIOR
Justificativa: De vez em quando lembramos do tempo vivenciado em nossa família, com os amigos, na escola, no trabalho, na comunidade; enfim dos momentos que passamos ao lado de pessoas que nos deixaram boas recordações. Conversando com nosso pai recentemente, percebi que ele não se lembra, ou não quer se lembrar dos tempos antigos com amigos e familiares, e sabemos que com a idade avançada passamos a ter uma memória remota. Lembro do nosso pai nos contando históricas de seu tempo na roça, dos casos de seu pai (aliás, que sempre foi sua inspiração), e hoje não quer mais se lembrar de nada e nem conversar. Ele sempre foi muito bem humorado e engraçado, e tentei lembrar de coisas que ele falava, e que nos fazia rir muito, e ele me disse que não disse nada daquilo. Percebi então que com a idade muito avançada chegamos a este desânimo de recuperar até as boas lembranças, ou talvez seja o cansaço da própria vida; que nunca foi e nem é fácil pra ninguém. Daí esta publicação enquanto ainda temos gosto por estas lembranças, antes que cheguemos à situação de nosso pai. As emoções e a história não podem ser reconstituídas em sua integridade, mas vale a pena relembrar, mesmo que parcialmente, os nossos bons tempos. Vou colocar aqui minhas recordações, e espero a contribuição de nossos irmãos e irmãs nesta aventura de reconstrução de nosso passado glorioso. Aqui usaremos textos e imagens para ilustrar os acontecimentos. Da turma mais nova lembro de pouca coisa. Mas estes poderão informar suas lembranças para registrarmos aqui. Depois que casamos nos afastamos um pouco da família original, é natural isto acontecer, pois o ambiente familiar se amplia; surgem esposas, esposos, netos, netas, noras, genros, cunhadas, cunhados, sogras, sogros, cachorros, gatos...; portanto, passamos a conviver menos com a realidade de nossa antiga família. Aí, os mais novos tomam conta do espetáculo.
Lembranças boas, engraçadas e motivadoras
I - Infância
1. Lembro de nossa infância, os meninos brincando na rua sem asfalto em frente a nossa casa. Jogávamos futebol de dia, escorregávamos numa tábua morro a baixo na rua 9 (hoje é Espirito Santo), e à noite ainda tinham outras brincadeiras de pique-esconde, passar anel, e aquelas de que nem me lembro mais. Não nos preocupavam os perigos de um quintal no fundo da casa cheio de materiais cortantes, pedras, madeiras, caco de vidro, etc. E não me lembro de ninguém se machucar. Não havia caminhão coletor de lixo e nem preocupação com o meio ambiente por parte das autoridades. O lixo era jogado na beira do Rio Piracicaba.
2. Esta a Vera me contou, pois eu não me lembrava deste fato: ela disse que na Rua 2, nossa primeira casa, as famosas faixas contínuas (grandes barracões que comportavam várias famílias lado a lado), que mais tarde foram derrubadas, e passamos a morar na Rua 8, atual Manaus, quando pai comprou a casa da Usiminas, depois de acertar o tempo trabalhado e começar tudo de novo com o chamado FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço) criado pelo Regime Militar; os filhos e filhas dormiam numa única cama de casal, e que depois nosso tio Maninho, falou para o meu pai separar os meninos das meninas, e pai construiu um novo cômodo só para os homens. E o interessante, conforme depoimento da Vera, é que ninguém reclamava de nada. Nem brigas entre os filhos tinha; nem por mais espaço. Tudo que nossos pais davam estava bom. Diferente de hoje quando os filhos cobram muito dos pais.
3. Esta foi o Dô que me contou sobre a nossa moradia na Rua 2 - a famosa e misturada faixa contínua, onde as casas eram grudadas umas às outras, ou seja, com pouca ou nenhuma privacidade. Ele conta o fato que eu não me lembrava: "Eu ficava deitado na cama olhando para o telhado até dormir. Neste período ratos, de tamanho de gato, passavam pelo caibro de madeira que vinha das casas vizinhas. Os caibros atravessavam de uma casa pra outra. Parece que eles passeavam no percurso do bloco inteiro de casas.". As casas formavam, na verdade, um grande barracão dividido para algumas famílias. Depois foram derrubados quando os funcionários da Usiminas compraram as casas da empresa. Ainda bem que os ratos não caíam sobre a nossa unida família, em todos os sentidos.
4. Esta é minha recordação da nossa casa na Rua 2, a famosa faixa contínua. Lembro que nossa casa teve uma rachadura enorme, pois foi construída sobre um aterro, como quase todas as casas do bairro. Não me esqueço das máquinas trabalhando para aterrar outras áreas perto da nossa casa. Também me lembro da grande mata que existia um pouco abaixo da linha férrea e do cheiro da flor do maracujá no meio do matagal. Aliás tem um cheiro forte e bom, sendo que esta área também foi aterrada para a construção de novas casas. A rachadura era enorme, mas continuamos morando lá. Depois pai solicitou o conserto pelos operários da Usiminas, e passamos a ficar e dormir debaixo de uma grande lona até que consertassem a rachadura. E Deus no comando!
5. Fazíamos cavernas no meio do mato e lá conversávamos (não sei o quê), e nossos pais nem sabiam onde estávamos. Deus cuidava, certamente, e evitava até de picadas de insetos... Era uma vida simples e natural como mostram as imagens abaixo. Mas éramos felizes.
6. Dos meus amigos, o que eu mais tinha ligação era o Nô. Torcia para o Vasco por causa do irmão mais velho. Eu era um vira-folha: já fui Flamengo, Fluminense e Botafogo... menos o Vasco, é claro, por causa do Nô. Ouvíamos os jogos no rádio, e juntos. Estamos vivos ainda. Eu e o Nô éramos engraxates dos peões das empreiteiras que tinham no bairro. Lembro de nós dois carregando as caixas com os materiais para engraxar debaixo da chuva, e um dia a minha caixa caiu na lama e xinguei demais... Lembro também de vender doces e pirulitos nos alojamentos (mãe fazia um doce em pedaços que era uma delícia), e um rapaz me deu um dinheiro, porque falou que eu era parecido com o Rock Hudson. Trabalhei quando criança limpando vidros sujos de tinta das casas em construção na frente da nossa casa. Não sei o que fazia com o dinheiro, e nossos pais não comentam estes assuntos. Também nunca perguntei. Os mais novos não sabem disso. Um dia pai falou que só trabalhamos depois dos 18 anos... aí eu falei: "Foi pai?". Ele ficou calado. Esta é uma boa característica de nosso pai: não discute com ninguém, fica na dele, certo ou errado.
7. Entrei para a escola com 7 anos, pois era o costume da ápoca. Nesta época já devia ter uns 5 filhos(as) esperando o tempo escolar. E todo ano chegava um novo recém-nascido, e não me lembro de nenhum ciúme do que estava chegando, como hoje. Acho que eram tempos pacíficos, e o que queríamos mesmo era sobreviver diante das circunstâncias, das quais não podíamos modificar e nem questionar. Inclusive nunca vi uma criança reclamar da alimentação que nossos pais nos ofereciam. Hoje é um tal de não gosto disto, não gosto daquilo... Não sei se com os mais novos foi assim. Repeti as duas primeiras séries no Primário, pois entrei para a escola sem saber fazer a letra a. Depois ajudei a alfabetizar os mais novos. Lembro de levar o Marcelo a Fabriciano e ir mostrando as placas das lojas para ele ler. Quando desenvolvi na escola passei a dar "aulas" na varanda de nossa casa (que era uma faixa contínua na Rua 2), para os vizinhos.
8. Este fato marcou a minha vida... pra melhor, é claro! Quando era criança ganhei um cachorrinho marrom e branco. Era uma lindeza! Levei pra casa e fui mostrar pra pai. Aí veio a surpresa: pai só falou assim; "volta e devolve!". E naquela época criança não discutia com pai, mesmo um pai pacífico como o nosso. Voltei calado e devolvi o cachorro. Nunca mais tive cachorro. E hoje corro deles. Será trauma? A Verônica sabe, a psicóloga da família. Nem os irmãos e irmãs tiveram cachorros. Mas gato o Dô teve demais, até o Lemão pegar uma doença séria deles (toxoplasmose), e pai colocar todos no fusquinha e espalhar no Bairro Mangueiras.
9. Esta é do Lula: na janta quando era sopa de macarrão ele só comia com garfo, e o garfo dele, outro não servia. Faltou mãe deixá-lo com fome... mas mãe é mãe! Faz todas as vontades dos filhos.
10. Nas brincadeiras, o Dô era o o campeão dos jogos de tampinhas de garrafa. Enchia a lata do que ele ganhava. Jogávamos biroscas também. Eu, nos jogos, era normal. O Lula sempre foi o craque de futebol da família, inclusive, já na adolescência, fez testes em times profissionais como o Valério Doce, de Itabira, e o América Mineiro, mas machucou e ficou no amador do Amaro Lanari, dando show de bola.
Olha o Lula aí!11. Eu sempre tive espírito de liderança, certamente por ser o filho mais velho. Organizava times de futebol infantil e até criei um que dei o nome de São Roque, não sei a razão do nome. Só sei que tinha a camisa verde no meu projeto de camisa. Jogava no gol, na linha, mas sem ser craque em nada. E naquela época não tínhamos bola de couro como hoje, usávamos bolas de meia (isto mesmo, fazíamos pequenas bolas de meia com enchimento de outras meias, e pra acabamento uma meia por cima para amarração, acho que era assim que se fazia - fiz um modelo pra mostrar), e o sucesso eram as bolas de plástico. Quadras de esporte, e bola de couro, nem pensar, jogávamos era na rua mesmo, ou fazíamos um campinho no meio do mato. Os jogadores pegavam a enxada e faziam o campo. Abaixo imagem de bola de meia. O Marcelo vai adorar!
12. E por ser o filho mais velho, mesmo sendo criança, era aquele que fazia algumas atividades para a família que os mais novos não sabiam fazer... ou seja, já tinha alguma experiência de vida; os pais deviam pensar assim. Por isto, era eu quem fazia algumas pequenas compras em lojas e armazéns, as maiores pai fazia. Lembro que mãe me mandava comprar alguns poucos produtos, e quando eu ia saindo, já na rua, ela gritava: "Beto, traz mais um carretel de linha branca...". Isto me irritava, e eu saía xingando. Mas na verdade, eu não gostava, porque era mais um item pra eu decorar, e falar alto no caminho, pois ia falando o que tinha que comprar em voz alta: um carretel de linha branca, uma agulha, uma massa de tomate... Era engraçado, porque terminava esquecendo alguma coisa. Não tinha o hábito de anotar em um papel... Hoje anotamos no celular. Novos tempos!
13. Sempre gostei de música desde criança. Até cantava músicas do Roberto Carlos, e os irmãos tinham de me aguentar, afinal eu era o mais velho. Lembro de mãe me gritando na rua: "Beto, vem ouvir O Calhambeque". Eu adorava esta música e as outras da Jovem Guarda.
14. Esta é da Vera. Um dia uma pessoa foi lá em casa pedir uma ferramenta emprestada para pai, e este falou que não tinha a ferramenta, não me lembro qual. Aí, a Vera, criança ainda, falou pra pai: "Tem sim pai, tá lá no fundo.". Pai deu uma resposta que também não me lembro qual, e se emprestou a ferramenta. Deve ser uma enxada ou outra coisa qualquer. Lembrem-se: criança não mente e não deixa mentir. Se for mentir faça-o longe de criança. Além da sinceridade que é próprio delas.
15. Agora é a Leia. Quando a Leia nasceu, mãe fez uma reunião de família pra escolher o nome dela. Sei que Valéria era forte, pois tinha que ser um nome com V. Aí vem o Beto e diz: Vanderleia. Era a cantora da moda e da Jovem Guarda, e ficou Vanderleia. Acho que ela continua gostando do nome. Será?
16. Esta é do Lemão. O único irmão que fez o Primário sem quase frequentar a escola. As professoras levavam as atividades lá em casa pra ele fazer. Não queria ir à escola. E foi o único também a fazer tratamento com uma psicóloga - a Dra. Penha. Ela disse que ele não tinha nenhum problema. Informação de mãe. E naquela época ser atendido por uma psicóloga era raridade. Também conta que nas brigas de rua falava que ia falar com seus irmãos mais velhos: aí acabava a discussão. E gostava de avacalhar as peladas se não jogasse. E não era o dono da bola...
17. Agora o Marcelo é o centro das atenções. Quando criança ele me ouvia tocar uma música americana que eu adorava, e que na época, fazia muito sucesso, e que tinha um refrão muito repetitivo. A música era do conjunto The Walkers, que praticamente só fez sucesso com esta música. E no início do refrão começa com o repetido à exaustão: Oh! Oh! Oh! E o Marcelo, ainda pequeno falava assim: "Toca o Oh! Toca o Oh!". E eu tinha que ficar repetindo a mesma música o tempo todo. A música era There's no more corn on the brasos.
18. Quando eu era recém-nascido, mãe me conta que quando ela cuidava de mim parecia uma criança cuidando de outra criança, afinal ela tinha apenas 17 anos. E depois vieram mais nove, e estamos todos(as) aqui, graças a Deus!
19. O normal de nossa alimentação de frutas, quando éramos crianças, era a banana - a saborosa e nutritiva banana. Mas quando alguém adoecia, pai perguntava se queríamos comer uma maçã. E, é claro, aceitávamos, com prazer, a fruta proibida. Incrível, mas hoje prefiro a banana. A Leia recordou esta passagem de nossa vida. Mas eu me lembro do fato também.
20. Quando eu era criança e nosso pai trabalhava no Posto Médico do Amaro Lanari, que funcionava em uma casa (acho que era na Rua 32), perto de onde funciona a Igreja Maranata hoje; eu levava café pra ele todas as tardes. Num dia de chuva fui levando o café, e fincando a ponta do guarda-chuva no chão, até que de repente acertei meu dedão do pé direito. A ponta ficou agarrada no meio da unha. E eu, corajosamente, levantei o guarda-chuva e tirei a ponta que estava equilibrando no meu dedão. A unha caiu e nunca mais nasceu perfeita. Tá aleijada até hoje.
21. Outra do mesmo pé. Jogando bola com os meninos da rua, num campinho ao lado da via férrea, um deles pisou no meu dedo menor do pé direito, e o mesmo deslocou-se ficando totalmente pra cima. Nosso pai amarrou o dedo com uma gaze, e no outro dia me levou ao Ambulatório Central, ao lado da Fiemg hoje. Lá o Dr. Fábio Franco, que naquela época fazia de tudo um pouco, puxou meu dedo com uma gaze, e quando terminou, eu falei para o nosso pai: "Se ele fizer isto de novo vou quebrar tudo aqui.". Nosso pai já me contou esta história várias vezes. Acho que naquela época nem usavam anestesia. Depois deste acidente passei a chutar a bola de futebol com o pé esquerdo, e o Daniel me vendo usar o pé esquerdo mais que o direito pra chutar bola; terminou ficando esquerdo do pé e direito da mão, como eu. Já adulto bati este mesmo dedo no pé do sofá, mas não ficou totalmente pra cima, como no acidente infantil, mas os médicos não conseguiram retornar à sua posição anterior, e desistiram... continua desalinhado pra cima.
22. Esta é da infância e de minha doentia timidez. E lembrem-se, este período marca todos nós pelo resto da vida. Acho que os pais deveriam se preocupar MAIS em cuidar e dar atenção às crianças neste período como se fosse o único de suas vidas. Além da memória nunca se apagar do que passaram. Viva o inconsciente! Por isso, o passado sempre volta! Não sei se é bom ou ruim, mas tem suas utilidades. Lembro de uma vez que fomos à casa de nossos avós em Acesita, e lá encontramos com nosso tio torto, Hamilton - aquele advogado casado com tia Mercês e que batia nela. Depois separaram. Na ocasião ele me falou alguma coisa que eu não me lembro o que era; e me chamou a atenção porque não teve resposta pela minha timidez. Aí ele me agrediu com palavras que não sei quais. E nossa avó Maria me defendeu. Não me lembro de quem mais estava lá, mas nunca me esqueci do fato. Ele certamente não se lembra disso, mas eu nunca vou esquecer.
23. De vez em quando nossos pais nos levavam à casa de nossos avós em Acesita, e raramente na casa dos avós do lado de mãe que moravam; acho que era na Cava Grande, que hoje é uma cidade. Nossos avós de Acesita tinham uma vida financeira boa, pois quase toda a família trabalhava na Companhia Acesita, e moravam em uma ótima e ampla casa no Bairro Timirim, em frente ao Hospital. Falo destas viagens no capítulo de Mãe e Pai (do acho que vai chover). Na volta da casa de nossos avós trazíamos roupas que nossos(as) tios(as) não mais usavam. Lembro de uma camisa que ganhei de nosso tio Zeca que eu adorava (era uma camisa grossa e cinza). Eu, certamente, já era pré-adolescente.
24. Éramos os primos pobres da família. Família numerosa. Pai operário da Usiminas e morando no bairro mais humilde construído pela Usiminas. Lembro da nossa mãe falando que nossos avós de Acesita quase só visitavam os filhos e filhas do Bom Retiro. E quando iam lá em casa (disto eu me lembro), nosso avô ficava perguntando: "Sutim, quando passa o ônibus?". Já viram como os nossos primos(as) do Bom Retiro são muito mais ligados aos primos e primas de Acesita, Itabira e Nova Lima? Este quadro de "primo pobre" mudou quando os filhos mais velhos da família passaram a trabalhar e a estudar, e até a fazer cursos superiores particulares. Mas as visitas continuaram do mesmo jeito. Elogios nunca recebemos de ninguém... mas isto não é importante. O que valeu mesmo foi o que conseguimos. Nossa vida melhorou muitoooooo.
II - Adolescência
1. Minha adolescência passei participando de Grupos de Jovens. Com mais ou menos quatorze anos já participava das Missas fazendo leituras. Não tive uma adolescência de envolvimento com jovens fora da Igreja. Não posso reclamar disso. Acho que como a maioria de meus irmãos e irmãs também foi assim. Mãe e pai faziam questão de que participássemos das Missas todos os domingos. Foi bom que não nos envolvemos com coisas erradas, como drogas, mesmo que eu não me lembre de alguém que usasse drogas no nosso bairro. Na adolescência a Vânia trabalhou no Supermercado do Tatão no caixa. Eu trabalhei no Bar do Tatão e na loja de confecções do Sr. Genésio, um comerciante que veio de Água Boa. O Dô fez Senai na Usiminas, e começou a trabalhar muito cedo, acho que com 16 anos. Foi o primeiro a comprar carro na família. Acho que era um Chevete.
2. Lembro da comemoração do Natal em nossa casa e na casa da tia Ana. Fazíamos um rodízio, cada ano numa casa. E o melhor é que íamos a pé à noite e na estrada de chão que ligava o Amaro Lanari ao Horto. O Bom Retiro acho que era asfaltado. Isto deve ter ocorrido no final da década de 1960 e início da década de 1970, pois alguns de nós já eram adolescentes e os outros crianças. Em 1975, alfaltaram todo o bairro, mas com algumas ruas com trechos vazios, não sei se a intenção era jardinar o local ou só economizar mesmo. Depois asfaltaram estes pedaços falhos. A ligação asfáltica até o Horto deve ter sido desta época.
3. O Marcelo aprendeu a dirigir o fusquinha de pai sem ninguém saber como foi. Pai conta que ele ia passando nas proximidades da Rua 7, quando ele olhou, surpreso; olha o Marcelo passando e dirigindo o fusquinha alaranjado, todo charmoso. Quem diria? Com aquela carinha de menino!
4. Outra do Marcelo. Estacionou a bicicleta na porta de nossa casa, e de repente alguém pegou a bike e saiu correndo, e o Marcelo disparou atrás do meliante. Não sei se recuperou a bicicleta. Mas juízo não tinha não. Correr atrás de bandido é coisa de polícia.
5. Na minha adolescência gostava de jogar mesmo era voleibol, inclusive joguei no clube do bairro, que treinava e jogava em frente a nossa casa, onde antes era um alojamento. Era o Clube Esportivo Padre João Bosco. Os melhores jogadores eram o Naim e o Ivan. Até o Miltinho das Lojas Americana do bairro jogava lá. Cheguei a disputar o campeonato regional de voleibol pelo clube. Joguei em Timóteo e na Vila Ipanema. Lembro bem dessa época. Depois o time acabou. Tinha também o time feminino de voleibol, no qual a Vera, nossa irmã, participava entre as atletas do bairro, inclusive com a criadora do clube masculino e feminino, a Professora Maria Flor de Liz Messina. Lembro de algumas jogadoras como a Fátima, a Janete e a Macilde. Ao lado da quadra tinha um clube de dança anexo à Igreja Católica, que eram de madeira, espaços aproveitados depois que desativaram o alojamento dos trabalhadores na área da Usiminas. Nesta Igreja comecei a participar do grupo de jovens com a Vânia, a Vera e a Vanda. Lembro do Padre Roberto Penna e o Padre Tavares celebrando lá. Antes o bairro não tinha Igreja Católica. Íamos à Missa no bairro Horto, inclusive no Natal à noite. E sem medo de ladrão ou assaltante.
6. Quando terminei o curso primário, já com 13 anos (por causa das repetências), meu pai me disse que o tio Maninho (tio Maninho era o cara, tudo que ele falava a família obedecia), falou pra eu fazer um ano do curso de Admissão ao Ginásio (naquela época existia quase que um Vestibular pra entrar para a 5ª série na rede estadual). Logo fui estudar na Escola Maria Rosa no Bairro Cariru. Era uma escola de tempo integral: de manhã estudávamos as matérias normais, e à tarde fazíamos aula práticas de artesanato. Pra chegar lá tinha um ônibus especial que pegava os alunos no Bairro Horto, e no final da tarde nos deixava no mesmo bairro, não chegando ao Amaro Lanari. Sei que à tarde eu voltava à pé ou pegava carona de bicicleta com algum amigo. Lembro de pegar carona na garupa do Tayrone, o irmão mais velho do Rogério e do Rato (acho que tinha cara de rato). Os irmãos mais velhos lembram deles). Mas o mais interessante era que de manhã nossa mãe preparava o meu almoço pra levar pra escola. Eu adorava aquele cheirinho de arroz novo matinal, acho que é por isso que continuo a gostar tanto de arroz até hoje. E pai me levava de bicicleta até o Horto todos os dias de manhã. Lembro do barulho da bicicleta até hoje. Imaginou o peso que era subir a estrada até o Horto comigo na garupa? Pai já foi atleta. Também me levava até ao Canaãzinho, onde tinha comprado dois lotes e construído um barracão, que mais tarde nossa avó Carolina e o avô Francisco passaram a morar (nossa avó faleceu quando morava lá); e em Acesita, na casa de nossos avós, de bicicleta - a famosa Brasiliana 1964). A vida não era fácil e ninguém reclamava. A explicação é simples: todo mundo queria sobreviver e não ter prazer, como hoje. Passei no "vestibular" e terminei a 8ª série com 18 anos. Mas recuperei o tempo perdido com sobra. E ainda parei de estudar duas vezes no segundo grau... mas sempre voltava. Ah! Ainda esperei um ano para ver qual curso ia fazer. Comecei um cursinho em Ipatinga, e parei, e passei a estudar sozinho. Comprei um livro de cada curso para estudar, era o chamado Curso Completo de Português, de Matemática, de História e os demais. Comprei na Livraria do Horto, lembram?
7. Lembro da nossa família numerosa. Eu tinha 18 anos quando o Marcelo nasceu. Pai e mãe não davam mole no "Crescei e multiplicai da Bíblia.". Não me esqueço da vergonha que passava quando ia comprar dez pães na padaria, pois muitos compravam 4, 5, 6 pães: eu 10. Acho que falava bem baixinho: 10... e saía bem devagar pra ninguém notar o baita pacote de pão e pensarem que tinha festa lá em casa de pão com salame. Hoje não ligo pra isso! Compro dez pães sem problema. Coisa de adolescente! Mas acho que eu tinha menos de 18 anos, e éramos 8 irmãos, pois pra comprar 10 pães, 2 deveriam ser de pai e mãe. Não me lembro direito. Mas outra das minhas compras, afinal eu era o mais velho e terminava tendo a obrigação de resolver pequenos problemas familiares. Lembro que mãe me pedia pra comprar algumas coisas, e eu ia falando o que tinha que comprar pelo caminho, e terminava esquecendo alguma coisa; mas eu ficava puto quanto eu já estava lá na rua, e mãe gritava: "Beto, traz mais um carretel de linha azul.". Aí eu saía xingando pra valer.
8. Quando estudava na Escola Estadual João XXIII, no Iguaçu, depois de passar no "vestibular", as turmas ainda eram divididas entre alunos em uma turma e alunas em outra. Eu estudava em uma turma e a Vânia em outra. Depois misturaram as turmas. Não me lembro do ano. Lembro da nossa timidez, e da minha em especial. Um aluno que lembro bem, mas sem fazer amizade, foi o José de Arimateia, pois o menino era ótimo em Matemática, inclusive ele ensinava alguns exercícios ao professor no quadro. Nosso professor de Matemática era o Jésus Nascimento, advogado e político hoje. Mas logo viu que a Matemática e o Magistério não eram pra ele, e parou de lecionar e foi fazer Direito. Mas nós gostávamos muito dele porque era muito comunicativo e amigo dos alunos. Sua esposa, a professora Maria Clara era fera nas aulas de Português. Coisas do destino: na década de 1990 fui Diretor da Maria Clara, e o Jésus Secretário de Educação quando entrei para a Prefeitura. Um fato que nunca esqueci da Escola João XXIII foi quando plantei uma árvore no Dia da Árvore no pátio da escola, em nome de todos os alunos. Antigamente tinham estes eventos. Talvez tenha ajudado no meu gosto por jardinagem, além da influência de meus pais. Naquela época tinha até show musical no sábado na escola, e os alunos iam lá pra assistir. O professor Jésus era o locutor do show. E o desfile de 7 de setembro era muito competitivo na cidade, tinha até a escolha da melhor escola do desfile.
III - Juventude
1. Na juventude, principalmente depois que começamos a trabalhar - coisa que pai exigia e fazia marcação cerrada pra procurarmos emprego - tivemos uma vida mais animada e cultural. Lembro que nossa diversão favorita era ir ao cinema no Cine Horto, tanto no bairro de mesmo nome como no Bairro Areal, após sua transferência para este local. Vi peças de teatro no Cine Horto com atores famosos da Rede Globo, como Carlos Zara, Eva Vilma, e outros que não lembro os nomes. Também assistíamos a jogos no Clube Usipa e nos bairros de Ipatinga. Participei até de Festival de Cinema em Acesita. Depois de 1978, eu já não era tão jovem assim, participei das atividades do Clube Olímpico. Nunca fomos de bailes. Até fui Diretor Social do Clube Olímpico; o que não era uma diversão, mas um serviço sem remuneração.
2. Lembro dos jogos de Atlético e Cruzeiro no Mineirão. Não tinha ônibus especial. Usávamos os ônibus da linha Ipatinga-BH, e voltávamos no último que saía de BH à meia noite. Lembro de uma vez que perdemos o último ônibus, eu e o Dô, e tivemos de pagar um táxi para alcançar o ônibus na BR. Tivemos a sorte da companhia de um casal que também tinha perdido o ônibus. O Dô pagou a nossa parte. Eu ficava na torcida do Atlético, mas nesta época o Cruzeiro dificilmente ganhava do Atlético, aí eu ficava calado na arquibancada. Foi no final da década de 1970 e início da década de 1980, a pior época do Cruzeiro e a melhor do Atlético. O Dô certamente lembra desta história. Hoje é uma facilidade: vejo os jogos deitado no sofá.
3. Timidez maior do que a minha era difícil. Mas também fomos criados assim, pois nossa mãe fala que pai mandava fechar a casa quando a polícia passava na rua. Era a época do Regime Militar. Lembro de uma época em que trabalhava na Bemoreira, lá pra 1973/4, e tinha um carrinho de hambúrguer na Rua Maria Matos, no centro de Cel. Fabriciano. Ficava onde hoje é a Farmácia Indiana, quase na esquina do Antigo Sobradão. Eu queria comer um hambúrguer, mas não tinha coragem de chegar perto do carrinho, pois estava cheio de jovens fazendo seus lanches, aí eu ficava andando em volta do carrinho pra tomar coragem pra comprar o hambúrguer; e o detalhe: com o dinheiro no bolso. Parece até que eu queria roubar alguma coisa. Que dureza! Sobre a timidez lembro também de quando eu e a Vânia estudávamos na Escola João XXIII, no Iguaçu, e o nosso tio Maninho falou com pai que o Professor de Inglês, José Geraldo, falou que nunca ouviu a minha voz e a da Vânia na sala de aula. Fiz o ginásio no João XXIII sem nunca fazer uma pergunta aos professores sobre as matérias, ficava esperando alguém perguntar o que eu queria saber. A timidez, talvez tenha ajudado a me tornar um pesquisador autodidata.
4. Uma vez eu e a Vânia fomos ao Escritório Central da Usiminas resolver alguma coisa. E quando fomos voltar eu tive que ir antes a Ipatinga, e terminei levando todo o dinheiro da passagem, e a Vânia ficou sem dinheiro pra voltar pra casa... aí a timidez acabou e pediu dinheiro a alguém pra pagar a passagem de volta. Tadinha! Como diz o Lula. Como é da índole da família, a Vânia pediu o endereço da pessoa que lhe emprestou o dinheiro e o devolveu posteriormente. Isto que é honestidade.
5. O ensino fundamental, ou seja, até a 8a série, estudamos em escolas públicas, mas o 2º grau fizemos em escolas particulares. A partir daí os irmãos passaram a pagar seus estudos e daqueles que ainda não trabalhavam. Assustei quando a Vanda me falou que paguei o 2º grau dela. Não me lembrava deste fato.
6. A Vânia me contou que na época que ela fazia o curso de datilografia no Sindipa, eu a levava de bicicleta e trazia de volta; e durante a aula eu ficava na casa da tia Ana até terminar o seu tempo de estudo, e depois ia buscá-la na escola. Nem imaginava que tinha acontecido este fato.
7. Mais uma da Vânia comigo. Eu não tinha namorada e a Vânia não tinha namorado. Quando chegou o Natal inventamos um jeito de nos presentear. Eu comprei um cordão de ouro com uma medalha pra ela, e ela comprou o primeiro disco do Zé Ramalho pra mim. Deu pra enganar, e foi uma ideia criativa.
8. Romântico mesmo foi o namoro da Vânia e do Rui. Um numa janela da casa de um lado da Rua Manaus, e o outro na janela da casa do outro lado da mesma rua, trocando olhares apaixonados. Até que um dia tiveram coragem, e se encontraram, e até se casaram e tiveram dois lindos e maravilhosos filhos: o Leo e a Fernanda e dois lindos netos.
IV - Fase adulta
1. A fase adulta foi a época em que começamos a trabalhar com carteira assinada. E depois constituir família. O local de encontro sempre foi a casa de nossos pais. E quando surgiram os filhos, ainda levávamos os mesmos para o tradicional almoço de domingo, os aniversários e as festas tradicionais como o Dia das Mães, Dia dos Pais e Natal. Era uma festa o ano todo. Lembro quando os netos eram pequenos e gostavam de brincar com as panelas de alumínio do armário de aço de mãe, e ela nem ligava com a bateção de latas. Era a mãe também da paciência.
2. Foi depois que comecei a trabalhar na Bemoreira que compramos uma televisão. Eu já tinha mai. Antes assistíamos a programação, principalmente das novelas, nas janelas dos vizinhos, pois pai nunca gostou de televisão, e por isso não se preocupou em adquirir um aparelho para a família. Será? Mas na Bemoreira eu trabalhava com eletrodomésticos e móveis e vi que era a hora de comprar uma, mas acho que foi pai quem pagou, não me lembro bem.
3. Temos um filósofo na família: é o Lula. Um pensamento célebre dele, entre outros e já famoso: "Ai de mim, se não fosse eu.".
4. O mais inteligente da família é o Lemão, apesar de não ter feito Faculdade. Tem respostas pra tudo, e de forma convincente, mesmo para a turma dos estudados. É formado mesmo é na Faculdade do Futebol, e especialmente no Cruzeiro. É também ótimo desenhista artístico especialmente nas caricaturas do Belchior - seu ídolo maior. Veja abaixo.
5. O mais sério e pai da paciência, nem precisa falar: é o Dô. Além de ótimo desenhista, administrador e comedido nas falas... só fala quando tem razão. Ah! desvenda todos os fake news. É o nosso detetive. Além da fluência em Inglês. Deus distribuiu talentos demais pra este irmão! Hoje ele administra as contas de pai e mãe, que pela idade avançada necessitam de alguém que controle suas contas. E o faz com uma eficiência impecável.
6. A mais alegre, com certeza é a Vânia. Ri de tudo. Até de trombada de carreta com bicicleta. É também pra lá de prestativa na família. Atende nossos pais como poucos.
7. Na alegria, a Leia também é de admirar... aliás nunca vi a Leia triste. E como dança a menina! Só a Verônica pra concorrer com a Leia na arte da dança. Aliás, na arte da dança, as mulheres da família dão o show. A Leia hoje tá dando um show nos cuidados com nossos pais idosos. Além da Leia, toda a família tem cuidado muito bem de nossos pais, seja de forma financeira ou de presença física, carinho e atendimento a suas necessidades pessoais.
8. Quando eu trabalhava na Bemoreira, todos os dias mãe ia me buscar no ponto de ônibus. Contava isto na loja e todos admiravam este carinho de mãe comigo. E o Lula levava o meu almoço lá no Depósito da Bemoreira. Hoje tem restaurante barato pra todo lado. Acho que ninguém faz isto mais.
9. O Mestre da família é o Marcelo, e tem mais, formado na UFMG - uma das maiores Universidades Federais do Brasil. Já fez correção de meus livros, e quando tenho dúvidas na Língua Portuguesa é meu suporte. Já lecionou na Fafic em Caratinga, inclusive me garantiu espaço para participar de um grande evento na Faculdade que ele mesmo promoveu. Já trabalhou no jornalismo da região e hoje é Professor da rede de Ensino Público no Espírito Santo.
Ana Maria, professora de História do Brasil na Fafic, desde sempre!Participando do evento na Fafic com o Marcelo
10. O espaço de lazer que toda nossa família mais participou, sejam os casados ou solteiros, foi o Clube Olímpico e Recreativo Amaro Lanari. Lembro dos carnavais em que participávamos juntos. Era uma festa sadia e sem violências. Era pular o carnaval mesmo, e tomar umas cervejas até de madrugada. Fui Diretor Social do Clube por um breve tempo, pois naquela época tinha muitas atividades na agenda, inclusive fazia Faculdade de História.
11. Agora sobrou pra Verônica. A Verônica, a nossa Lonquinha, sempre foi muito trabalhadora e estudiosa. É a única que tem dois cursos superiores na família: Letras e Psicologia. Trabalhou na Usimec, e depois foi trabalhar na empresa Santa Terezinha, em Governador Valadares, e hoje está em Vila Velha morando e trabalhando. Teve uma época, quando ela trabalhava em Valadares, que toda vez que ela ia visitar nossa família, às vezes, em período de festas, o nosso amigo do bairro, o Bretas, armava a barraca lá em casa... até hoje ninguém sabe o motivo. Mas todo mundo imagina...
12. Esta é do Dô e do Lemão nas festas da família. Tivemos um período lá em casa que festa não faltava. A casa vivia cheia, acho que é por isso que mãe vive reclamando que não tem visita suficiente hoje lá em casa. E neste período o Dô mudou para a Bahia e morou lá uns 10 anos. Depois voltou, mas demorou um pouco para enturmar na família, aí quando tinha festa e o Dô não aparecia, o Lemão falava assim: "O Dô continua na Bahia.".
1. Nossa mãe foi sempre a dona da casa. Em casa fazia de tudo um pouco, inclusive costurar quase toda a roupa da família, ação que muito ajudou na manutenção financeira da casa. Pai nunca a elogiou por isso, certamente porque este papel fazia parte da cultura da época - a mulher cuidava de tudo na casa e o homem era o provedor financeiro. Se tem uma palavra que define mãe, em minha opinião, é claro: é disponibilidade. Já vi mãe largar o prato de comida para atender a um pedido de uma vizinha pra costurar uma roupa na hora do almoço, entre outros atendimentos. Herdei isto dela, graças a Deus!
2. Lembro de mãe costurando nossa roupa para o desfile de 7 de setembro de madrugada para o desfile de manhã. Era o uniforme de enfermeiro pra eu e a Vânia. Certamente a escola estava homenageando as profissões dos pais dos alunos e alunas. Mesmo no Ginásio, nossa mãe continuou a fazer nossas roupas próprias para os desfiles, e nunca nos viu desfilar, pois não sobrava tempo em seu trabalho diário em casa. E sobre as costuras de mãe, lembro quando ela me levava em Cel. Fabriciano pra comprar roupas na Loja A Brasileira - era a loja mais popular da cidade. Eu era criança, talvez tivesse uns 10 anos, mas era o mais velho, e talvez por isso, eu tinha o privilégio de sua companhia. Comprava tecidos para fazer as roupas da família. E o que me marcou mesmo foram as compras de flanelas coloridas para a confecção de roupa de frio para a meninada. Quase todas da mesma cor, pois naquela época não tinha muita variação de quase nada. Era quase tudo padronizado - como roupa de militar.
3. O bom humor de pai: Pai sempre foi bem humorado e espirituoso. Lembro de quando alguém ia procurar mãe lá em casa, e só encontrava pai sentado naquele banquinho famoso e a pessoa perguntava pra ele: "Onde está a Dona Angelina?". E ele, com aquela seriedade respondia: "Angelina está fazendo um curso de Micro ônibus com a Socorro no Bairro Horto.". E quando perguntava onde eu estava trabalhando, num período em que prestei serviço na Biblioteca Pública de Ipatinga. Alguém perguntava pra pai: "Onde o Beto tá trabalhando?". E ele respondia: "O Beto tá trabalhando na Discoteca lá em Ipatinga.". E perguntavam onde a Vânia estava estudando, e ele respondia: "Ela está fazendo um curso de Chimica lá na Universidade.".
4. Pai sempre foi grudado em nossa mãe. Lembro de uma vez que mãe foi passear na casa da Vanda lá em Vila Velha, e antes que mãe chegasse lá, pai já tinha ligado pra Vanda perguntando se mãe tinha chegado. Mãe ficou uma onça, no bom sentido.
5. Outra de mãe e pai: mãe me contou que quando éramos crianças, de vez em quando íamos passear lá na casa da vó Maria em Acesita. Ela falou que pai não gostava muito de visitar seus pais. Então mãe arrumava os filhos; todos pequenos. Aí, imagina aquela trabalheira, e pai chegava na porta da casa e falava assim: "Angelina, acho que vai chover!". E de novo, e de novo... enquanto ela arrumava a meninada. Aí, mãe perdia a paciência e falava: "Tá bom, Souto, não vamos mais!". E adeus viagem!
6. Uma coisa que pai sempre foi muito atento foi com os presentes de Natal da criançada. Sempre ganhávamos os presentes pedidos ao Papai Noel. Eram simples, mas era o que gostávamos, geralmente carrinhos e bonecas. E no dia 25 de dezembro, a rua ficava cheia de meninos e meninas brincando com seus presentes de Natal. Já os aniversários eram por conta de mãe, pois ela sempre fazia uma festinha pra todo mundo com bolo e "ki suki", o tradicional suco de saquinho. Herdei este bom costume de mãe, e nunca deixei de fazer festa nos aniversários de meus filhos. E o Natal herdei de pai.
7. Pai sempre gostava de dar uns servicinhos para os filhos como capinar o quintal e cuidar da horta, além de desamassar pregos velhos e tortos para serem reaproveitados. Ele começava a capinar e passava a enxada para os filhos, e ficava assistindo. Nasceu pra ser fazendeiro. Fazer o quê? Lembro de uma vez que falei com pai que detestava depender dos outros, aí ele me disse: "Pois eu já gosto!".
8. Quando pai trabalhava na Usiminas, a empresa pedia, de vez em quando, os nomes e datas de nascimento dos filhos. E como pai ia saber de tudo isto? Era muito nome e data pra guardar, e não tinha computador e celular como hoje pra arquivar tanta informação. Aí, estrategicamente, como diz mãe, pai reunia todos os filhos em volta da mesa e ia perguntando a cada um os nomes e datas de nascimento, e ia anotando um por um. Problema resolvido.
9. Esta é de mãe. Ela vigiava as filhas para que não saíssem de casa, pois pensava (com certeza), que iam atrás de namorados. Controlava até a chave do portão de casa para evitar que fugissem... como nos filmes. Discuti várias vezes com mãe sobre isto na época. Defendi as meninas várias vezes do controle quase militar de mãe.
10. Esta é de mãe e da Vanda. Tinha o Gilmar, um membro do grupo de jovens que andava atrás da Vanda. Um dia, depois da Missa, o Gilmar começou a conversar com a Vanda (logo na saída da Igreja, na esquina da Rua 7), e mãe xingou o Gilmar todo na frente de todo mundo, e aí, a grande surpresa: ele falou assim: "Mas eu gosto dela!". Eu estava lá e vi e ouvi - testemunha ocular. Hoje o Gilmar é aposentado na Polícia Federal, quem diria? Ele era baixinho igual a um menino.
11. Um exemplo a ser seguido pelos estudantes. Este exemplo veio de mãe, quando depois de criar os 10 filhos resolveu voltar a estudar. Foi estudar na Escola Intendente Câmara, no Amaro Lanari. Começou na 2ª série primária e terminou o curso na mesma escola. Depois que terminou a 4ª série achou que não tinha aprendido direito o que foi ensinado. O que ela fez? Frequentou a 4ª série de novo no próximo ano pra melhorar os conhecimentos. Depois foi estudar o ensino de 5ª a 8ª séries na Escola Estadual Raulino Cotta Pacheco. Foi minha aluna na 5ª série junto de alunas e alunos mais velhos no curso Noturno. Com ela estudaram Dona Efigênia, Dona Luzia, a Ângela, e outras senhoras nossas vizinhas. Terminou a 8ª série e não continuou o 2º grau por problemas de saúde. No SESI fez quase todos os cursos ministrados no estabelecimento. Até aula particular ela fez pra aprender artesanato com a Professora Quininha. Mãe cortava o cabelo de quase todos os filhos, acho que até a fase adulta, inclusive o meu. Acho que deve ter feito este curso no SESI também.
12. Esta é de pai. Todos sabem que pai não gosta de elogiar ninguém; nem filho(a). Mas eu tive o prazer de receber dele um "quase elogio" que nunca esqueci, afinal eu era um pouco mais que criança, e criança não esquece nada. Lá em casa tinha uma imagem de Santa Bárbara sem moldura, aí eu tive a ideia de fazer uma moldura para a Santa. Um dia nosso tio Maninho foi lá em casa, e pai mostrou o quadro para ele e disse: "Olha Maninho, o quadro que o Beto fez!". Acho que este foi o que recebi de pai de algum reconhecimento explícito na vida.
13. Eu e pai. Na década de 1980, quando o PT começou a tomar força, e o Regime Militar a decair, eu defendia o PT (até filiei ao partido), e pai o Regime Militar. Aí eu falava com ele que sua defesa era porque foi beneficiado com a política econômica dos militares, que davam um reajuste mensal de mais ou menos 12% ao mês; e com uma inflação alta, pai colocava o dinheiro na Poupança e fazia as compras do mês só com os seus rendimentos. O Presidente que ele mais defendia era o Figueiredo - era o ídolo de pai. Depois veio a chamada Nova República e o Sarney congelou os preços e os salários, e pai ficou uma fera. Passou a descer a lenha no Sarney. Com o tempo foi diminuindo o discurso político, e hoje não tá nem aí pra nada. E hoje o meu partido "É um coração partido." (Cazuza). São as voltas que a vida dá. Quem diria que um dia eu iria morar na Bahia?! Eu nunca pensei nisto. É a vida: "É bonita e é bonita!". Disse o Gonzaguinha. Mas na juventude é normal dar nossas opiniões, mesmo que depois mudemos de ideia; e foi o que eu fiz.
14. Profecias de Pai: 1. Fake News - Na década de 1970 pai já previu o fake news, ou seja, as manipulações da televisão, e hoje também na internet. As mentiras fabricadas pra enganar alguém ou à população. Naquela época ele comentou quando viu um comercial de fósforos na televisão (era da Fiat Lux que existe até hoje). Na propaganda uma caixa de fósforo se abria sozinha, e saiam vários palitos de fósforos marchando, como soldados, e iam para fora da caixa perfilados, depois faziam a volta e entravam organizadamente na mesma caixa. Depois que pai viu esta cena, falou com a seriedade própria dele: "Depois que eu vi palitos saírem de uma caixa de fósforo marchando e voltando para o mesmo lugar, eu nunca mais acredito no que vejo na televisão.". E ele tinha razão naquela época como tem até hoje, pois só podemos acreditar em muito pouca coisa da mídia hoje. 2. Desde o início do PT nosso pai nunca acreditou nele como um partido sério e preocupado com o povo, e falava que o Lula era comunista, coisa que eu sempre contestava. Hoje todos sabemos que o PT sempre foi comunista, só que não divulgava isto para não perder votos com a população.
15. Mais uma de Pai: Quando os astronautas americanos foram à lua, pai duvidou na hora falando que aquilo era armação. E até hoje tem gente que questiona se o homem foi mesmo à lua algum dia. Agora uma engraçada dele: No aniversário de mãe de 80 anos em um salão de festas no Amaro Lanari, estava todo mundo reunido, e de repente ouviu-se um estouro forte lá fora, e aí pai falou com a maior naturalidade: "Se atirou em mim, errou!". Este é nosso pai com sua vivacidade, mesmo sem ter estudado em escolas, a não ser na escola da vida.
16. Mãe também tem uma profecia antiga sobre o casamento. Sempre falou que casamento não dá certo. E todos nós achávamos que o motivo de sua opinião era o casamento dela. Mas os recentes estudos de psicologia, provam que realmente os casamentos não dão certo, mas não é por causa do grande número de separações, mas pelas diferenças gritantes entre homens e mulheres em todos os aspectos: psicológico, sociológico, histórico, comportamental, comunicativo, afetivo, etc. Inclusive li um livro muito bom sobre o assunto que o psicólogo falou com todas as letras que ele admira como duas pessoas têm a coragem de tentar viver juntas em um casamento. Mas fica a pergunta: Por que existem tantos casamentos? Pergunta simples de responder: exigência da tradição, principalmente da religião e das famílias antigas; interesses em deixar herança financeira para alguém, os filhos, por exemplo; constituir um patrimônio financeiro em conjunto; formar novas relações sociais; ter um parceiro sexual fixo, sem precisar ficar saindo "à caça" como o homem pré-histórico, entre outros. E você pode dizer: mas antigamente dava certo. Errado. Nunca deu certo. O certo era que a mulher aceitava tudo que o homem exigia, ou seja, a mulher era uma espécie de escrava legal do homem. E hoje ela não aceita mais isto, ou seja, como já disse nossa mãe várias vezes (a mulher perde sua identidade no casamento): ela não quer mais perder sua identidade, que é complexa, como a de todos nós; por isto separa. E a origem histórica do casamento sempre foi a de preservar a propriedade, sem romantismo nenhum.
17. Mais uma qualidade de mãe é sua vontade de aprender alguma coisa, tanto é que voltou a estudar depois de criar os 10 filhos. Ela me contava que tinha uma inveja boa quando via as alunas uniformizadas indo para a escola. Usar um uniforme escolar era um sonho dela. E conseguiu sua realização. Mas não só a aprendizagem escolar interessa a ela, mas todo tipo de conhecimento. Lembro dela me mostrando a ação do sabão em pó tirando o sujo da roupa. Ficou encantada com a ação do sabão na roupa, e me chamou pra ver. Hoje vive pesquisando na internet alguma coisa nova pra aprender.
20. Mãe também adora ajudar às outras pessoas necessitadas. Hoje, mesmo com a saúde debilitada, continua a costurar em sua máquina antiga, roupas infantis para serem distribuídas no Natal. Todas os anos distribui muitas roupinhas para as crianças carentes de vários lugares através de instituições de caridade de reconhecida idoneidade.
21. Mais uma de pai. Lembro que quando mãe ia corrigir a criançada, talvez até dar umas chineladas, a gente falava: "Quando pai chegar vou contar pra ele.". Pai era o nosso protetor... Depois a gente esquecia. E acho que mãe também não dava conta de dar tantas chineladas. E pai também nunca deu um tapa em ninguém. Isto é de admirar com tantos filhos pra educar.
22. Mais uma de mãe. Lembro quando ela me matriculou na aula de datilografia do Sindicato (Sindipa), e quando cheguei lá uma pessoa me perguntou se "mãe era aquela senhora altona". Talvez porque pai com seu peso pesado, o torne com uma aparência mais baixa do que mãe, mas na verdade, ele é mais alto.
23. Mais uma de pai. O bairro Amaro Lanari é cheio de terraços nas casas, e lá em casa pai nunca se preocupou com isto. Fazíamos as festas no quintal e dentro de casa, e muita gente do bairro utilizava os terraços para estes encontros. Achava estranho pai não se preocupar com isto. Aliás, tudo dele é baixo. Fazia tudo onde dava pra ele passar. No Bairro Santa Terezinha vez um portão tão baixo que bati a cabeça e xinguei demais. Depois troquei o portão; foi quando morei lá. Mas voltando ao terraço, um dia falei com ele assim: "Por que o senhor não faz um terraço em nossa casa?". Aí ele me respondeu com aquela convicção: "Terraço pra velho subir?". Hoje eu entendo isto. Detesto subir escadas, e na minha idade fica até perigoso, podendo provocar quedas por descuido nas descidas. Este fato deve ter uns 30 anos. "Foi ontem.". Como ele gosta de dizer dos acontecimentos antigos.
24. Mãe na roda gigante no Parque. Lembro de um dia em que saímos da Missa de domingo na Igreja Católica do Amaro Lanari, eu, mãe e Dona Zélia, e fomos ao Parque. O Parque de Diversões localizava-se na área abaixo da Escola Estadual Intendente Câmara, onde ficava o Restaurante da Dona Terezinha. Na ocasião, incentivei mãe e a Dona Zélia a irem se divertir na roda gigante. Elas resistiram no início, mas tomaram coragem, e subiram naquela animação das duas, que todo mundo conhece. Sobem na roda gigante, e de repente, e como disse o poeta: "Não mais que de repente.", a roda gigante para com mãe e Dona Zélia no topo do brinquedo. Ficaram lá um tempo sem barulho algum, e nem reclamaram. Resolveram o problema e elas desceram. Quando chegamos em casa contamos pra pai a façanha de mãe, e ele com seu jeito sério disse: "Se tivessem me contado que sua mãe estava em cima de uma roda gigante, eu não ia acreditar.".
25. Uma das maiores qualidades de Pai, em minha opinião, é claro, é não guardar rancor, talvez por isso, tenha alcançado esta idade avançada. Já tive algumas discussões terríveis com ele, e tudo ficava como se nada tivesse acontecido. Tem uma música do Pe. Zezinho que fala sobre isso para se viver bem na família: esquecer os desentendimentos e continuar a vida. É a música do vídeo abaixo: Aconchego.
Acervo Fotográfico
Leia
Nossa casa na Rua Manaus
Daniel, Leo, Ígor e ?
Lula, Toninho Padinha, Mazinho, ?????
Bárbara
Em cima mãe, tio Vicente, Lemão, Vãnia, Tia Ana, ? Embaixo Lemão, Bárbara ?
Em cima Pai, Bárbara, Washington,, Rafael, Lemão, Leia, Maria José, Mãe; embaixo, Mãe, Tio Vicente, ?
Em cima, eu e o Daniel; embaixo Pai, Mãe, e a Vera
Em cima a Bárbara; embaixo, Verônica e Luciana
Em cima, Pai, Vera, Lula, Vânia, Tia Ana, ??? embaixo, o fazendeiro Lula
Bárbara e Raquel
Lula e sua tradicional dança
Bárbara e Raquel
Leia atleta
Tia Ana e família
Vanda, Verônica, ?
Leia, Verônica, ??
Vanda, Verônica, Leia
Marcelo
Verônica e Leia
Fernanda, Washington e Leia
Mãe sempre na cozinha
Ígor, Fernanda e Daniel
Vanda, Ígor e Fernanda
Vera e Leila
Verônica e Ígor
Observações: Se falei alguma coisa que não foi verdade, por favor, me corrijam. Mandem suas lembranças para que eu possa publicar aqui. Alguns nomes nas fotografias não me lembrei. Quem souber, por favor, informe.
Sobre estas anotações, achei interessante o tanto de fatos que me veio à memória. Certamente, estavam guardados no inconsciente, pois começaram a surgir tantas lembranças que fiquei surpreso.
ResponderExcluirMuito bom o relato! Dá para perceber nitidamente a união e o entrosamento dos membros da família nas relações do dia a dia. Os pais foram heróis em criar e serem provedores de uma família numerosa e observar que hoje todos estão bem é uma dádiva e um presente de Deus. O Sr João tem razão ao afirmar sempre " Deus gosta de nós".Que Ele continue abençoando a família, da qual tenho o orgulho de fazer parte hoje, mesmo que seja "uma pequena parte".
ResponderExcluirO objetivo deste trabalho não é contar uma história de nossa família, mas sim mostrar os fatos relevantes, engraçados e pitorescos que aconteceram ao longo de nossa caminhada da infância até a fase adulta, de pais de famílias, inclusive. Não pretendemos contar tudo que aconteceu ao viver/conviver com a nossa realidade de família, mesmo porque não temos tudo na memória de um período já bastante longo, inclusive por isto solicitamos a ajuda de nossos irmãos e irmãs no resgate destes fatos. Se fôssemos contar a história de nossa família, o formato do texto seria outro, ou seja, uma narrativa com início, meio e fim; o que não ocorre em nosso relato - fizemos um ir e vir de lembranças sem traumas ou ressentimentos. Fizemos escolhas conscientes do que queremos - um texto agradável, leve, e às vezes, romântico e nostálgico de nossos bons tempos.
ResponderExcluirParabéns, Beto! Difícil parar a leitura. Suas memórias me deixaram emocionado. Sou o mais novo e recebi verdadeiramente o carinho e o amor dos nossos pais e dos meus nove irmãos mais velhos. Como costumo dizer: sou o único da família que tem o privilégio de ter nove irmãos mais velhos.
ResponderExcluirSobre a sua vitoriosa carreira profissional, devo dizer que você foi a minha primeira inspiração para trilhar os caminhos do magistério.
Outro presente que recebi desta família foi conhecer a música popular brasileira. Tamanha admiração por essa arte me faz repassá-la a outros sempre que posso, para que possam viver - quem sabe - o mesmo prazer.
Com orgulho, o meu abraço! Marcelo
Obrigado, Marcelo! Sua avaliação é muito importante pra mim. Fiquei feliz por você ter gostado do relato. Adotei a política de não desagradar a ninguém, por isso coloquei fatos mais pitorescos, engraçados, e um pouco do dia a dia da família ao longo de nossa, já quase longa, história.
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